- Ser
cristão, outrora, simbolizava a escolha da experiência mais nobre, com o dever
de exemplificar o padrão de conduta consagrado pelo Mestre Divino. Constituía
ininterrupto combate ao mal com as armas do bem, manifestação ativa do amor
contra o ódio, segurança
de vitória da luz contra as sombras, triunfo inconteste da paz construtiva
sobre
a discórdia destruidora.
- Ante o
Estado Romano, convertido em imperialismo e corrupção, os sectários do Evangelho não se
expunham a polêmicas mordazes, não se enredavam nas teias do personalismo
dissolvente,
não dilapidavam possibilidades preciosas, a erigir fronteiras dogmáticas ...
Entreamavam-se em nome do Senhor, e ofereciam a própria vida, em penhor de
gratidão Àquele que não trepidava em seguir para a Cruz, por amor a todos nós.
Erguiam os seus mais sublimes santuários na comunhão com os princípios
santificantes que os identificavam com o Salvador do Mundo. Sabiam
perder vantagens transitórias, para conquistar os lmperecíveis tesouros
celestiais. Sacrificavam-se uns pelos outros, na viva demonstração do devotamento fraternal. Repartiam os sofrimentos e multiplicavam os
júbilos
entre si. Morriam em testemunhos angustiosos, para alcançar a vida eterna.
Guerreavam os desequilíbrios de sua época e de seus contemporâneos,
não a
golpes de maldição, nem a fio de espada, mas pela prática da renunciação,
submetendo-se a disciplinas cruéis e revelando, nas palavras, nos
pensamentos e nos atos, a mensagem sublime do Mestre que lhes renovara os corações.
- Entretanto, herdeiros
que sois daqueles heróis anônimos, que transitaram nas aflições, de
espírito
edificado nas promessas do Cristo,
- que fizestes vós da
esperança
transformadora, da confiança sem vacilação?
- Onde colocastes a
fé viva que
os vossos patriarcas adquiriram a preço de sangue e de lágrimas?
- que é do
espírito de fraternidade que assinalava os aprendizes da Boa-Nova?
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Enriquecidos pelas graças do Céu, pouco a pouco olvidastes as portas da Revelação
Divina em troca das comodidades humanas.
- Construístes, entre vós mesmos, barreiras
dificilmente transponíveis.
- Intoxica-vos o dogmatismo, corrompe-vos a secessão. Estreitas interpretações
do plano divino vos obscurecem os horizontes mentais.
- Abris hostilidade franca, em nome do Reino de Deus que significa amor
universal e união eterna.
- Conspurcais a fonte das bênçãos,
amaldiçoando-vos uns aos outros,
invocando, para isso, o Príncipe da Paz, que, para ajudar-nos, não hesitou
ante a própria morte afrontosa.
- A que delírio chegastes, estabelecendo
mútua concorrência à imaginária
obtenção de privilégios divinos?
- Antigamente, os companheiros do Cristo disputavam a oportunidade de
servir; no entanto, na atualidade, procurais as mínimas ocasiões de serdes
servidos.
- Reverenciais do Senhor a Luz dos Séculos, e mantendes-vos nas sombras do
nefando egoísmo.
- Proclamais nEle a glória da paz, e
incentivas a guerra fratricida, em
que homens e instituições se trucidam reciprocamente.
- Recorreis ao Divino Mestre, centralizando em sua infinita bondade a fonte
inesgotável do amor; entretanto, cultivas a desarmonia no recôndito do ser.
- Por que estranhas convicções supondes
conquistar o paraíso, à força
de afirmativas labiais?
- Esquecestes que o verbo, divino em seus
fundamentos, é sempre criador?
como admitir a redenção ao preço de simples palavras a que nenhum
significado objetivo emprestais pelas atitudes?
- Todavia, é imperioso reconhecer o caráter
sublime de vossa tarefa no
mundo.
