A Doutrinação é a moderna técnica espírita de afastar os espíritos_obsessores através do esclarecimento doutrinário. Essa técnica é
moderna e foi criada e desenvolvida por Allan_Kardec para substituir as práticas
bárbaras do Exorcismo, largamente usada na Antigüidade, tanto na
medicina como nas religiões. O conceito do doente mental como possessão
demoníaca, gerou a ideia de espancar o doente para retirar o Demônio do
seu corpo.
- Nos hospitais a cura se processava através de espancamentos diários.
- Nas Religiões recorria-se a métodos de expulsão por meio de preces,
objetos sagrados como crucifixos, relíquias, rosários e terços,
medalhas, aspersão de água benta, ameaças e xingos, queima de incensos
e outros ingredientes, pancadas e torturas.
As formas de
exorcismo mais
conhecidas entre nós são a
judaica e a
católica :
- A judaica mais
racional, pois nela se empregavam também o apelo à razão do Dibuk,
considerado como espírito demoníaco ou alma_penada. A tradução da
palavra hebraica Dibuk, que nos parece mais acertada é a de alma
penada,
pois os judeus reconheciam e identificavam o espírito obsessor como espírito
humano de pessoa morta que se vingava do obsedado ou cobrava débitos dele
e da família.
- No exorcismo católico prevaleceu até hoje a ideia de
possessão demoníaca.
As
pesquisas espíritas, do século passado, levaram Kardec a instituir e
praticar intensivamente a
doutrinação como forma persuasiva de
esclarecimento do obsessor e do obsedado, através de sessões de
desobsessão. Ambos necessitam de
esclarecimento evangélico para
superarem os conflitos do passado. Afastada a ideia terrorista do Diabo,
o obsessor e obsedado são tratados com
amor e
compreensão, como
criaturas humanas e não como algoz satânico e vítima inocente.
A doutrinação espírita humanizou e cristianizou o tratamento das doenças
mentais e psíquicas, influindo nos novos rumos que a Medicina tomava
nesse sentido. Alguns espíritas atuais pretendem suprimir a
doutrinação,
alegando que esta é realizada com mais eficiência pelos
Espíritos_bons no
plano_espiritual. Essa é uma prova de ignorância generalizada da
Doutrina no próprio meio espírita, pois nela tudo se define em termos de
relação e evolução. Os espíritos sofredores, que são os obsessores,
permanecem mais ligados à Terra e portanto à matéria. Dessa maneira, os
Espíritos Benevolentes muitas vezes se manifestam nas sessões de
desobsessão e servem-se dos
médiuns para poderem comunicar-se com os
obsessores. Apegados à matéria e à vida terrena, os obsessores
necessitam de sentir-se seguros no meio mediúnico, envolvidos nos
fluidos e emanações
ectoplásmicas da sessão, para poderem conversar de maneira
proveitosa com os Espíritos esclarecedores. Basta esse fato, comum nas
sessões bem orientadas, para mostrar que a
doutrinação humana dos espíritos
desencarnados é uma necessidade.
Pensemos
um pouco no que ficou dito sobre relação e evolução. Os
planos_espirituais são superpostos. A partir da
Terra, constituem as chamadas
esferas da tradição espiritualista européia, segundo o esquema da
Escala_Espírita (Livro dos Espíritos) como regiões destinadas aos vários
graus ou ordens dos espíritos. Essas esferas ou
planos espirituais são
mundos que se elevam ao infinito. Quanto mais elevado o mundo, mais
distanciado está do nosso mundo carnal. A
doutrinação existe em todos
os planos, mas o trabalho mais rude e pesado é o que se processa em nosso
mundo, onde os espíritos dos mundos imediatamente superiores vêm
colaborar conosco, ajudar-nos e orientar-nos no trabalho doutrinário.
Orgulhoso e inútil, e até mesmo prejudicial, será o doutrinador que se
julgar capaz de doutrinar por si mesmo. Sua eficiência depende sempre de
sua humildade, que lhe permite compreender a necessidade de ser auxiliado
pelos espíritos bons. O doutrinador que não compreende esse princípio
precisa de doutrinação e esclarecimento, para alijar de seu espírito a
vaidade e a pretensão. Só pode realmente doutrinar espíritos quem tiver
amor e humildade.
