A
MANJEDOURA ____A
manjedoura assinalava o ponto inicial da lição salvadora do Cristo, como
a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes. Começava
a era definitiva da maioridade espiritual da Humanidade terrestre,
de vez que Jesus, com a sua exemplificação divina, entregaria o código
da fraternidade e do amor a
todos os corações. ____Debalde
os escritores materialistas de todos os tempos vulgarizaram o
grande acontecimento, ironizando os altos fenômenos_mediúnicos que o precederam. As figuras de Simeão, Ana,
Isabel, João Batista, José, bem como a
personalidade sublimada de Maria, têm sido muitas vezes
objeto de observações injustas e maliciosas; mas a realidade é que somente
com o concurso daqueles mensageiros da Boa Nova, portadores da
contribuição de fervor, crença e vida, poderia Jesus lançar na Terra os fundamentos da verdade inabalável. [52 - página 105] O
CRISTO E OS ESSÊNIOS ____Muitos
séculos depois da sua exemplificação incompreendida, há quem
o veja entre os essênios, aprendendo as suas doutrinas, antes do seu
messianismo de amor e de redenção. As próprias esferas mais próximas
da Terra, que pela força das circunstâncias se acercam mais das controvérsias
dos homens que do sincero aprendizado dos espíritos estudiosos
e desprendidos do orbe, refletem as opiniões contraditórias da Humanidade,
a respeito do Salvador de todas as criaturas. ____O
Mestre, porém, não obstante a elevada cultura das escolas essênias,
não necessitou da sua contribuição. Desde os seus primeiros dias
na Terra, mostrou-se tal qual era, com a superioridade que o planeta lhe
conheceu desde os tempos longínquos do princípio. [52 - página 106] CUMPRIMENTO
DAS PROFECIAS DE ISRAEL ____Do
seu divino apostolado nada nos compete dizer em acréscimo das tradições
que a cultura evangélica
apresentou em todos os séculos posteriores à sua vinda à Terra,
reafirmando, todavia, que a sua lição de amor e de humildade foi única
em todos os tempos da Humanidade. ____Dele
asseveraram os profetas de Israel, muito
tempo antes da manjedoura e do calvário:
____"Levantar-se-á
como um arbusto verde, vivendo na
ingratidão de um solo árido, onde não haverá graça nem beleza.
Carregado de opróbrios e desprezado dos homens, todos lhe voltarão
o rosto. Coberto de ignomínias, não merecerá consideração. É que
Ele carregará o fardo pesado de nossas culpas e de nossos sofrimentos,
tomando sobre si todas as nossas dores. Presumireis na sua figura
um homem vergando ao peso da cólera de Deus, mas serão os nossos
pecados que o cobrirão de chagas sanguinolentas e as suas feridas
hão de ser a nossa redenção. Somos um imenso rebanho desgarrado,
mas, para nos reunir no caminho de Deus, Ele sofrerá o peso das
nossas iniquidades. Humilhado e ferido, não soltará o mais leve queixume,
deixando-se conduzir como um cordeiro ao sacrifício. O seu túmulo
passará como o de um malvado e a sua morte como a de um ímpio. Mas, desde o momento em que oferecer a sua
vida, verá nascer uma posteridade
e os interesses de Deus hão de prosperar nas suas mãos." |
[52 - página 106]
A
GRANDE LIÇÃO ____Sim,
o mundo era um imenso rebanho desgarrado. Cada povo fazia da
religião uma nova fonte de vaidades, salientando-se que muitos cultos religiosos
do Oriente caminhavam para o
terreno franco da dissolução e da imoralidade; mas o Cristo vinha
trazer ao mundo os fundamentos eternos da
verdade e do amor. Sua palavra, mansa e
generosa, reunia todos os infortunados e todos os pecadores. ____Escolheu
os ambientes mais pobres e mais desataviados para viver a intensidade
de suas lições sublimes, mostrando aos homens que a verdade
dispensava o cenário suntuoso dos areópagos, dos fóruns e dos templos,
para fazer-se ouvir na sua misteriosa beleza. Suas pregações, na praça
pública, verificam-se a propósito dos seres mais desprotegidos e desclassificados,
como a demonstrar que a sua palavra vinha reunir todas as
criaturas na mesma vibração de fraternidade e na mesma estrada luminosa
do amor. Combateu pacificamente todas as violências oficiais do judaísmo,
renovando a Lei Antiga com a doutrina do esclarecimento, da tolerância
e do perdão. Espalhou as mais claras visões da vida imortal, ensinando
