|
____Pedro havia
revelado a individualidade de Jesus pouco antes, e fora o primeiro
discípulo que com João se afastara do Batista para
seguir Jesus; |
|
____João, o "discípulo a quem Jesus amava"
(cfr.João, 13:23; 19:26; 21:20) e talvez mesmo sobrinho carnal de Jesus (cfr. vol. 3); |
|
____Tiago, irmão de João, foi
decapitado em Jerusalém no ano 44 (At. 12:2), tendo sido o primeiro dos
discípulos, escolhidos como emissários, que
testemunhou com seu sangue a Verdade dos ensinos de Jesus. |
____Com os três Jesus "subiu ao monte"
(Lucas), ou "os ELEVOU a um alto monte".
____Mas não se identifica qual o monte. Surgiu, então, a dúvida entre os exegetas: será o Hermon ou o Tabor? O Salmo diz "que o Tabor e o
Hermon se alegram em Teu Nome" (89:12) ...
____
- Alguns opinam pelo Hermon, a 2.793 m de altura, perto do local da
"confissão de Pedro", Cesaréia deFilipe.
Objeta-se, todavia, que é recoberto de neve perpétua e que, situado em
região pagã, dificilmente seria
encontrada, no dia seguinte, no sopé, a multidão a esperá-lo, enquanto
discutia com os demais discípulos, que haviam
permanecido na planície, sobre a dificuldade que tinham de curar o jovem epiléptico.
- Outros preferem o Tabor. Além dessas razões, alegam: que "seis
dias" são tempo suficiente para chegar com calma de volta à
Galiléia. O Tabor é um tronco de cone, com um platô no alto de cerca de
1 km de circuito; fica a sudeste de Nazaré situado
no final do planalto de Esdrelon, que ele domina a 320 m
de altura (562 m acima do nível do mar e 800 m acima do Lago de
Tiberíades).
____Tem a seu favor a tradição desde o
4º século, atestada por Cirilo de Jerusalém (Catech. 12:16, in
Patrol. Graeca, vol. 33, col. 744) e por
Jerônimo que, ao escrever sobre Paula, afirmava que ela quo transfiguratus est
Dominus (Ep. 108.13, in Patrol. Lat. vol.
20, cal. 889, e Ep. 46,12, ibidem, col. 491), isto
é, "subia ao monte Tabor, onde o Senhor se transfigurou".
____Objetam alguns que lá devia haver um forte, de que fala Flávio Josefo
(Bel1. Jud. 2-.20.6 e 4.1.1.8), mas isso só ocorreu
36 anos depois, na guerra contra Vespasiano.
____Do alto do Tabor, fértil em árvores odoríferas, contempla-se todo o
campo do ministério de Jesus: Caná, Naim, Cafamaum, uma parte do Lego de
Tiberíades, e, 8 km a noroeste, Nazaré.
|
____Chegam ao cume, Jesus se põe a orar (Lucas) e, durante a prece, "se
transfigura". Mateus e Marcos não temem usar metemorphôthê,
"metamorfoseou-se", que exprime uma transformação com mudança
de forma exterior. Lucas evita esse verbo,
preferindo metaschêmatízein ("revestir outra forma"),
talvez
____Essa transformação se operou no rosto, que tomou "outra
forma"; embora não se diga qual, a informação de Mateus é que
"resplandecia como o sol". Também as vestes se tornaram
"brancas como a luz" (Mat.) ou
"brancas qual nenhum lavandeiro seria capaz de alvejar (Marc.) ou
"brancas e relampejantes" (Lucas).
____Mateus e Marcos falam em "visão" (ôphthê, aoristo
passivo singular, "foi visto"), enquanto Lucas apenas anota que
"dois homens", que eram Moisés e Elias, conversavam com Ele.
