Diálogo entre o Espírito Imperator, por intermédio de um outro Espírito que lhe servia de secretário, Rector, através da psicografia, e o próprio médium Rev. William Stainton Moses, a respeito dos Dogmas e a "Terceira Revelação". (Diálogo entre duas inteligências) Imperator - Ontem à noite muitas coisas foram ditas à pressa, e por isso não se acham resumidas exatamente na ata transcrita naquela ocasião. Era de máxima importância que, sobre assunto tão capital, nos exprimíssemos com cuidado e que pudésseis compreender precisamente o que desejamos expor. Queremos pois estabelecer, de maneira mais nítida, o que apresentamos imperfeitamente na sessão. As condições de confronto não nos permitem sempre ser tão precisos, servindo-nos da palavra, como o somos comunicando pela escrita, e isso apesar da cuidadosa atenção que prestamos. O insulamento completo assegura as condições convenientes para ser preciso e exato. Tratamos da divina missão que nos é conferida. No número das contínuas dificuldades que nos assaltam, uma das mais sérias é que aqueles cuja cooperação desejamos, porque são adaptáveis ao nosso assunto, são ordinariamente embaraçados por noções teológicas preconcebidas ou se assustam com o que parece contradizer o que aprenderam. Então somos incapazes de os influenciar e afligimo-nos vivamente por se atribuir o que deriva de Deus a adversários, a um demônio todo-poderoso e malfazejo. Entre todos os nossos contraditores, estes nos entristecem mais. O pseudo-sábio que só quer ver com o auxílio do seu próprio médium, mediante as suas condições particulares, que só quer tratar conosco para demonstrar que somos farsistas, mentirosos ou transmitimos as ficções de um cérebro desequilibrado; com este pouco nos importamos; seus olhos cegos não podem ver, sua inteligência obscurecida, embaraçada, contraída por longa vida sacrificada aos preconceitos, não pode absolutamente servir-nos. Ele pode, quando muito, penetrar com dificuldade os mistérios comuns das esferas; a base de conhecimento que poderia adquirir, ainda que útil e mesmo de valor, só insignificantíssimos serviços prestaria à nossa obra especial. Não procuramos além disso excitar a atenção de alguns homens de ciência, que se dignam ocupar-se com o aspecto fenomênico da nossa obra. O espírito, desde muito tempo habituado à observação dos fenômenos físicos, está mais bem preparado para elucidar esses fatos, que são do seu domínio. O nosso estudo é diferente e relaciona-se com a influência do espírito sobre o espírito com o conhecimento do que podemos revelar sobre o seu destino. A categoria dos espíritos ignorantes e incultos, ainda que possa mais tarde atingir o nível em que nos encontraremos, não pode servir atualmente. Ela nada sabe do que temos a dizer e só o saberá depois de um período infinito de preparação preliminar. Igualmente temos pouco a dizer aos orgulhosos, àqueles que, em sua altiva confiança em si próprios, se presumem sábios, e aos escravos da rotina e da respeitabilidade; só uma evidência inteiramente física pode atingi-los. A história que estamos encarregados de publicar seria para eles uma fábula. É para as almas livres, que têm conhecimento de Deus, do céu, do amor e da caridade que nos voltamos com vivo empenho; elas desejam instruir-se e conhecer o porto ao qual aspiram. Mas, ah! achamos muitas vezes os religiosos instintos naturais, implantados por Deus e nutridos pelo espírito, ocultos ou desfigurados pela restrita influência de uma teologia humana, que aumentou imperceptivelmente, durante os longos séculos de ignorância e loucura. Esses espíritos estão armados de todas as armas contra a verdade, que eles amam entretanto. Falamos de uma revelação do Pai Celeste, mas eles têm já uma revelação que julgam ser completa. Assinalamos a sua inconsistência demonstrando-lhes que em parte alguma ela pretende a finalidade ou infalibilidade que lhe assinalam. Respondem-nos por palavras sem nexo, tiradas dos formulários de uma Igreja ou baseadas em uma opinião adquirida e adaptada de acordo com qualquer pessoa, que pretendem considerar infalivelmente inspirada. Aplicam-nos um testemunho, tirado de alguma narração sagrada, que foi dada em uma época especial, para um fim determinado, e que se persuadem ser de aplicação universal e contínua. Se nos referimos às provas, aos pretensos milagres que atestam a realidade da nossa missão, como atestavam a missão daqueles que influenciamos no passado, respondem-nos que o tempo desses milagres não mais existe, que os inspirados do Espírito_Santo tinham sido autorizados a produzi-los, somente nos séculos longínquos do passado, e dizem-nos que o diabo, por eles próprios inventado, tem o poder de contraverter a obra de Deus e de nos levar às trevas, afirmando estar a nossa missão em antagonismo declarado contra Deus e o Bem. Quereriam, na verdade, ajudar-nos, pois o que dizemos é provável, mas somos emissários do demônio. Devemos vir dele, porque está escrito na Bíblia que falsos e artificiosos Espíritos virão.
A Religião, para ser digna de seu nome, deve ter dois objetivos: Deus e o homem.
Somos também os mensageiros do Altíssimo, não menos enviados do que os Espíritos que guiaram os videntes hebreus e que ajudaram aqueles cujo fiat estabeleceu a palavra divina. Voltemos, pois, à razão ...
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O que sabemos dEle, o olhar humano não pode perceber, não podeis mesmo figurar em vossa imaginação, e entretanto nenhum de nós o viu.
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----------------------------------------------------- O que vos foi dito é correto, como esboço, mas não se pretende que isso seja uma imagem perfeita da verdade. É um pálido contorno, obscurecido e ofuscado em muitos lugares, mas verdadeiro em substância. Sem dúvida, as nossas palavras violam o que se vos ensinou a crer como necessário à salvação. Sem dúvida, o espírito não preparado julga-as novas e destruidoras. Não é assim. Em suas grandes linhas, o credo espiritualista poderia ser aceito por todos aqueles que têm pensado um pouco nos assuntos teológicos, com o espírito livre, encarando, sem receio, as conseqüências da pesquisa da verdade. Ele se recomenda àqueles cujo pensamento não está detido pelos antigos preconceitos. Dissemos que era preciso operar uma grande limpeza, que o trabalho de destruição devia preceder ao de construção, enfim, que devemos sanear antes de construir. † Imperator -------------------- \\\ ||| /// --------------------
----------------------------------------------------- Não, amigo, absolutamente não; exagerais. Se relerdes as imperfeitíssimas narrações da vida de Jesus, nelas não descobrireis que Ele tenha jamais reclamado para si nada que o aproxime da atitude que a Igreja cristã lhe impôs à viva força. Ele estava muito mais de acordo com o que declaramos do que com o modelo apresentado pela Igreja cognominada com seu nome. † Imperator -------------------- \\\ ||| /// --------------------
