- Os
médiuns, apenas
como tais, só secundária influência exercem nas comunicações_dos_Espíritos; o papel deles é o de uma máquina
elétrica, que transmite os despachos telegráficos, de um ponto da
Terra a outro ponto distante.
Nós comunicamos, por meio do aparelho mediúnico, através das
distâncias incomensuráveis
que separam o mundo visível do mundo invisível, o mundo_imaterial do mundo carnal, o que vos queremos ensinar. Mas,
assim como as influências atmosféricas atuam, perturbando, muitas
vezes, as transmissões do telégrafo elétrico, igualmente a
influência moral do médium atua
e perturba, às vezes, a transmissão dos nossos despachos de
além-túmulo, porque somos obrigados a fazê-los passar por um meio
que lhes é contrário.
____Entretanto, essa influência, amiúde, se anula, pela nossa energia e
vontade, e nenhum ato perturbador se manifesta. Com efeito, os ditados
de alto alcance filosófico, as comunicações de perfeita moralidade
são transmitidas algumas vezes por médiuns_impróprios a esses ensinos superiores; enquanto que, por
outro lado, comunicações pouco edificantes chegam também, às
vezes, por médiuns que se envergonham de lhes haverem servido de
condutores.
- Em
tese geral, pode afirmar-se que os Espíritos atraem Espíritos que
lhes são similares
e que raramente os Espíritos das plêiadas elevadas se comunicam por
aparelhos maus condutores, quando têm à mão bons aparelhos
mediúnicos, bons médiuns.
- Os
médiuns levianos e pouco sérios atraem, pois, Espíritos da mesma
natureza; por isso é que suas comunicações se mostram cheias de
banalidades, frivolidades, ideias truncadas e, não raro, muito heterodoxas,
espiriticamente falando. Certamente, podem eles dizer, e às vezes
dizem, coisas aproveitáveis; mas, nesse caso, principalmente, é que
um exame severo e escrupuloso se faz necessário, porquanto, de
envolta com essas coisas aproveitáveis, Espíritos hipócritas
insinuam, com habilidade e preconcebida perfídia, fatos de pura
invencionice, asserções mentirosas, a fim de iludir a boa-fé dos
que lhes dispensam atenção. Devem riscar-se, então, sem piedade,
toda palavra, toda frase equivoca e só conservar do ditado o que a
lógica possa aceitar, ou o que a Doutrina já ensinou.
As comunicações desta natureza só são de temer para os espíritas
que trabalham isolados, para os grupos novos, ou pouco esclarecidos,
visto que, nas reuniões onde os adeptos estão adiantados e já
adquiriram experiência, a gralha perde o seu tempo e acaba sempre
desmascarada.
- Não
falarei dos médiuns que se comprazem em solicitar e receber
comunicações obscenas. Deixemos se deleitem na companhia dos
Espíritos cínicos. Aliás, os autores das comunicações desta
ordem buscam, por si mesmos, a solidão e o isolamento; porquanto só
desprezo e nojo poderão causar entre os membros dos grupos
filosóficos e sérios. Onde, porém, a influência moral
do médium se faz realmente sentir, é quando ele
substitui, pelas que lhe são pessoais, as ideias que os Espíritos
se esforçam por lhe sugerir e também quando tira da sua imaginação
teorias fantásticas que, de boa-fé, julga resultarem de uma comunicação_intuitiva. É de apostar-se então mil contra um que
isso não passa de reflexo_do_próprio_Espírito_do_médium. Dá-se mesmo o fato
curioso de mover-se a mão do médium, quase mecanicamente às vezes,
impelida por um Espírito secundário e zombeteiro. É essa a pedra de toque contra a qual vêm quebrar-se as imaginações ardentes, por
isso que, arrebatados pelo ímpeto de suas próprias ideias, pelas
lentejoulas de seus conhecimentos literários, os médiuns desconhecem
o ditado modesto de um Espírito criterioso e, abandonando a presa
pela sombra, o substituem por uma paráfrase empolada. Contra este
escolho terrível vêm igualmente chocar-se as personalidades
ambiciosas que, em falta das comunicações que os bons Espíritos
lhes recusam, apresentam suas próprias obras como sendo desses
Espíritos. Daí a necessidade de serem, os diretores dos grupos
espíritas, dotados de fino tato, de rara sagacidade, para discernir
as comunicações autênticas das que não o são e para não ferir os
que se iludem a si mesmos.
- Na
dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não
admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta
evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida,
por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da
razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o
bom-senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que
admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. Efetivamente, sobre essa teoria poderíeis edificar um sistema
completo, que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como um
monumento edificado sobre areia movediça, ao passo que, se
rejeitardes hoje algumas verdades, porque não vos são demonstradas
clara e logicamente, mais tarde um fato brutal, ou uma demonstração
irrefutável virá afirmar-vos a sua autenticidade.
- Lembrai-vos,
no entanto, ó espíritas ! de que, para Deus e para os bons
Espíritos, só há um impossível: a injustiça e a iniqüidade.
- O
Espiritismo
já está bastante espalhado entre os homens e já moralizou
suficientemente os adeptos sinceros da sua santa doutrina, para que os
Espíritos já não se vejam constrangidos a usar de maus instrumentos,
de médiuns imperfeitos. Se, pois, agora, um médium, qualquer que ele
seja, se tornar objeto de legítima suspeição, pelo seu proceder,
pelos seus costumes, pelo seu orgulho,
pela sua falta de amor
e de caridade,
repeli, repeli suas comunicações, porquanto aí estará uma serpente
oculta entre as ervas.
ERASTO [17b - página 290 item 230] - [37 - página 204] -Allan Kardec - Agosto/1861 - http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/1861/08h-dissertacoes.html
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