OS
PRIMEIROS CRISTÃOS ____Atingindo
um período de nova compreensão concernente aos mais graves
problemas da vida, a sociedade da época sentia de perto a insuficiência
das escolas filosóficas conhecidas, no propósito de solucionar
as suas grandes questões. A ideia de uma justiça mais perfeita para
as classes oprimidas tornara-se assunto obsidente para as massas anônimas
e sofredoras. ____Em
virtude dos seus postulados sublimes de fraternidade, a lição do Cristo
representava o asilo de todos os
desesperados e de todos os tristes. As multidões dos aflitos
pareciam ouvir aquela misericordiosa exortação: - "Vinde a mim, vós
todos que sofreis e tendes fome de justiça e eu vos aliviarei" - e da cruz chegava-lhes, ainda, o alento de uma
esperança desconhecida. ____A
recordação dos exemplos do Mestre não se restringia aos povos da
Judéia, que lhe ouviram diretamente os ensinos imorredouros. Numerosos
centuriões e cidadãos romanos conheceram pessoalmente os fatos
culminantes das pregações do Salvador. Em toda a Ásia Menor, na Grécia,
na África e mesmo nas Gálias, como em Roma, falava-se dEle, da sua
filosofia nova que abraçava todos os infelizes, cheia das claridades sacrossantas
do reino de Deus e da sua justiça. Sua doutrina de perdão e de
amor trazia nova luz aos corações e os seus seguidores destacavam-se do
ambiente corrupto do tempo, pela pureza de costumes e por uma conduta
retilínea e exemplar. ____A
princípio, as autoridades do Império não ligaram maior importância
à doutrina nascente, mas os Apóstolos ensinavam que, por Jesus-Cristo,
não mais poderia haver diferença entre os livres e os escravos,
entre patrícios e plebeus, porque todos eram irmãos, filhos do mesmo
Deus. O patriciado não podia ver com bons olhos semelhantes doutrinas. Os cristãos foram acusados de feiticeiros e heréticos, iniciando-se o
martirológio com os primeiros editos de proscrição. O Estado não permitia outras associações independentes,
além daquelas consideradas como
cooperativas funerárias e, aproveitando essa exceção, os seguidores
do Crucificado começaram os famosos movimentos das catacumbas. [52 - página 121] A REDAÇÃO DOS TEXTOS
DEFINITIVOS ____Nesse
tempo, quando a guerra formidável da critica procurava minar o
edifício imortal da nova doutrina, os mensageiros do Cristo presidem à redação
dos textos definitivos, com vistas ao futuro, não somente junto aos
Apóstolos e seus discípulos, mas igualmente junto aos núcleos das tradições.
Os cristãos mais destacados trocam, entre si, cartas de alto valor
doutrinário para as diversas igrejas. São mensagens de fraternidade e
de amor, que a posteridade muita vez não pôde ou não quis compreender. ____Muitas
escolas literárias se formaram nos últimos séculos, dentro da crítica
histórica, para o estudo e elucidação desses documentos. A palavra " apócrifo"
generalizou-se como o espantalho de todo o mundo. Histórias numerosas
foram escritas. Hipóteses incontáveis foram aventadas, mas os sábios
materialistas, no estudo das ideias religiosas, não puderam sentir
que a intuição está acima da razão e, ainda uma vez, falharam, em sua
maioria, na exposição dos princípios e na apresentação das grandes figuras
do Cristianismo. ____A
grandeza da doutrina não reside na circunstância de o Evangelho ser
de Marcos ou de Mateus, de Lucas ou de João; está na beleza imortal que
se irradia de suas lições divinas, atravessando as idades e atraindo os corações. Não há vantagem nas longas
discussões quanto à autenticidade de
uma carta de Inácio de Antioquia ou de Paulo de Tarso, quando o raciocínio
absoluto não possui elementos para a prova concludente e necessária. A opinião geral rodopiará em torno do crítico mais eminente, segundo
as convenções. Todavia, a autoridade literária não poderá apresentar
a equação matemática do assunto. É que, portas a dentro do coração,
só a essência deve prevalecer para as almas e, em se tratando das
conquistas sublimadas da fé, a intuição
tem de marchar à frente da razão,
preludiando generosos e definitivos conhecimentos. [52 - página 124] A
MISSÃO DE PAULO ____No
trabalho de redação dos Evangelhos, que constituem, sem dúvida,
o portentoso alicerce do Cristianismo, verificavam-se, nessa época,
algumas dificuldades para que se lhes desse o precioso caráter universalista. ____Todos
os Apóstolos do Mestre haviam saído do teatro humilde de seus
gloriosos ensinamentos; mas, se esses pescadores valorosos eram elevados
Espíritos em missão, precisamos considerar que eles estavam muito longe da