----------------------------------------------------- Há verdade em um certo sentido, não o negamos; combatemos somente essa grosseria humana que torna Deus desprezível, sob a forma de um cruel tirano, que só pode ser acalmado pela morte de seu Filho. Não somos detratores da obra de Jesus quando condenamos as fábulas desonrosas que, agrupadas ao redor de seu nome, desfiguraram a grandeza simples de sua vida, o fim moral de seu sacrifício. Teremos, mais tarde, outras coisas a dizer-vos sobre a formação gradual de um dogma, que chega a ser estabelecido de fide, visto como rejeitá-lo ou negá-lo significa cair em pecado mortal. Se o homem fosse entregue às suas próprias conclusões, ter-se-ia por irremissível heresia, digna do fogo eterno, a negação desse fato: que o Deus Supremo delegou a um homem uma das suas inalienáveis prerrogativas. Um importante cisma da Igreja cristã reivindica para seu chefe uma ciência infalível e persegue na vida, até à vergonha, e condena na morte até aos suplícios eternos, aqueles que não querem aceitar essa afirmação. Isto é, entretanto, um dogma recente que nasceu no meio de vós, assim como nasceram todos os dogmas. Por conseqüência, tornou-se quase impossível à razão humana, quando não auxiliada, distinguir a verdade de Deus sob as glosas com que o homem a cobriu. Assim, todos os que tiveram a audácia de pôr a mão sobre esse acervo foram considerados malditos. Isso é a história de todos os tempos e não é justo acusar-nos de maleficência se, de acordo com o nosso ponto de vista superior, vos pomos de sobreaviso contra as ficções humanas, que tentamos destruir. † Imperator -------------------- \\\ ||| /// --------------------
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----------------------------------------------------- Saúdo-vos, bom amigo! Vamos dar-vos maior número de informações sobre os pontos que vos inquietam. Quereis saber até que ponto o sinal da cruz pode ser legitimamente harmonizado com o nosso ensino, e isso vo-lo mostraremos. Amigo, o sinal que é o emblema da vida e da obra de Jesus-Cristo não pode lealmente legitimar a maior parte das doutrinas que passam hoje por suas. A predisposição de todas as classes de religionistas foi sempre ocupar-se da letra e desprezar o espírito; descansar mais sobre expressões provenientes de quaisquer escritores e desprezar as tendências dominantes dos ensinos. Os homens procuraram a verdade com ideias preconcebidas e acharam o que desejavam, não o que de fato existia. Expressões e palavras insuladas foram arrancadas dos versículos e ajeitadas pelos que se aplicavam a comentar os textos, de modo a emprestar-lhes uma significação da qual os escritores primitivos nunca tinham cogitado. Outros foram buscar, nos anais, palavras que podiam servir para sustentar uma teoria, sem se preocuparem de procurar a verdade, e descobriram o que podia servir às suas intenções. Assim lentamente, laboriosamente o edifício se elevou, construído por homens que se deleitam com as controvérsias de palavras ou estão possuídos por uma ideia cuja prova acham por toda parte confirmada, não querendo ver senão a ela. Dissemos já que um grande trecho do que queremos explicar se relaciona com o que qualificais de Divina Inspiração. Os que reconheceis como defensores ortodoxos da fé cristã dizem-vos que uma misteriosa pessoa, uma das_três individualidades que compõem a indivisível Trindade, tomou posse do espírito de certos homens e por suas vozes deu ao mundo um corpo de doutrina completa, de força permanente, da qual nada pode ser retirado e à qual é crime acrescentar qualquer coisa, pois que ele é a palavra mediata de Deus, contendo em si a verdade eterna. Os sentimentos de Davi e Paulo, de Moisés e João estão, não somente em harmonia com a vontade suprema, mas são o pensamento íntimo da Divindade. As palavras têm, não somente aprovação de Deus, mas foram pronunciadas por Ele. Enfim, a Bíblia, quer no fundo ou na forma, é a própria palavra de Deus, e cada palavra ali, sendo divina, deve ser estudada e interpretada como tal, mesmo nessa versão traduzida em vossa linguagem, por homens que, para aumentar a maravilha, supõem-se, por sua vez, depositários da Verdade Divina e guiados por ela no trabalho da tradução. é assim que doutrinas espantosas e conclusões levadas ao extremo podem apoiar-se sobre simples palavras, pois cada palavra, cada fraseado da revelação de Deus não está divinamente ao abrigo de todo erro humano? Os defensores da ortodoxia conseguiram, pois, estabelecer uma grande quantidade de dogmas conforme a escolha que fizeram nos textos que lhes agradavam, não se importando com os outros. Para eles a Bíblia é a expressão direta do Supremo. Os pensadores que não conseguiram aceitar essa maneira de ver chegaram, estudando a Bíblia, a prejudicá-la. Isso conduz às reflexões que vamos apresentar-vos; ...
Diremos então que os livros sagrados, componentes da Bíblia, como muitos outros, que nela não estão incluídos, são os anais dessa marcha gradual para o conhecimento de si que o grande e bom Deus deu ao homem. O princípio dominador dessas narrações é idêntico ao que governava as nossas relações convosco. O homem só recebe a verdade que pode compreender, nada mais, sob nenhum pretexto, mas tanto quanto possa receber para satisfazer as suas súplicas. Essa verdade é revelada por intermédio do homem, mas vem sempre mais ou menos impregnada dos pensamentos, das opiniões do médium. Os Espíritos que se comunicam são forçados a empregar os materiais fornecidos pela inteligência do médium, a quem eles preparam, para que sirvam aos seus desígnios, apagando erros, inspirando novas exposições sobre a verdade. A pureza da comunicação do Espírito depende da passividade do médium e das condições nas quais a comunicação é dada. Acham-se em todas as partes da Bíblia os traços da individualidade do médium, erros causados por um controle imperfeito, e a impressão das suas opiniões, assim como as particularidades referentes às necessidades especiais do povo ao qual a comunicação foi primeiramente dirigida. Numerosos exemplos desse fato podem ser verificados.
A inspiração é divina, mas o médium é humano. Resulta daí que o homem pode achar na Bíblia o reflexo do_seu próprio espírito, qualquer que seja o gênero desse espírito. O conhecimento de Deus é tão fraco, o que o homem pode dEle compreender é tão pouca coisa, que toda pessoa que se apóia sobre as revelações passadas, sem querer nem poder desenvolvê-las, deve achar na Bíblia o reflexo do seu espírito. Ela procura o seu ideal e acha-o nos dizeres daqueles que falaram para pessoas colocadas no mesmo nível mental. Se nenhum vidente a satisfaz, procura nos versetos o que lhe agrada, rejeita o resto, e de peças e fragmentos elabora a sua própria revelação. E assim se formam as seitas, construindo o seu ideal, que provam por citações tiradas da Bíblia. Ninguém pode aceitar o conjunto, porque o conjunto não é homogêneo. Quando aqueles que assim arranjam uma revelação se acham à frente dos partidários de outras revelações produzidas pelo mesmo gênero de trabalho, as batalhas de palavras se travam, as explicações (conforme as apelidais), os comentários de textos se acumulam. Tudo se obscurece; as palavras deformadas são interpretadas em um sentido que nunca foi nem o do Espírito que se comunica nem o do profeta ou do Mestre, e assim a inspiração se torna o veículo das opiniões de seitas, a Bíblia em um arsenal no qual cada combatente encontra a sua arma favorita, e a teologia, que é apenas uma noção de natureza privada, apóia-se sobre interpretações dilatáveis. Somos acusados de discordar da opinião dessa teologia; nada temos de comum com ela, que, por ser da Terra, é baixa e desonrosa em sua concepção de Deus, degradante por sua influência sobre o espírito, insultante à Divindade que faz profissão de revelar. Em verdade a contradizemos e a reprovamos. É nossa missão destruir o seu ensino e substituí-lo por ideias mais nobres e mais verdadeiras sobre Deus e o espírito. Uma outra razão, pela qual muitas falsidades com relação a Deus têm curso entre vós, como derivando da Bíblia, é que a ideia de inspiração infalível conduz os homens não somente a ligar muita importância a palavras ou a frases, mas a cair no erro de interpretar literalmente o que tinha apenas uma significação espiritual típica. Comunicando ao vosso plano mental ideias que lhe parecem inconcebíveis, somos obrigados a empregar expressões tomadas à vossa ordem de pensamento. Cometemos freqüentemente faltas, aplicando mal os termos, que são às vezes deficientes para exprimir o que