
____Muitos acontecimentos de grande significado espiritual ocorreram
justamente antes de minha morte. Eles são exemplos magníficos das grandes Leis Cósmicas em ação dentro de sua dimensão de existência. Agora
estou lhe dando uma breve narrativa desses acontecimentos importantes.
Meu propósito é o de iluminar completamente sua mente e dar conhecimento mais além de qualquer conhecimento recebido por qualquer outra
pessoa em seu universo.
____Quando comecei a preparar os meus discípulos para a minha morte que se aproximava, tive uma tarefa terrivelmente difícil. Custava muito a eles conter o choque e o assombro. Pensar que eu seria crucificado como um criminoso comum era repugnante, inexprimível e, além disso, não queriam me perder de vista. Tinha-os chamado para seguir-me e
abandonar suas vidas, as quais tinham sido bastante prósperas. Tinham
abandonado suas famílias e seus lares para refazer suas vidas ao meu lado
e de meu trabalho. Tinham se orgulhado de meu caminhar pelas cidades.
Tinham estado dispostos a juntar-se a mim e eram conhecidos como meus_discípulos, apesar da rejeição e a dura crítica dos Líderes Religiosos. E mais
ainda: amavam-me e respeitavam-me tanto pela forma como eu vivia meus
próprios ensinamentos como pela maneira como curava tantas pessoas
com compaixão e pelo consolo que trazia às suas vidas desventuradas.
Acreditavam verdadeiramente que eu era o Filho de Deus. Como o Filho
de Deus podia acabar na cruz? - perguntavam-se. Aumentava o espanto
com cada pergunta. Era impensável. Sentiam que um tremendo vazio se
abria diante de suas vidas, uma enorme cratera na Terra onde pisavam e uma vasta extensão de instabilidade e de falta de propósito dentro deles
mesmos. Não se atreviam a contemplar a minha futura crucificação
da qual eu falava. Tal acontecimento destruiria tudo aquilo em que
tinham acreditado com todo o seu coração.
____Desta maneira, meus discípulos resistiam muito fortemente ao que eu
tentava dizer e afirmavam repetidamente que tal coisa nunca poderia ocorrer. Agi com firmeza contra suas teimosas negativas e finalmente sentiram-se obrigados a silenciar seus argumentos e aparentemente aceitar que
tal coisa poderia ser possível. Disse a eles que depois de minha morte me
veriam de novo e que esperava que continuassem o trabalho que eu tinha
começado.
____A dor e as discussões que eu tinha provocado entre meus discípulos
também me afetaram profundamente. Não era tarefa fácil ir a Jerusalém,
onde o meu destino me esperava. Acima de tudo, perguntava-me se estaria à altura daquele grande desafio para a resistência. Seria capaz de transcender a condição física e entrar no Pai Consciência_Universal e ali ficar até morrer? Às vezes eu me sentia profundamente assustado diante do calvário, mas não me atrevia a revelar esse temor a meus discípulos.
____Assim, comecei minha última viagem em direção a Jerusalém com
grande confusão de sentimentos. Por um lado, estava cansado de curar,
falar e ensinar às pessoas que me escutavam boquiabertas e não tinham nenhuma real compreensão do que eu tentava dizer. Tinha pensado que meu
conhecimento tornaria as pessoas capazes de sair de sua miséria e, pelo
menos, estabelecer contato com o "Pai" e obter um vislumbre do "Reino
dos Céus". Não havia nenhuma evidência de tal despertar espiritual nem
mesmo entre meus discípulos. Meu desapontamento e sentido de fracasso trouxeram-me contentamento ao pensar em abandonar a vida terrena
rumo à gloriosa existência que sabia que me esperava depois_da_morte.
____Ao mesmo tempo, perguntava-me como poderia suportar a dor_da_crucificação. Ao longo de minha missão, meu estado mental era mais ou
menos pacífico e consistente - frequentemente em júbilo, com os pensamentos focados no "Pai Consciência Amorosa," autor de todo ser, sabendo
que bastava pedir e o que pedisse rapidamente seria manifestado. Eu seria
capaz de manter minha serenidade, quando fosse apresentado diante do
Conselho, levado para a crucificação, pregado na cruz com meu peso pendurado pelas minhas mãos?
____Como estava dando lugar a dúvidas e temores, o nível normal das
frequências de minha consciência estava baixando. Eu estava descendo novamente às frequências da consciência do plano terreno. Voltei a ser vítima de minha antiga agressividade que me incitava a atos irracionais, que eu
não teria sequer considerado quando estava em meu estado anterior de
total harmonia com o "Pai Consciência Amorosa". Minhas dúvidas e conflitos se exteriorizavam em minha vida como emoções e impulsos humanos
que eram opostos à Lei Cósmica do Amor.