____Moisés, o libertador e legislador dos israelitas, servo obediente e fiel
de YHWH, e Elias, o mais valoroso e adiantado intérprete, em sua
mediunidade privilegiada, do pensamento de YHWH. Agora vinham ambos
encontrar, aniquilado sob as vestes da carne, aquele mesmo YHWH, o
"seu DEUS", com o simbólico nome de
JESUS: traziam-Lhe a garantia da amizade e a fidelidade de seus serviços,
sobretudo nos momentos difíceis: dos grandes sofrimentos que se
aproximavam. Lucas esclarece que a conversa girou
exatamente em torno do "êxodo", ou seja, da saída de Jesus do
mundo físico, que se realizaria em Jerusalém
dentro de pouco tempo, através da porta estreita de incalculáveis_dores_morais_e_físicas. Embora desencarnados, continuavam
servos fiéis de "seu Deus". Digno de nota o emprego desse
mesmo termo "êxodo" por parte de Pedro (2ª Pe. 1:15), quando
se refere à sua próxima desencarnação. E talvez recordando-se dessa
palavra, Lucas usa o vocábulo oposto (eísodo s)
"entrada" (At. 13:24) ao referir-se à
chegada de Jesus no planeta em corpo físico.
____Como vemos, trata-se de verdadeira e legítima "sessão
espírita", realizada por Jesus em plena natureza, a
céu aberto, confirmando que as proibições, formuladas pelo próprio
Moisés ali presente, não se referiam a esse tipo de sessões, mas apenas
a "consultar" os espíritos dos mortos sobre problemas materiais
(cfr. Lev. 19:31 e Deut. 18:11), em situações em
que só se manifestam espíritos de pouca ou nenhuma evolução.
Tanto assim que era condenado o médium "presunçoso" que
pretendesse falar em nome de YHWH, sem ser verdade
(mistificação) e o que servisse de instrumento a "outros"
espíritos (Deut.18:20). Mas conversar com entidades evoluídas, jamais
poderia ter sido condenado por Moisés que assiduamente
conversava com YHWH e que, agora mesmo, o estava fazendo, embora em
posição invertida.
____Quanto à presença de Elias, que Jesus afirmou categoricamente haver
reencarnado na pessoa de João Batista, (cfr. Mat.
11:14) observemos que o episódio da "transfiguração" se passa
após a decapitação do Batista (cfr.Mat. 14:10 e
Marc. 6:27; vol. 3). Por que, então, teria o precursor tomado a forma de uma
encarnação anterior? Que isso é possível, não há dúvida. Mas qual a
razão e qual o objetivo? Só entrevemos uma
resposta: recordar o tempo em que, sob as vestes carnais de Elias, esse
Espírito fiel e ardoroso servira de médium e
intérprete ao próprio Jesus, que então respondia ao nome de YHWH.
____Outra indagação fazem os hermeneutas : como teriam os discípulos
reconhecido Moisés, que viveu 1500 anos antes e
Elias que viveu 900 anos antes, se não havia nenhum retrato deles coisa
terminantemente proibida (cfr.Êx. 20:4; Lev. 26:1; Deut. 4:16, 23 e 5:8)?
No entanto, ninguém afirmou que os discípulos os
"reconheceram". Lucas, em sua frase informativa, diz que
"viram dois homens"; depois esclarece por
conta própria: "que eram Moisés e Elias". Pode perfeitamente
deduzir-se daí que o souberam por informação de Jesus (que os conhecia
muito bem, como YHWH que era). Essa dedução tanto
pode ser verídica que, logo depois, ao descerem do monte os quatro a conversa girou precisamente sobre a
vinda de Elias antes do ministério de Jesus. Como poderia vir, se ainda
estava "no espaço"? E o Mestre lhes explica o processo da reencarnação.
____Também em Lucas encontramos outra indicação preciosa, que talvez lance
nova luz sobre o episódio.
____Diz ele que "os discípulos estavam oprimidos pelo sono, mas
conservando-se plenamente despertos" (tradução
de diagrêgorêsante s, particípio aoristo de diagrêgoréô,
que é um verbo derivado de egrêgora, do
verbo egeírô, "despertar"). Quiçá explique isso que o
episódio se passou no plano espiritual (astral, ou talvez mental). Eles
estavam em sono, ou seja, fisicamente em transe hipnótico (mediúnico), com
o corpo adormecido; mas se mantinham plenamente despertos, isto é
perfeitamente conscientes nos planos menos densos
(astral ou mental); então, o que de fato eles viram, não foi o corpo
físico de Jesus modificado, mas sim a forma
espiritual do Mestre e, a seu lado, as formas espirituais de Moisés e Elias.
Inegavelmente a frase de Lucas sugere pelo menos a possibilidade dessa
interpretação. Mais tarde, na agonia, é também
Lucas que chama a atenção sobre o sono desses mesmos três discípulos
____(Luc.
22:45).
