A evolução,
como toda subida, supõe as dores produzidas pelo esforço.
Essa estrada dolorosa que leva
aos cumes do Espírito, é geralmente denominada "iniciação",
e consiste basicamente em sete passos bem definidos,
que tem recebido várias designações metafóricas (citemos a título de
exemplo, "os sete vales" do sufi'Attar; os
"sete castelos da alma" de Teresa de àvila: "a montanha
dos sete patamares" de Thomas Menton, etc.).
Todas essas etapas estão bem estabelecidas na vida física de Jesus que é o modelo e exemplo do que a todos nós
deverá ocorrer para o nascimento do "homem novo" ou "Filho
do Homem", isto é, a vida plena da
individualidade.
Quando o Espírito já percorreu a maior parte da estrada
evolutiva, e já se encontra maduro para dar o
salto definitivo para a individualidade; ou seja, quando já
atingiu a liberação total dos carmas negativos, tendo inclusive adquirido a sabedoria
(desenvolvimento pleno das sensações, que foram superadas; das
emoções, que foram dominadas e vencidas; e do intelecto, que foi iluminado, estando apto a mergulhar e dissolver-se
na mente), então a "iniciação" realizada no planeta Terra chega ao ponto de poder despojar
definitivamente o Espírito das personalidades ou personagens
transitórias, libertando-o da "roda das encarnações" (gilgul, samsara, kyklos ananke), ou
seja, do ciclo de "Filho da mulher",
passando-o a "Filho do Homem" e se os passos forem perfeita e
completamente realizados, terminará a experiência
como "Filho de Deus".
Dissemos que as etapas foram todas vencidas por Jesus.
Por exemplo:
- 1ª
- O NASCIMENTO na carne, como última entrada num corpo
físico, passagem indispensável à evolução,
que só pode realizar-se na carne, cfr. Allan Kardec, "Livro dos Espíritos", resposta nº175ª:
se permanecesse na condição de espírito, a criatura
"estacionaria" e resposta 230: na erraticidade o espírito "pode melhorar-se muito", mas
"na carne é que põe em prática as ideias que adquiriu".
Também a "iniciação aos mistérios" só
pode realizar-se na carne, quando se realizar o MERGULHO nas
águas do coração, matando-se o "homem velho", para
renascer o "homem novo". Uma vez
conseguido isso, é mister que seja obtida outra etapa:
- 2ª
- A CONFIRMAÇÃO, quando desce "a graça", resposta
divina ao esforço humano, o que ocorreu com
Jesus no momento exato em que foi dado o mergulho, quando se fez ouvir
a voz: "este é meu filho bem-amado".
- 3ª
- As TENTAÇÕES, que representam a metánoia, ou modificação
total da mentalidade, e que terão que ser
vencidas com vitória absoluta, contra a atração dos três maiores
vícios da personagem divisionista:
Também estas só são consideradas superadas, quando se obtém a
"manifestação" do Alto na outra etapa:
- 4ª
- A TRANSFIGURAÇÃO, que é a sublimação do corpo físico,
após a vitória sobre os vícios,
pela elevação das vibrações, purificando
definitivamente a carne pelo contato com a divindade, obtendo-se,
então, a "manifestação" (epiphania) das Forças
Espirituais. Novamente aparece a frase: "este é meu
filho bem-amado, ouvi-o".
- 5ª
- A UNIÃO total com o Cristo Interno e, por seu intermédio,
com o PAI, num matrimônio místico, coisa que
ocorreu na chamada Última CEIA, quando Jesus revelou o grande
segredo, o mistério máximo de sua doutrina,
depois do que pode declarar: "Eu e o Pai somos UM" (João,
10:30).
- 6ª
- A conquista do grau de SACERDOTE, que precisa ser precedido
por uma "experiência" mística vivida,
com o sofrimento voluntário da DOR-AMOR (1),
que consegue a redenção total do passado, e que
Jesus viveu na CRUCIFICAÇÃO, obtendo a consagração na
RESSURREIÇÃO, com a definitiva vitória sobre
a matéria.
