____Demonstrada, pelo raciocínio e pelos fatos, a existência dos Espíritos, assim
como a possibilidade que têm de atuar sobre a matéria, trata-se agora de saber como se
efetua essa ação e como procedem eles para fazer que se movam as mesas e outros
corpos inertes.
____Uma ideia se apresenta muito naturalmente e nós a tivemos. Dando-nos outra
explicação muito diversa, pela qual longe estávamos de esperar, os Espíritos a
combateram, constituindo isto uma prova de que a teoria deles não era efeito da nossa
opinião. Ora, essa primeira ideia todos a podiam ter, como nós; quanto à teoria dos
Espíritos, não cremos que jamais haja acudido à mente de quem quer que seja. Sem
dificuldade se reconhecerá quanto é superior à que esposávamos, se bem que menos
simples,
porque dá solução a inúmeros outros fatos que, com a nossa, não encontravam
explicação satisfatória. [17b
- Capítulo IV - item 72] ____Desde que se tornaram conhecidas a natureza dos Espíritos, sua forma
humana, as propriedades semimateriais do perispírito, a ação mecânica que este pode
exercer sobre a matéria; desde que, em casos de aparição, se viram mãos fluídicas e
mesmo tangíveis tomar dos objetos e transportá-los, julgou-se, como era natural, que o
Espírito se servia muito simplesmente de suas próprias mãos para fazer que a mesa_girasse e que à força de braço é que ela se erguia no espaço. Mas, então, sendo assim,...
- que necessidade havia de médium?
- Não pode o Espírito atuar só por si?
____Porque, é
evidente que o médium, que as mais das vezes põe as mãos sobre a mesa em sentido
contrário ao do seu movimento, ou que mesmo não coloca ali as mãos, não pode
secundar o Espírito por meio de uma ação muscular qualquer. Deixemos, porém, que
primeiro falem os Espíritos a quem interrogamos sobre esta questão. [17b
- Capítulo IV - item 73] As respostas seguintes nos foram dadas pelo Espírito São Luís. Muitos outros, depois, as confirmaram.
- VIII. Como pode um Espírito produzir o movimento de um corpo sólido?
- IX. Será com os seus próprios membros, de certo modo solidificados, que os
Espíritos levantam a mesa?
- "Esta resposta ainda não te levará até onde desejas. Quando, sob as
vossas mãos, uma mesa se move, o Espírito haure no fluido universal o que é necessário
para lhe dar uma vida factícia. Assim preparada a mesa, o Espírito a atrai e move sob a
influência do fluido_que_de_si_mesmo_desprende, por efeito da sua vontade. Quando quer pôr
em movimento uma massa por demais pesada para suas forças, chama em seu
auxílio outros Espíritos, cujas condições sejam idênticas às suas. Em virtude da sua_natureza_etérea, o Espírito, propriamente dito, não pode atuar sobre a matéria grosseira, sem
intermediário, isto é, sem o elemento que o liga à matéria.
Esse elemento, que constitui o que chamais perispírito, vos faculta a chave de todos os fenômenos
espíritas
de ordem material. Julgo ter-me explicado muito claramente, para ser
compreendido."
NOTA. Chamamos a atenção para a seguinte frase, primeira da resposta acima:
Esta resposta AINDA te não levará até onde desejas. O Espírito compreendera perfeitamente que todas as questões precedentes só
haviam sido formuladas para chegarmos a esta última e alude ao nosso pensamento
que, com efeito, esperava por outra resposta muito diversa, isto é, pela
confirmação da ideia que tínhamos sobre a maneira por que o Espírito obtém o movimento da mesa. |
- X. Os Espíritos, que aquele que deseja mover um objeto chama em seu
auxílio, são-lhe inferiores? Estão-lhe sob as ordens?
- "São-lhe iguais, quase sempre. Muitas vezes acodem
espontaneamente."
- XI. São aptos, todos os
Espíritos, a produzir fenômenos deste
gênero?