situação de espiritualidade do Mestre,
sofrendo as influências do meio a que foram conduzidos. Tão logo se
verificou o regresso do Cordeiro às regiões da Luz, a comunidade cristã,
de modo geral, começou a sofrer a influência do judaísmo,
e quase todos
os núcleos organizados, da doutrina, pretenderam guardar feição aristocrática,
em face das novas igrejas e associações que se fundavam nos
mais diversos pontos do mundo. ____é
então que Jesus resolve chamar o espírito luminoso e enérgico de Paulo
de Tarso ao exercício do seu ministério. Essa deliberação foi um acontecimento dos mais significativos na
história do Cristianismo. As ações
e as epístolas de Paulo tornam-se poderoso elemento de universalização
da nova doutrina. De cidade em cidade, de igreja em igreja, o
convertido de Damasco, com o seu enorme prestígio, fala do Mestre, inflamando
os corações. A princípio, estabelece-se entre ele e os demais Apóstolos
uma penosa situação de incompreensibilidade, mas sua influência
providencial teve por fim evitar uma aristocracia injustificável dentro
da comunidade cristã, nos seus tempos inesquecíveis de simplicidade
e pureza. [52 - página 125] O
APOCALIPSE DE JOÃO ____Alguns
anos antes de terminar o primeiro século, após o advento da nova
doutrina, já as forças espirituais operam uma análise da situação amargurosa
do mundo, em face do porvir. Sob a égide
de Jesus, estabelecem novas linhas de progresso para a civilização,
assinalando os traços iniciais dos países europeus dos tempos modernos. Roma já não representa, então, para o plano invisível, senão um foco infeccioso que é preciso neutralizar ou
remover. Todas as dádivas do Alto
haviam sido desprezadas pela cidade imperial, transformada num vesúvio
de paixões e de
esgotamentos. ____O
Divino Mestre chama aos Espaços o Espírito João, que ainda se encontrava
preso nos liames da Terra, e o Apóstolo, atônito e aflito, lê a linguagem
simbólica do invisível. Recomenda-lhe o
Senhor que entregue os seus conhecimentos ao planeta
como advertência a todas as nações e a todos os povos da Terra, e o
velho Apóstolo de Patmos transmite aos seus discípulos as advertências extraordinárias do Apocalipse. ____Todos
os fatos posteriores à existência de João estão ali previstos. É
verdade que freqüentemente a descrição apostólica penetra o terreno mais
obscuro; vê-se que a sua expressão humana não pôde copiar fielmente
a expressão divina das suas visões de palpitante interesse para a história
da Humanidade. As guerras, as nações futuras, os tormentos porvindouros,
o comercialismo, as lutas ideológicas da civilização ocidental,
estão ali pormenorizadamente entrevistos. E a figura mais dolorosa,
ali relacionada, que ainda hoje se oferece à visão do mundo moderno,
é bem aquela da igreja transviada de Roma, simbolizada na besta
vestida de púrpura e embriagada com o sangue dos santos. [52 -
págin 126] IDENTIFICAÇÃO
DA BESTA APOCALÍPTICA ____Reza
o Apocalipse que a besta poderia dizer grandezas e blasfêmias por
42 meses, acrescentando que o seu número era o 666 (Apoc. XIII, 5 e 18). Examinando-se a importância dos símbolos naquela época e seguindo o
rumo certo das interpretações, podemos tomar cada mês como sendo de 30
anos, em vez de 30 dias, obtendo, desse modo, um período de 1260 anos
comuns, justamente o período compreendido entre 610 e 1870, da nossa
era, quando o Papado se consolidava, após o seu surgimento, com o
imperador Focas, em 607, e o decreto da infalibilidade papal com Pio IX, em
1870, que assinalou a decadência e a ausência de autoridade do Vaticano,
em face da evolução científica, filosófica e religiosa da Humanidade. ____Quanto
ao número 666, sem nos referirmos às interpretações com os
números gregos, em seus valores, devemos recorrer aos algarismos romanos,
em sua significação, por serem mais divulgados e conhecidos, explicando
que é o Sumo-Pontífice da igreja romana quem usa os títulos de
"VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS", "VICARIVS FILII DEI" e
"DVX CLERI" que significam
"Vigário-Geral de Deus na Terra", "Vigário do Filho de
Deus" e "Príncipe do Clero". Bastará ao estudioso um pequeno
jogo de paciência, somando os algarismos
romanos encontrados em cada titulo papal
a fim de encontrar a mesma equação de 666, em cada um deles. Vê-se,
pois, que o Apocalipse de João tem singular importância para os
destinos da Humanidade terrestre. [52 - página 128]
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