queremos dizer. Quase todas as expressões mediúnicas são figuradas, especialmente quando os Espíritos tentaram exprimir ideias sobre Deus, tão grande!, e que eles próprios conhecem tão pouco! A linguagem empregada é necessariamente imperfeita, às vezes mal escolhida, mas é sempre simbólica, e deve ser assim compreendida. É loucura sustentar a exatidão literal de qualquer ensinamento espírita. Demais, as revelações sobre Deus foram feitas em uma linguagem apropriada às capacidades daqueles a quem foram originariamente dadas. É de acordo com isso que se deve interpretá-las. Mas aqueles que quiseram estabelecer a crença de uma revelação infalível, aplicável através de todos os séculos, interpretam cada palavra em seu sentido literal e deduzem delas conclusões errôneas. A hipérbole, inteligível na boca do vidente impulsivo que se dirigia a um auditório oriental ardente, habituado às imagens poéticas, torna-se exagerada, falsa, enganadora, quando explicada friamente em termos precisos a homens cujos hábitos de linguagem e de pensamentos divergem ou são totalmente diferentes. é a essa causa que devemos atribuir a propagação de certas ideias falsas, que, se fossem verdadeiras, desonrariam o Eterno. A linguagem original era bastante defeituosa, mas foi mais ou menos colorida pelo médium, por meio do qual se fez compreender, e ainda hoje é mais desproporcionada do que outrora, tornando-se positivamente falsa por não ser de modo algum a revelação de Deus, quando se quer interpretá-la ao pé da letra. Torna-se uma criação do homem que formou, de fato, uma divindade, como a que o selvagem talha à faca para fazer dela o seu fetiche. Com tais ideias, digamos ainda uma vez, não temos nenhuma relação. Rejeitamo-las, e a nossa missão é substituí-las por um conhecimento mais nobre e mais verdadeiro. Demais, tratando convosco, os Espíritos procedem sempre de modo uniforme; são enviados para fazer conhecer, com o concurso dos médiuns, algumas parcelas da verdade divina, porém acham no cérebro desses médiuns opiniões estabelecidas, falsas umas, outras em parte verdadeiras, além da confusa legião dos preconceitos da primeira idade e da educação. Esse Espírito deve ficar completamente emancipado das ideias preconcebidas? De modo algum. Não é assim que operamos, pois, apagando tudo, aventurar-nos-íamos a deixar o cérebro vazio e teríamos destruído sem poder criar. Não; tomamos as opiniões já existentes, mas esforçamo-nos por influenciá-las e aproximá-las da verdade, porquanto quase todas elas possuem um bom gérmen da verdade, o qual nos esforçamos por desenvolver, para que eles progridam e aumentem em conhecimentos. Contentamo-nos com deixar morrer as noções teológicas a que o homem liga tanta importância, por serem de pouquíssimo valor, e deverem dissipar-se à aproximação da brilhante luz para a qual conduzimos a alma, instruindo-a sobre os assuntos importantes. Não nos ocupamos com opiniões que não são prejudiciais. À vista disso, bem vedes que as ideias teológicas ficam tais quais eram, apenas adocicadas, menos austeras em sua aspereza. Assim os homens se certificam sem razão de que os Espíritos ensinam sempre o que o homem já sabia; nada de menos verdadeiro, e o que vos ensinamos é uma prova disso. Os guias espirituais trabalham, certamente, sobre o que acham no espírito, mas modelam, atenuam e conduzem a inteligência por graus imperceptíveis aos fins que têm em vista. A mudança obtida só se torna visível quando as opiniões, que pareciam firmadas, se modificam de modo bastante rápido. Por exemplo, um homem que negou a existência de Deus e da alma, que acreditava apenas no que podia apalpar e ver, adota a crença em Deus e em uma existência futura; no entanto, admirai-vos disso. Mas o espírito preparado, punido, morigerado, que se depurou e cujas convicções imperfeitas e grosseiras já se harmonizaram, é conduzido gradual e sutilmente, de modo a não o perceberem os vossos sentidos. Tais são, entretanto, os gloriosos resultados do nosso trabalho diário. O que era imperfeito, insensível, austero, anima-se, excita-se para o amor da verdadeira vida; o puro torna-se ainda mais puro; o nobre, ainda mais nobre; o bom, muito melhor; a alma ansiosa, agora acalmada, fica satisfeita por perceber com maior clareza mais ricas ideias do seu Deus e da felicidade futura. As opiniões não foram suprimidas, mas transformadas. É isso a real influência espiritual que existe ao redor de_vós e da qual nada sabeis ainda; é o atributo bendito e vivo do nosso ministério. Assim, quando os homens dizem que os Espíritos repetem as opiniões preconcebidas do médium, têm em parte razão. Mostramos como procedemos para modificar as que são inofensivas. Quando prejudiciais, são destruídas. Em presença de formas especiais de crença teológica, procuramos, quanto possível, espiritualizá-las, antes que destruí-las. Sabemos – como não o podeis saber – quão insignificantes são as formas, mas o essencial é que a fé seja ativa e espiritual. Aplicamo-nos pois a essa obra de construção da qual vos falamos, empregando os bons materiais, eliminando os que são falsos e ilusórios, saneando a alma, que pode então aceitar as modificações que oferecemos e compreender o que podemos ensinar-lhes sobre a verdade. E agora, amigo, experimentareis a influência eficaz desse sistema, que vos ajudará em vossas dificuldades. Procuramos não extirpar do vosso espírito as opiniões teológicas que sustentais, mas modificá-las. Se quereis recordar-vos do passado, verificareis como o vosso credo se afastou de uma base tão estreita, para chegar gradualmente a ideias racionais. Fizestes, sob a nossa direção, conhecimento com os princípios teológicos das inúmeras seitas e igrejas. Fostes conduzido a reconhecer, em cada uma, o gérmen de verdade, mais ou menos desenvolvido, porém obscurecido pelo erro humano. Estudastes os escritos dos mestres sobre religiões no mundo cristão, e a vossa própria crença está despida das suas asperezas, ao contato das doutrinas divergentes que proclamam a verdade. O progresso foi lento desde os dias em que estáveis influenciado pelo estudo dos antigos filósofos, até à hora presente em que os sistemas de teologia passaram, deixando em vosso espírito somente o que podeis assimilar ...
Perguntais como o sinal da cruz pode ser ligado ao nosso ensino. Amigo, a verdade espiritualista, que tem esse sinal por emblema, é a verdade legitimamente cardinal que devemos anunciar de acordo com a nossa missão. O amor devotado, que quer servir à Humanidade até ao sacrifício da vida, do lar e da felicidade terrestre, o puro espírito do Cristo, é, declaramos ainda, o espírito divino. É ele que salva verdadeiramente a baixa moral da ambição vulgar das satisfações pessoais e da voluptuosa indolência. é ele que pode resgatar a Humanidade e fazer dos homens os filhos de Deus. Essa abnegação e esse amor encarnado podem, na verdade, expiar o pecado e tornar o homem semelhante a Deus. Tal é a verdadeira expiação, admissível em vez da reconciliação de uma Humanidade manchada de crimes, com um Deus irritado, reconciliação obtida à custa do sacrifício do seu filho imaculado. Expiação é essa mais elevada e mais completa pela purificação da natureza, pela liberdade do espírito e pela fusão do humano e divino Uno. O espírito do homem pode atingir esse objetivo, mesmo durante a sua encarnação. A missão do Cristo foi demonstrar essa verdade, e nisso ...
Refleti sobre as nossas palavras; procurai ser guiado, se não por nós, seja por Aquele que nos envia, como enviou outrora esse Espírito sublime de pureza, caridade e sacrifício a que os homens chamaram Jesus e que era o Cristo. Veneramos o seu nome e o adoramos mesmo hoje. Repetimos as suas palavras; o seu ensinamento ressurge no nosso. Ele e nós somos de Deus e vimos em seu nome.