- "Os que produzem efeitos desta espécie são sempre Espíritos
inferiores, que ainda se não desprenderam inteiramente de toda a influência material."
- XII. Compreendemos que os Espíritos_superiores não se ocupam com coisas que
estão muito abaixo deles. Mas, perguntamos se, uma vez que estão mais desmaterializados, teriam o poder de fazê-lo, dado que o
quisessem?
- "Os Espíritos superiores têm a força moral, como os outros têm a
força física. Quando precisam desta força, servem-se dos que a possuem. Já não se vos
disse que eles se servem dos Espíritos inferiores, como vós vos servis dos
carregadores?"
- XIII. Se compreendemos bem o que disseste, o princípio_vital reside no fluido_universal; o Espírito tira deste fluido o envoltório_semimaterial_que_constitui_o_seu_perispírito e é ainda por meio deste fluido que ele atua sobre a matéria
inerte. É assim?
- "E Quer dizer: ele empresta à matéria uma espécie de vida factícia;
a matéria se anima da vida animal. A mesa, que se move debaixo das vossas mãos, vive como
animal; obedece por si mesma ao ser inteligente. Não é este quem a impele, como faz
o homem com um fardo. Quando ela se eleva, não é o Espírito quem a levanta, com o
esforço do seu braço: é a própria mesa que, animada, obedece à impulsão que lhe dá
o Espírito." (Ver: William Jackson Crawford)
- XIV. Que papel desempenha o médium nesse
fenômeno?
- "Já eu disse que o fluido próprio do médium se combina com o fluido
universal que o Espírito acumula. É necessária a união desses dois fluidos, isto é,
do fluido_animalizado e do fluido_universal para dar vida à mesa. Mas, nota bem que
essa vida é apenas momentânea, que se extingue com a ação e, às vezes, antes que esta
termine, logo que a quantidade de fluido deixa de ser bastante para a animar."
- XV. Pode o Espírito atuar sem o concurso de um médium?
- "Pode atuar à revelia do médium. Quer isto dizer que muitas pessoas,
sem que o suspeitem, servem de auxiliares aos Espíritos. Delas haurem os Espíritos,
como de uma fonte, o fluido animalizado de que necessitem. Assim é que o concurso de um
médium, tal como o entendeis, nem sempre é preciso, o que se verifica principalmente nos fenômenos
espontâneos."
- XVI. Animada, atua a mesa com
inteligência? Pensa?
- "Pensa tanto quanto a bengala com que fazes um sinal inteligente. Mas, a
vitalidade de que se acha animada lhe permite obedecer à impulsão de uma
inteligência. Fica, pois, sabendo que a mesa que se move não se torna Espírito
e
que não tem, em si mesma, capacidade de pensar, nem de querer."
- XVII. Qual a causa preponderante, na produção desse fenômeno: o Espírito,
ou o fluido?
- "O Espírito é a causa, o fluido o instrumento, ambos são
necessários."
- XVIII. Que papel, nesse caso, desempenha a vontade do
médium?
- "O de atrair os Espíritos e secundá-los no impulso que dão ao
fluido."
- é sempre indispensável a ação da
vontade?
- "Aumenta a força, mas nem sempre é necessária, pois que o movimento
pode produzir-se contra essa vontade, ou a seu malgrado, e isso prova haver uma
causa independente do médium."
NOTA. Nem sempre o contacto das mãos é necessário para que um objeto se
mova. As mais das vezes esse contacto só se faz preciso para dar o primeiro
impulso; porém, desde que o objeto está animado, pode obedecer à vontade do
Espírito, Sem contacto material. Depende isto, ou da potencialidade do médium, ou da
natureza do Espírito. Nem sempre mesmo é indispensável um primeiro contacto, do que
são provas os movimentos e deslocamentos espontâneos, que ninguém cogitou de provocar. |
- XIX. Por que é que nem toda gente pode produzir o mesmo efeito e não têm
todos os médiuns o mesmo poder?