- Jesus
fundou a Religiãodo Amor Universal, que os sacerdotes políticos dividiram em
várias escolas
orientadas pelo sectarismo injustificável.
- Mau grado esse erro lastimável dos homens, a essência dos vossos princípios
é aquela mesma que sustentou a coragem e a nobreza dos trabalhadores
sacrificados nos primeiros dias do Cristianismo.
- Porque alguns missionários das
verdades religiosas olvidassem a Paternidade Divina e se permitissem
desmandos da autoridade, preferindo a opressão e a tirania, não sois menos
responsáveis, agora, pelos sagrados depósitos que Jesus nos confiou,
destinados aos serviços de elevação humana e de santificação da Terra.
- O Evangelho, em suas bases, guarda a
beleza do primeiro dia. Sofisma algum conseguiu empanar o brilho de « amai-vos
uns aos outros, como eu vos amei»...
- Perante os desafios do Céu,
credes, acaso, servir a Deus, encarcerando os serviços da fé nos templos
suntuosos? a pompa do culto exterior só faz realçar o desatino de vossas
perigosas ilusões acerca da vida espiritual.
- Infrutífera seria a divina missão
do Mestre, se a Boa-Nova permanecesse circunscrita às trincheiras sectárias,
onde presunçosamente vos refugiais, com o objetivo de inflamar a execranda
fogueira
das hostilidades simuladamente cordiais.
- Não encontrastes outra fórmula
de externar a crença, além da concorrência menos digna?
- Em vão ergueis castelos de opinião
para o verbalismo sem obras, porque, se a morte
surpreende o materialista
revel, descortinando-lhe o realismo da vida, o túmulo abre também o tribunal
da reta justiça a quantos se valeram da religião para melhor dissimular a
indiferença que lhes povoa o mundo Intimo.
- Não julgueis esteja a fé
consagrada ao menor esforço.
- Qual ocorre à ciência, a religião
tem o seu trabalho específico no mundo. Força equilibrante
do pensamento, seus servidores são chamados a colaborar na harmonia da
mente_humana.
- Na atuação da fé positiva
reside a força reguladora das paixões, dos impulsos irresistíveis da
animalidade de que todos emergimos, no processo evolucionário que nos preside
à existência.
- Jesus, por isto, não confinou
seus ensinamentos ao círculo estreito dos templos de pedra
- Reverenciou, em
verdade, os monumentos que recordassem os «lugares santos da oração»,
consagrados às manifestações superiores do espírito; entretanto, não se
cristalizou nas atitudes adorativas: viveu conquistando amigos para o Reino do Céu.
- Não impôs aos seus seguidores
normas rígidas de ação: pedia-lhes amor e entendimento, fé sincera e bom ânimo
para os serviços edificantes.
- Aproximando-se de Madalena, não
extravaga em baldas conversações: interessa-lhe o coração no sublime
apostolado renovador.
- Visitando
Zaqueu, abençoa-lhe o esforço nobre e
construtivo.
- Dirigindo-se à mulher samaritana, não desce às contendas
inúteis:
impressiona-a pelo contacto de sua alma divina, fazendo-a abandonar o velho cântaro
da fantasia, para que busque as fontes eternas.
- Convivendo com cegos e leprosos,
loucos e doentes de todos os matizes, exemplificou a vida social, baseada na
fraternidade mais pura e nos mais elevados estímulos à santificação.
- Por
fim, imolado na cruz, seus dois últimos companheiros eram ladrões confessos,
aos quais não hesitou dirigir a palavra fraterna, inflamada de amor.
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- Como invocar-lhe o nome para
justificar os desvarios da separação por motivos de fé? como apoiar-se no
Amigo de Todos para deflagrar embates de opinião, acendendo fogueiras de ódio
em prejuízo da solidariedade comum que Ele exemplificou até ao supremo
sacrifício? Não será denegrir-lhe a memória, difundir a discórdia em seu nome?