Mas
é importante não confundirmos humildade com atitudes piegas, com
melosidade. Muitas vezes a doutrinação exige atitudes enérgicas, não
ofensivas ou agressivas, mas firmes e imperiosas. É o momento em que o
doutrinador, firmado em sua humildade natural – decorrente de consciência
que tem das sua limitações humanas – trata o obsessor com
autoridade
moral, a única autoridade que podemos ter sobre os espíritos inferiores.
Esses espíritos sentem a nossa autoridade e se submetem a ela, em virtude
da
força moral de que dispusemos.
Essa autoridade só a conseguimos através
de uma vivência digna no mundo, sendo sempre corretos em nossas intenções
e em nossos atos, em todos os sentidos. As nossas falhas morais não
combatidas, não controladas, diminuem a nossa autoridade sobre os
obsessores.
Isso nos mostra o que é a moral:
poder espiritual que
nasce da retidão do espírito. Não se trata da moral convencional,
das regras da moral social, mas da moral individual, íntima e profunda,
que realiza a integração espiritual do ser voltado para o bem e a
verdade.
Mas
essa integração não se consegue com sistemas ou processos artificiais,
com reformas íntimas impostas de fora para dentro como geralmente se
pensa. Existe a
moral exógena, que nos é imposta de fora pelas conveniências
da convivência humana. Essa moral exógena, pelo simples fato de se
fundar em interesses imediatos do homem e não do ser é a casa construída
na areia segundo a parábola evangélica.
A moral de que necessitamos é endógena , vem de dentro para fora, brota da compreensão real e profunda
no sentimento da vida. É a moral espontânea, determinada por uma consciência
esclarecida que não se rende aos interesse imediatistas da vida social.
Este é um problema em que precisamos pensar, meditar a sério e a fundo
para podermos adquirir a condição de doutrinar com eficiência, dando
amor, compreensão e estímulo moral aos espíritos inferiores. O
Espiritismo, como acentuou Kardec, é uma questão de fundo e não de
forma.
A
doutrinação praticada com plena consciência desses princípios atinge o
obsessor, o obsedado, os assistentes encarnados e desencarnado e
particularmente ao próprio doutrinador, que se doutrina a si mesmo,
doutrinado os outros. Note-se a importância e o alcance de uma doutrinação
assim praticada. É ela a alavanca com que podemos deslocar a mente do
charco de pensamentos e sentimentos inferiores, egoístas e maldosos em
que se afundou. É , por isso mesmo, a alavanca com a qual podemos mover o
mundo, como queria Arquimedes, para colocá-lo na órbita do Espírito.
Para podermos usar essa alavanca a todos os instantes:
- no silêncio da
nossa mente,
- na atividade incessante do nosso pensamento,
- na conversação
séria ou até mesmo fútil,
- nas relações com o próximo,
- nas discussões
dos mais variados problemas,
- na exposição dos princípios doutrinários
aos que desejam ouvir-nos,
- numa carta,
- num bilhete,
- numa saudação social,
etc...
Mas sempre com discrição, sem insistências perturbadoras, sem
carranca e seriedade formal. O primeiro sintoma da contenção desse
problema é a alegria que nos ilumina por dentro e se irradia ao nosso
redor, contagiando os outros. Porque a vida é uma bênção e portanto é
alegria e não tristeza, jovialidade e não carrancismo.
Não
estamos na vida para sofrer mas para aprender. Cada dificuldade que nos
desafia é uma experiência de aprendizado. O
sofrimento é conseqüência
da nossa incompreensão da finalidade da vida. Desenvolvendo a razão no
plano humano, o ser se envaidece com a sua capacidade de julgar e comete
os erros da arrogância, da prepotência, da vaidade, da insolência.
Julga-se mais dotado que os outros e com mais direitos que eles. Essa é a
fonte de todos os males humanos. A
doutrinação
espírita, equilibrada,
amorosa, modifica a nós mesmos e aos outros, abre as mentes para a percepção
da realidade-real que nos escapa, quando nos apegamos à ilusão das
nossas pretensões individuais, geralmente mesquinhas. Foi isso o que
Jesus ensinou ao dizer
: “Os que se apegam à sua vida perdê-la-ão, mas
os que a perderam por amor a mim, esses a encontrarão”.
A
meditação sincera e desinteressada sobre estas coisas é o caminho da
nossa libertação e da libertação dos outros. Só aquele que está
livre pode libertar.
p
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José
Herculano Pires