____..." temos
aqui dois amigos de mente fixada na região dos instintos primários. O
encarnado, depois de reiteradas vibrações no campo de pensamento, em fuga da
recordação e do remorso,
arruinou os centros motores, desorganizando também o sistema_endócrino
e perturbando os órgãos vitais. O desencarnado converteu todas as energias em
alimento da ideia de vingança, acolhendo-se ao ódio em que se mantém
foragido da razão e do altruísmo. Outra seria a situação de ambos se
houvessem esquecido a queda, reerguendo-se pelo trabalho construtivo e pelo
entendimento fraternal, no santuário do perdão
legítimo.
____O Assistente deixou perceber novo brilho
nos olhos percucientes e acrescentou:
Segundo verificamos, Jesus-Cristo
tinha sobradas razões recomendando-nos o amor_aos_inimigos e a oração pelos que nos perseguem e caluniam.
____Não é isto mera virtude, senão
princípio científico de libertação do ser, de progresso da alma, de
amplitude espiritual: no pensamento
residem as causas. É poca virá, em que o amor,
a fraternidade e a compreensão, definindo estados do espírito, serão tão
importantes para a mente_encarnada quanto o pão, a água, o remédio; é questão de
tempo. Lícito é esperar sempre o bem, com o otimismo divino. A mente_humana, de maneira geral, ascende para o conhecimento superior, apesar de,
por vezes, parecer o contrário.
|
em seguida, permaneceu Calderaro longos
minutos em vigorosas irradiações magnéticas, que, envolvendo a cabeça
e a espinha dorsal do enfermo, se me afiguraram fortemente repousantes, porque
em breve o doente, antes torturado, se abandonava a sono
tranqüilo, como se sorvera suavíssimo anestésico. Dentro em pouco
encontrava-se em nosso círculo, temporariamente afastado do veículo
denso, tomado de pavor perante o verdugo implacável (obsessor),
que se mantinha sentado, impassível, num dos ângulos do leito.
____Verifiquei que o enfermo não nos notava a presença, qual acontecia com o algoz
em muda expectativa.
____Contava como certo que o Assistente os cumulasse de longas doutrinações; Calderaro, porém, guardou absoluto silêncio.
____Não me contive: interroguei-o.
- Porque
os não socorrer com palavras de esclarecimento?
- O
doente parecia-me aflito, enquanto o perseguidor se erguia, agora, mais
agressivo. Porque não sustar o braço cruel que ameaçava um infeliz?
- Não
seria justo impedir o atrito, que acarretaria conseqüências imprevisíveis
ao companheiro hospitalizado?
____O instrutor ouviu-me, sereno, e respondeu: Falaríamos em vão, André,
porque ainda não sabemos amá-los como se fossem nossos irmãos ou nossos filhos. Para nós ambos, espíritos de raciocínio algo avançado,
mas de sentimentos menos sublimes, são eles dois infortunados, e nada mais.
Damos-lhes, no momento, o de que dispomos, isto é, intervenção benéfica no
campo de seus sofrimentos exteriores, nos limites de nossas aquisições no domínio
do conhecimento.
____Olhou para grande porta próxima e acentuou:A providência
não foi, porém, esquecida. A irmã Cipriana, orientadora dos serviços de
socorro do grupo em que coopero, não pode tardar."
|