____A morte
física não é banho milagroso, que converta maus em bons e
ignorantes em sábios, de um instante para outro.
- Há
desencarnados que se apegam aos ambientes domésticos, à maneira da hera às
paredes.
- Outros,
contudo, e em vultoso número, revoltam-se nos círculos da ignorância que
lhes é própria e constituem as chamadas legiões das trevas, que
afrontaram o próprio Jesus, por intermédio de obsidiados
diversos. Organizam-se diabolicamente, formam cooperativas criminosas e ai
daqueles que se transformam em seus companheiros! Os que caem na senda
evolutiva, pelo descaso das oportunidades divinas, são escravos sofredores
desses transitários, mas terríveis poderes das sombras, em cativeiro que pode
caracterizar-se por longa duração.
____Se o desencarnado é um suicida,
os espíritos responsáveis pela guarda destes sítios, não poderiam
defende-lo. Entretanto, se fosse vítima de assassínio, sim, porque, na
condição real de vítima, o homem segrega determinadas correntes de força
magnética suscetíveis de pô-lo em contato com os missionários do auxílio,
mas no suicídio previamente deliberado,sem a intromissão de inimigos ocultos, o desequilíbrio da alma é enexprimível e acarreta absoluta incapacidade de sintonia mental com os
elementos superiores.
[16a - página . 123] - André Luiz
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____Após_a_morte, a
primeira decepção que os aguarda é a realidade da vida que se não extingue
com as transições da morte do corpo físico,
vida essa agravada por tormentos pavorosos, em virtude de sua decisão tocada de
suprema rebeldia.
____Suicidas há que continuam experimentando os padecimentos físicos da última
hora terrestre, em seu corpo_somático, indefinidamente. Anos a fio, sentem as impressões terríveis
do tóxico que lhes aniquilou as energias,
- a
perfuração do cérebro pelo corpo estranho partido da arma usada no gesto
supremo,
- O
peso das rodas pesadas sob as quais se atiraram na ânsia de desertar da
vida,
- a
passagem das águas silenciosas e tristes sobre os seus despojos, onde
procuraram o olvido
criminoso de suas tarefas no mundo
- e,
comumente, a pior emoção do suicida é a de acompanhar, minuto a
minuto, o processo da
decomposição do corpo abandonado no seio da terra, verminado e apodrecido.
____De
todos os desvios da vida humana o suicídio é, talvez, o maior deles
pela sua característica de falso heroísmo, de negação absoluta da lei do
amor e de suprema rebeldia à vontade de Deus, cuja justiça nunca se fez
sentir, junto dos homens, sem a luz da misericórdia.
[41a - página 96] - EMMANUEL - 1940 Suicídio de André Luiz(Suicida inconsciênte) ____Henrique de Luna, do serviço de Assistência Médica da colônia espiritual, auscultou-me demoradamente, sorriu e explicou:
____- é de lamentar que tenha vindo pelo suicídio.
____Senti que singular assomo de
revolta me borbulhava no íntimo.
____Suicídio? Recordei as acusações dos seres perversos das sombras.
Não obstante o cabedal de gratidão que começava a acumular, não calei a
incriminação.
____- Creio haja engano - asseverei, melindrado -, meu regresso do mundo
não teve essa causa. Lutei mais de quarenta dias, na Casa de Saúde,
tentando vencer a morte. Sofri duas operações graves, devido a oclusão
intestinal...
____- Sim - esclareceu o médico, demonstrando a mesma serenidade
superior -, mas a oclusão radicava-se em causas profundas. Talvez o amigo
não tenha ponderado bastante. O organismo espiritual apresenta em si
mesmo a história completa das ações praticadas no mundo.
____E inclinando-se, atencioso, indicava determinados pontos do meu
corpo:
____- Vejamos a zona intestinal - exclamou. - A oclusão derivava de
elementos cancerosos, e estes, por sua vez, de algumas leviandades do meu
estimado irmão, no campo da sífilis. A moléstia talvez não assumisse
características tão graves, se o seu procedimento mental no planeta
estivesse enquadrado nos princípios da fraternidade e da temperança.
