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Podendo
tomar todas as aparências, o Espírito se apresenta sob a que melhor o faça
reconhecível, se tal é o seu desejo. Assim, embora como Espírito nenhum
defeito corpóreo tenha, ele se mostrará
estropiado, coxo, corcunda, ferido, com cicatrizes, se isso
for necessário à prova da sua identidade. Esopo, por exemplo, como Espírito,
não é disforme; porém, se o evocarem
como Esopo, ainda que muitas existências tenha tido depois
da em que assim se chamou, ele aparecerá feio ecorcunda, com os seus trajes
tradicionais.
Coisa interessante é que, salvo em circunstâncias especiais, as partes menosacentuadas são os membros inferiores, enquanto que a cabeça, o tronco, os braços e as mãos são sempre claramente desenhados. Daí vem que quase nunca são vistos a andar, mas a deslizar como sombras. Quanto às vestes, compõem-se ordinariamente de um amontoado de pano, terminando em longo pregueado flutuante. Com uma cabeleira ondulante e graciosa se apresentam os Espíritos que nada conservam das coisas terrenas. Os Espíritos vulgares, porém, os que aqui conhecemos aparecem com os trajos que usavam no último período de sua existência. Freqüentemente, mostram atributos característicos da elevação que alcançaram, como uma auréola, ou asas, os que possam ser tidos por anjos, ao passo que outros trazem os sinais indicativos de suas ocupações terrenas. Assim, um guerreiro aparecerá com a sua armadura, um sábio com livros, um assassino com um punhal, etc.
A questão do traje e dos objetos acessórios com que os Espíritos aparecem é talvez a que mais espanto causa.
O aspecto que as entidades
desencarnadas assumem perante os médiuns
humanos, quando se comunicam na Terra,
pode variar infinitamente.
André Luiz
Na orla escura da esquisita
povoação, que começava, aqui e além surgiam criaturas
andrajosas e alheadas.
Não se podia afirmar fôssem criaturas análogas aos mendigos, de alguma praça terrena, em penúria.
De modo geral, os milhares de irmãos que se abrigam nestas paragens não se aceitam como são. Habituaram-se de tal maneira às simulações — aliás, muitas vezes, necessárias — da experiência física, que se declaram ofendidos pela verdade. Viveram, anos e anos, na esfera carnal, desfrutando essa ou aquela consideração pelos valores de superfície que exibiam, enfatuados, e não se conformam com a supressão dos enganos e privilégios imaginários de que se alimentavam... Narcisos fixados à própria imagem na retaguarda... Muitos se transferiram diretamente da vida física para a região nebulosa sob nossa vista, e outros muitos habitaram, logo após a desencarnação, cidades de recuperação e adestramento, semelhantes à nossa; entretanto, à medida que se evidenciavam, tais quais ainda são na realidade, absolutamente sem quaisquer simulacros dos muitos de que se valiam na estância terrestre para encobrirem o “eu” verdadeiro, rebelaram-se contra a luz do Mundo Espiritual que nos expõe à mostra a natureza autêntica, uns diante dos outros, e fugiram de nossas coletividades, asilando-se no vale de sombras geradas por eles mesmos. Aí, na penumbra criada pela força mental que lhes é própria, com o objetivo de se esconderem, dão pasto, em maior ou menor grau, às manifestações da paranóia a que todos se afeiçoam, entregando-se igualmente, em muitos casos, a lastimáveis paixões que procuram debalde saciar, até as raias da loucura. Com poucas variantes, demoram-se nessas situações apenas o tempo preciso ao exame da nova reencarnação ,em que regressam aos disfarces da carne, sem os quais, segundo acreditam, não conseguem seguir à frente, nas veredas da regeneração. Entre o cansaço da erraticidade nas sombras da mente e o terror da luz espiritual que confessam não suportar sem longa preparação, suplicam o socorro da Providência divina e a divina Providência lhes permite a nova internação na armadura física, na qual se reocultam, lutando pela própria corrigenda e pelo burilamento próprio, encobertos transitoriamente no engenho carnal, que, pouco a pouco, se desgasta, pondo de novo, à mostra, o bem ou o mal que fizeram a si mesmos, no período da encarnação. Obtido o empréstimo do novo corpo, via de regra junto daqueles que se lhes fizeram cúmplices nos desvarios do pretérito ou que se lhes afinam com o tipo de débitos e resgates consequentes, esses candidatos à recapitulação expiatória do passado imploram medidas contra eles mesmos, ...
[73 - páginas 104 a 107] (Ver: Reencarnação e Evolução)
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