____Tomo-o ao livro intitulado Messages from the Unseen. Trata-se de uma santa mãe que se comunica por intermédio de sua filha. Orna a brochura o retrato da morta, cujos traços angélicos se harmonizam de modo muito sugestivo com o conteúdo das mensagens, das quais se exala o perfume celeste de uma bela alma, em suprema comunhão de amor com todos os seres do Universo.
____é tão espontânea, tão natural a forma em que são ditadas as mensagens, que sugere aos que as lêem a intuitiva certeza da origem, autenticamente transcendental, donde promanam. ____Na primeira, a morta exprime a sua viva alegria por sentir-se, enfim, liberta do corpo.
____Dirige-se, depois, ao marido, nos termos seguintes:
- “Acho-me, neste momento, contigo, bem perto de ti e dos meus filhos. Varre da mente essa ideia de que me encontro muito longe do meio onde vivi. Podes consultar-me sobre tudo o que te apraza, com mais facilidade do que antes. Estarei sempre em relação com todos vós; não vos deixarei um só instante, até ao dia em que vos der as boas-vindas à passagem do grande rio. Possa essa passagem ser para todos tão suave quanto o foi para mim. Não me lembro de coisa alguma concernente à travessia.
- Devo ter dormido longo tempo, se bem não conserve disso nenhuma recordação. Mas, quando abri os olhos, achei-me curada miraculosamente. Vi-me tal como era no curso dos melhores anos da minha mocidade, porém, infinitamente mais exuberante de vida, mais lúcida de espírito, mais ditosa. O extenso período da minha enfermidade me pareceu um mau sonho, do qual por fim despertara, para volver à afeição das pessoas que me são caras e que me assistiram com tanta abnegação. Sentia-me na posse de toda a rica experiência adquirida durante a minha passagem através da existência terrestre...”
____Na segunda mensagem, volta à circunstância da crise da morte, dizendo:
- “Ignoro o que experimentam os outros na travessia do grande ribeiro que separa o mundo espiritual do mundo terreno; a minha experiência se resume num despertar maravilhoso que, ainda agora, me enche de extática alegria. Não temais a morte; não há o que temer; todas as penas, todas as dores, tudo o que há de feio na grande crise, pertence ao seu lado físico; do outro lado, há o amor – o Divino Amor – combinado com a glória inexprimível do despertar espiritual. Quando despertei, vi-me cercada pela assembléia de todos os que eu amara na Terra. Via, em torno de mim, os semblantes de todas as pessoas queridas que eu conhecera nas diferentes épocas da vida, a partir da mais tenra infância, pessoas essas que, na sua maioria, tinham sido, havia muitos anos, arrancadas à minha afeição. Ao mesmo tempo, ressoavam no ar maravilhosos acordes musicais, literalmente celestes, que eu escutava extasiada. No meu trespasse, não houve mudanças bruscas; adormeci e despertei, pouco a pouco, para uma vida em que se tem uma consciência mais vasta de si mesmo e se sabe muito bem estar curado de todas as enfermidades e livre, livre para sempre do meu pobre corpo envelhecido, que durante tão largo tempo me pesara sobre o Espírito qual geena. Como exprimir, pela palavra, o que esta revelação significava para mim?
- Só os que, como eu, sofreram longamente, aguardando com ansiedade a liberação, se acham em condições de o conceber. Sinto-me perfeitamente bem, exuberante de vitalidade, rejuvenescida. Quando, ao despertar, respondi às saudações de boas-vindas de tantas pessoas queridas, que me tinham vindo receber, sabia que não sonhava, que efetivamente havia entrado no meio espiritual; sabia que estava morta.
- “Morta”! esta palavra é um contra-senso! Nunca faleis de mim como de uma pessoa morta. Estou viva, com uma vitalidade que jamais experimentara, nem sonhara, na posse de novas faculdades, de novas energias, com um poder de amar e de ser feliz dez vezes mais forte do que antes. Tudo isto me revela o grande fato de que a existência, nestas esferas, deve constituir uma alegria permanente. Para alcançar tal meta, valia bem a pena de viver uma vida de lutas e de sofrimentos. Presentemente me parece que vivi na Terra uma existência de sonho; somente esta é, com efeito, vida real; aquela era uma sombra de vida. Só vós outros continuais a ser para mim uma realidade da existência terrena; o amado companheiro de minha vida e meus filhos constituem o laço único que me prende ainda ao mundo dos vivos.
