Não
há descrição possível das torturas morais que constituem a punição de
certos crimes. Mesmo o que as sofre teria dificuldade em vos dar delas uma
ideia. Indubitavelmente, porém, a mais horrível consiste em pensarem que
estão condenados sem
remissão. ____Das penas e gozos da alma após_a_morte forma o homem ideia mais ou menos elevada,
conforme o estado de sua inteligência. Quanto mais ele se desenvolve,
tanto mais essa ideia se apura e se escoima da matéria; compreende as coisas
de um ponto de vista mais racional, deixando de tomar ao pé da letra as imagens
de uma linguagem figurada. ____Ensinando-nos
que a alma é um ser todo espiritual, a razão, mais esclarecida, nos diz, por
isso mesmo, que ela não pode ser atingida pelas impressões que apenas sobre a
matéria atuam. Não se segue, porém, daí que esteja isenta de sofrimentos,
nem que não receba o castigo de suas faltas. ____As
comunicações espíritas tiveram como resultado, mostrar o estado futuro da
alma, não mais em teoria, porém na realidade. Põem-nos diante dos olhos todas
as peripécias da vida de além-túmulo. Ao mesmo tempo, entretanto, no-las
mostram como conseqüências perfeitamente lógicas da vida terrestre e, embora
despojadas do aparato fantástico que a imaginação dos homens criou, não são
menos pessoais para os que fizeram mau uso de suas faculdades. Infinita é a
variedade dessas conseqüências. Mas, em tese geral, pode-se dizer: cada um é
punido por aquilo em que pecou. Assim é que uns o são pela visão incessante
do mal que fizeram; outros, pelo pesar, pelo temor, pela vergonha, pela dúvida,
pelo insulamento, pelas trevas, pela separação dos entes que lhes são caros,
etc. [9a - página 451 questão 973]
- É
sempre boa a influência que os Espíritos exercem uns sobre os outros, está
claro, da parte dos bons
Espíritos.
- Os Espíritos_perversos, esses procuram desviar da senda do bem e do arrependimento
os que lhes parecem suscetíveis de se deixarem levar e que são, muitas vezes,
os que eles mesmos arrastaram ao mal durante a vida terrena.
____A
morte não nos livra da tentação. Mas a ação dos maus Espíritos é sempre
menor sobre os outros Espíritos do que sobre os homens, porque lhes falta o
auxílio das paixões materiais. [9a - página 450 questão 971] Nos Espíritos as paixões não existem materialmente, mas existem no pensamento dos Espíritos_atrasados. Os maus dão pasto a esses pensamentos, conduzindo suas
vítimas aos lugares onde se lhes ofereça o espetáculo daquelas paixões e de
tudo o que as possa excitar. ____Essas
paixões já não têm objeto real para os Espíritos. Entretanto, nisso
precisamente é que lhes está o suplício:
- O avarento vê ouro que lhe não é
dado possuir;
- O devasso, orgias em que não pode tomar parte;
- O orgulhoso,
honras que lhe causam inveja e de que não pode gozar.
