|
Com o intuito de reformular globalmente a vida Cristã, o holandês Cornélio
Jansênio (1585-1638) deu início a um movimento que abalou a Igreja
católica durante os séculos XVII e XVIII. Descontente com o
exagerado racionalismo dos teólogos escolásticos, Jansênio - doutor em
teologia pela universidade de Louvain e bispo de Ypres - uniu-se a Jean
Duvergier de Hauranne, futuro abade de Saint-Cyran, que também pretendia o
retorno do catolicismo à disciplina e à moral religiosa dos primórdios do
cristianismo. Os jansenistas dedicaram-se particularmente à discussão do
problema da graça, buscando nas obras de Santo_Agostinho (354-430) elementos que permitissem conciliar as teses dos partidários
da Reforma com a doutrina católica.
Foi
em janeiro de 1646 quando o pai de Pascal
(Blaise Pascal) teve a perna seriamente lesionada, que dois homens profundamente
religiosos vieram cuidar do adoentado Etienne - assim, Blaise ficaria
profundamente impressionado pelo grau de caridade_Cristã e espiritualidade que estes
dois homens evocavam. Desde que estes dois homens eram jansenistas,
pareceu natural a Pascal ser atraído pela escola de pensamento jansenista.
Essencialmente, o jansenismo
ressuscitava a antiga controvérsia pelagiana, um debate teológico na
igreja antiga (cerca do ano 400 d. C.) entre Agostinho
e Pelágio sobre as questões:
Em contraste ao ensino jesuíta de que a graça é eficaz quando o recebedor consente e coopera com Deus através do livre-arbítrio, Jansênio ensinava que a graça é totalmente imerecida e por isso concedida ao recipiente por Deus através da predestinação. Assim, as ideias propostas por Jansênio seguiam a tradição do pensamento agostiniano, e não diferente dos pensamentos de João_Calvino. Todavia, suas proposições centrais foram declaradas heréticas pelo papa Inocente X em 1653, mas o fogo da controvérsia continuaria a bramar por algum tempo, e no meio deste conflito teológico, Blaise Pascal entraria na arena como um pensador filosófico e polemicista par excellence. |
