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22 Anos
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Manifestação da Sra. Summers

____Começo pelo episódio com o qual se iniciaram as novas experiências em foco. O paciente distante, que Stead escolheu, era uma distinta escritora que colaborava na Review of Reviews e que se tornou, em pouco, uma das melhores “colaboradoras espirituais” daquele publicista. Ela lhe respondia imediatamente aos convites mentais, de onde quer que estivesse, assim de dia como de noite, travando conversações interessantíssimas, pois que exuberantes de provas de identificação pessoal. Tomo o incidente registrado por FredericMyers, no vol. IX, página 53, dos Proceedings of the S. P. R.. O relato foi escrito por Stead e diz:

____“Embora eu me conservasse mais ou menos incrédulo, comecei a experimentar pensando numa senhora de Londres, que escolhi por existirem entre mim e ela vínculos de recíproca simpatia. A experiência resultou maravilhosa. Quer dizer: verifiquei que a minha amiga nenhuma dificuldade encontrava para servir-se_da_minha_mão, a fim de me transmitir noticias suas, exprimindo-se com o humor de que no momento se achava possuída.
____Certa vez, estando ela – a quem chamarei Miss Summers – a ditar uma mensagem, eu a interrompi bruscamente com esta pergunta: “é você mesma quem escreve com a minha mão, ou sou eu que converso com a minha subconsciência?” – A minha mão escreveu: “Provar-lhe-ei que sou realmente eu quem escreve. Neste momento estou sentada diante da minha secretária e tenho nas mãos um objeto que amanhã lhe levarei ao escritório. Será um como presente que terá de aceitar de mim. É a figura de uma velha carda.” – Respondi: “Como? Uma velha carda?” – “Sim, uma velha carda, com efeito. Representa uma grata recordação da minha vida e é por isso que a tenho em muita estima. Levar-lhe-ei amanhã e lhe explicarei melhor tudo isso de viva voz. Conto que a aceitará.”

No dia seguinte, a minha amiga veio ao meu escritório e eu logo lhe perguntei se me trouxera algum presente. Respondeu que não; que realmente pensara em trazê-lo, mas que acabara deixando-o em casa. Perguntei então o que era e ela disse que se tratava de um presente tão absurdo que não queria dizer-lhe o nome. Como eu insistisse, explicou que se tratava de um pedaço de sabão! Fiquei profundamente desiludido com o suposto insucesso e lho disse. Ela, porém, surpreendida, replicou: “é deveras singular! Tudo se passa como você o escreveu nesta folha de papel. Trata-se efetivamente de uma “carda” e, ao demais, de uma “velha carda”, que, entretanto, se acha insculpida num pedaço de sabão. Trazê-la-ei amanhã. Não sei se sabe que a “carda” ocupa uma importante parte das recordações da minha vida.” E passou a narrar o incidente pessoal que correspondia a essa afirmativa. No dia seguinte, levou-me o pedaço de sabão, sobre o qual se percebe impressa, de fato, a imagem de uma “velha carda”.”

____Myers confirma assim o exposto:

____“Foi-me narrado o incidente pessoal a que diz respeito a imagem de uma “velha carda”, narrativa donde ressalta que a referida imagem gravada no pedaço de sabão é que conferia ao objeto todo o seu significado. Miss Summers pensara em levá-lo de presente a Stead, antes que a mão deste último escrevesse tal pormenor e provavelmente o pensou no instante exato em que Stead o escreveu.”

____No caso, o incidente de identificação, tentada para provar a Stead que não se tratava de uma mistificação da sua subconsciência, mas de uma conversação real com a personalidade_espiritual de Miss Summers, parece apropriado ao objetivado fim, porquanto o presente prometido a título de prova consistia numa coisa efetivamente excepcional, de modo a não se poder explicar o fato com a hipótese habitual das “coincidências fortuitas”. Manifesto, com efeito, se faz que a imagem de uma antiga carda gravada num pedaço de sabão não é decerto um objeto que se costume dar de presente.
____Observo ao demais que, no incidente com que me ocupo – como noutros ocorridos com a mesma sensitiva – esta teria aparentemente entrado em relação mediúnica com Stead, durante o estado de vigília, o que, porém, não significa que o incidente se haja desenvolvido exatamente assim.