____Primeiro aconteceu o episódio da figueira. Tinha fome e fui em direção à árvore, não esperando verdadeiramente encontrar frutas porque
não era a estação de figos. Ao ver que a busca era "infrutífera", amaldiçoei
a figueira. Vinte e quatro horas depois, ela havia murchado até as raízes. (Ver: Pensamento Criativo)
____Foi uma experiência chocante. Era a primeira vez que minhas palavras tinham causado dano a algo. Contudo, mostrou claramente a
meus discípulos o poder do PENSAMENTO para o bem ou para o mal.
Demonstrou que quanto mais espiritualmente evoluída é uma pessoa,
maior é o impacto de suas palavras no meio ambiente.
____Aproveitei a oportunidade para explicar aos meus discípulos que
eu tinha me comportado de maneira irrefletida, como o faz a maioria
dos homens e mulheres que, tendo grandes expectativas, não consegue o que quer. Essas pessoas costumam reagir com raiva, lágrimas e
até com palavras fortes que podem ou não significar um "desejar mal" ou maldizer a pessoa que tenha negado o que eles desejavam. Eles já tinham visto por eles mesmos o que a minha maldição tinha causado à figueira. Agora deveriam compreender que tendo uma forte convicção,
poderia ser concedido a eles qualquer coisa que pudessem desejar ou
imaginar, mas também deveriam estar constantemente conscientes
de sua própria condição mental - emocional. Não deveriam guardar
rancor dos outros, mas sim perdoar rapidamente - do contrário,
poderiam causar muito mal àqueles com quem estivessem ressentidos ... E isto seria devolvido a eles no devido tempo, como a colheita
do que semearam. E mais ainda, tal como é a semeadura, assim é a
colheita. Sabia que o que eu tinha causado à figueira inevitavelmente
retornaria para mim de uma ou outra maneira.
____Então levei os meus discípulos para o Templo. Muitos anos tinham
se passado desde que eu tinha estado lá e sabia que minha visita serviria
para desencadear os acontecimentos que levariam à minha crucificação.
Algumas pessoas me reconheceram e comecei a ensinar em resposta a seus
pedidos. Foram se juntando mais pessoas e os agiotas se amontoaram, começando a reclamar. Seus gritos e queixas barulhentos interromperam a
linha de meu pensamento enquanto ensinava.
____De repente, a cólera tomou conta de mim. Havia ali pessoas sérias que me rodeavam e desejavam ouvir palavras de VIDA, as quais em breve
não poderia mais pronunciar, e ali estavam mercadores que viviam vendendo animais para os sacrifícios que não beneficiavam ninguém. Aqueles homens somente traziam dívidas e miséria às pessoas. Senti o sangue
subir-me à cabeça, empurrei as mesas espalhando o dinheiro e expulsei do
Templo os homens de coração duro.
____Então houve uma tremenda comoção de gritos e lamentações. Alguns brigavam para apanhar o dinheiro. Os mercadores amaldiçoaram-me
chamando-me de malvado, dizendo que eu fazia o trabalho de Belzebu e
outros mil demônios mais. Os Sacerdotes, os Fariseus e todas as pessoas
que valorizavam os sacrifícios do Templo vieram correndo para averiguar a
causa do barulho e da confusão.
____Ouviram a história dos mercadores e se sentiram tão ofendidos com
meus atos que se lançaram aos gritos em condenações e lamentos para
assim impressionar os Sacerdotes, cada um protestando mais alto do que
seu vizinho, demonstrando seu horror pelo que eu tinha feito. Nunca antes
tinha se visto tal coisa no Templo. Até mesmo aqueles que antes tinham me
escutado estavam incomodados pela minha obstinação e se perguntavam
que tipo de homem eu poderia ser. Estavam juntos vendo os acontecimentos quando os Sacerdotes e Fariseus se aproximaram e os convenceram
de que eu tentava destruir tudo aquilo no que acreditavam, pregando um "Deus" falso, totalmente contrário a qualquer coisa que tinham ouvido falar nas sinagogas. Os Sacerdotes passaram a eles a sua própria raiva ultrajada e convenceram-nos de que meu pecado também os contaminaria, se
continuassem a dar ouvidos às minhas loucuras.
____Aos poucos, as pessoas se convenceram de que eu era uma má influência e que deveriam afastar-me do caminho antes que eu pudesse transtornar a paz do país e atrair a ira do governador romano sobre toda a
Palestina.
____Meus discípulos, envergonhados pelo que eu tinha feito, sigilosamente deixaram o lugar e esconderam-se entre as ruelas a alguma distância do
Templo. Quando mais tarde regressaram para onde eu estava, demonstraram claramente que estavam profundamente incomodados com meus atos.