____Mateus e Marcos parecem indicar que Pedro fala ainda na presença de
Moisés e Elias, mas Lucas esclarece que ele só se manifestou depois que
eles desapareceram. Impulsivo e extrovertido como era, não
conseguiu ficar calado. E sem saber o que dizer, propõe construir três
tendas, uma para cada um dos visitantes e uma para Jesus.
____Interessante observar que em Marcos encontramos o vocábulo que deve ter
sido usado por Pedro "Rabbi", enquanto Mateus o traduz para
"Senhor" (kyrie) e Lucas para "Mestre" (epistata,
ver vol. 2). Pergunta-se qual a razão das tendas. Talvez porque já era
noite? Mas quantas vezes dormira Jesus ao relento, sem que Pedro se
preocupasse ... Alguns hermeneutas indagam se a expressão "construir
tendas" não terá, por eufemismo, significado
apenas "permanecer_lá",_isto_é,_não_mais_voltar_à_planície.
E a hipótese é bastante lógica e forte, digna de
ser aceita.
____Pedro não obteve resposta. Estava ainda a falar quando os envolveu
(literalmente "cobriu") a todos uma nuvem
(Mat.: de luz), e os três jogaram-se de rosto ao chão, aterrorizados. Na
escritura, a nuvem era um sinal da presença de YHWH
(cfr. Êx. 16:10; 19:9,16; 24:15,16; 33:9-11; Lev.16:2; Núm.11:25, etc.).
Daí pode surgir outra interpretação, que contradiz a primeira
hipótese, de haver-se passado a cena no plano espiritual. A nuvem poderia
ser o ectoplasma que tivesse servido para materialização_dos_espíritos e que, ao desfazer-se a forma, tomava aspecto de nuvem difusa, até o
ectoplasma ser absorvido pelo ar. O mesmo fenômeno,
aliás também atestado por Lucas apenas (At. 1:9) se observou ao
dispersar-se o ectoplasma utilizado para a materialização do corpo_astral de Jesus após a ressurreição; nessa circunstância, dois outros
espíritos aproveitaram o ectoplasma para materializar-se e dizer aos
discípulos boquiabertos, que fossem para seus afazeres; e logo após
desaparecerem. Também aqui parece coincidir o
aparecimento da nuvem com o desaparecimento dos dois espíritos.
____Quando a nuvem os cobriu, foi ouvida uma voz (fenômeno comum nas sessões
de materialização, e " este
é meu filho, o Amado, que me alegr a";
e os três evangelistas acrescentam unanimemente: "ouvi-o". No
entanto, Pedro. testemunha ocular do fato, repete a
frase sem o imperativo final: "recebendo de Deus Pai honra e glória,
uma voz assim veio a Ele da magnífica glória: este
é meu Filho, o Amado, que me satisfaz. E essa voz que veio do
céu, nós a ouvimos, quando estávamos com Ele no monte santo"(2.ª
Pe.1:17-18).
____Após a frase, que Marcos, com um hápax (exápina) diz "ter
cessado", tudo voltou à normalidade. Mas, segundo
Mateus, eles permaneceram amedrontados. Foi quando Jesus, tocando-os,
mandou-os levantar-se, dizendo que não tivessem medo. Levantando-se, eles
viram apenas Jesus, já em seu estado físico normal.
____Termina Lucas informando que tal impressão causou o fato, que os três
nada disseram a ninguém "por aqueles
dias". Esse silêncio aparece como uma ordem dada por Jesus aos
três, "ao começarem a descer o monte",
fixando-se o prazo: "até que o Filho do Homem se levante dentre os
mortos" (ou "seja ressuscitado").
____Procuremos penetrar, agora, o sentido profundo do episódio narrado pelos
três sinópticos.
____Esclareçamos, de início, que as instruções de João o evangelista,
quanto à iniciação ao adeptado e sua conquista,
seguem caminho diferente dos três outros evangelistas, e por isso essa
passagem foi substituída por outra: as bodas de
Caná (cfr. vol. 1). Daí não haver tocado no assunto. Mas outras razões
podem ser dadas: tendo experimentado esse esponsalício pessoalmente, não
quis divulgá-lo por discrição. Ou também: tendo
sido narrado pelos três, inútil seria revivê-lo depois que estava
divulgado havia pelo menos 30 anos.