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----------------------------------------------------- Amigo: com satisfação responderemos à controvérsia que apresentais. Quanto à nossa autoridade, já nos apresentamos, declarando ser divina a nossa missão e esperamos com confiança que aceiteis; é preciso que as almas sejam experimentadas para receberem o nosso ensinamento. Isto virá depois de longa e persistente preparação, não nos surpreendendo o não poder ainda ser aceita facilmente a verdade que promulgamos. Só podemos ser ouvidos por pequeno número de homens mais adiantados em conhecimentos. Foi jamais aceita, à primeira vista, alguma revelação complementar das precedentes?A pretensiosa ignorância tem-se insurgido sempre contra o progresso, na persuasão de que os seus conhecimentos velhos e antiquados são suficientes; a mesma horda assaltou a Jesus. Os homens que tinham lentamente elaborado a teologia mosaica, reduzindo em massa ritualista informe as instruções do Sinai, gritaram que o blasfemador Jesus destruía a lei e ultrajava a Deus. Os escribas e fariseus, guardas da fé ortodoxa, unânimes em sua incredulidade e irritação contra Ele, lançaram o clamor que conduziu finalmente à cruz o grande Mestre. Sabeis hoje que Ele não insultou a Deus, mas apenas destruiu as interpretações humanas para poder purificar os mandamentos da lei divina, erguê-la da morte, dando-lhe um novo vigor espiritual. Em vez da interpretação glacial da Lei, prescrevendo a obrigação externa devida a um pai sem misericórdia nem amor, Ele ensinou a filial afeição, oferecendo com abundante ternura um tributo de amor, não comprado, aos pais terrestres e ao Pai Todo-Poderoso. Substituiu o formalismo de uma convenção puramente exterior pela livre oferta do coração. Qual era o mais verdadeiro e o mais sublime credo? O último esmagou o primeiro? Entretanto, aqueles que se davam por satisfeitos em cumprir o dever filial por meio de algumas simples moedas, desdenhosamente atiradas, foram os que crucificaram o Cristo, sob o pretexto de que Ele tinha ensinado uma religião nova, blasfematória e subversiva, que tendia a destruir a antiga. A cena do calvário foi o coroamento lógico da fé defendida pelos fariseus. A mesma censura de blasfêmia elevou-se perpetuamente contra os discípulos, quando eles vieram pregar o seu Evangelho a uma sociedade não preparada, que não se importava de recebê-lo. As mais monstruosas acusações foram facilmente levantadas pelos inimigos da nova fé, “por toda parte difamada”. Os discípulos e os primeiros fiéis estavam sem lei, posto que respeitassem rigorosamente o culto e os poderes “que tinham” devoravam os filhos: os servidores e imitadores do meigo Jesus! Aceitavam-se como verdadeiras as mais odiosas calúnias, como hoje os homens desejam crer em tudo o que pode desacreditar a nossa missão e a nós próprios. é a história de todos os tempos; as novidades que tocam à religião, à ciência, ao que ocupa o espírito limitado do homem são atacadas com furor. É um atributo essencial da inteligência humana, dominada pelo hábito mental ou material, o que lhe é novo ou estranho alarma a sua indolência e lhe inspira uma suposição desconfiada. É, pois, sem surpresa que vemos primeiramente a incredulidade fazer oposição ao Cristianismo espiritualizado que ensinamos. Não é de estranhar que a nossa comunicação contradiga algumas particularidades dos ensinos dados por intermédio de espíritos humanos, mais ou menos desenvolvidos em dias de há muito desaparecidos. Não temos necessidade de repetir que a Bíblia contém páginas que não concordam com o nosso ensinamento, sendo uma mistura de erro humano transmitido pelo espírito dos médiuns escolhidos; podeis somente conseguir isolar a verdade, julgando a tendência geral. Opiniões particulares, escolhidas sem referência ao corpo de doutrina, são apenas os sentimentos do indivíduo e demonstram a disposição do seu espírito, mas não são artigos de fé. Imaginar que uma convicção enunciada desde tantos séculos possa unificar-se, eternamente, é insensato. Sem dúvida, era crença corrente, na época em que os escritores compunham os livros do NOVO_testamento.htm – a que chamais inspirados – que Jesus era Deus, e repudiava-se violentamente quem quer que o negasse. Sem dúvida creditava-se também que Ele voltaria sobre as nuvens antes que a geração então viva desaparecesse, para julgar o mundo. Os homens enganavam-se em ambos os casos; pelo menos em um deles, pois que já são passados mil e oitocentos anos sem que Jesus tenha voltado para dar sentenças. Poderíamos continuar o argumento se fosse necessário. (Ver: Arianismo) A impressão que desejamos produzir em vós é esta:
Não podemos sem calafrios falar de um tal Deus, no qual a nossa razão não pode pensar. Não nos limitamos a expor a inanidade da pretensão com que se quer fazer desse miserável ídolo muito mais que uma ficção concebida por bárbaros; só pedimos que admireis, conosco, a presunçosa ignorância com que se ousou produzir uma tal caricatura do Deus, Santo dos Santos. o Deus que pregamos é na verdade um Deus de amor, cujos atos não contradizem o seu nome e cujo amor e piedade sem limites são incessantes para com todos; que não tem parcialidade para com ninguém, sendo de uma imutável justiça para com todos. Entre ele e vós estão as classes dos Espíritos, seus agentes, reveladores da sua vontade; por esses mensageiros a comunicação nunca é suspensa. Tal é o nosso Deus manifestado por suas obras e operando por intermédio de seus anjos missionários. E vós mesmos, quem sois? Almas imortais, que por uma palavra, um grito exprimindo a fé em um ininteligível e monstruoso dogma, podeis comprar um céu de inatividade e evitar um inferno de tormento material? Em verdade, não! Sois Espíritos colocados durante certo tempo em um vestuário de carne, a fim de vos preparardes para uma vida espiritual mais elevada, na qual colhereis o fruto da seara semeada no passado. Não vos espera um fabuloso céu, de torpor eterno, mas sim uma atividade útil, progressiva, que vos ajudará evolutivamente, sempre para mais altas perfeições. Imutáveis leis governam as ações que produzem os seus próprios efeitos.
Não conhecemos outro inferno senão o que está na alma aflita pelas suas transgressões, acabrunhada de remorsos e angústias, a qual se salvará, combatendo as suas más disposições e cultivando as qualidades que a reconduzirão à estrada do conhecimento de Deus. O castigo é apenas a conseqüência natural do pecado consciente, sem intervenção divina; remedeia-se isso pela expiação, pelo arrependimento pessoal , suportados com firmeza, sem covardes apelos para obter misericórdia e sem se crer salvo pela condescendência dada a fórmulas que deveriam fazer tremer. Sabemos que a felicidade está reservada para quantos se esforçam por ter uma vida de acordo com a razão, com a mesma certeza com que a miséria aguarda os que violam cientemente as leis sábias, corporais ou espirituais. Das sublimes regiões do Além não dizemos nada, porque nada sabemos. Limitamo-nos a repetir-vos que a vida para nós outros, como para vós, é governada por leis, que devem ser descobertas, e que a obediência ou o desprezo que se lhes dá conduzem certamente à paz ou à dor. é inútil insistir mais sobre o nosso credo, cujas linhas principais já conheceis, e sobre o qual, oportunamente, novas luzes vos serão dadas. Estabelecemos de novo a nossa questão:
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----------------------------------------------------- Falar-vos-emos disso oportunamente. Refleti sobre o que foi dito, antes de reclamar outras comunicações. Possa o Supremo dar-nos a capacidade de vos guiar com acerto. † Imperator -------------------- \\\ ||| /// --------------------
(Ver: Comunicação dos Espíritos com o mundo material) ----------------------------------------------------- Amigo, estamos muito satisfeitos por ter chegado a estimular o vosso espírito e por haver tirado dele uma série de perguntas racionais. Nenhuma disposição de espírito – crede-nos ao menos nisso – é mais agradável ao Supremo do que quando se procura a verdade, com zelo e inteligência. Longe de combater-vos o desejo de verificar as ideias novas, sem pensamento preconcebido – aprovamo-lo. é isso o indício de um espírito livre e leal que não quer renunciar às suas primeiras crenças sem razões substanciais e que, entretanto, está pronto a reconhecer a verdade, se puder obter certezas interiores e exteriores. Essas dúvidas e inquietações têm muito mais valor do que a crédula disposição daquele que aceita tudo quanto lhe é apresentado, sob uma cor capciosa; preferimo-la sobretudo à indiferença dessas naturezas estacionárias a quem nenhuma tormenta demove, a cuja vítrea superfície nenhuma brisa agita e cuja plácida inércia é refratária a qualquer conselho espiritual. Louvando as vossas dúvidas, a elas responderemos nos limites do nosso poder. Há um ponto além do qual nos é impossível fornecer provas; deveis sabê-lo, comparando-nos às testemunhas chamadas aos vossos tribunais de justiça; estamos em uma situação desvantajosa por não poder produzir o gênero de evidência que prevalece entre vós. Como não somos da Terra, as nossas afirmativas, mesmo em vasta proporção, só podem ser corroboradas pelo testemunho dos nossos irmãos espirituais. Vários deles vos falaram da nossa identidade terrestre e vos deram a prova, que deveria ser concludente, de que conhecemos intimamente, nas menores particularidades, a vida terrestre daqueles cujos nomes tomamos. Se isso não basta para vos convencer e se pensais que essas informações foram obtidas por Espíritos enganadores, sempre prontos a mistificar, lembrar-vos-emos as palavras de Jesus:
Não temos que insistir por mais tempo sobre esse ponto; as vossas inquietações não nos surpreendem, mas desde que a nossa resposta não pode convencer-vos, nada mais temos a acrescentar, cumprindo-nos aguardar com paciência o momento em que vereis a luz. Com vagar falaremos, em outras circunstâncias, dos Espíritos que, tendo vivido em diferentes épocas da história desse mundo, sob climas diversos, têm ideias divergentes sobre Deus e a vida futura. Presentemente vos indicamos uma falsa concepção, que é inseparável do estado em que viveis. Não podeis ver, como nós, a quase nulidade do que chamais opinião; não podeis saber, devido à cegueira dos vossos olhos, como se rompe o_véu depois de_a alma separar-se do corpo carnal; de que modo as especulações a que se liga tanta importância são consideradas interpretações vagas enquanto se percebe o gérmen de verdade oculto sob as doutrinas teológicas, gérmen muito semelhante em essência, não obstante os seus diferentes graus de desenvolvimento. Ah! amigo, a religião não é um problema tão abstrato como o homem o considera; porquanto a verdade não é o patrimônio exclusivo de nenhum homem nem de seita alguma.