- Não se vos reclama a transferência
do depósito espiritual da crença veneranda. Em todos os setores, onde a
sementeira do Cristo desabrocha, é possível honrar a Divina Lei, gravando-lhe
os parágrafos sublimes no coração. O que se pede do vosso espírito de crença
é o aproveitamento das bênçãos celestiais esparzidas sobre vós em caudalosas
correntes de luz.
- Não limiteis, portanto, a
demonstração da confiança no Altíssimo aos cerimoniais do culto externo.
Varrei a indiferença que vos enregela as basílicas suntuosas. Convertamo-nos
em verdadeiros irmãos uns dos outros. Transformemos a igreja no doce lar da
família cristã, quaisquer que sejam as nossas interpretações. Esqueçamos a
falsa afirmativa de que os tempos apostólicos passaram para sempre. Cada
aprendiz do Evangelho guarda, na própria vida, um reduto destinado ao culto
vivo do Divino Mestre, perante o qual escoa a multidão dos necessitados, todos
os dias...
- Amando e socorrendo, crendo e
agindo, Jesus amparou a mente desequilibrada do mundo greco romano, infundindo-lhe vida nova, em favor da Humanidade mais feliz. Assim,
igualmente, cada discípulo da fé redentora pode e deve cooperar no
reerguimento dos irmãos frágeis e vacilantes.
- Fugi ao farisaísmo dos tempos
modernos que se recusa ao auxílio fraternal, em nome do gênio satânico do
cisma dogmático. Jesus nunca foi pregador da desarmonia, jamais endossou a
vaidade petulante dos que pelos lábios se declaram puros, mantendo o coração
atascado no lodo miasmático do orgulho e do
egoísmo fatais!
- Mobilizemos nossa confiança no
Todo-Misericordioso, dilatando-lhe o reino bendito de redenção.
- Aguardar o Céu, menosprezando a
Terra, é obra de insensatez.
- Nenhum de nós peitará a Justiça
Divina, embora permaneçais cultivando, muitas vezes, a ideia de um comércio
ridículo com a Divindade.
- Se um lavrador jamais é postado
sem obrigações diretas diante do matagal inculto ou do pântano perigoso,
como permanecer sem deveres imediatos junto às paisagens de crime e treva, de
inquietação e sofrimento?!...
- O irmão caído é nossa carga
preciosa,
- a dificuldade é nosso incentivo santo,
- a dor nossa escola
purificadora.
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- Abracemo-nos, pois, uns aos
outros, em nome do Cordeiro de Deus, que nos reformou a mente, alçando-a a
planos superiores pela ascensão gloriosa, através do sacrifício.
- Somente assim, meus amigos, é
possível atender à elevada destinação que nos cabe.
- Diante do mundo periclitante,
alucinado por ambições rasteiras e dominado pelo ódio e pela miséria, seqüências
das guerras incessantes e aniqüiladoras, harmonizemo-nos em Jesus-Cristo, a
fim de equilibrarmos a esfera carnal.
- Sombras perturbadoras vagueiam em
torno de vossos passos e de vossas instituições, em ronda sinistra.
- Evitai a subversão dos valores
espirituais, afugentai as trevas que vos ameaçam as organizações político-religiosas.
Temei a ciência que estadeie sem a sabedoria, livrai-vos do raciocínio que
calcula sem amor, revisai a fé para que seus impulsos não se desordenem, à
míngua de edificação.
- A Crosta da Terra é atualmente um
campo de batalha mais áspera, mais dolorosa...
- Despertai a consciência
adormecida e afeiçoai-vos à Lei Divina, olvidando o cativeiro multissecular
da ilusão.
- A salvação é contínuo
trabalho de renovação e de aprimoramento.
- Ao mundo atormentado
proclamemos a nossa fé em Cristo Jesus para sempre!...
[25
páginas 202/209] - André Luiz
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