____Examinemos rapidamente os dados fornecidos pelos textos.
____Mateus e Marcos assinalam, com precisão que a cena se deu SEIS dias
depois. Não nos interessa saber depois " de_que"; e sim assinalar que o fato se passou no SÉTIMO dia. Alertados,
pois, para isso (que Lucas, mais intelectualizado
por formação, interpretou como pura indicação cronológica e registrou
com imprecisão: cerca de oito dias),
imediatamente compreendemos que se trata, mais uma vez,
do último passo sério de uma iniciação esotérica. Daí a necessidade
de prestar toda a atenção aos pormenores, ao que
está escrito, ou ao que está sugerido, embora não dito, às ilações
silenciosas de um texto que, evidentemente, tinha
que aparecer disfarçado, indicando apenas, despretensiosamente, uma
ocorrência no mundo físico.
____Antes de entrarmos nos comentários "místicos", observemos o
episódio à luz dos mistérios iniciáticos o Jesus passara, em sua peregrinação terrena, pelos três primeiros graus: o
MERGULHO nas águas profundas do coração,. a
CONFIRMAÇÃO, obtida com a Voz ouvida logo após o mergulho, completando assim os mistérios menores. E recebera bem a
"prova" do terceiro grau, as "tentações",
vencendo-as em tempo curto e de maneira brilhante. Nem mesmo necessitara
propriamente de uma metánoia ("modificação
mental" ou, como prefere H. Rohden, "transmentação"): sua
mente já estava firmada no Bem havia milênios;
submeteu-se às provas por espontânea vontade (tal como ocorrera com o "mergulho"
diante do Batista, Mat. 3:14-15), para exemplificar, deixando-nos o modelo
vivo, que te-mos que seguir.
____Superadas, pois, as tentações (3.° grau) - e portanto vencida e domada
totalmente a personagem tran-sitória com sua
ignorância divisionista, transbordante de egoísmo, vaidade e ambição -
podia preten-der o ingresso no 4.° grau
iniciático, nos mistérios maiores.
____A
cerimônia, realizada diante da Força Divina, conscientemente sentida
dentro de cada um, mas tam-bém transcendente em a
Natureza, dividia-se em duas partes.
____A primeira partia do candidato (termo que significa "vestido de
branco"; cfr. Marcos: "branco qual eucharistía).
O homem eleva suas vibrações ao máximo que lhe é possível, a fim de,
sintonizando com Deus, agradecer o suprimento de
Força (dynamis) e de Energia (érgon)
que recebeu. Com isso, seu Espírito
____A essa Ação de Graças comparecem os "padrinhos" do novo ser
que "inicia" a estrada longa e árdua do
adeptado: dois "iniciados maiores", que se responsabilizam por
ele, tornando-se fiadores de que realmente ele é
digno de receber a Luz o Alto, e de que está APTO ao passo de suma
gravidade que pretende dar. Ninguém melhor que
Moisés e Elias para apresentar-se fiadores da pureza e santidade de
YHWH, diante da Grande Ordem Mística e de seu Chefe, o Rei da Justiça e
da Paz, MELQUISEDEC!
____E lá estão eles, revestidos de luz, embora suas luzes fossem ainda
inferiores às daquele que, para eles, fora
"o seu Deus"!
____Nesse encontro magnífico, o entretenimento permanecia na mesma elevação
espiritual, e os assuntos tratados referiam-se
exatamente aos passos seguintes: o quinto e as dores e a paixão
indispensáveis para o sexto; conversavam a respeito
da próxima "saída" que, dentro em pouco, se realizaria em
Jerusalém.
____Nesse alto nível de freqüências vibratórias, puramente espirituais, em
que o candidato aceita, de pleno grado e com
alegria, tudo o que os "padrinhos" lhe apresentam como
necessário à promoção, aguardava-se a
aprovação do Alto, a poderosa manifestação (em grego epiphanía)
que devia chegar do VERBO, através da palavra
autorizada do Hierofante Máximo, declarando o candidato aceito
no quarto grau, que lhe garantia o título oficial de
"Iniciado". E_ Melquisedec_ mais_uma_vez_faz_soar_SUA_VOZ:_"este_é_meu_Filho,_o_Amado". Através do Sumo
Sacerdote do Deus Altíssimo (Heb.7:1) soava o SOM divino, e ao mesmo
tempo vinha a autorização plena e total, para que pudesse ENSINAR os
grandes mistérios àqueles que deles fossem dignos: OUVI-O!
