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São estes os detalhes fundamentais, a cujo respeito se acham de acordo os Espíritos autores das mensagens, salvo sempre inevitáveis exceções, que confirmam a regra e que, por vezes, intervêm, modificando, restringindo, eliminando algumas das experiêncías habituais, inerentes à crise da morte, ou, então, determinando a realização de outras experiências, desabituaís no período de início da existência espiritual:
Para atingir o fim a que me propunha, era-me, primeiramente, indispensável demonstrar, de modo adequado, que as “revelações transcendentais”, longe de se contradizerem mutuamente, concordam entre si e se confirmam umas às outras. Era-me preciso demonstrar, ao mesmo tempo, que essas concordâncias não podem ser atribuídas nem a “coincidências fortuitas”, nem a reminiscências subconscientes de conhecimentos adquiridos pelos médiuns (criptonesia). Acrescentarei que, nos casos examinados, além das concordâncias sobre os detalhes fundamentais, com outra se deparam, de natureza secundária, que, conforme já fiz notar, são teorícamente ainda mais importantes do que as concordância primárias, por isso que cada vez mais difícil tomam o explicá-los pelas hipótese das “coincidências fortuitas” e da “críptomnesía”, sempre que os detalhes a que me refiro concernem a incidentes cada vez mais insignificantes, ou inesperados, ou, ainda, singulares. Dentre os detalhes secundários das “revelações transcendentais”, assinalo os seguintes:
Ninguém pode deixar de perceber que as concordâncias cumulativas, acerca de numerosos detalhes secundários desta espécie, são inexplicáveis por quaisquer teorias, exceto por aquela segundo a qual se supõe que, sendo as personalidades medíúnicas, com efeito, Espíritos de mortos, essas personalidades relatam circunstâncias verídicas e comuns à experiência de todos. Neste caso, o fato das concordâncias nas revelações transcendentais não implicaria um enigma a resolver-se; tudo se explicaria da maneira mais simples e natural. Esta conclusão já se desenha como racionalmente inevitável. Contudo, ainda nos resta discutir o segundo problema a que dá lugar a tese com que nos ocupamos, isto é, o que diz respeito à possibilidade de serem essas concordâncias atribuídas a “coincidências fortuitas”, ou a reminiscências subconscientes de conhecimentos adquiridos pelos médiuns ( criptomnesia).
A hipótese das “coincidências fortuitas” consiste nisto: seria absolutamente arbitrário e contrário à lógica supor-se que todos os médiuns, com cujo auxílio as mensagens foram obtidas, devessem! possuir erudição completa, relativamente às doutrinas espíritas. O bom senso bastaria para demonstrar a priori que esta tese não é sustentável. Em todo caso, os fatos mostram, a posteriori, que é errônea.
Acrescentarei mesmo que tudo contribui para demonstrar que, ainda nos casos em que intervêm médiuns bem ao corrente das doutrinas espíritas, a aludida objeção não basta para explicar as revelações obtidas com o auxílio deles, em as quais sempre se encontram detalhes que escapam, por muitas razões, àquela objeção. Tampouco se deve esquecer certas circunstâncias colaterais, altamente significativas, que decorrem dessas revelações, indicando ser estranha ao médium a origem delas. Assim, por exemplo, quando a entidade que se comunica dá provas admiráveis de identificação pessoal, logicamente se deve concluir que, se a entidade se mostrou veraz nas informações verificáveis, transmitidas no curso de sua mensagem, legítimo é seja considerada veraz também nas informações não verificáveis, que a mesma mensagem contenha. Atente-se ainda em que, muitas vezes, no correr das narrativas de episódios da existência espiritual, vêm intercaladas informações veríficáveís que se mostram admiravelmente verídicas.