às criaturas terrestres que existe algo superior às pátrias, às bandeiras,
ao sangue e às leis humanas. Sua palavra profunda, enérgica e misericordiosa,
refundiu todas as filosofias, aclarou o caminho das ciências
e já teria irmanado todas as religiões
da Terra, se a impiedade dos homens não
fizesse valer o peso da iniqüidade na balança da redenção. [52 - página 107] A
PALAVRA DIVINA ____Não
nos compete fornecer uma nova interpretação das palavras eternas
do Cristo, nos Evangelhos. Semelhante interpretação está feita por quase
todas as escolas religiosas do mundo, competindo apenas às suas
comunidades e aos seus adeptos a observação do ensino imortal, aplicando-a
a si próprios, no mecanismo da vida de relação, de modo que se
verifique a renovação geral, na sublime exemplificação, porque, se a manjedoura
e a cruz constituem ensinamento inolvidável, muito mais devem
representar, para nós outros, os exemplos do Divino Mestre, no seu trato
com as vicissitudes da vida terrestre. ____De
suas lições inesquecíveis, decorrem conseqüências para todos os
departamentos da existência planetária, no sentido de se renovarem os institutos
sociais e políticos da Humanidade, com a transformação moral dos
homens dentro de uma nova era de justiça econômica e de concórdia universal. ____Pode
parecer que as conquistas do verdadeiro Cristianismo
sejam ainda remotas, em face das
doutrinas imperialistas da atualidade, mas é preciso
reconhecer que dois mil anos já dobaram sobre a palavra divina. Dois
mil anos em que os homens se estraçalharam em seu nome, inventando
bandeiras de separatividade e destruição. Incendiaram e trucidaram,
em nome dos seus ensinos de perdão e de amor, massacrando esperanças
em todos os corações. Contudo, o século que passa deve assinalar
uma transformação visceral nos departamentos da vida. A dor completará
as obras generosas da verdade cristã, porque os homens repeliram
o amor em suas cogitações de progresso. [52 - página 108] CREPÚSCULO
DE UMA CIVILIZAÇÃO ____Uma
nuvem de fumo vem-se formando, há muito tempo, nos horizontes
da Terra cheia de
indústrias de morte e destruição. Todos os países
são convocados a conferirem os valores da maturação espiritual da Humanidade,
verificada no orbe há dois milênios. O progresso científico dos
povos e as suas mais nobres e generosas conquistas são reclamados pelo
banquete do morticínio e da ambição, e, enquanto a política do mundo se
sente manietada ante os dolorosos fenômenos do século, registram-se nos
espaços novas atividades de trabalho, porque a direção da Terra está nas
mãos misericordiosas e augustas do Cordeiro. [52 - página 110] O
EXEMPLO DO CRISTO ____Sem
nos referirmos, porém, aos problemas da política transitória do mundo,
lembremos, ainda, que a lição do Cristo ficou para sempre na Terra,
como o tesouro de todos os infortunados e de todos os desvalidos. ____Sua
palavra construiu a fé nas almas humanas, fazendo-lhes entrever os seus
gloriosos destinos. Haja necessidade e tornaremos a ver a crença e a esperança
reunindo-se em novas catacumbas romanas, para reerguerem o sentido
cristão da civilização da Humanidade. ____É,
muitas vezes, nos corações humildes e aflitos que vamos encontrar
a divina palavra cantando o hino maravilhoso dos bem-aventurados. ____E,
para fechar este capítulo, lembrando a influência do Divino Mestre em
todos os corações sofredores da Terra, recordemos o episódio do monge
de Manilha, que, acusado de tramar a liberdade de sua pátria contra o
jugo dos espanhóis, é condenado à morte e conduzido ao cadafalso. No
instante do suplício, soluça desesperadamente o mísero condenado:
____"Como, pois, será
possível que eu morra assim inocente? Onde
está a justiça? Que fiz eu para merecer tão horrendo suplício?"
ouvidos:
- "Jesus também era inocente!..." Passa,
então, pelos olhos da vítima, um clarão de misteriosa beleza. Secam-se as lágrimas e a serenidade lhe
volta ao semblante macerado, e, quando
o carrasco lhe pede perdão, antes de apertar o parafuso sinistro, ei-lo
que responde resignado: - "Meu filho, não só te perdôo como ainda
te peço cumpras o teu dever." |
[52 - página 110] |