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Passo a citar um de outra categoria, que é mesmo a que reúne maior número dos de “bilocação”, sendo também, ao mesmo tempo, a mais importante, pois que se constitui dos fenômenos de “ desdobramento no leito de morte”, observados por sensitivos e, freqüentemente, por pessoas que não se podem considerar tais. Como já fiz notar, todos descrevem as mesmas fases na produção do fenômeno, embora a maioria dos percipientes nunca se haja ocupado com as pesquisas psíquicas e ignore que fatos análogos outros têm observado. Esta circunstância já constitui por si só uma ótima presunção a favor da realidade objetiva dos fenômenos observados, sobretudo se se ponderar que certas particularidades complexas, assim como dificilmente imagináveis, peculiares à produção dos fenômenos em questão, não poderiam explicar-se pela hipótese das “coincidências fortuitas”, apresentando-se estas idênticas centenas de vezes. Acrescente-se, ao demais, que bom número de casos desse gênero foram observados coletiva e sucessivamente por diversas pessoas, o que concorre eficazmente para lhes demonstrar a natureza positivamente objetiva.
Referirei, em primeiro lugar, um caso que figura num grupo de outros em os quais o “desdobramento” é incipiente e rudimentar, observado coletiva e sucessivamente por várias pessoas, circunstância que assume alto valor probante no sentido da objetividade do fenômeno. Faço notar que são sumamente instrutivos os casos dessa ordem, porquanto representam a fase inicial dos fenômenos de “bilocação no leito de morte”, pelos quais se assiste à saída de uma substância fluídica, em estado de difusão, do “corpo carnal”, substância que, depois de repetidas flutuações, motivadas por sua reabsorção parcial pelo organismo durante algum tempo (em correspondência com as flutuações da vitalidade no enfermo), acaba por integrar-se, em sobrevindo o momento extremo, num “corpo etéreo, vivo e animado”. Decorre daí que os casos apenas incipientes não revestem menor importância do que os outros em que o desdobramento é completo, uma vez que aqueles servem para instruir com relação às fases iniciais da produção do grandioso fenômeno, na hora suprema da libertação do “corpo etéreo”. Bem se compreende que, para lhes realçar toda a importância e extrair deles os devidos ensinamentos, seria necessário analisar e comparar bom número de casos, que aqui não me é possível reproduzir. O episódio que se segue, no qual foram oito os percipientes, foi publicado pela Light (1922, página 182). Miss Dorothy Monk enviou ao diretor dessa revista, Sr. David Gaw, o seguinte relato do que ocorreu junto ao leito de morte de sua mãe, falecida a 2 de janeiro daquele ano.
align="RIGHT">Assinado: Dorothy Monk. Não há quem não veja quão importante e sugestivo é o episódio acima, assim do ponto de vista metapsíquico, como do espiritualista, tanto mais que, pelo lado probante, ele se revela invulnerável, por ser de data recentíssima, ter sido relatado de pronto pelos percipientes e haver ido o diretor do Light, Sr. David Gaw, à casa da relatora para discutir com as testemunhas dos fatos e haver trazido de lá as melhores impressões relativamente à capacidade de observação dos oito percipientes, que ainda se encontravam sob a impressão inapagável de que presenciaram a partida de uma alma. Do ponto de vista das complexas manifestações produzidas, nenhuma dúvida pode subsistir, dado que a fase final das mesmas manifestações, a mais importante, foi coletivamente observada por todos os presentes. As outras manifestações, anteriores e variadas, foram, a seu turno, percebidas também coletivamente, conquanto nem sempre por todos, sendo que duas dentre elas resultaram decisivamente “eletivas”. Quer isto dizer que as manifestações coletivamente observadas eram emanações “ectoplásmicas”, pelo que visíveis a olhos normais, ao passo que a aparição de uma coluna como de fumaça acinzentada, perceptível apenas a duas pessoas, e o globo luminoso, perceptível a uma só pessoa, eram de natureza qualitativamente diversa e, por conseguinte, perceptíveis unicamente a olhos de sensitivos . Nessa conformidade, dever-se-á inferir que o fenômeno da coluna fumosa, alta de três pés, e o de um globo luminoso a pairar sobre a cabeça da moribunda representariam a exteriorização incipiente do “corpo etéreo” e do “corpo_mental” da enferma, ainda não integrados e fundidos num só fantasma. [105 - páginas 127 / 129]
Vou relatar alguns exemplos típicos que de algum modo se completam:
Prefiro começar por um caso bastante antigo, mas que não me lembro de o haver visto citado em obras metapsíquicas, apesar de o protagonista e narrador ser o Juiz Edmonds que, no primeiro volume de sua obra Spiritualism, página 166, narra o que lhe foi dado ver por ocasião da morte de um cunhado de sua mulher. Escreve ele:“O moribundo havia já exalado o último suspiro, quando vi emergir do seu cadáver aquilo que eu julguei dever ser o seu “corpo_espiritual”, sob a forma de uma nuvem densa que se elevou acima do corpo, tomando rapidamente um aspecto humano, embora me parecesse desprovido de inteligência e de vida. Subitamente, porém, pareceu iluminar-se e animar-se, tornando-se viva e inteligente. Compreendi que tal se havia dado por ter o Espírito abandonado o corpo_somático para entrar no corpo_espiritual. Desde que isso se deu, o Espírito lançou em torno um olhar surpreso, como que procurando compreender o que lhe havia acontecido; não tardou muito, porém, a se orientar, e a expressão que então iluminou a sua fisionomia demonstrava que a situação já lhe não era estranha. Para tão rápida compreensão, de não pouco lhe deve ter valido o que relativamente à vida futura havia estudado quando aqui na Terra. Deixou pairar por um instante um olhar de despedida, cheio de afeto, sobre os seus parentes e amigos, reunidos junto ao leito mortuário, e elevou-se, em seguida, como que arrebatado em nuvem luminosa. Vi-o desaparecer ao longe, acompanhado de três Espíritos de mortos que o haviam assistido enquanto se formava o seu corpo espiritual. Um era o Espírito do filho que havia morrido 24 anos antes; o outro, o de um dos seus sobrinhos, e o terceiro o de um desconhecido com aparência de pessoa já de certa idade.” O Rev. William_Stainton_Moses observou esse mesmo fenômeno por ocasião do falecimento de seu pai, do que publicou a resenha em Light de 9 de julho de 1887, alguns dias apenas decorridos. Diz ele: “Ultimamente, pela terceira vez em minha vida, tive ensejo de estudar o processo de transição do Espírito, e tanta coisa consegui observar, que me sinto feliz de poder ser útil narrando o que vi... Tratava-se de um parente próximo com cerca de 80 anos de idade, que se encaminhava para o túmulo, sem ser arrastado por qualquer enfermidade especial... Por alguns sintomas de aparência insignificante, notei que o seu fim se aproximava e não me descuidei de cumprir o triste dever que me competia... Auxiliado pelos meus sentidos espirituais, não me foi difícil perceber que ao redor dele e sobre ele se reunia a aura luminosa com a qual o Espírito deveria constituir o seu corpo espiritual; ia notando que essa aura aumentava rapidamente de volume e densidade, apresentando contínuas variações para mais ou para menos, de acordo com as oscilações que experimentava a vitalidade do moribundo. Dado me foi ainda verificar que, às vezes, um simples alimento ingerido ou mesmo o influxo magnético desprendido de alguém que se aproximava era o bastante para animar momentaneamente o corpo, parecendo determinar um revigoramento dos laços que prendiam o Espírito a este, o que se ia refletir na aura, imprimindo-lhe movimento semelhante ao de fluxo e refluxo. Observei o fenômeno durante doze dias e doze noites e, embora ao sétimo dia o corpo desse mostras evidentes de dissolução iminente, essa flutuação maravilhosa de vitalidade espiritual, em via de se exteriorizar, persistia sem mudança. A cor da aura, pelo contrário, se havia modificado, além de ir tomando forma mais ou mesmos definida, à medida que o momento se aproximava da libertação do Espírito. Somente 24 horas antes do falecimento, quando já o corpo jazia inerte, com as mãos cruzadas sobre o peito, foi que vi aparecerem os “Espíritos-guias”, que se aproximaram do moribundo e sem qualquer esforço ajudaram o Espírito a se desprender do corpo esgotado. Ao mesmo tempo em que isso se dava, os assistentes constatavam a morte do corpo. É possível que assim fosse. Com efeito, o pulso e o coração não davam mais sinal de vida, a respiração não mais embaçava o espelho, mas os cordões_magnéticos ligavam ainda o Espírito ao corpo e assim permaneceram durante 86 horas. Estou bem certo de que, se durante esse tempo, dentro de condições favoráveis, uma vontade forte houvesse agido no sentido de compelir o Espírito a voltar ao corpo, a ressurreição de Lázaro ter-se-ia repetido. Os cordões afinal se romperam e os traços do defunto, nos quais até então se liam os sofrimentos curtidos, serenaram completamente, tomando uma expressão inefável de paz e de descanso.” (Ver: Cremação) Nos números de julho-agosto, 1924, da Revue Spirite, tive ocasião de narrar o caso teoricamente muito importante da Sra. Joy Snell, “sensitiva” de educação e cultura superiores, que uma reviravolta da sorte obrigou a ganhar a vida exercendo a profissão de nurse (enfermeira diplomada). Durante mais de vinte anos observou ela o fenômeno de exteriorização do “corpo_etérico” no leito de morte de inúmeros moribundos, a que teve de assistir, constatando, ao mesmo tempo, a presença de Espíritos de mortos que acorriam pressurosos para assistirem na hora suprema seus parentes e amigos. A Sra. Snell teve a primeira visão desse gênero junto ao leito de morte de uma de suas amigas, alguns anos antes de se dedicar à profissão de enfermeira. Dessa visão, a título de exemplo, transcrevo a segunda parte. Diz ela: “Encontrava-me em casa de Maggie, havia três ou quatro dias, quando uma noite foi ela acometida de crise súbita