____"Não é do meu conhecimento que se tenha, ainda, explicado claramente
o mecanismo da alucinação. Tal como
é entendida, é, todavia, um efeito muito singular
e digno de estudo. Como, pois, aqueles que, através
dela, pretendem explicar os fenômenos
espíritas não podem explicitar sua
explicação? Aliás, há fatos que escapam a essa hipótese:
- quando
uma mesa,
ou um outro objeto, se move, se eleva ou bate;
- quando
ela passeia à vontade num quarto sem o contacto de alguém;
- quando
ela se desprende do solo e se sustém no espaço, sem ponto
de apoio;
- enfim,
quando ela se quebra caindo, certamente isso não
é uma alucinação.
____Supondo-se que o médium,
por um efeito de sua imaginação, creia ver o que
não existe, é provável que todo um grupo esteja
tomado da mesma vertigem? que se repita por todos os lados, em
todos os países? A alucinação,
nesse caso, seria mais prodigiosa que o fato." Allan
Kardec
[78
- Falsas explicações dos fenômenos] |
____Os
que não admitem o mundo_incorpóreo_e_invisível julgam tudo explicar com a
palavra alucinação. Toda gente
conhece a definição desta palavra. Ela exprime o erro, a ilusão de uma
pessoa que julga ter percepções que realmente não tem. Origina-se do
latim hallucinari, errar, que vem de ad lucem. Mas, que
saibamos, os sábios ainda não apresentaram a razão fisiológica desse fato. ____Não
tendo a ótica e a fisiologia, ao que parece, mais segredos para eles, como é
que ainda não explicaram a natureza e a origem das imagens que se mostram ao
Espírito em dadas circunstâncias? ____Tudo
querem explicar pelas leis da matéria; seja. Forneçam então, com o
auxílio dessas leis, uma teoria, boa ou má, da alucinação. Sempre será uma explicação. [17b - página 147
item 111]
____Os
sábios desdenharam de ocupar-se com a alucinação.
Quer seja real, quer não, ela constitui um fenômeno que a Fisiologia tem que
se mostrar capaz de explicar, sob pena de confessar a sua insuficiência. Se, um
dia, algum sábio se abalançar a dar desse fenômeno, não uma definição,
entendamo-nos bem, mas uma explicação fisiológica, veremos se a sua teoria
resolve todos os casos. Sobretudo, que ele não omita os fatos, tão comuns, de
aparições_de_pessoas_no_momento_de_morrerem; que diga donde vem a
coincidência da aparição com a morte da pessoa. Se este fosse um fato
insulado, poder-se-ia atribuí-lo ao acaso; é, porém, muito freqüente para
ser devido ao acaso, que não tem dessas reincidências.____Se,
ao menos, aquele que viu a aparição tivesse a imaginação despertada pela
ideia de que a pessoa que lhe apareceu havia de morrer, vá. Mas, quase
sempre, a que aparece é a em quem menos pensava a que a vê. Logo, a
imaginação não entra aí de forma alguma. Ainda menos se podem explicar
pela imaginação as circunstâncias, de que nenhuma ideia se tem, em que se
deu a morte da pessoa que aparece.
____Dirão,
porventura, os alucinacionistas que a alma
(se é que admitem uma alma) tem momentos de sobreexcitação em que suas
faculdades se exaltam. Estamos de acordo; porém, quando é real o que ela vê,
não há ilusão. Se, na sua exaltação, a alma vê uma coisa que não
está presente, é que ela se transporta; mas, se nossa alma pode transportar-se_para_junto_de_uma_pessoa_ausente, por que não poderia a alma dessa pessoa
transportar-se para junto de nós? Dignem-se eles de levar em conta estes
fatos, na sua teoria da alucinação, e não
esqueçam que uma teoria a que se podem opor fatos que a contrariam é
necessariamente falsa, ou incompleta.
[17b - página 147
item 112 ]
|
A alucinação é sempre um fenômeno
intrinsecamente espiritual, mas pode nascer de perturbações estritamente orgânicas,
que se façam reflexas no aparelho sensorial, viciando o instrumento dos
sentidos, por onde o espírito se manifesta.
[41a - página 44] - EMMANUEL - 1940
Provam
os fatos que há aparições
verdadeiras, que a teoria_espírita explica perfeitamente e que só podem ser negadas pelos que
nada admitem fora do organismo. Mas, a par das visões reais, haverá, alucinações,
no sentido em que esse termo se emprega? E fora de dúvida. Donde se
originam? Os Espíritos é que vão esclarecer-nos sobre isso, porquanto a
explicação, parece-nos, está toda nas respostas dadas às seguintes
perguntas:
- a)
São sempre reais as visões? Não serão, algumas vezes, efeito da alucinação? Quando, em sonho, ou
de modo diverso, se vêem, por exemplo, o diabo,
ou outras coisas fantásticas, que não existem, não será isso um produto
da imaginação?
