____Podem
resumir-se nos princípios seguintes os meios de se reconhecer a qualidade
dos Espíritos:
- Não
há outro critério, senão o bom-senso, para se aquilatar do valor
dos Espíritos.
Absurda será qualquer fórmula que eles próprios dêem para esse
efeito e não poderá provir
de Espíritos superiores.
- Apreciam-se
os Espíritos pela linguagem de que usam e pelas suas ações. Estas se traduzem pelos sentimentos
que eles inspiram e pelos conselhos que dão.
- Admitido
que os bons
Espíritos só podem dizer e fazer o bem, de um bom Espírito não pode provir o que
tenda para o mal.
- Os
Espíritos superiores usam sempre de uma linguagem digna, nobre, elevada, sem eiva de trivialidade;
tudo dizem com simplicidade e modéstia, jamais se vangloriam,
nem se jactam de seu saber, ou da posição que ocupam entre os
outros. A dos Espíritos_inferiores ou vulgares sempre algo refletem das paixões
humanas. Toda expressão que
denote baixeza, pretensão, arrogância, fanfarronice, acrimônia,
é indício característico
de inferioridade e de embuste, se o Espírito se apresenta com um
nome respeitável e venerado.
- Não
se deve julgar da qualidade do Espírito pela forma material, nem
pela correção do estilo. É
preciso sondar-lhe o íntimo, analisar-lhe as palavras, pesá-las friamente, maduramente e sem
prevenção. Qualquer ofensa à lógica, à razão e à ponderação
não pode deixar dúvida sobre a sua procedência, seja qual for o
nome com que se ostente o
Espírito.
- A
linguagem dos Espíritos elevados é sempre idêntica, senão quanto
à forma, pelo menos quanto
ao fundo. Os pensamentos são os mesmos, em qualquer tempo e em todo lugar. Podem ser mais ou menos
desenvolvidos, conforme as circunstâncias, as necessidades
e as faculdades que encontrem
para se comunicar; porém, jamais serão contraditórios. Se duas comunicações, firmadas pelo mesmo
nome, se_mostram_em_contradição, uma das duas é evidentemente
apócrifa e
a verdadeira será aquela em que nada desminta o conhecido caráter
da personagem. Sobre duas comunicações assinadas, por exemplo, com
o nome de São Vicente de
Paulo, uma das quais propendendo para a união e a caridade e a outra tendendo para a discórdia,
nenhuma pessoa sensata poderá equivocar-se.
- Os
bons Espíritos só dizem o que sabem; calam-se ou confessam a sua ignorância sobre o que não sabem.
Os maus falam de tudo com desassombro, sem se preocuparem
com a verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio
que choque o bom-senso,
aponta a fraude, desde que o Espírito se dê por ser um Espírito esclarecido.
- Reconhecem-se ainda os Espíritos
levianos, pela facilidade com que predizem_o_futuro
e precisam fatos materiais de que não nos é dado ter conhecimento.
Os bons Espíritos fazem que
as coisas futuras sejam pressentidas,
quando esse pressentimento convenha;
nunca, porém, determinam datas. A previsão de qualquer
acontecimento para uma época
determinada é indício de mistificação.
- Os
Espíritos superiores se exprimem com simplicidade, sem prolixidade.
Têm o estilo conciso, sem
exclusão da poesia das ideias e das expressões, claro,
inteligível a todos, sem
demandar esforço para ser compreendido. Têm a arte de dizer muitas
coisas em poucas palavras,
porque cada palavra é empregada com exatidão. Os Espíritos inferiores, ou falsos sábios,
ocultam sob o empolamento, ou a ênfase, o vazio de suas ideias.
Usam de uma linguagem pretensiosa, ridícula, ou obscura, à força
de quererem pareça profunda.
- Os
bons Espíritos nunca ordenam; não se impõem, aconselham e, se
não são escutados,
retiram-se. Os maus são imperiosos; dão ordens, querem ser
obedecidos e não se afastam,
haja o que houver. Todo Espírito que impõe trai a sua
inferioridade. São exclusivistas
e absolutos em suas
opiniões; pretendem ter o privilégio da verdade. Exigem crença
cega e jamais apelam para a
razão, por saberem que a razão os desmascararia.
- Os
bons Espíritos não lisonjeiam; aprovam o bem feito, mas sempre com
reserva. Os maus prodigalizam
exagerados elogios, estimulam o orgulho
e a vaidade, embora pregando
a humildade, e procuram exaltar a importância pessoal daqueles a quem desejam captar.
- Os
Espíritos superiores desprezam, em tudo, as puerilidades
da forma. Só os Espíritos
vulgares ligam importância a particularidades mesquinhas,
incompatíveis com ideias
verdadeiramente elevadas. Toda prescrição meticulosa é sinal
certo de inferioridade e de
fraude, da parte de um Espírito que tome um nome imponente.
- Deve-se
desconfiar dos nomes singulares e ridículos, que alguns Espíritos adotam, quando querem impor-se à
credulidade; fora soberanamente absurdo tomar a sério
semelhantes nomes.