e terrível, que a fez expirar nos meus braços, antes que o médico tivesse tido tempo de chegar. Era o primeiro caso de morte a que eu assistia. Logo que o coração de Maggie cessou de bater, eu vi distintamente alguma_coisa_parecida_com_o_vapor que se desprende de uma vasilha em ebulição, elevar-se do seu corpo, parar um pouco acima dele e ir-se condensando em uma figura semelhante à de minha amiga. Esta forma, a princípio muito vaga, tomou, aos poucos, contornos mais precisos até se tornar inconfundível. Estava envolvida em uma espécie de véu branco, com reflexos de pérola, sob o qual as formas ressaltavam nitidamente. A fisionomia era a da minha amiga, mas radiante e sem qualquer vestígio dos espasmos sofridos durante a rápida agonia. Quando mais tarde tive de fazer-me enfermeira, profissão em que permaneci durante vinte anos, tive ocasião de observar a morte de numerosas pessoas, podendo constantemente observar essa condensação da forma etérica por sobre o corpo dos moribundos, forma sempre semelhante àquela de que se desprendia e que, apenas condensada, me desaparecia das vistas.” (The Ministry of Angels, página 17.) Pouco mais adiante, acrescenta: “Depois que abandonei o hospital para dedicar-me à assistência particular, não mais vi morrer um só dos meus doentes sem perceber à sua cabeceira uma ou diversas formas angélicas acorridas para receber o Espírito, a fim de levá-lo à sua nova morada pelas Esferas...” (página 42.) Como vemos, todas as descrições de videntes, relativas aos fenômenos de “ bilocação no leito de morte”, concordam entre si em todos os pormenores; mas aqui basta assinalemos a grande importância teórica dos tais detalhes fundamentais nos quais estão todos também de acordo e que são:
Chamarei apenas a atenção para o valor especial que eles conferem à famosa resposta que a personalidade medianímica de George Pelham deu ao Dr. Hodgson por intermédio da Sra. Piper:
“No momento da morte – escreve ele – eles pensam que a alma se retira para a cabeça, para daí sair e sofrer um longo e gradual processo de reabsorção em Deus, do qual dimana... É curioso e interessante que os taitianos creiam na saída de uma substância real que tomaria a forma humana; são levados a nisto crer pelo que dizem alguns dentre eles, dotados de vidência, que afirmam que desde que o moribundo deixa de respirar, uma espécie de vapor se desprende da cabeça e se condensa a pequena distância sobre o corpo, ao qual fica ligado por meio de um cordão formado da mesma substância. Essa substância – acrescentam – aumenta consideravelmente de volume e toma os traços do corpo do qual sai; quando, enfim, este se torna gelado e inerte, o cordão se dissolve e a alma, então livre, voa no meio de mensageiros invisíveis que parecem assisti-la.” (The Metapsychical Magazine, outubro, 1896.) As observações dos aborígenes taitianos coincidem, como se vê, de um modo impressionante, nos seus mínimos detalhes, com as descrições dos videntes europeus, sobre o processo_de_separação_do_corpo_etérico_e_do_corpo_somático. Mas não é tudo; como entre os povos civilizados, os videntes entre os selvagens constatam também a presença de mensageiros espirituais, que intervêm, assistindo o Espírito do moribundo no período da crise suprema. Não há como negar o alto valor científico dessa maravilhosa concordância, tanto mais quanto é tão pouco provável que os selvagens tenham vindo beber essa crença entre os povos civilizados, que em sua quase totalidade não se preocupam de tais fenômenos, como que os povos civilizados tenham ido entre aqueles buscá-la. Temos pois de reconhecer que os videntes dos dois lados descrevem um fenômeno objetivo e muito real, o que não pode deixar de nos levar a concluir favoravelmente sobre a existência objetiva dos fenômenos de desdobramento_fluídico, com as conseqüências que disto decorrem. Porque, se é verdade que os videntes de todas as raças e de todas as épocas descrevem um fenômeno autêntico quando falam da exteriorização_de_um_corpo_fluídico_dos_moribundos, é preciso convir que também descrevem um fenômeno não menos autêntico quando falam do corpo_etérico, que se vitaliza e se anima desde que o moribundo exala o último suspiro, do mesmo modo que não podemos pôr em dúvida a autenticidade da intervenção de Espíritos de mortos à cabeceira dos agonizantes. Quando a ciência oficial houver, pois, reconhecido como coisa definitivamente demonstrada a existência dos fenômenos_de_bilocação no leito de morte, sobre o que já não pode haver dúvidas, visto fatos serem fatos, nesse dia ter-se-á experimentalmente demonstrado a existência e a sobrevivência da alma, mesmo fora dos fenômenos metapsíquicos e espíritas propriamente ditos. Grifei esta última frase a fim de mais chamar a atenção dos leitores, sobre o fato de que a demonstração científica da existência e da sobrevivência da alma não depende absolutamente da fenomenologia espírita, pois que a ela se chega por três caminhos diferentes:
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