____Os três discípulos que ali haviam sido convocados testemunharam
espiritualmente a cerimônia porque, Realmente
sabemos haver diversos planos em cada estágio evolutivo. No estágio
hominal (como em tudo neste planeta), os planos são
estruturados em setenários. Então, cada ser terá que submeter-se aos
sete passos iniciáticos em cada um dos sete planos. O Homem atingirá o
grau definitivo de "iluminado" após os
três primeiros cursos de iniciação em três vidas diferentes, embora,
talvez não sucessivas.
____Ao completar o quarto curso, terá então o título definitivo de
"iniciado", quando já se firmou na estrada
certa. Depois do quinto curso, poderá receber o grau de
"adepto". Após o sexto curso merecerá o
mestrado supremo, será o "Hierofante". Só após o sétimo e
último curso, será legitimamente chamado "O
CRISTO". E foi isso que precisamente ocorreu com Jesus que, de
direito, foi e é denominado Jesus, O CRISTO!
____Só alguém que tenha um grau maior ou igual, poderá conceder a uma
criatura os títulos legítimos.
____Por isso, na Terra, só o Rei da Justiça e
da Paz, o CRISTO MELQUISEDEC, poderia ter conferido a Jesus essa prerrogativa. E por essa razão foi escrito que Jesus,
"sacerdote da Ordem de Melquisedec" (Heb.
5:6), "entrou, como precursor, por nós, quando se tornou Sumo
Sacerdote, para sempre, da Ordem de
Melquisedec" (Heb. 6:20).
____Enquanto Jesus conquistava o quarto grau do sétimo plano, os três
discípulos presentes eram recebidos e confirmados
no mesmo quarto grau, mas de um plano inferior, que ousamos sugerir se
tratava do quarto plano, pois se estavam preparando
para o grau de "Iniciados", que realmente demonstraram ser,
pelo futuro de suas vidas físicas, naquela encarnação.
____Olhando-se as coisas sob esta realidade que acabamos de expor, é que
verificamos quanta ilusão anda pelo mundo, no
coração daqueles que se intitulam "iniciados" logo nos
primeiros passos do caminho
do Espírito; e
sobretudo daqueles que julgam poder comprar uma palavra mágica que os
torna instantânea e milagrosamente
"iniciados" da noite para o dia ...
____Mas olhemos, agora o texto sob outro prisma. Estudemo-lo em sua
interpretação mística do mundo mental, dentro do
coração, na conquista do "reino dos céus".
____Observemos que Jesus (a Individualidade) toma consigo PEDRO (a emoção, o
corpo astral); TIAGO (corruptela portuguesa de Jacó
- veja vol. 2 - com o sentido "o que suplanta", e que representa
aqui o intelecto, que suplanta toda a animalidade,
quando se desenvolve no plano hominal) e JOÃO (o intelecto já
iluminado, cujo nome exprime "o dom de Deus" ou "a graça
divina", cfr. vol. 1).
____Por aí se compreende a razão da escolha. Qualquer passo que pretenda ser
sério e construtivo espiritualmente, na
individualidade, tem que contar, na personalidade, com esses três
fundamentos: as emoções, o intelecto que suplantou
a animalidade e o intelecto já iluminado pela intuição; por isso os evangelistas
nos mostram Jesus a chamar, nos casos mais importantes, os três
nomes-chaves: Pedro, Tiago e João.
____Outra observação importante é o termo empregado por Mateus e Marcos
(Lucas emprega anébê,
"subiu) e que nos elucida com exatidão:anaphérei,
ou seja, ELEVOU-OS. Com isso percebemos que houve uma
elevação de vibrações, e bastante forte: ao monte alto (Mateus e
Marcos). Lógico que não era preciso dar o nome do
monte:foi ao Espírito, à mente, ao coração, que Jesus os
"elevou", que a individualidade fez
ascender a personalidade, subindo com Ela. E não deixa de salientar:
"à parte", sozinhos, deixando na
planície, ao sopé do monte, os demais discípulos, ou seja, os veículos
inferiores.
____Lucas, bem avisado, anota que os discípulos ficaram "oprimidos pelo
sono" (hêsan bebaryménoi hypnôi).