Perguntavam-se se eu tinha perdido o juízo, ou se tinha ficado louco profetizando minha morte e depois fazendo aquelas coisas que provavelmente a provocariam. Foi nesse momento que Judas, aquele que nunca havia
abandonado verdadeiramente suas crenças judaicas, começou a duvidar de
que eu fosse verdadeiramente o Messias. Fazia três anos que eu ensinava o
povo e não se via nenhum sinal de que o domínio Romano se enfraquecia. Três anos e as pessoas não estavam mais perto da felicidade que eu havia
prometido. E agora parecia que estava a ponto de converter-me num perturbador da paz, fazendo cair a ira de Roma sobre suas cabeças. Judas ficou
sabendo que o Sumo Sacerdote Judeu queria se desfazer de mim e então
ofereceu seus serviços para me identificar, quando assim fosse pedido.
____Quando foi a hora de celebrar a Páscoa com meus discípulos, organizei_uma_ceia com todos reunidos num grande salão. Sabia que aquela
era a última vez que comeria na Terra. Não desejo voltar profundamente à consciência daquela noite. Senti grande tristeza por ter que deixar meus
discípulos que tinham me servido tão bem. Com a tristeza, todos os meus
temores e conflitos reapareceram.
____Tive momentos de profunda autopiedade. Senti que ninguém compreendia o que havia procurado fazer pelo meu povo e o sacrifício que
estava disposto a fazer por ele. João estava contando uma expressiva história sobre a última noite dos israelitas no Egito, antes de escaparem para o
deserto. Falava das instruções de Moisés ao chefe de cada família para que
matassem um cordeiro sem mancha, que o cozinhassem de certa maneira
e pintassem com aquele sangue as portas das moradias israelitas, porque
naquela mesma noite viriam os anjos para matar todos os filhos prímogênitos dos egípcios e o seu gado. Com vivacidade, recordou a agitação dos
egípcios ao despertarem e encontrarem o primogênito de cada lar ensanguentado, sem que nenhum tivesse se salvado.
____Era o tipo de história horrível que eu rejeitava por não ter nenhum
valor para a pessoa que buscava a Verdade espiritual mais elevada. Eu me
perguntava até que ponto meus discípulos realmente tinham entendido
quando eu falava de seu "Pai Celestial" e Seu amor por toda a humanidade. Como podiam entusiasmar-se com o pensamento de "anjos" matando
os primogênitos dos egípcios quando eu tinha dito com toda a clareza que "Deus", o "Pai", era Amor? Mas os Judeus sempre haviam se preocupado
com o derramamento de sangue para redimir seus pecados. Até mesmo Abraão, o fundador da nação israelita, convenceu-se de que devia levar o
seu único filho ao deserto, matá-lo e oferecê-lo em sacrifício a Deus. Um
pensamento pagão e revoltante!
____Pensei nos sacrifícios de animais no Templo. Amando a todos os seres
vivos da criação como eu amava, esta prática era para mim uma abominação. E agora eu estava a ponto de ser levado para a morte porque tinha me
atrevido a pronunciar as palavras da Verdade. E quando considerava o tão
pouco do meu conhecimento que tinha conseguido transmitir, perguntava-me por que eu tinha sido enviado em tal missão!
____Senti de repente um estremecimento de ressentimento e raiva se entrelaçar aos sentimentos habituais de amor para com aqueles homens. Com
certo cinismo, perguntava-me que sinal poderia deixar que fosse uma recordação eficaz, para que os meus ensinamentos retornassem a suas mentes quando já não estivesse com eles. Se podiam esquecer tão rapidamente
todos os meus ensinamentos sobre o ''Amor do Pai" e desfrutar a horrível
história da Páscoa, enquanto eu ainda me encontrava na mesma sala com
eles - de que se recordariam quando morresse como um "malfeitor" na
cruz, a mais desprezível das mortes?
____Depois pensei que, se o "derramamento de sangue" os comovia tanto,
daria a eles sangue para que se recordassem de mim! Com essas reflexões
irônicas apanhei um pão, parti-o, passei-o a meus discípulos e disse que o
comessem. Comparei o pão partido com o futuro de meu corpo partido
e pedi que repetissem o "partir o pão e o distribuir" em lembrança do sacrifício de meu corpo para trazer a VERDADE - a Verdade sobre Deus e a
Verdade sobre a Vida, a Verdade sobre o Amor.
____Percebendo que eu estava com um humor estranho, pararam de comer, escutaram, pegaram o pão e comeram em silêncio. A seguir, tomei
minha taça de vinho e a entreguei, dizendo que cada um devia beber dela,
posto que era o símbolo de meu sangue que logo seria derramado porque
tinha me atrevido a trazer a Verdade da Existência.
