____A identidade dos Espíritos
das personagens antigas é a mais difícil de se conseguir, tornando-se muitas
vezes impossível, pelo que ficamos adstritos
a uma apreciação puramente moral. ____Julgam-se os Espíritos, como os homens, pela sua linguagem:
- Se
um Espírito se apresenta com o nome de Fénelon, por exemplo, e diz trivialidades e puerilidades,
está claro que não pode ser ele.
- Porém,
se somente diz coisas dignas do caráter de Fénelon e que este não
se furtaria a subscrever, há, senão prova material,
pelo menos toda probabilidade moral de
que seja de fato ele. Nesse caso, sobretudo, é que a identidade real se
torna uma questão acessória. Desde que o Espírito só diz coisas
aproveitáveis, pouco importa o nome sob o qual as diga.
____O
Espírito que tome um nome suposto, ainda que só para o bem, não deixa de
cometer uma fraude: não pode, portanto, ser um Espírito bom. Aqui, há
delicadezas de matizes muito difíceis de apanhar e que vamos tentar
desenvolver.
[17b - página 324 item 255]
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____Um
Espírito superior pode se comunicar, espontaneamente, sob o nome de uma
personagem conhecida. Nada prova que seja
exatamente o Espírito dessa personagem; porém, se ele nada diz que desminta o
caráter desta última, há presunção de ser o próprio e, em todos os casos,
se pode dizer que, se não é ele, é um Espírito do mesmo grau de elevação,
ou talvez até um enviado seu. ____A
questão de nome é secundária, podendo-se considerar o nome como simples
indício da categoria que ocupa o Espírito na escala
espírita. ____O
caso muda de figura, quando um Espírito_de_ordem_inferior
se adorna com um nome respeitável, para que suas palavras mereçam crédito e
este caso é de tal modo freqüente que toda precaução não será demasiada
contra semelhantes substituições. ____Graças
a esses nomes de empréstimo e, sobretudo, com o auxílio da fascinação,
é que alguns Espíritos sistemáticos, mais orgulhosos do que sábios, procuram
tornar aceitas as mais ridículas ideias. [17b - página 325 item 256]
____Muito
mais fácil de se comprovar a identidade,
quando se trata de Espíritos contemporâneos, cujos caracteres e hábitos se
conhecem, porque, precisamente, esses hábitos, de que eles ainda não tiveram
tempo de despojar-se, são que os fazem reconhecíveis e desde logo dizemos que
isso constitui um dos sinais mais seguros de identidade. Pode, sem dúvida, o
Espírito dar provas desta, atendendo ao
pedido que se lhe faça; mas, assim só procede quando lhe convenha. Geralmente, semelhante pedido o magoa, pelo que deve ser evitado. ____Com
o deixar o seu corpo, o Espírito não se despojou da sua suscetibilidade;
agasta-o toda questão que tenha por fim pô-lo à
prova. Perguntas há que ninguém ousaria dirigir-lhe, se ele se
apresentasse vivo, pelo receio de faltar às conveniências; por que se lhe há
de dispensar menos consideração, depois da sua morte? ____A
um homem, que se apresente num salão, declinando o seu nome, irá alguém
pedir-lhe, à queima-roupa, sob o pretexto de haver impostores, que prove ser
quem diz que é? Certamente, esse homem teria o direito de lembrar ao
interrogante as regras de civilidade. É o que fazem os Espíritos, não
respondendo, ou retirando-se. ____Façamos,
para exemplo, uma comparação. Suponhamos que o astrônomo Arago, quando vivo,
se apresentasse numa casa onde ninguém o conhecesse e que o apostrofassem deste
modo: Dizeis que sois Arago, mas, não vos conhecemos; dignai-vos de prová-lo,
respondendo às nossas perguntas. Resolvei tal problema de Astronomia; dizei-nos
o vosso nome, prenome, os de vossos filhos, o que fazíeis em tal dia, a tal
hora, etc. Que responderia ele? Pois bem: como Espírito, fará o que teria
feito em vida e os outros Espíritos procedem da mesma maneira.