Até aos nossos dias, as narrações dos Espíritos pareceram mesmo aos pensadores ponderados, sem distinção de escola, de tal modo absurdas, inverossímeis, antropomórfícas, puerís e ridículas, que os induziram a negar todo valor ao conjunto das revelações transcendentais. Mas, as últimas descobertas no domínio das forças psíquicas, até aqui ignoradas, prepararam de súbito o terreno para que aquelas narrações fossem compreendidas e apreciadas. Com efeito, as pretendidas inverossimilhanças nos fenômenos acharam seu paralelo em experiências análogas, que se realizam no mundo dos vivos. (Ver: William Crookes) O problema das “revelações transcendentaís” passou assim a se apresentar, à razão sob aspecto muito outro, fazendo entrever a verossimilhança e mesmo a necessidade psicológica de uma primeira fase de existência espiritual, a desenrolar-se num meio, qual o descrevem, de comum acordo, as personalidades dos defuntos que se comunicam. O valor teórico inerente à circunstância de serem contrárias às opiniões dos próprios médiuns, e de toda gente, as informações que aqueles, desde 1853, davam acerca da existência espiritual, não escapara à mentalidade investigadora do Dr. Gustavo Geley, que a ele alude nos termos seguintes:
é precisamente isso. Fica, pois, entendido que a circunstância de as personalidades dos defuntos descreverem, desde o começo do movimento espírita, modalidades de existência espiritual, em oposição diametral às opiniões dos médiuns, dos assistentes e do meio cristão em geral, poderia bastar para excluir as hipóteses da sugestão, da auto—sugestão e dos “romances subliminais”. Entenda-se, porém, que falo do conjunto das “revelações transcendentais”, que realmente o sejam. Antes de incluir, numa classificação científica, coleções de revelações desta espécie, é necessário se lhes examine diligenternente, severamente, o conteúdo, submetendo-as ao sistema da análise comparada e da convergência das provas. Como já eu disse, entre as provas que contribuem para lhes assinalar origem estranha ao médium, cumpre se registrem os episódios de identificação pessoal do defunto que se comunica e, sobretudo, os detalhes cuja veracidade se possa comprovar e que, muitas vezes, se encontram intercalados nas descríções da existência espiritual, detalhes que, nesse sentido, são de excepcional eloqüência. Todos sabemos, por experiência, quão indispensável é esse trabalho preliminar de seleção, no que respeita a “revelações transcendentais”, pois que, no curso das sessões particulares, sucede com freqüência aparecerem pseudomediunidades, que presenteíam os assistentes com esta espécie de narrações, porém prolixas, verbosas e vazias, cuja origem subconsciente a nenhuma dúvida pode dar lugar e nas quais as contradições não enxameiam apenas entre as afirmações dos diferentes pseudomédiuns, mas também nas que são dadas pelo mesmo indivíduo. São essas infelizes experiências que, feitas sem discernimento e sem qualquer preparação científica, lançam descrédito sobre o conjunto das “revelações transcendentais”. Não é menos de causar admiração o notar-se que, mesmo pesquisadores profundamente versados na metapsíquica — os quais deveriam saber distinguir nesse terreno — persistem em apoiar-se nesses inconsistentes produtos da atividade subconsciente, para condenar, em massa, ao desprezo, as revelações autenticamente transcendentais. Esses, pelo menos, não deveriam cair em confusões de tal natureza. Ninguém jamais se lembrou de negar a existência de uma atividade subconsciente que se manifesta por meio da “escrita automática” ninguém jamais pretendeu negar que a grande maioria das mensagens obtidas nas reuniões familiares, com o concurso de pseudomedíunidades de natureza Sonambúlica, pertence àquela categoria; ninguém contestou nunca que, nesse acervo de elucubrações estufadas e vazias, elas mutuamente se contradizem. Nem pode ser de outro modo, dado que se trata de elucubraçôes subconscientes, de natureza onírica, mas o senso comum devera bastar para as distinguir das mensagens autenticamente supranormais. Com efeito, um abismo se abre entre umas e outras. Em todo caso, ainda do ponto de vista científico, facilmente se chega a separá-las, submetendo-as aos quatro critérios de prova que acabo de enumerar. Ora, como esses critérios de investigação científica foram aplicados — nos limites do possível — ao material científico que vimos de examinar, forçoso será convir em que minha obra já serve para demonstrar que o valor científico das “revelações transcendentais” não mais deve ser posto em dúvida e, por conseguinte, que os que continuarem a estudá-las ulteriormente farão trabalho altamente meritório e útil. Trata-se, efetivamente, de um ramo da metapsíquíca destinado a tornar-se o mais importante de todos e a exercer enorme influência na futura orientação da ciência, da filosofia, da sociologia e da moral. Resulta daí que esta análise comparada autoriza a preconizar a aurora não distante de um dia, em que se chegará a apresentar à humanidade pensante, que atualmente caminha a tatear nas trevas, um quadro de conjunto, de caráter um tanto vago e simbólico, mas verdadeiro em substância e cientificamente legítimo, das modalidades da existência espiritual nas “esferas” mais próximas do nosso mundo, “esferas” onde todos os vivos terão que se achar, depois da crise da morte. Isto permitirá que a Humanidade se oriente com segurança para a solução dos grandes problemas concernentes à verdadeira natureza da existência corpórea, dos fins da vida, das bases da moral e dos deveres do homem. Estes deveres, na crise de crescimento que a sociedade civilizada hoje atravessa, terão que decidir dos seus destinos futuros. Quer isto dizer que os povos civilizados, se os reconhecerem e cumprirem, se verão encaminhados para uma meta cada vez mais luminosa, de progresso social e espiritual; se os repelirem, ou desprezarem, seguir-se-á necessariamente, para esses mesmos povos, a decadência, a fim de cederem o lugar a outras raças menos corrompidas do que a raça ora dominante. [106 - página 163] |
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