Esperamos que depois da reflexão reconheçais o bom senso do que vos dizemos. Quanto às provas irrecusáveis, é preciso contentar-vos com a esperança, até que, rompido o véu, possais por vossa vez e conosco perceber o que é invisível aos vossos olhares ainda limitadíssimos. A nossa grande esperança é que chegareis gradualmente a ser convencido. Aplicai-nos a divina lei do Mestre, de julgar os outros como a vós mesmos. Errais supondo que os nossos ensinos oferecem contradições. Inteligências de ordens diversas têm comunicado convosco, expondo argumentos e pontos de vista variados. Não negamos que de preferência temos procurado desenvolver em vós os germens da verdade que descobrimos, em vez de entrar em luta com as vossas opiniões errôneas; havemos evitado as discussões inúteis e procurado os pontos de contato. Voltaremos mais tarde sobre certas matérias, que de propósito deixamos de lado. Quando pedistes informações, indicando que não estáveis obstinado em conservar tais ou tais ideias, esclarecemos-vos sem escrúpulo. Podemos ver quando a corrente do pensamento vos arrasta para longe de antigos portos onde não vos sentis mais em segurança, e então vos guiamos para não cairdes na torrente, arriscando-vos ao naufrágio. Desatamos delicadamente os laços para desprender o vosso espírito do passado morto, e estamos encarregados de o conduzir a um ancoradouro mais seguro. Queremos, se nisso cooperardes, torná-lo capaz de se elevar acima das tempestades e de estar pronto, com uma fé nova e vivaz, a atravessar as vagas encapeladas que o separam do porto da paz. Nesse tentame, não vos temos em nada desviado ou iludido, pois tudo quanto temos afirmado é de escrupulosa exatidão. Não há verdadeiramente divergência nos ensinos de outros que falaram; as contradições aparentes são devidas à dificuldade de comunicação, à influência variável da vossa própria mentalidade, do vosso estado físico, à novidade do trabalho para alguns e sobretudo às vossas ideias acanhadas.
Muito vos lastimais da pouca probabilidade em ser aceita a nossa doutrina, entretanto não sabeis quase nada a esse respeito. Está muito mais próximo do que pensais o tempo em que a antiga fé, que durou tanto e que o homem remendou tão grosseiramente, cederá lugar a uma fé_mais_nobre, mais elevada, não antagônica, porém suplementar, e o puro Evangelho que Jesus pregou achar-se-á em nível de conhecimento mais adiantado. Pois sabei, bom amigo, que nenhum esforço é tentado sem que tenha sido considerada a correlação entre o Evangelho de Deus e as necessidades do homem. O que vos trazemos aplica-se também a outros e se espalhará sem interrupção, por processos bem graduados, entre as criaturas aptas a compreender a fé. O Mestre assim o quis. Essa hora não soou para vós e a nossa vidência é menos circunscrita que a vossa. Em tempo oportuno os princípios que acabamos de propagar serão conhecidos dos homens. Até então as almas progressistas serão instruídas, e uma semente preciosa está sendo semeada: a colheita e a conservação serão quando for preciso. Deveis esperar como nós. Repetimos que Deus não impõe suas bênçãos a ninguém: Se refletirdes sobre o nosso entretenimento, reconhecereis que a natureza do caso contém mais que uma prova presuntiva da validez das nossas pretensões. A evidência completa será admitida por vós e por aqueles a quem ansiamos em revelar os nossos pensamentos. Ninguém pode a isso recusar-se, a não ser os que estão mergulhados sem esperança de libertação, nas névoas da mais profunda superstição, ou aferrados a um dogmatismo intransigente. Nada temos, aliás, de comum com eles. Não falamos mesmo às almas que têm achado na sua fé o apoio suficiente; deixai-as vinculadas a ela; o momento de progredir ainda lhes não soou e só o tempo o fará. A nossa revelação em nada difere da que a precedeu, antes marca um passo para diante, como cada desenvolvimento da ciência humana o faz. Os nossos conhecimentos provêm da mesma fonte e correm pelos mesmos canais, que são hoje, como então, terrestres e por conseguinte falíveis. Assim sucederá enquanto Deus se revelar por agentes humanos. Lembrai-vos do ponto de partida das nossas instruções, para o qual invocamos com insistência o vosso raciocínio; não vos solicitamos essa fé cega que não quer separar-se dos velhos ensinos, unicamente porque são velhos, assim como a aceitação do novo, por ser ele novo. Pedimos que penseis calmamente sobre o que tendes aprendido e, depois que fizerdes uma inteligente investigação, rejeitai ou aceitai, quando a vossa convicção estiver bem escudada. Deus proíbe que incitemos, mesmo em aparência, qualquer homem a tornar-se antagonista real ou imaginário de uma crença que, durante mais de mil e oitocentos anos, foi honrada por miríades de almas zelosas e progressistas, tanto quanto por almas transviadas, mas sinceras e ardentes. A sua longa duração lhe dá direito à veneração, mas com a nossa ampla vista descobrimos a necessidade de modificar uma doutrina que, apropriada às gerações menos adiantadas, se tornou insuficiente. Em todo o caso, não queremos provocar revoluções violentas. Apuramos e infundimos uma vida nova. O Salvador lançou os alicerces de uma fé mais nobre do que a revelada sobre o Sinai ao ribombar do trovão; recomeçamos o divino edifício e oferecemos ao mundo uma crença mais adaptável às suas capacidades atuais, mais apropriada às suas recentes necessidades. (Ver: Divulgação da Doutrina Espírita) “O mundo a rejeitará!” Bem, mas ao menos tê-la-emos apresentado, e aqueles que a tiverem acolhido sentirão a sua benéfica influência. Há quase sempre um longo intervalo entre o primeiro movimento de divulgação de uma verdade e a sua aceitação final; a semente parece perdida. O dia de preparação pode ser longo, a noite durante a qual o semeador espera pode ser acabrunhadora, mas a colheita é certa, e como não vos seria permitido retardá-la, podeis ajudar a arrecadação. Mas quer o homem ajude ou não, a obra de Deus se fará. É só ao indivíduo que a aceitação ou a renúncia da comunicação divina importa substancialmente. Quando uma alma se adianta ou se atrasa, os anjos regozijam ou afligem-se; eis tudo. Perguntais que posição assinalamos a Jesus, o Cristo. Ainda não é chegado o momento de entrar em especiosas comparações entre os educadores, que em épocas diferentes foram enviados por Deus; mas sabemos que nenhum Espírito mais puro, mais divino, mais nobre, mais bendito e mais abençoado desceu à Terra. Nenhum mais dignamente conquistou, por sua vida de amor e sacrifício voluntários, a veneração e o devotamento da Humanidade, nenhum espalhou sobre ela mais bênçãos nem realizou maior obra para o serviço de Deus. Damos a todos os grandes mestres os louvores que lhes são devidos e citamos como exemplo a sua abnegação, o seu amor até ao sacrifício, por uma geração tristemente inapta a seguir tais modelos. Se os homens tivessem empregado a sua energia para imitar o sublime devotamento, a firmeza, a pureza de pensamento e de vida que animaram o Cristo, teriam disputado menos sobre a sua natureza, e teriam sido menos pródigos de inúteis sofismas metafísicos. Os teólogos das idades obscuras não vos teriam legado a maldita herança das suas insensatas especulações. Os homens teriam seguido o simples Evangelho anunciado pelo Cristo, em vez de serem pervertidos por uma teologia antropomórfica que fez derramar lágrimas e sangue, e ultrajar o puro Espírito. Amigo, deveis discernir entre a verdade de Deus e as glosas do homem. Atribuir a um homem as honras divinas, em detrimento da própria homenagem e do próprio amor que a Deus pertencem exclusivamente, é um erro prejudicial que afasta o homem dos seus deveres para com o Eterno. “A letra mata – diz a vossa Escritura –, a letra mata, mas o espírito vivifica.” Assim, ...