No entanto, pode acrescentar que, apesar disso, se conservavam
"plenamente despertos", isto é,
____Passados
os veículos superiores para o plano mental (mergulhados no coração),
puderem observar aquilo que todos os grandes
místicos atestaram sem discrepância, no oriente e no ocidente, em
qualquer época: a percepção de uma luz
intensíssima, que só poderia ser comparada, como o foi, ao SOL e
à própria LUZ. Estavam os veículos em contato com o Eu Interno, com o
CRISTO, com o Espírito em todo o seu resplendor
relampejante: Deus é LUZ: mergulhar em Deus é mergulhar na LUZ.
____Aí, nessa fulguração supernatural, observaram os três planos da
individualidade, a tríade superior: a Centelha
divina do Sol imortal, a partícula da Luz Incriada, representada por
Jesus, pelo Cristo Cósmico mergulhado no ser; viram
a Mente Criadora, que eles personalizaram em Moisés, criador da legislação
para a personalidade; e o Espírito Individualizado, que o participante da
experiência mística representa por Elias (cujo
nome significa "Deus é meu Senhor"); Elias é o Espírito mais
típico em sua ação espiritual, no Antigo
Testamento. Aparece repentinamente nos livros históricos, sem filiação nem
tradição, e também faz sua partida estranhamente num carro de fogo,
como se se tratasse de alguém que não nasceu nem
morreu ou que aqui tivesse vindo e ido proveniente de outro planeta. Tal como
o Espírito imortal que, proveniente de uma individualização do
Pensamento Universal, não conhece seu princípio
nem jamais finalizará sua ascensão.
____Aí temos, portanto, mais um exemplo vivo e palpitante, mais uma lição
maravilhosamente exposta na prática, de um dos
processos da unificação da personagem humana, em sua parte mais elevada,
com a individualidade divina. A personagem descobre,
nesse Encontro acima dos planos comuns, no nível altíssimo
(alto monte) do mental, que seu verdadeiro EU tem três aspectos
distintos, embora constituam um
só princípio:
- 1º o Cristo Cósmico, a Partícula divina;
- 2º a Mente
criadora (nóus)
simbolizada em Moisés;
- 3º o Espírito
individualizado, do qual Elias serviu de símbolo.
____
____Esses três aspectos
reúnem-se numa única individualidade, com o sagrado nome de JESUS.
____Daí a metamorfose que eles dizem que Jesus sofreu "no rosto":
não era mais aquele Jesus do corpo físico, mas sim
o JESUS-INDIVIDUALlDADE, ali observado nas três faces: Jesus o CRISTO,
Moisés a Mente, Elias o Espírito.
____O episódio da " transfiguração " torna-se, por tudo isso, um
dos pilares fundamentais da mística cristã, uma
das provas basilares da realidade do mundo espiritual que somos nós, esse
microcosmo que é a redução finita de um
macrocosmo infinito, incompreensível ao nosso intelecto personalístico;
esse minuto-segundo, ponto físico euclidiano, que
é uma projeção descritiva da eternidade, inconcebível ao nosso
cérebro físico.
____Lição perfeita em sua execução, revestida de impecável didática para
quem olha e vê.
____Dos veículos presentes ao excelso acontecimento, só as emoções se
descontrolam. A parte puramente hominal do intelecto
e a parte super-hominal do intelecto-iluminado, receberam a lição e
silenciaram respeitosamente, absorvendo o ensino (o
Lógos) e transmudando-se no Homem Novo que ali surge, no Super-Homem
que naquele instante nasce para a Vida imanente. Mas as emoções se
comovem profundamente,
a
ponto de não saber o que fazer: e nessa comoção, agitando-se, fazem o
cenário desaparecer, diluem a visão, embora
propondo permanecer indefinidamente nesse estado samádico, nesse êxtase
supremo. Mas de qualquer forma, foi exteriorizado um "desejo";
mesmo sendo sublime, mesmo revelando a decisão de
anular-se para permanecer naquela vibração puríssima, a emoção
revolveu as águas cristalinas que espelhavam o céu
na terra, e a descida foi perturbadora. Os veículos se aterrorizaram na
queda de vibrações e caíram "prostrados com o rosto por
terra", sem mais coragem de fitar a amplidão
infinita.
____Após essa revelação magnífica, tudo começa a voltar à normalidade,
descendo os veículos espirituais ao corpo denso, e
nele mergulhando como alguém que ao descer de um céu límpido e
diáfano, penetrasse numa nuvem grosseira de
materialidade. A "nuvem" da matéria toca-lhes a visão divina
embaça-lhes os olhos espirituais, diminui-lhes a agudeza perceptiva da
superconsciência.