- "Isto depende da organização e da maior ou menor facilidade com que se
pode operar a combinação dos fluidos. Influi também a maior ou menor simpatia
do médium para com os Espíritos que encontram nele a força fluídica necessária.
Dá-se com esta força o que se verifica com a dos magnetizadores, que não é igual em
todos. A esse respeito, há mesmo pessoas que são de todo refratárias; outras com as
quais a combinação só se opera por um esforço de vontade da parte delas; outras,
finalmente, com quem a combinação dos fluidos se efetua tão natural e facilmente, que
elas nem dão por isso e servem de instrumento a seu mau grado, como atrás dissemos."
- XX. As pessoas qualificadas de elétricas podem ser consideradas
médiuns?
- "Essas pessoas tiram de si mesmas o fluido necessário à produção do
fenômeno e podem operar sem o concurso de outros Espíritos. Não são, portanto,
médiuns, no sentido que se atribui a esta palavra. Mas, também pode dar-se que um
Espírito as assista e se aproveite de suas disposições naturais."
NOTA. Sucede com essas pessoas o que ocorre com os sonâmbulos, que podem
operar com ou sem o concurso de Espíritos estranhos. |
- XXI. O Espírito que atua sobre os corpos sólidos, para move-los, se coloca
na substância mesma dos corpos, ou fora dela?
- "Dá-se uma e outra coisa. Já dissemos que a matéria não constitui
obstáculos para os Espíritos. Em tudo eles penetram. Uma porção do perispírito se
identifica, por assim dizer, com o objeto em que penetra."
- XXII. Como faz o Espírito para
bater? Serve-se de algum objeto
material?
- "Tanto quanto dos braços para levantar a mesa. Sabes perfeitamente que
nenhum martelo tem o Espírito à sua disposição. Seu martelo é o fluido que,
combinado, ele põe em ação, pela sua vontade, para mover ou bater. Quando move um objeto, a
luz vos dá a percepção do movimento; quando bate, o ar vos traz o som."
- XXIII. Concebemos que seja assim, quando o Espírito bate num corpo duro;
mas como pode fazer que se ouçam ruídos, ou sons articulados na massa
instável do ar?
- "Pois que é possível atuar sobre a matéria, tanto pode ele atuar
sobre uma mesa, como sobre o ar. Quanto aos sons articulados, pode imitá-los, como o pode
fazer com quaisquer outros ruídos."
- XXIV. Dizes que o Espírito não se serve de suas mãos para deslocar a mesa.
Entretanto, já se tem visto, em certas manifestações visuais, aparecerem
mãos a dedilhar um teclado, a percutir as teclas e a tirar dali sons. Neste caso, o movimento
das teclas não será devido, como parece, à pressão dos dedos? E não é também
direta e real essa pressão, quando se faz sentir sobre nós, quando as mãos que a exercem
deixam marcas na pele?
- "Não podeis compreender a natureza dos Espíritos nem a maneira por que
atuam, senão mediante comparações, que de uma e outra coisa apenas vos
dão ideia incompleta, e errareis sempre que quiserdes assimilar aos vossos os processos
de que eles usam. Estes, necessariamente, hão de corresponder à organização que
lhes é própria. Já te não disse eu que o fluido do perispírito penetra a
matéria e com ela se identifica, que a anima de uma vida factícia? Pois bem! Quando o Espírito
põe os dedos sobre as teclas, realmente os põe e de fato as movimenta.
Porém, não é por meio da força muscular que exerce a pressão. Ele as
anima, como o faz com a mesa, e as teclas, obedecendo-lhe à vontade, se abaixam e tangem
as cordas do piano. Em tudo isto uma coisa ainda se dá, que difícil vos será
compreender: é que alguns Espíritos tão pouco adiantados se encontram e, em comparação com
os Espíritos elevados, tão materiais se conservam, que guardam as ilusões da vida
terrena e julgam obrar como quando tinham o corpo de carne. Não percebem a verdadeira causa
dos efeitos que produzem, mais do que um camponês compreende a teoria dos sons
que articula. Perguntai-lhes como é que tocam piano e vos responderão que
batendo com os dedos nas teclas, porque julgam ser assim que o fazem. O efeito se produz
instintivamente neles, sem que saibam como, se bem lhes resulte da ação da
vontade. O mesmo ocorre, quando se exprimem por palavras.