(1)
A palavra portuguesa "paixão" vem do latim passione(m),
(verbo patior) muito semelhante ao grego páthos (verbo patheín).
O sentido de patheín é realmente "experimentar" ou
"sofrer uma experiência".
Empregava-se esse verbo no
sentido de que os "iniciados" teriam que
"experimentar" ao vivo os ensinamentos
aprendidos, conforme, aliás, consta de um fragmento de
Aristóteles (em "Sinésio", Dion 10):
"O místico deve não apenas aprender (mathein) mas
experimentar (patheín)".
Na interpretação iniciática
consistiu exatamente nisso a "paixão" de Jesus.
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- 7ª
- A ASCENSÃO, que exprime a passagem ao plano mental (o plano
próprio do ser que conquistou a plenitude do
estado hominal) com a final destruição da personalidade,
eliminando-se, de todo, as sensações do
etérico, as emoções do astral e o raciocínio do intelecto, e
permanecendo apenas o sentimento e o
conhecimento intuitivo e global, a sabedoria experimental (ou gnose).
Nesse ponto ("na etapa final", ver vol. 3) o
ser conquistou o estado espiritual, tendo vencido a morte e subjugado
o "inferno" (a inferioridade personalística), tornando-se
Filho de Deus nas esferas evolutivas ou
"celestiais". A cada encarnação em que a criatura repete
esse ciclo iniciático, ascende mais um passo. Daí haver diversos
planos de iniciação: iluminados, iniciados, adeptos, mestres,
hierofantes ... Jesus, evidente-mente, estava no
último grau da última iniciação terrena.
Observamos que a criatura é alertada quanto aos passos dolorosos por que
terá que passar.
Embora tendo o intelecto reconhecido o
Cristo Interno em seu contato íntimo, ainda não
está totalmente preparado e assusta-se diante dos transes aflitivos que
sobrevirão à personagem humana, antes de galgar o
supremo degrau que lhe dará o atestado no planeta de provas que é a
Terra.
Assusta-se e procura esquivar-se.
Realmente, nesse ponto muitos recuam;
alguns poucos chegam ao 2.º passo; raros ao 3.º;
em menor número ainda ao 4.º, e raríssimos seguem daí por diante. No
entanto, TODOS, no dizer de Paulo (Ef. 4:13) teremos que
atingir a "plenitude da evolução de Jesus, o
Cristo".
Diante, pois, do medo manifestado, o Cristo assinala que o intelecto ainda
é o adversário, o antagonista do Espírito.
Com seus cálculos egoístas, o intelecto personalista se apega aos bens
terrenos.
O Cristo o sacode, demonstrando-lhe e
ordenando-lhe que fique atrás do Espírito: "vai para trás de
mim".
Coloca-o no lugar justo, submetido ao Espírito,
e não querendo impedir-lhe a caminhada.
E esclarece (o intelecto é curioso...) a razão disso: ele só pensa nas
coisas humanas, terrenas, materiais ou intelectuais,
ao invés de preocupar-se com os problemas do Espírito, com as coisas de
Deus.
Enquanto a criatura não modificar sua mente (a palavra usada nos
Evangelhos para exprimir isso é metánoia)
colocando acima das coisas terrenas as espirituais, não estará apto a
submeter-se às provas,
não terá ainda iniciado a subida evolutiva.
Como vemos, dizer-se " iniciado", sem ter passado por
essas provas, exprime arrojo inaudito.
Aliás, só o
fato de alguém dizer-se iniciado, demonstra que não o é; porque o
verdadeiro iniciado jamais o diz: limita-se a
revelá-lo por seus atos, por seu comportamento, por sua irradiação
espiritual.
Quem estiver à altura de
compreendê-lo, o saberá ao primeiro contato.
Desconfiemos de todos as
que precisam dizer que o são, para serem
reconhecidos...
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