- Deve-se
igualmente desconfiar dos Espíritos que com muita facilidade se apresentam, dando nomes extremamente
venerados, e não lhes aceitar o que digam, senão
com muita reserva. Aí, sobretudo, é que uma verificação severa
se faz indispensável,
porquanto isso não passa muitas vezes de uma máscara que eles
tomam, para dar a crer que se
acham em relações íntimas com os Espíritos
excelsos. Por esse meio,
lisonjeiam a vaidade do médium
e dela se aproveitam freqüentemente para induzi-lo a
atitudes lamentáveis e ridículas.
- Os
bons Espíritos são muito escrupulosos no tocante às atitudes que
hajam aconselhar. Elas,
qualquer que seja o caso, nunca deixam de objetivar um fim sério e eminentemente útil. Devem, pois,
ter-se por suspeitas todas as que não apresentam este caráter,
ou sejam condenáveis perante a razão, e cumpre refletir
maduramente antes de tomá-las,
a fim de evitarem-se mistificações desagradáveis.
- Também
se reconhecem os bons Espíritos pela prudente reserva que guardam sobre todos os assuntos
que
possam trazer comprometimento. Repugna-lhes desvendar o mal,
enquanto que aos Espíritos
levianos, ou malfazejos apraz pô-lo em evidência. Ao passo que os
bons procuram atenuar os
erros e pregam a indulgência,
os maus os exageram e sopram a cizânia,
por meio de insinuações pérfidas.
- Os
bons Espíritos só prescrevem o bem. Máxima nenhuma, nenhum conselho, que se não conformem
estritamente com a pura caridade
evangélica, podem ser
obra de bons Espíritos.
- Jamais
os bons Espíritos aconselham senão o que seja perfeitamente
racional. Qualquer
recomendação que se afaste da linha reta do bom-senso, ou das leis_imutáveis_da_Natureza,
denuncia um Espírito atrasado e, portanto, pouco merecedor de
confiança.
- Os
Espíritos maus, ou simplesmente imperfeitos, ainda se traem por
indícios materiais, a cujo
respeito ninguém se pode enganar. A ação deles sobre o médium é
às vezes violenta e provoca
movimentos bruscos e intermitentes, uma agitação febril e convulsiva,
que destoa da calma e da doçura dos bons Espíritos.
- Muitas
vezes, os Espíritos imperfeitos se aproveitam dos meios de que dispõem, de comunicar-se, para dar
conselhos pérfidos. Excitam a desconfiança e a animosidade
contra os que lhes são antipáticos. Especialmente os que lhes
podem desmascarar as
imposturas são objeto da maior animadversão da parte deles.
Alvejam os homens fracos,
para os induzir ao mal. Empregando alternativamente, para melhor convencê-los, os sofismas, os
sarcasmos, as injúrias e até demonstrações materiais do poder
oculto de que dispõem, se empenham em desviá-los da senda da
verdade.
- Os
Espíritos dos que na Terra
tiveram uma única preocupação, material ou morai,
se se não desprenderam da influência da matéria, continuam sob o
império das ideias terrenas
e trazem consigo uma parte dos preconceitos, das predileções e
mesmo das manias que tinham
neste mundo. Fácil é isso
de reconhecer-se pela linguagem de que se servem.
- Os
conhecimentos de que alguns Espíritos se enfeitam, às vezes, com
uma espécie de ostentação,
não constituem sinal da superioridade deles. A inalterável pureza dos sentimentos morais é, a esse
respeito, a verdadeira pedra de toque.
- Não
basta se interrogue um Espírito para conhecer-se a verdade. Precisamos,
antes de tudo, saber a quem nos dirigimos; porquanto, os Espíritos inferiores, ignorantes que são,
tratam frivolamente das questões mais sérias. Também não
basta que um Espírito tenha sido na Terra um grande homem, para
que, no mundo espírita, se
ache de posse da soberana ciência. Só a virtude pode,
purificando-o, aproximá-lo
de Deus e dilatar-lhe os conhecimentos.
- Da
parte dos Espíritos superiores, o gracejo é muitas vezes fino e
vivo, nunca, porém, trivial.
Nos Espíritos zombadores, quando não são grosseiros, a sátira mordaz é, não raro, muito
apropositada.
- Estudando-se
cuidadosamente o caráter dos Espíritos que se apresentam, sobretudo
do ponto de vista moral, reconhecem-se-lhes a natureza e o grau de
confiança que devem merecer.
O bom-senso não poderia enganar.
- Para
julgar os Espíritos, como para julgar os homens, é preciso,
primeiro, que cada um saiba
julgar-se a si mesmo. Muita gente há, infelizmente, que toma suas próprias opiniões pessoais como
paradigma exclusivo do bom e do mau, do verdadeiro e do
falso; tudo o que lhes contradiga a maneira de ver, a suas ideias e
ao sistema que conceberam, ou
adotaram, lhes parece mau. A semelhante gente evidentemente falta a qualidade primacial para uma
apreciação sã: a retidão do juízo. Disso, porém, nem suspeitam.
E o defeito sobre que mais se iludem os homens.
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____Todas
estas instruções decorrem da experiência e dos ensinos dos Espíritos. [17b - página 333 item 267]
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