Entretanto, seu modo especial de conviver, muita vez exasperado e sombrio,
captava destruidoras vibrações naqueles que o ouviam. Nunca imaginou que a cólera fosse manancial de forças negativas para nós
mesmos? A ausência de autodomínio, a inadvertência no trato com os
semelhantes, aos quais muitas vezes ofendeu sem refletir, conduziam-no
freqüentemente à esfera dos seres doentes e inferiores. Tal circunstância
agravou, de muito, o seu estado físico.
____Depois de longa pausa, em que me examinava atentamente,
continuou:
____- Já observou, meu amigo, que seu fígado foi maltratado pela sua
própria ação; que os rins foram esquecidos, com terrível menosprezo às
dádivas sagradas?
____Singular desapontamento invadira-me o coração. Parecendo
desconhecer a angústia que me oprimia, continuava o médico,
esclarecendo:
____- Os órgãos do corpo somático possuem incalculáveis reservas,
segundo os desígnios do Senhor. O meu amigo, no entanto, iludiu
excelentes oportunidades, esperdiçado patrimônios preciosos da
experiência física. A longa tarefa, que lhe foi confiada pelos Maiores da
Espiritualidade Superior, foi reduzida a meras tentativas de trabalho que não
se consumou. Todo o aparelho gástrico foi destruído à custa de excessos de
alimentação e bebidas alcoólicas, aparentemente sem importância. Devoroulhe
a sífilis energias essenciais. Como vê, o suicídio é incontestável.
____Meditei nos problemas dos caminhos humanos, refletindo nas
oportunidades perdidas. Na vida humana, conseguia ajustar numerosas
máscaras ao rosto, talhando-as conforme as situações. Aliás, não poderia
supor, noutro tempo, que me seriam pedidas contas de episódios simples,
que costumava considerar como fatos sem maior significação. Conceituara,
até ali, os erros humanos, segundo os preceitos da criminologia. Todo
acontecimento insignificante, estranho aos códigos, entraria na
relação de fenômenos naturais. Deparava-se-me, porém, agora, outro
sistema de verificação das faltas cometidas. Não me defrontavam tribunais
de tortura, nem me surpreendiam abismos infernais; contudo, benfeitores
sorridentes comentavam-me as fraquezas como quem cuida de uma criança
desorientada, longe das vistas paternas. Aquele interesse espontâneo, no
entanto, feria-me a vaidade de homem. Talvez que, visitado por figuras
diabólicas a me torturarem, de tridente nas mãos, encontrasse forças para
tornar a derrota menos amarga. Todavia, a bondade exuberante de
Clarêncio, a inflexão de ternura do médico, a calma fraternal do enfermeiro,
penetravam-me fundo o espírito. Não me dilacerava o desejo de reação;
doía-me a vergonha. E chorei. Rosto entre as mãos, qual menino contrariado
e infeliz, pus-me a soluçar com a dor que me parecia irremediável. Não havia
como discordar. Henrique de Luna falava com sobejas razões. Por fim,
abafando os impulsos vaidosos, reconheci a extensão de minhas
leviandades de outros tempos. A falsa noção da dignidade pessoal cedia
terreno à justiça. Perante minha visão espiritual só existia, agora, uma
realidade torturante: era verdadeiramente um suicida, perdera o ensejo
precioso da experiência humana, não passava de náufrago a quem se
recolhia por caridade.
____Foi então que o generoso Clarêncio, sentando-se no leito, a meu lado,
afagou-me paternalmente os cabelos e falou comovido:
____- Oh! meu filho, não te lastimes tanto. Busquei-te atendendo à
intercessão dos que te amam, dos planos mais altos. Tuas lágrimas atingem
seus corações. Não desejas ser grato, mantendo-te tranqüilo no exame das
próprias faltas? Na verdade, tua posição é a do suicida inconsciente; mas é
necessário reconhecer que centenas de criaturas se ausentam diariamente
da Terra, nas mesmas condições. Acalma-te, pois. Aproveita os tesouros do arrependimento,
guarda a bênção do remorso, embora tardio, sem esquecer que a aflição não
resolve problemas. Confia no Senhor e em nossa dedicação fraternal.
Sossega a alma perturbada, porque muitos de nós outros já perambulamos
igualmente nos teus caminhos.
____Ante a generosidade que transbordava dessas palavras, mergulhei a
cabeça em seu colo paternal e chorei longamente.
[32 - página 32/35] - André Luiz |