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Os adversários do Espiritismo não deixam de objetar que seus adeptos não se
acham entre si de acordo; que nem todos partilham das mesmas crenças; e que se contradizem.
Ponderam eles se o ensino vos é dado pelos espíritos, como não se apresenta idêntico? Apressemo-nos em dizer desde logo que essas contradições, de que algumas pessoas fazem grande cabedal, são, em regra, mais aparentes que reais; que elas quase sempre existem mais na superfície do que no fundo mesmo das coisas e que, por conseqüência, carecem de importância. De duas fontes provêm as informações ...
As contradições de origem humana já foram suficientemente explicadas
em Sistemas_de_interpretação. Todos
compreenderão que, no princípio, quando as observações ainda eram
incompletas, hajam surgido opiniões divergentes sobre as causas e as
conseqüências dos fenômenos_espíritas, opiniões cujos três quartos já
caíram diante de um estudo mais sério e mais aprofundado. Com poucas
exceções e postas de lado certas pessoas que não se desprendem facilmente das
ideias que hão acariciado ou engendrado, pode dizer-se que hoje há unidade de
vistas na imensa maioria dos espíritas, ao menos quanto aos princípios gerais,
salvo pequenos detalhes insignificantes.
Para se compreenderem a causa e o valor das contradições de origem espírita,
é preciso estar-se identificado com a natureza do mundo invisível e tê-lo
estudado por todas as suas faces.
A primeira vista, parecerá talvez estranho que os Espíritos não pensem todos da mesma maneira, mas isso não pode surpreender a quem quer que se haja compenetrado de que infinitos são os degraus que eles têm de percorrer antes de chegarem ao alto da escada. Supor-lhes igual apreciação das coisas fora imaginá-los todos no mesmo nível; pensar que todos devam ver com justeza fora admitir que todos já chegaram à perfeição, o que não é exato e não o pode ser, desde que se considere que eles não são mais do que a Humanidade despida do envoltório corporal. Podendo manifestar-se Espíritos de todas as categorias, resulta que suas comunicações trazem o cunho da ignorância ou do saber que lhes seja peculiar no momento, o da inferioridade, ou da superioridade moral que alcançaram. A distinguir o verdadeiro do falso, o bom do mau, é a que devem conduzir as instruções que temos dado. Cumpre não esqueçamos que, entre os Espíritos, há, como entre os homens, falsos sábios e semi-sábios, orgulhosos, presunçosos e sistemáticos. Como só aos Espíritos_perfeitos é dado conhecerem tudo, para os outros há, do mesmo modo que para nós, mistérios que eles explicam à sua maneira, segundo suas ideias, e a cujo respeito podem formar opiniões mais ou menos exatas, que se empenham, levados pelo amor-próprio, por que prevaleçam e que gostam de reproduzir em suas comunicações. O erro está em terem alguns de seus intérpretes esposado muito levianamente opiniões contrárias ao bom-senso e se haverem feito os editores responsáveis delas. Assim, as contradições de origem espírita não derivam de outra causa, senão da diversidade, quanto à inteligência, aos conhecimentos, ao juízo e à moralidade, de alguns Espíritos que ainda não estão aptos a tudo conhecerem e a tudo compreenderem.
De que serve o ensino dos Espíritos, dirão alguns, se não nos oferece mais
certeza do que o ensino humano? Fácil é a resposta. Não aceitamos com igual
confiança o ensino de todos os homens e, entre duas doutrinas, preferimos
aquela cujo autor nos parece mais esclarecido, mais capaz, mais judicioso, menos
acessível às paixões. Do mesmo modo se deve proceder com os Espíritos. Se
entre eles há os que não estão acima da Humanidade, muitos há que a
ultrapassaram e estes nos podem dar ensinamentos que em vão buscaríamos com os
homens mais instruídos. De distingui-los é do que deve tratar com cuidado quem
queira esclarecer-se e a fazer essa distinção é o a que conduz o Espiritismo.
Porém, mesmo esses ensinamentos têm um limite e, se aos Espíritos não é
dado saberem tudo, com mais forte razão isso se verifica relativamente aos
homens. Há coisas, portanto, sobre as quais será inútil interrogar os
Espíritos, ou porque lhes seja defeso revelá-las, ou porque eles próprios as
ignoram e a cujo respeito apenas podem expender suas opiniões pessoais. Ora,
são essas opiniões pessoais que os Espíritos orgulhosos apresentam como
verdades absolutas. Sobretudo, acerca do que deva permanecer oculto, como o futuro e o principio das coisas, é que eles mais insistem, a fim de insinuarem
que se acham de posse dos segredos de Deus. Por isso mesmo, sobre esses pontos
é que mais contradições se observam.
A espera de que a unidade se faça, cada um julga ter consigo a verdade e
sustenta que o verdadeiro é só o que ele sabe, ilusão que os Espíritos
enganadores não se descuidam de entreter. Assim sendo, em que pode o homem
imparcial e desinteressado basear-se, para formar juízo?R -Nenhuma nuvem obscurece a luz mais pura; o diamante sem mácula é o que tem mais valor; julgai, pois, os Espíritos pela pureza de seus ensinos. A unidade se fará do lado onde ao bem jamais se haja misturado o mal; desse lado é que os homens se ligarão, pela força mesma das coisas, porquanto considerarão que aí está a verdade. Notai, ao demais, que os princípios fundamentais são por toda parte os mesmos e têm que vos unir numa ideia comum: o amor de Deus e a prática do bem. Qualquer que seja, conseguintemente, o modo de progressão que se imagine para as almas, o objetivo final é um só e um só o meio de alcançá-lo: fazer_o_bem. Ora, não há duas maneiras de fazê-lo. Se dissidências capitais se levantam, quanto ao principio mesmo da Doutrina, de uma regra certa dispondes para as apreciar, esta: a melhor doutrina é a que melhor satisfaz ao coração e à razão e a que mais elementos encerra para levar os homens ao bem. Essa, eu vo-lo afirmo, a que prevalecerá. - O Espírito de Verdade.
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DESAPARECIDOS (Crianças e Adolescentes)
As contradições de origem humana já foram suficientemente explicadas
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