- XXV. Entre os fenômenos que se apontam como probantes da ação de uma
potência oculta, alguns há evidentemente contrários a todas as conhecidas leis_da_Natureza. Nesses casos, não será legítima a dúvida?
- "é que o homem está longe de conhecer todas as
leis da Natureza. Se as
conhecesse todas, seria Espírito superior. Cada dia que se passa desmente os
que, supondo tudo saberem, pretendem impor limites à Natureza, sem que por isso,
entretanto, se tornem menos orgulhosos. Desvendando-lhe, incessantemente,
novos mistérios, Deus adverte o homem de que deve desconfiar de suas próprias
luzes, porquanto dia virá em que a ciência do mais sábio será confundida. Não
tendes todos os dias, sob os olhos, exemplos de corpos animados de um movimento que domina
a força da gravitação? Uma pedra, atirada para o ar, não sobrepuja momentaneamente aquela
força? Pobres homens, que vos
considerais muito sábios e cuja tola vaidade a todos os momentos está sendo desbancada,
ficai sabendo que ainda sois muito pequeninos."
[17b
- Capítulo IV - item 74] ____Estas explicações acima são claras, categóricas e isentas de ambigüidade. Delas
ressalta, como ponto capital, que o fluido_universal, onde se contém o principio_da_vida, é o agente principal das manifestações, agente que recebe impulsão do Espírito, seja
encarnado, seja errante. Condensado, esse fluido constitui o perispírito, ou invólucro
semimaterial do Espírito.
- Encarnado este, o perispírito se acha unido à matéria do
corpo;
- estando o Espírito na erraticidade, ele se encontra livre.
____Quando o Espírito está
encarnado, a substância do perispírito se acha mais ou menos ligada, mais ou menos
aderente, se assim nos podemos exprimir. Em algumas pessoas se verifica, por efeito de
suas organizações, uma espécie de emanação desse fluido e é isso, propriamente
falando, o que constitui o médium_de_influências_físicas. A emissão do fluido_animalizado pode ser mais ou menos abundante, como mais ou menos fácil a sua
combinação, donde os médiuns mais ou menos poderosos. Essa emissão, porém, não é
permanente, o que explica a intermitência do poder mediúnico.
[17b
- Capítulo IV - item 75] ____Assim, quando um objeto é posto em movimento, levantado ou atirado para
o ar, não é que o Espírito o tome, empurre e suspenda, como o faríamos com a mão. O
Espírito o satura, por assim dizer, do seu fluido, combinado com o do médium, e o
objeto, momentaneamente vivificado desta maneira, obra como o faria um ser vivo, com
a diferença apenas de que, não tendo vontade própria, segue o impulso que lhe dá a
vontade do Espírito.
____Pois que o fluido vital, que o Espírito, de certo modo, emite, dá vida factícia e
momentânea aos corpos inertes; pois que o perispírito não é mais do que esse mesmo fluido vital, segue-se que, quando o Espírito está encarnado, é ele próprio quem dá vida
ao seu corpo, por meio do seu perispírito, conservando-se unido a esse corpo, enquanto
a organização deste o permite. Quando se retira, o corpo morre. Agora, se, em vez de
uma mesa, esculpirmos uma estátua de madeira e sobre ela atuarmos, como sobre a
mesa, teremos uma estátua que se moverá, que baterá, que responderá com os seus
movimentos e pancadas. Teremos, em suma, uma estátua animada momentaneamente de
uma vida artificial. Em lugar de mesas_falantes, ter-se-iam estátuas falantes. Quanta luz
esta teoria não projeta sobre uma imensidade de fenômenos até agora sem solução!
Quantas alegorias e efeitos misteriosos ela não explica! [17b
- Capítulo IV - item 77] |