____Vi que meu tom de voz tinha tocado a alguns deles. Sobriamente, cada
um tomou um gole e depois passou a taça para quem estava a seu lado. Mas
ainda não diziam nada. Percebiam que eu estava sério e que já não toleraria
mais discussões. Então eu disse que um deles me trairia.
____(Em segredo entendia os seus motivos e sabia que ele era uma parte
necessária da futura sequência de acontecimentos. Simplesmente cumpria
o papel que sua natureza o levava a desempenhar. Eu sabia que ele sofreria
muito e senti compaixão por ele. Mas guardei estes pensamentos só para
mim).
____Ao mencionar que um deles me trairia, disse a Judas que saísse para
fazer rapidamente o que tinha que fazer; os discípulos despertaram, se
perguntando se realmente aquela era sua última ceia comigo. Havia muita
angústia emocional, perguntas, inclusive recriminações por tê-los colocado
em tal armadilha. Outra vez, perguntaram-se o que fariam de suas vidas
depois que eu me fosse. Perguntavam-se qual seria seu lugar na comunidade se eu fosse crucificado. As pessoas zombariam deles, queixavam-se.
Ninguém voltaria a confiar no que dissessem.
____Profundamente entristecido pela resposta egoísta diante de minha situação, assegurei a eles que não tinham que temer por sua própria segurança. Deveriam abandonar-me e não haveria ligação entre eles e a minha
crucificação. Sugeri que depois de minha morte se dispersassem e voltassem para a Galileia. Pedro comoveu-se profundamente e reagiu com violência negando que algum dia me abandonaria, mas, é claro, foi o que ele
fez.
____Mesmo depois de todo o amor que tinha por meus companheiros e de
tudo o que desejava obter para eles, naquele momento de minha própria
necessidade, ainda encontrava total falta de compreensão, até resistência.
Minha única preocupação era sobre o que poderia acontecer a eles. Não houve nenhuma palavra amável, oferecimento de ajuda ou angústia pela minha
dura prova futura.
____Como era duro o coração humano, pensei! Quantos penosos séculos
teriam que passar antes que a humanidade pudesse ir mais além de sua
própria dor e sofrimento para sentir talvez uma faísca de amor e compaixão
para com outros desafortunados que se encontrassem numa situação pior
do que a deles?
____Porém, ainda que profundamente decepcionado e mesmo machucado por suas reações egoístas, compreendi-os e procurei dar aos meus discípulos coragem para enfrentar o futuro e assegurei que sempre estaria
com eles, mesmo quando estivesse fora de suas vistas. A obra que eu tinha
começado seria promovida desde o além. Não os deixaria sozinhos. Conheceriam e sentiriam minha presença e isso os consolaria.
____Disse que se agarrassem à recordação do tempo em que eu tinha estado com eles. Alertei que haveria muitos que continuariam o caminho
com o conhecimento que eu havia dado, mas que estranhos buscariam
acrescentar a voz da tradição e da razão aos meus ensinamentos. Minhas
palavras seriam tão distorcidas que, finalmente, já não revelariam a Verdade original que eu havia trazido ao mundo.
____Quando disse que isso aconteceria afligiram-se, foram mesmo tomados pelo pânico. Fiquei aliviado ao ver que meus ensinamentos não tinham
sido em vão apesar de tudo, que não tinham entrado em ouvidos totalmente surdos. Pediram-me que contasse mais - mas levantei as mãos e disse
que isso era tudo o que eu podia dizer.
____Nesse ponto, senti que havia dito tudo o que eu tinha querido dizer
enquanto estava na Terra e que meu discurso aos homens havia sido cumprido. Tudo o que mais profundamente desejava era retirar-me ao silêncio
e encontrar paz e conforto em meu contato com o "Pai".
____Deixamos o salão e fomos andando até o Monte das Oliveiras, mas o
estado de meus discípulos era de conflito interno, temor e dúvida. A maioria deles foi embora para unir-se com suas famílias e amigos que estariam
celebrando sua própria Páscoa. No jardim havia uma rocha especial
cujo formato lembrava uma pequena caverna. Gostava de refugiar-me do vento dentro dela. De modo que ali me sentei e orei, buscando um caminho para a grande harmonia que já havia desfrutado no
passado. Sabia que quando me movesse para sintonizar-me com o "Pai Amor", meus temores se dissolveriam e estaria num estado de
paz e de total e absoluta confiança. À medida que senti o Poder do
Amor entrar em mim e tomar posse de minha consciência humana,
assim também a força para suportar o que viria sobre mim tomou
conta do meu coração. Seria capaz de permanecer dentro do amor e
dar Amor aos outros até o fim.
____E assim foi.
____Nem sequer tentarei voltar a entrar no estado do julgamento e
da crucificação. Isso não tem importância.
[ CARTAS DE CRISTO > Carta 3]
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