† Imperator -------------------- \\\ ||| /// --------------------
(Ver: Comunicações Espirituais) ----------------------------------------------------- Amigo, apraz-nos conversar novamente convosco; e se nos é impossível resolver todos os problemas que vos preocupam, podemos retificar os erros nos quais caístes quanto às relações de Deus com a Humanidade e às tendências da nossa missão. A página da história humana, que conheceis, relata também a marcha da revelação uniformemente progressiva de um único e mesmo Deus.
Repetimos já muitas vezes que o homem apenas recebe o que pode suportar. Deus é revelado por meio dos médiuns, e é impossível que o conhecimento de Deus exceda a capacidade do homem. Tivéssemos a liberdade de vos falar da nossa mais perfeita teologia e ela vos pareceria estranha e ininteligível ainda hoje. Por fracas doses vos instilaremos tanta verdade quanta podeis suportar. Quando a tiverdes assimilado, tereis consciência dos vossos erros.
Pois bem! obtivestes ou estais em vésperas de obter a vossa revelação. O vosso espírito dilatou-se, diriam uns, e imagina-se um Deus mais de acordo com suas faculdades adiantadas. Recebestes de uma fonte exterior, a mesma donde todo divino ensinamento dimana para o homem, uma revelação do Supremo, mais nova e mais rica, diriam outros. Dizei como quiserdes; as duas operações de revelação e de compreensão, de conhecimento e de capacidade devem ser correlatas; o homem só obtém uma revelação superior quando está bastante adiantado para sentir a necessidade dela, pela simples razão de que é ele o próprio agente pelo qual chega a revelação recebida. As vossas invenções teóricas sobre Deus têm-vos vindo por canais humanos; são a encarnação das aspirações humanas, a criação de seres não desenvolvidos, cujas necessidades não eram as vossas necessidades, cujo Deus, ou antes, cujas noções sobre Deus não eram as vossas. Tentastes unir ideias que não podiam concordar umas com as outras, pois que eram o produto de inteligências dessemelhantes, desigualmente desenvolvidas.
Deus! Não o conheceis! Quando os olhos do espírito se abrirem, admirar-vos-eis da vossa ignorância. Deus é muitíssimo diferente do que imaginastes. A vossa baixa imaginação não pode representá-lo. Ele lastima o cego mortal e perdoa-lhe; não censura a ignorância, mas sim a loucura com que se recusa deixar penetrar a claridade no templo vetusto donde ela desterrou um ídolo; lastima os amantes das trevas, que se aferram às fantasias abortadas do passado e, não podendo compreender a beleza, a simples majestade do Deus revelado pelo Cristo, querem enxertar sobre essa nobre concepção as antigas ficções antropomorfas. Estes não podem ainda ouvir ensinamentos mais elevados. Não sois desse número. Quando nos exprobrais asperamente por contradizer o Antigo Testamento, só podemos responder que contradizemos, com efeito, a velha ideia repulsiva que transforma o Deus bom em tirano cioso, mas o nosso ensino está de acordo com a revelação dada por Jesus-Cristo; revelação da qual os seus melhores discípulos desgraçadamente se afastaram, sendo ela aviltada pelo homem. Se no que vos dizemos nada achais de satisfatório, é possível que os adversários tenham conseguido interpor entre nós e vós um fragmento da sombria nuvem que oculta Deus ao mundo. Pedimos que nos seja permitido dissipá-la e difundir uma vez mais em vossa alma os raios de claridade e de paz. Não temos de temer que isso seja um mal permanente e não lastimamos que experimenteis os alicerces sobre os quais o vosso conhecimento deve repousar. Isso não será tempo perdido. Não vos inquieteis sobre particularidades de insignificante importância, mas concentrai o vosso pensamento sobre a imperiosa necessidade de obter um conhecimento mais claro de Deus; sobre a triste ignorância que está espalhada pelo mundo a esse respeito e ao nosso; sobre o nobre credo que ensinamos, sobre o luzente futuro que revelamos. Deixai-vos de estar agitado pelo pensamento de um diabo legendário. Não há nem diabo nem príncipe do mal para a alma reta, pura, verdadeira. Os adversários evitam-lhe a presença, pois ela é cercada de guias angélicos, ajudada por gloriosos Espíritos que velam por ela e a dirigirem. Um carreiro de progressão crescente se abre diante dessa alma, que, aliás, não está ao abrigo das tentações nem das ciladas na atmosfera que deve respirar durante o tempo da prova. A aflição e a angústia podem permanecer na alma, que poderá ficar entristecida sob o peso do pecado, acabrunhada à vista da miséria e do crime, mas, protegida por guias, ela só pode cair pela capitulação voluntária. A tristeza, a iniciação na dor e o contato do crime fazem parte da existência, em virtude da qual ela se eleva para o Além. Aqueles a quem falta a espiritualidade e a quem levou ao excesso o desenvolvimento material, atraem Espíritos congêneres que já deixaram o corpo, sem esquecer seus desejos; atraem esses baixos seres, aproximados da Terra e sempre prontos a precipitarem-se sobre eles. Inimigos dos nossos trabalhos, eles procuram evitar-lhes os bons efeitos. São esses dos quais falais, quando dizeis levianamente que o resultado do espiritualismo não é satisfatório. Errais, amigo. Não nos censureis pelo fato de se manifestarem os Espíritos inferiores por aqueles que lhes desejam as boas-vindas.