[9a - página 451
questão 972]
____Os sofrimentos dos Espíritos inferiores não constitui, para os bons, uma causa de
aflição, pois que sabem que o mal terá fim. Auxiliam os outros a se
melhorarem e lhes estendem as mãos. Essa_a_ocupação_deles, ocupação que
lhes proporciona gozo quando são bem sucedidos. ____Quanto
ao espetáculo das tristezas e dos sofrimentos daqueles_a_quem_amaram_na_Terra,
se não vissem esses sofrimentos, é que eles vos seriam estranhos depois da
morte. Ora, a religião vos diz que as almas vos vêem. Mas, eles consideram de
outro ponto de vista os vossos sofrimentos. Sabem que estes são úteis ao vosso
progresso, se os suportardes com resignação. Afligem-se, portanto, muito mais
com a falta de ânimo que vos retarda, do que com os sofrimentos considerados em
si mesmos, todos passageiros. [9a - página 453
questão 976]
____A
doutrina do fogo eterno procede de imagem, semelhante a tantas outras, tomada como realidade. Mesmo assim, o temor desse fogo não produz bom resultado. ____Vede
se serve de freio, mesmo entre os que o ensinam. Se ensinardes coisas que mais
tarde a razão venha a repelir, causareis uma impressão que não será
duradoura, nem salutar. ____Impotente
para, na sua linguagem, definir a natureza daqueles
sofrimentos, o homem não
encontrou comparação mais enérgica do que a do fogo, pois, para ele, o fogo
é o tipo do mais cruel suplício e o símbolo da ação mais violenta. Por isso
é que a crença no fogo eterno data da mais remota antigüidade, tendo-a os
povos modernos herdado dos mais antigos. Por isso também é que o homem diz, em
sua linguagem figurada: o fogo das paixões; abrasar de amor, de ciúme, etc. [9a - página 452
questão 974]
____Os sofrimentos_dos_Espíritos inferiores são tão variados como as causas que os
determinam e proporcionados ao grau_de_inferioridade, como os gozos o são ao de superioridade. Podem
resumir-se assim:
- Invejarem o que lhes falta para ser felizes e não obterem;
- verem a felicidade e não na poderem alcançar;
- pesar, ciúme, raiva, desespero,
motivados pelo que os impede de ser ditosos;
- remorsos, ansiedade moral
indefinível.
____Desejam todos os gozos e não podem satisfazer: eis o que os
tortura. [9a - página 450
questão 970]
____Os Espíritos_inferiores compreendem a felicidade do justo e isso lhes é um suplício, porque
compreendem que estão dela privados por sua culpa. Daí resulta que o
Espírito, liberto da matéria, aspira à nova_vida_corporal, pois que cada existência, se for bem empregada,
abrevia um tanto a duração desse suplício. É então que procede_à_escolha das provas por meio das quais possa expiar suas faltas. Porque, ficai sabendo, o Espírito
sofre por todo o mal que praticou, ou de que foi causa
voluntária, por todo o bem que
houvera podido fazer e não fez e por todo o mal que decorra de não
haver feito o bem. ____Para
o Espírito_errante,
já não há véus. Ele se acha como tendo saído de um nevoeiro e vê o que o
distancia da felicidade. Mais sofre então, porque compreende quanto foi
culpado. Não tem mais ilusões: vê as coisas na sua realidade. ____Na erraticidade, o
Espírito descortina, de um lado, todas as suas existências passadas; de outro,
o futuro que lhe está prometido e percebe o que lhe falta para atingi-lo. É qual viajor que chega ao cume de uma montanha: vê o caminho que percorreu e
o que lhe resta percorrer, a fim de chegar ao fim da sua jornada. [9a - página 452
questão 975] ____Não podendo os Espíritos ocultar reciprocamente seus pensamentos e sendo
conhecidos todos os atos da vida, dever-se-á deduzir que o culpado está
perpetuamente em presença de sua vítima. ____Será
um castigo para o culpado essa divulgação de todos os atos reprováveis
e a presença constante dos que deles foram vítimas. Mas tão-somente até que
o culpado tenha expiado suas faltas, quer como Espírito, quer como homem, em novas existências corpóreas. ____Quando
nos achamos no mundo_dos_Espíritos, estando patente todo o nosso passado, o bem
e o mal que houvermos feito serão igualmente conhecidos. Em vão, aquele que
haja praticado o mal tentará escapar ao olhar de suas vítimas: a presença
inevitável destas lhe será um castigo e um remorso incessante, até que haja
expiado seus erros, ao passo que o homem de bem por toda parte só encontra
olhares amigos e benevolentes. ____Para
o mau, não há maior tormento, na Terra, do que a presença de suas vítimas,
razão pela qual as evita continuamente. Que será quando, dissipada a ilusão
das paixões, compreender o mal que fez, vir patenteados os seus atos mais
secretos, desmascarada a sua hipocrisia e não puder subtrair-se à visão delas? Enquanto a alma do homem perverso é presa
da vergonha, do pesar e do remorso, a do justo goza perfeita serenidade. [9a - página 453
questão 977] |