  • Não significa, antes de tudo, porque, em nenhuma das experiências em questão havia testemunhas que pudessem afirmar que a sensitiva, no momento, não se achasse adormecida
  • depois, porque, ainda quando existissem tais testemunhas, não teriam grande valor, visto que uma pessoa pode muito bem passar e permanecer algum tempo em condições de sonambulismo vígil, sem que os presentes se apercebam do fato e sem que a própria pessoa o perceba.

____Tudo isto é teoricamente importante e voltarei ao tema quando tiver ensejo de aludir a um caso recente do mesmo gênero, em que o paciente, à distância e inconsciente, se achava, na aparência, em estado de vigília, caso continuamente citado pelos opositores, para demonstrarem que os médiuns tiram tudo o que queiram das subconsciências de outros e chegam, desse modo, a mistificar o próximo, como se personificassem entidades de defuntos (caso Soal-Górdon Davis).
____Repito, pois, mais uma vez, que o ensinamento teórico a extrair-se do episódio exposto, e que será amplamente corroborado pelos que se seguirão, consiste na prova manifesta e indubitável de que, nas comunicações_mediúnicas_entre_vivos, se trata de verdadeiras e legitimas conversações entre duas personalidades_integrais_subconscientes, transmitidas à personalidade consciente do médium, por meio da escrita_automática. Do mesmo passo, evidente também resulta que os médiuns nada tiram, nem selecionam e que, por conseguinte, a hipótese tão cara aos opositores é destituída de qualquer fundamento experimental.
____Cumpre se tenha muito em vista o ensinamento acima apontado, pois que, do fato positivamente averiguado de que as comunicações mediúnicas entre vivos são verdadeiras conversações entre duas personalidades integrais subconscientes, decorre que...

  • essas comunicações se transformam em provas resolutivas de identificação pessoal dos vivos que se comunicam e, por sua vez,
  • corroboram, com igual eficácia, as manifestações análogas por meio das quais se obtêm as provas de identificação pessoal dos defuntos.

____Entretanto, se, ao contrário, se fantasiar, com os opositores, que,...

  • nas comunicações mediúnicas entre vivos, os médiuns tiram das subconsciências dos mesmos vivos todas as informações que fornecem sobre a existência privada deles,
  • dever-se-ia, em tal caso, argumentar no mesmo sentido com relação a grande parte das comunicações_mediúnicas_com_os_defuntos, considerando-as um noticiário de fatos tomados pelos médiuns às subconsciências de terceiros, o que tornaria teoricamente mais difícil a demonstração rigorosamente científica das provas de identificação espirítica.

____Assinalado esse ponto, apresso-me a acrescentar que a hipótese em apreço tem que ser eliminada, não apenas em face dos processos científicos da análise comparada e da convergência das provas, mas, igualmente, em face da consideração de que com ela não se explicaria a característica fundamental das comunicações entre vivos, característica que é a da conversação que se desenvolve entre o médium e a personalidade subconsciente do vivo distante daquele, conversação que assume aspectos sempre novos e imprevistos, que nada de comum apresentam com as lembranças latentes nas subconsciências de terceiros, porquanto...

  • as informações fornecidas,
  • Os manifestados estados de ânimo,
  • as características morais,
  • as idiossincrasias pessoais brotam das perguntas que o automatista dirige à personalidade do vivo que se comunica.

____Assim sendo, só resta concluir formulando uma proposição tão simples, que parece ingênua, e é que, quando uma hipótese se revela impotente para explicar a característica maior de uma dada classe de manifestações, isso significa que ela é inaplicável às mesmas manifestações. E me parece que basta.

[111 - páginas 60 a 64] - Ernesto Bozzano


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