[17b - página 327 item 257]
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____Os
Espíritos dão espontaneamente provas
irrecusáveis de sua identidade, por seus caracteres, que se revelam na
linguagem de que usam, pelo emprego das palavras que lhes eram familiares, pela
citação de certos fatos, de particularidades de suas vidas, às vezes
desconhecidas dos assistentes e cuja exatidão se pode verificar. ____As
provas de identidade ressaltam, além
disso, de um sem-número de circunstâncias imprevistas, que nem sempre se
apresentam na primeira ocasião, mas que surgem com a continuação das
manifestações. ____Convém,
pois, esperá-las, sem as provocar, observando-se cuidadosamente todas as que
possam decorrer da natureza
das comunicações. [17b - página 328 item 258]
____Um
meio empregado, às vezes com êxito, para se conseguir identificar um Espírito
que se comunica, quando ele se toma suspeito, consiste em fazê-lo afirmar, em
nome de Deus Todo-Poderoso, que é realmente quem diz ser. ____Sucede
freqüentemente que o que se apresentou com um nome usurpado recua diante do
sacrilégio e que, tendo começado a dizer:
- Afirmo,
em nome de... pára e traça, colérico, riscos sem valor no papel, ou
quebra o lápis.
- Se
é mais hipócrita, ladeia a questão, mediante uma restrição mental,
escrevendo, por exemplo: Certifico-vos que digo a verdade, ou então:
Atesto, em nome de Deus, que sou mesmo eu quem vos fala, etc.
- Alguns
há, entretanto, nada escrupulosos, que juram tudo o que se lhes
exigir.
____Um
desses se comunicou a um médium, dizendo-se Deus, e o médium, honrado com tão
alta distinção, não hesitou em acreditá-lo. Evocado por nós, não ousou
sustentar a sua impostura e disse: Não sou Deus, mas sou seu filho. - És
então Jesus? Isto não é provável, porquanto Jesus está muito
altamente colocado para empregar um subterfúgio. Ousas, não obstante, afirmar
que és o Cristo? - Não digo que sou Jesus; digo que sou filho de Deus, porque
sou uma de suas criaturas. ____Deve-se
concluir daí que o recusar um Espírito afirmar a sua identidade, em nome de
Deus, é sempre uma prova manifesta de que
o nome que ele tomou é uma impostura; mas também que, se ele o afirma, essa
afirmação não passa de uma presunção, não
constituindo prova certa.
[17b - página 328 item 259]
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____Igualmente
se pode incluir entre as provas de identidade
a semelhança da caligrafia e da assinatura; mas, além de que nem a todos os
médiuns é dado obter esse resultado, ele não representa, invariavelmente, uma
garantia bastante. ____Há
falsários no mundo dos Espíritos, como os há neste. Aí não se tem, pois,
mais do que uma presunção de identidade, que só adquire valor pelas
circunstâncias que a acompanhem. O mesmo ocorre com todos os sinais materiais,
que algumas pessoas têm como talismãs inimitáveis para os Espíritos
mentirosos. ____Para
os que ousam perjurar ao nome de Deus, ou falsificar uma assinatura, nenhum
sinal material pode oferecer obstáculo maior. ____A
melhor de todas as provas de identidade
está na linguagem e nas circunstâncias fortuitas. [17b - página 329 item 260]
____Dir-se-á,
sem dúvida, que, se um Espírito pode imitar uma assinatura, também pode
perfeitamente imitar a linguagem. ____Alguns
temos visto tomar atrevidamente o nome do Cristo e, para impingirem a
mistificação, simulavam o estilo evangélico e pronunciavam a torto e a
direito estas bem conhecidas palavras: Em verdade, em verdade vos digo.
Estudando, porém, sem prevenção, o ditado, em seu conjunto, perscrutado
o fundo das ideias, o alcance das expressões, quando, a par de belas máximas
de caridade, se vêem recomendações pueris
e ridículas, fora preciso estar fascinado
para que alguém se equivocasse. ____Certas
partes da forma material da linguagem podem ser imitadas, mas não o pensamento.
Jamais a ignorância imitará o verdadeiro saber e jamais o vício imitará a
verdadeira virtude. Em qualquer ponto, sempre aparecerá a pontinha da orelha. ____O
médium, assim como o evocador, precisam de toda a perspicácia e de toda a
ponderação, para destrinçar a verdade da impostura. Devem persuadir-se
de que os Espíritos_perversos são capazes de todos os ardis e de que, quanto mais
venerável for o nome com que um Espírito se apresente, tanto maior
desconfiança deve inspirar. ____Quantos
médiuns têm tido comunicações apócrifas
assinadas por Jesus, Maria, ou um santo venerado! [17b - página 329 item 261]
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