† Imperator -------------------- \\\ ||| /// --------------------
----------------------------------------------------- Falais com sabedoria. Refleti profundamente sobre o que é, na verdade, de vital importância. Estamos convencidos de que com o tempo assimilareis estes ensinos cuja importância haveis de apreciar. Dar-vos-emos, quando o desejardes, esclarecimentos sobre alguns pontos, mas não vos concederemos outras comunicações até que o tempo traga o que pedis. Desenvolvei inalterável paciência e orai com ardor. † Imperator -------------------- \\\ ||| /// --------------------
(Ver: Escreventes) ----------------------------------------------------- Parai! parai! Não tenteis indagar, mas aprendei ainda. Estais impaciente e disposto a dizer coisas estultas. Que importa que o que vos dizemos contradiga aquilo em que outros acreditaram? Por que recuar sobre esse ponto? Dar-se-á que toda a fé firmemente abraçada não contradiga nenhuma outra fé? Dar-se-á que cada fé não contenha em si elementos de contradição? Se não sabeis mesmo isso, estais fora do estado de prosseguir para diante. Essas velhas crença, veneráveis pela sua antiguidade, confortaram homens, ainda que estes ficassem grosseiros ao desenvolver-se, mas eles as julgavam de acordo com as suas necessidades; sobrevinha para eles uma satisfação que hoje já não vos concedem. Por quê? Porque o vosso espírito ultrapassa essas antigas fórmulas, sem sentido para vós. Elas são impotentes para estimular-vos a alma e incapazes de vos aliviar. Por que então vos inquietais com isso? Por que demorar e tentar, em vão, encontrar significação daquilo que não podeis obter? Por que ser surdo à voz viva que do Alto vos chama a alma em tom vibrante? Por que recusar ouvir, quando tal voz vos fala da verdade, do espírito, de tudo quanto é nobre, real, oportuno? Por que, em virtude de quimérica veneração por um passado extinto, vos separar do que é vivo, da comunhão dos Espíritos, os quais vos podem anunciar grandes verdades sobre Deus e o vosso destino? Que vos importa que a nossa revelação esteja em completo antagonismo com a antiga? Seus calorosos acentos vos falam ao espírito, bem sabeis disso, ouvis-nos avidamente e achais a sua influência abençoada. Seria insensato entregar-vos aos Espíritos malfazejos, felizes por fazer humilhar a alma, impedindo-vos de vos separardes de um corpo decomposto.
“Só a libertação pela verdade, disse Jesus , pode tornar o homem livre.” Não o sabeis ainda, mas sabê-lo-eis mais tarde. Repetimos o nosso grito. Por que voltar a vossa face para o passado morto, quando o presente vivo e o futuro glorioso são ricos de promessas e bênçãos?
Naqueles dias, como nestes, não ficava das revelações adaptadas às necessidades especiais de um povo especial mais que uma soma de ritual inerte. A voz de Deus não era mais ouvida desde longos anos, e o homem começava a procurar, como agora, um ar mais respirável, aguardava uma palavra nova. Esta lhe veio divinamente expressa por Jesus; veio, na opinião dos homens, pelo veículo mais inesperado e menos capaz de impor o respeito aos sábios fariseus ou aos desdenhosos saduceus; entretanto, ela prevaleceu e há mil e oitocentos anos anima a vida religiosa do Cristianismo. Apesar das degradantes mutilações, a obra do Crucificado subsiste, bastando um sopro vivificante para reanimá-la; os velhos andrajos que o homem nela enrolou podem ser prontamente postos de lado, e a verdade aparecerá com muito mais brilho. A fonte da nossa revelação não é mais singular do que o foi a do poder exercido por Jesus, carpinteiro desprezado de Nazaré, aos olhos dos seus concidadãos.
Ficai certo de que o poder que conseguiu reanimar a fé morta dos judeus e revelar Deus, mais claramente, é ainda capaz de instilar a vida no corpo quase inanimado da fé cristã. Possa o Sapientíssimo Guia proteger-vos e guiar-vos.
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Não conheceis nada a meu respeito, dizeis. Por que quereis confundir o mensageiro com a mensagem? Por que persistis em associar o que é divino ao veículo que o transporta? † Imperator Esse estado foi passageiro. Eu estava muito ligado aos antigos hábitos de análise para ceder a uma impulsão entusiástica; demais, a primeira educação religiosa se firmava, e eu voltava às minhas velhas objeções teológicas. Dissipado o primeiro efeito, continuei a discussão dois dias depois. Nesse intervalo, tinha eu lido e relido tudo o que está impresso aqui e em muitas outras páginas íntimas demais para serem publicadas. Recordara os trabalhos de um ano e, não descobrindo neles nenhum desvio da verdade, cheguei à convicção de que o poder em atividade era: 1º) exterior a mim; Parecendo-me isso claro, comecei a examinar a questão de identidade e as pretensões alegadas. Quanto às questões materiais, senti que podiam esperar. Os pontos já estabelecidos em meu espírito me afirmaram no pensamento que a inteligência verídica do passado era ainda verídica. Mas então veio a dúvida: até que ponto tudo isso podia ser a obra de Satanás transfigurado em anjo de luz trabalhando para destruir a fé? Eis exatamente a minha objeção: Não se pode dizer com espírito de crítica leal que o vosso ensino tenda ao que os homens chamam deísmo, panteísmo; não avilta a Deus colocando-o ao nível de uma força; mas não tende a entreter no espírito do homem uma dúvida quanto à verdade, qualquer que ela seja? Começa-se a crer que Deus é apenas um nome para designar a influência que penetra o Universo. A revelação de Deus vem “ab intra”, criada pela imaginação de modo algum revelada ao espírito. O Cristianismo é uma das numerosas formas de fé, todas mais ou menos enganadoras. O homem tateia cegamente desenvolvendo por e para ele mesmo ideias mais ou menos errôneas. Se Deus existe somente por concepção, cada homem tem o seu deus pertencente só a ele. A verdade absoluta, fora das matemáticas, não existe. E assim o homem, partindo do mais favorável ponto de vista, torna-se uma unidade insulada, a sós com o seu próprio espírito, respondendo às suas próprias perguntas, emitindo ideias que, depois de o terem satisfeito por um momento, dão lugar a outras que, por sua vez, cedem o passo a novas especulações; a menos em verdade que, quando o intelecto se torne fóssil, as velhas ideias fiquem permanentes por deixarem de viver. Essa pálida teoria suplantaria um Evangelho, que traz o divino “imprimatur”, cujos preceitos são precisos, cuja moralidade está em um grau de elevação acessível à maior parte dos homens e que é reforçado por um sistema – de recompensas e de punições – sempre reconhecido como necessário pela experiência nas relações com o homem. Esse Evangelho, assim apoiado, não teve bom êxito, como o dizeis, para elevar os homens até a um altíssimo cume de perfeição moral. Como posso então esperar que uma filosofia tal como a vossa, com uma sombra de bem, é verdade, mas somente uma sombra encoberta, vaga, impalpável, que destrói o passado sem construir o futuro; como crer que ela possa subjugar os espíritos rebeldes que resistiram a uma religião precisa em sua direção moral, poderosa por seus apelos aos interesses humanos, autorizada por uma origem divina, santificada pelo halo que emana da mais santa vida, que nunca foi oferecida à imitação humana: Isso me parece muito improvável. Não repito hoje o que disse a propósito da fonte nebulosa donde provém esse ensinamento. Não insisto sobre os perigos que prevejo, se ele fosse geralmente adotado; esse perigo está ainda muito afastado. Ao mesmo tempo – e é importante o fator no argumento – o vosso ensino, a meu ver, relaxa muitos laços que foram úteis, moral, social e religiosamente, à Humanidade. E quando mesmo o que conhecemos sob o nome de espiritualismo invadir o mundo, receio muito que depois de ter entusiasmado e fanatizado os homens por algum tempo, estes, longe de se melhorarem, mergulhem na mais cega superstição e na mais inepta credulidade. Posso enganar-me absolutamente, mas estou convencido do que afirmo. O vosso ensinamento, mesmo se fosse o que pretende, não poderia substituir aquele em que os homens crêem; eles não estão mais aptos a ser governados por ele do que a viver da nutrição dos anjos. Mesmo sob a forma mais elevada, ele é de utilidade duvidosa e, em seus aspectos mais vulgares, é pernicioso e desmoralizador.) ----------------------------------------------------- Em nome do Supremo vos saudamos. Não está em nosso poder ajudar-vos agora. As nossas palavras vos parecem diferentes do que o são. O abalo que comoveu o vosso espírito deixou-o em um estado pouco propício para ponderar e distinguir, sendo-vos preciso, pois, esperar o momento favorável. O aprendizado todavia vos é útil. Sabereis o porquê. A impulsão e o entusiasmo cederão ao conhecimento experimental e à convicção calma. A venerável crença, antes consentida que aceita, se amortecerá diante da descoberta de uma verdade nascida da investigação lógica. O que vos dissemos merece o mais aprofundado estudo. Desejamos que vos utilizeis de todas as ocasiões para reler com cuidado o que foi escrito e para meditar maduramente sobre o conjunto das nossas relações convosco. Exigimos ser julgados de acordo com a nossa inteira comunhão convosco, e também aos nossos atos; pelo efeito moral do nosso ensino, tanto quanto pela sua relação com os precedentes credos; pela atmosfera espiritual que nos acompanha, tanto quanto pela imperfeita enunciação que permite facilmente a uma lógica sutil achar evasivas. Presentemente, basta que reiteremos solenemente a nossa pretensão de sermos os portadores de uma comunicação divina.