- No paraíso, onde me acho, reinam o perfeito amor e a harmonia universal, a se manifestarem numa glória de luz radiosa, vibrante de energias vitais, que enchem a alma de sentimentos agradáveis e de suprema alegria. Em o nosso meio, os pensamentos substituem a palavra; eles não só vibram em uníssono com as almas, como revestem cores admiráveis e se transformam em sons muito harmoniosos, o que faz ouçamos ressoar em torno de nós uma sinfonia de acordes musicais sempre mais e mais maravilhosos, de uma beleza de gradações infinitas.
- ... Desejo ainda falar-vos da maravilhosa música que me acolheu, à minha entrada no mundo espiritual, experiência que ultrapassa tudo o que conheci na Terra. Não era eu a única a ouvi-la; a maioria dos Espíritos que se tinham reunido para me receber a ouviram e dela gozaram comigo. Era uma série gloriosa de acordes musicais que pareciam vir de um instrumento central, de um órgão gigantesco. Espalhavam-se e vibravam no espaço, em ondas de harmonias celestes, que pareciam elevar-se, até se fundirem em Deus. Era tão possante essa sinfonia, tão grandiosa, tão penetrante, que se diria dever o Universo inteiro ouvi-la. E, no entanto, ao escutá-la, eu tinha a intuição de que aqueles acordes ressoavam só para mim, que eles me chegavam como uma voz que se dirigia à minha alma, revelando-me a natureza íntima e os segredos maravilhosos do meu ser e me ensinando que no mundo espiritual a música é o veículo revelador das grandes verdades cósmicas... Se me perguntásseis onde estava o instrumento musical, donde vinha aquela música, quem era o músico, não saberia responder. Ela se fez ouvir de repente, sem que ninguém a houvesse pedido. Sei apenas que representa, com relação a mim, o primeiro passo para a iniciação nas maravilhas da esfera espiritual que tive a dita de alcançar...
- Um dos grandes atrativos desta esfera consiste no fato de haver alguns lados da sua configuração que são invariáveis, havendo, porém, ao mesmo tempo, nela uma espécie de configuração particular superposta – se assim se pode dizer – que é, ao contrário, muito variável. É que todos possuímos faculdades_criadoras, que atuam perpetuamente sobre o meio imediato onde existimos. Segue-se que toda variação em a nossa maneira de sentir e de pensar acarreta variação correspondente no meio que nos cerca. As nossas vestes são também criações do nosso pensamento e constituídas de elementos tirados do meio onde existimos. Ainda não aprendi exatamente o processo pelo qual se opera o milagre, mas o fato é que essas manifestações exteriores do nosso pensamento traduzem as disposições interiores do nosso espírito. Resulta daí que, para os Espíritos existentes de há muito neste meio, as vestes constituem um símbolo infalível, que lhes revela o valor moral intrínseco... (Ver: Apresentação dos Espíritos)
- Embora a natureza deste mundo difira enormemente da Terra, os dois mundos se assemelham, com a diferença, porém de que o mundo espiritual é infinitamente mais apurado, mais sublime, mais etéreo: eis tudo.
- Coisa singular! conquanto, à minha chegada no mundo espiritual, tudo o que nele existe me haja parecido tão maravilhoso, experimentei logo a sensação de me encontrar num meio que me era familiar; ou, mais precisamente, de me encontrar outra vez num meio que não era novo para mim. Exprimi esta impressão aos meus companheiros espirituais e eles então me informaram de que eu recuperaria gradualmente a lembrança de acontecimentos pessoais que se estendem muito para além da minha última existência terrestre, abrangendo recordações de um tempo em que habitei o mundo espiritual, que é a nossa verdadeira morada. Começo, com efeito, a lembrar-me... Não desejo entrar em longa dissertação sobre este tema, mas, bom é diga o que daí resulta para mim a tal respeito. É que meus filhos, assim como outros Espíritos com os quais tenho tido ensejo de falar deste assunto, me informaram que se lembravam claramente de todas as existências que viveram no planeta Terra. Eu mesma principío a recordar-me das fases de existências encarnadas, anteriores à que acabei ultimamente. Apenas, pelo que me toca, não poderia dizer se essas recordações se referem a vidas passadas na Terra ou em outros planetas do Universo. Do que sei com toda a certeza é que me achava revestida de um corpo muito semelhante ao corpo velho que acabo de deixar.”
[106 - páginas 124 /128] - Ernesto Bozzano - (Gênova, 9 de janeiro de 1862 - 24 de junho de 1943) |