- "Sim,
algumas vezes; quando dá muita atenção a certas leituras, ou a
histórias de sortilégios, que impressionam, a pessoa,
lembrando-se mais tarde dessas coisas, julga ver o que não
existe. Mas, também, já temos dito que o Espírito, sob o
seu envoltório_semimaterial, pode tomar todas as espécies de formas,
para se manifestar. Pode, pois, um Espírito_zombeteiro aparecer com chifres e garras, se assim lhe
aprouver, para divertir-se à custa da credulidade daquele que o
vê, do mesmo modo que um Espírito bom pode mostrar-se com asas e
com uma figura radiosa."
|
- b)
Poder-se-ão considerar como aparições as figuras e outras imagens que se
apresentam a certas pessoas, quando estão meio adormecidas, ou quando
apenas fecham os olhos?
- "Desde
que os sentidos entram em torpor, o Espírito_se_desprende e pode ver longe, ou perto, aquilo que lhe
não seria possível ver com os olhos. Muito
freqüentemente, tais imagens são visões, mas também podem ser
efeito das impressões que a vista de certos objetos deixou no
cérebro, que lhes conserva os vestígios, como conserva os dos
sons. Desprendido, o Espírito vê nos seu próprio cérebro as
impressões que aí se fixaram como numa chapa da estereotípica.
A variedade e o baralhamento das impressões formam os conjuntos
estranhos e fugidios, que se apagam quase imediatamente, ainda que
se façam os maiores esforços para retê-los. A uma causa
idêntica se devem atribuir certas aparições fantásticas que
nada têm de reais e que muitas vezes se produzem durante uma
enfermidade."
|
____É
corrente ser a memória o resultado das impressões que o
cérebro conserva. Mas, por que singular fenômeno essas impressões, tão variadas, tão
múltiplas, não se confundem? Mistério impenetrável, porém, não mais
estranhável do que o das ondulações sonoras que se cruzam no ar e que, no
entanto, se conservam distintas. Num cérebro são e bem organizado, essas
impressões se revelam nítidas e precisas; num estado menos favorável, elas se
apagam e confundem; daí a perda da memória, ou a confusão das ideias. Ainda
menos extraordinário parecerá isto, se se admitir, como se admite, em
frenologia, uma destinação especial a cada parte e, até, a cada fibra do
cérebro. Assim,
pois, as imagens que, através dos olhos, vão ter ao cérebro, deixam aí uma
impressão, em virtude da qual uma pessoa se lembra de um quadro, como se o
tivera diante de si. Nunca, porém, há nisso mais do que uma questão de
memória. Ora, em certos estados de emancipação,
a alma vê o que está no cérebro, onde torna a encontrar aquelas imagens,
sobretudo as que mais o chocaram, segundo a natureza das preocupações, ou as
disposições de espírito. E assim que lá encontra de novo a impressão de
cenas religiosas, diabólicas, dramáticas, mundanas, figuras de animais
esquisitos, que ela viu noutra época em pinturas, ou mesmo em narrações,
porquanto também as narrativas deixam impressões. De sorte que a alma vê
realmente; mas, vê apenas uma imagem fotografada no cérebro. No estado normal,
essas imagens são fugidias, efêmeras, porque todas as partes cerebrais
funcionam livremente, ao passo que, no estado de moléstia, o cérebro sempre
está mais ou menos enfraquecido, o equilíbrio entre todos os órgãos deixa de
existir, conservando somente alguns a sua atividade, enquanto que outros se
acham de certa forma paralisados. Daí a permanência de determinadas imagens,
que as preocupações da vida exterior não mais conseguem apagar, como se dá
no estado normal. Essa a verdadeira alucinação
e causa primária das ideias
fixas. ____Conforme
se vê, explicamos esta anomalia por meio de uma muito conhecida lei,
inteiramente fisiológica, a das impressões cerebrais. Porém, preciso nos foi
sempre fazer intervir a alma. Ora, se os materialistas ainda não puderam
apresentar, deste fenômeno, uma explicação satisfatória, é porque não
querem admitir a alma. Por isso mesmo, dirão que a nossa explicação é
má, pela razão de erigirmos em princípio o que é contestado. Contestado por
quem? Por eles, mas admitido pela imensa maioria dos homens, desde que
houve homens na Terra. Ora,
a negação de alguns não pode constituir lei. ____É
boa a nossa explicação? Damo-la pelo que possa valer, em falta de
outra, e, se quiserem, a título de simples hipótese, enquanto outra melhor
não aparece. Qual ela é, dá a razão de ser de todos os casos de visão? Certamente que não. Contudo, desafiamos todos os fisiologistas a que
apresentem uma que abranja todos os casos, porquanto nenhuma dão, quando
pronunciam as palavras sacramentais - sobreexcitação e exaltação.
____Assim
sendo, desde que todas as teorias da alucinação
se mostram incapazes de explicar os fatos, é que alguma outra coisa há, que
não a alucinação propriamente dita. Seria falsa a nossa teoria, se a aplicássemos a todos os casos de visão, pois
que alguns a contraditariam. E legítima, se restringida a alguns efeitos.
[17b - página 149 item 113 ]
|
|