Não deveis recusar este pedido, pois foi ditado pelo próprio tentador!
Em todas as épocas em que o conhecimento de Deus se desenvolve, há muitos adeptos silenciosos, ignorados do mundo, que avançam resolutamente para um saber mais perfeito; o mesmo sucede atualmente. Numerosos são eles, muito numerosos os que deploram a corrupção ilimitada dos pensamentos que os chocam e os afligem, mas não têm força para diminuir a fé baseada sobre a experiência. Demais, podemos informar-vos que as nossas relações com o plano material são governadas por leis que a vossa ciência ainda não definiu. Finalmente, nem nós nem vós conhecemos todas as coisas que se interferem ao nosso poder.
Podeis ajudar-nos a esmagar a pueril curiosidade e a fraude. Pudestes verificar, em nosso próprio grupo, como as manifestações se desenvolveram progressivamente quando seguistes o nosso conselho; podeis convidar os outros a usar dos meios. Com o tempo, a nuvem se dissipará, pois as causas que a produzem dependem de vós, pelo menos tanto quanto de nós. † Imperator
----------------------------------------------------- Alegais, amigo, que a vossa objeção tem sobre as nossas o mérito da candura e da perspicácia. Compreendemos a vossa perplexidade e não podemos supri-la; ainda que fosse isso possível, não o faríamos. Não aprovamos o programa que quereis impor, não por má-vontade, pois que desejamos convencer-vos, mas porque não somos onipotentes e porque só podemos influenciar-vos pelos processos ordinários de argumentos e evidência; por eles não atingirem ainda o vosso entendimento, é preciso esperar. Não vos acompanhamos no terreno em que vos colocais; as vossas perguntas já foram respondidas na medida conveniente e o que poderíamos acrescentar seria sem valor. É ocioso entrar em particularidades de opinião e é de importância secundária que o que dizemos vos pareça de acordo com o que fazemos ou fizemos. Não estais em condição de julgar imparcialmente. Fica também fora de combate que o resultado eventual do que chamais espiritualismo seja o que obtereis. A vossa vista é circunscrita, a nossa é mais clarividente e abrange mais vastos espaços. Reconheceis a grande moral do nosso ensino. Quer o admitais como o legítimo desenvolvimento do Cristianismo, quer acrediteis nele ou não, isso pouco importa, pois que o mundo tem necessidade dele e mais cedo ou mais tarde o receberá com reconhecimento. Esperávamos ter achado em vós um instrumento conveniente, que não abandonamos ainda, pois a crise que atravessais é transitória e à dúvida sucederá uma convicção firme. E ainda que fosse de outra maneira, nós nos curvaríamos e procuraríamos de novo o necessário para continuar a nossa tarefa. Poderemos lamentar vendo os nossos esforços mal interpretados ou retardados, mas não temos o poder de vos obrigar a aceitar uma crença que vos seria auxílio poderoso; deveis decidir em plena liberdade de espírito. Toda tentativa para provar a nossa identidade de acordo com o modo que quereis impor-nos seria pior que inútil; produziria um insucesso. Talvez nos seja possível dar, de tempos em tempos, provas colaterais, aproveitando para isso, com prazer, a oportunidade que nos for oferecida e, se as vossas relações conosco se prolongarem, verificareis mais tarde que essas provas são acumuladas em grande número. Mas a validez das nossas afirmações deve apoiar-se em base sólida. É para o terreno moral que vos chamamos; reconhecereis um dia, temos fé, que as manifestações físicas são transitórias e insuficientes. O vosso espírito não está bastante cultivado para examinar com cuidado judicioso a evidência moral. Se, como o sustentamos, somos de Deus e não do demônio, não é verossímil que componhamos uma história que tivesse de ser recebida com zombaria; se somos oriundos do mal, como vos inclinais a crer, resta-vos demonstrar como uma história, que traz os sinais de uma origem divina, pode provir de fonte corrompida. Não nos incomodamos absolutamente com essas asserções. É para o fundo da mensagem e não para o caráter do mensageiro que invocamos a vossa atenção. Para nós mesmos é indiferente; para a obra de Deus e a verdade de Deus é sério. Para vós e o vosso futuro, é de importância vital. Estais ofuscado pela revelação de que fostes o centro e que vos foi dada copiosa e rapidamente. É preciso deixar-vos tempo a profunda e ponderada reflexão. Retiramo-nos para vos deixar em paz com os vossos pensamentos; não estareis só, deixar-vos-emos com guias mais vigilantes, mais experimentados. Essa conduta é preferível também para nós, porque, após uma palavra mais ou menos prolongada, saberemos se podemos recomeçar a tarefa ou se, depois de ter perdido um tempo precioso, é preciso trabalhar em outra parte. Seria bem penoso o desapontamento de ver cair, antes da maturação, um fruto que nos custou tanto labor e prece! Devemos conjuntamente agir de acordo com a luz guiadora das nossas ações. Como somos responsáveis por ela diante de Deus, devemos deixá-la exercer-se livremente. As nossas preces não serão nem menos freqüentes, nem menos ardorosas, e temos confiança de que elas serão mais eficazes. Adeus, e possa o grande Deus guiar-vos e dirigir-vos. † Imperato
----------------------------------------------------- Ocupai-vos do passado, meditai sobre o valor moral das nossas palavras. Não vos censuramos por dúvidas, que são a conseqüência natural da disposição particular do vosso espírito; apenas indicamos que essa tendência não vos é favorável para julgar com imparcialidade. A vossa natureza impetuosa vos conduz muito à pressa e o vosso espírito levado à dúvida vos mantém em uma agitação deplorável. É preciso dominar esse ardor e evitar formular conclusões prematuras, deixando de criticar pequenas particularidades e de dar importância ao que chamaremos a base do nosso ensino. Recordai-vos, amigo, de que as dúvidas e dificuldades que apresentais elevam uma barreira entre nós, detêm o nosso progresso e obrigam-nos a reservar muitas coisas. Isso é inevitável. Libertai o vosso espírito, de uma vez para sempre, pelo firme exercício da vossa vontade; libertai-o dos nevoeiros que obscurecem o julgamento. Esperamos que conseguireis isso depois do repouso e do insulamento. É essencial que o grupo com o qual nos comunicamos esteja em perfeita harmonia. As dúvidas são para nós como o nevoeiro da terra, que desvia o viajante; não podemos trabalhar no meio delas. É certo que um exame sincero e imparcial do passado afastará esse nevoeiro, que se dissipará à medida que o sol da Verdade se elevar no horizonte, e vós então ficareis admirado das perspectivas que se desenrolarem aos vossos olhos. Não rejeiteis a novidade pelo fato de ela vos surpreender. Procurai apreciá-la em seu valor ou colocai-a de lado, esperando outros esclarecimentos. Tudo vem à vontade de Deus para a alma sincera e leal. Tende presente ao pensamento que nada sabeis sobre inúmeras coisas novas e verdadeiras. Tendes muitas verdades novas a aprender e antigos erros a olvidar. Esperai e orai! † Imperator ...Tratamos as antigas opiniões como Jesus tratava a lei judaica. Ele anulou abertamente a letra, enquanto lhe renovava o espírito por eloqüentes e novas explicações. Procedemos com as opiniões e com os dogmas do Cristianismo moderno como Ele procedeu com a lei mosaica e com a ortodoxia dos fariseus e rabinos. † Imperator
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