____Surge ainda, no entanto, a afirmação espiritual do Verbo (Som, Pai),
proclamando a individualidade, o Espírito
individualizado, o CRISTO, como o Filho Amado, "que lhe proporciona
alegria": é a declaração de Amor do Amante
ao Amado, na união profunda de dois-em-um, no amplexo sublime do
Esponsalício Místico. Nada mais natural que
traduzir por palavras o ímpeto amoroso do Amante, porque o
Amante é exatamente A PALAVRA, o VERBO, o LOGOS, o SOM Incriado, que tudo
cria, sustenta e conserva com seu Amor-Ação Ativo
e criador de PAI, permanentemente em função fecundadora. E, sendo
PAI, nada mais natural que declarar que o Cristo é "MEU FILHO".
Também é óbvio que aconselhe aos veículos todos
que O ouçam, seguindo-Lhe os ensinos e as inspirações.
____Ao sentirem o impacto do natural peso mundo das células, ao penetrarem no
mundo das formas, os veículos se oprimem, se
amedrontam, e caem em quase desânimo, tristeza e saudade.
____Mais
uma vez a individualidade "tocando-os", fá-los levantar-se para
reanimá-los aos embates físicos.
____E eles vêem "apenas Jesus", apenas a individualidade despida da
glória, em seu aspecto mais comum.
____Não deixa esta, todavia, ao "descer do monte", ou seja, ao
penetrar novamente na personagem terrena, de
recomendar que silenciem o acontecimento. Os que realmente se amam, a
ninguém revelam seus íntimos contatos amorosos: é
o segredo da câmara nupcial que se leva ao túmulo. Assim, a
personalidade deverá manter secretos esses
encontros místicos, essas experiências indizíveis (2.ª Cor. 12:4).
Sobretudo àqueles que não tiveram a experiência, aos que vivem NA
personagem apenas, nada deverá jamais ser revelado:
só poderá tratar-se desses raptos, desse Mergulho, com aqueles que já
os VIVERAM, isto é, só quando o FILHO do Homem (ou
o Super-Homem) tiver sido levantado da morte, do
sepulcro da personagem física terrena, e definitivamente ingressado no
"reino dos céus", só então será
lícito condividir as experiências sublimes da unificação com o
Cristo-Deus.
____Mais uma prova de que se tratava realmente de um rito iniciático dos
mistérios, é o silêncio imposto, o segredo que
Jesus exige dos que a ele assistiram. Todas as cerimônias dos mistérios
eram secretíssimas e ouvidos profanos delas não
podiam ouvir falar. Nenhum dos escritores antigos que a elas assistiu as
reproduz em suas obras. Mais tarde, depois que todos os passos fossem
dados, poderia o fato ser divulgado, mas apenas como
"um episódio" ocorrido no mundo físico, e não como o acesso a
um grau iniciático, não como a conquista de um
nível espiritual superior na escala dos Mistérios divinos.
____Essa interpretação só poderia vir à luz no fim do ciclo zodiacal de
Pisces (trevas), no alvorecer do signo do Aquário,
quando tudo o que é oculto virá à luz, e os segredos celestiais
jorrarão torrencialmente do Alto, para dessedentar
os sequiosos de Espírito.
*
* *
____A " transfiguração" de Jesus é classificada com o termo
metamorfose, típica dos mistérios iniciáticos gregos,
fundamento da Mitologia. Muitas dessas metamorfoses são narradas pelos
escritores iniciados nesses mistérios. Se os
profanos pensam que são reais, enganam-se: são simbólicas da passagem
de um estado a outro, ou de um estágio ao seguinte.
Apuleio, por exemplo, simboliza e mergulho de Lúcius na
matéria densa (encarnação), imaginando sua metamorfose num asno. As
peripécias do animal são as ocorrências normais
da vida humana na Terra. No fim, a iniciação nos mistérios de Ísis o
faz voltar, muito mais experiente, à vida hominal,
dedicando-se totalmente ao Espírito.
____A metamorfose de Jesus, porém, foi de outro tipo: passou da carne ao
Espírito, desintegrando momentaneamente a matéria em energia luminosa,
embora ainda conservasse as características hominais da conformação
externa, mas muito mais belas, por serem Energia Espiritual Radiante e
Puríssima.
[67 - página 85] - Volume 4