____Interpelado,
há dias, a respeito da confissão auricular, nada mais pude fazer que
dar uma resposta resumida, de momento, adiando o instante de expender
outras considerações atinentes ao assunto.
____Padre
católico que fui, na minha última romagem terrena, sinto-me à vontade
para falar com imparcialidade sincera. (Ver: EMMANUEL
) ____Não
será a minha palavra que vá condenar qualquer religião, todas elas
nascidas de uma inspiração superior que os homens viciaram, acomodando
as determinações de ordem divina aos seus próprios interesses e conveniências,
desvirtuando-lhes os sagrados princípios.
____Todas
as doutrinas religiosas têm a sua razão de ser no seio das
coletividades, onde foram chamadas a desempenhar a missão de paz e de
concórdia humana. Todos os seus males provêm justamente dos abusos do
homem, em amoldá-las ao abismo de suas materialidades habituais; e, de
fato, constitui um desses abusos a instituição da confissão auricular,
pela Igreja Católica. A CONFISSÃO NOS TEMPOS APOSTÓLICOS
____Se é
verdade que, na época do Precursor, os novos crentes adotavam o sistema
de confessar publicamente as suas faltas e os
seus erros, tal costume diferia essencialmente de tudo quanto criou a
Igreja Católica, nesse particular, depois da partida, para o Além, dos
elevados Espíritos que lançaram, com o sangue dos seus sacrifícios e
com a mais sublime renúncia dos bens terrenos, as bases da fé, as quais
têm resistido ao bolor dos séculos. A confissão pública dos próprios
defeitos, nos tempos apostólicos, constituía para o homem forte
barreira, evitando sua reincidência na falta. Um sentimento profundo de
verdadeira humildade movia o coração nesses momentos, oferecendo-lhe as
melhores possibilidades de resistência ao assédio das tentações, e
semelhante princípio representava como que uma vacina contra as úlceras
do remorso e das chagas morais.
____Todavia,
os tempos decorreram e, no seu transcurso, observou-se a transformação
radical de todas as leis sublimes de fraternidade cristã, anteriormente
preconizadas. A CONFISSÃO AURICULAR E A SUA GRANDE
VÍTIMA ____A confissão auricular constitui uma aberração, dentro do amontoado das
doutrinas desvirtuadas do romanismo. E é justamente a mulher, pelo espírito
sensível de religiosidade que a caracteriza, a maior vítima do
confessionário.
____Infelizmente,
toda a série de absurdos do inqualificável sacramento da penitência
é oriunda dos superiores eclesiásticos, dos teólogos e falsos moralistas
da Igreja que, perversamente, criaram os longos e indiscretos interrogatórios,
aos quais terá a mulher de submeter-se passivamente, diante de um homem solteiro, estranho, que
ela, inúmeras vezes, nem conhece.
____Os
padres, geralmente, em virtude do seu desconhecimento dos sagrados
deveres da paternidade, não a vão interpelar no tocante às obrigações
austeras do governo da casa; ferem exatamente os problemas mais íntimos
e mais delicados da vida do casal, violando o sagrado respeito das questões
do lar, dando pasto aos pensamentos mais injustificáveis e, às vezes,
repugnantes. E o véu de modéstia e de beleza que Deus concedeu à
mulher, para que ela pudesse mergulhar qual lírio de espiritualidade nos
pântanos deste mundo, é arrancado justamente por esse homem que se
inculca ministro das luzes celestes. Muitas vezes, é no confessionário
que começa o calvário social da mulher. Dolorosos e pesados tributos são
cobrados das católicas-romanas, que, confiadas em Deus, se lançam aos pés
de um homem cheio das mesmas fraquezas dos outros mortais, na enganosa
suposição de que o sacerdote é a imagem da Divindade do Senhor. REFORMA NECESSÁRIA ____Não
podeis calcular a imensidade de crimes perpetrados à sombra dos
confessionários penumbrosos, onde almas aflitas e fervorosas buscam
consolação e conforto espiritual.
____O que
se faz necessário em vossos dias é a reforma de semelhantes costumes.
Quando essa renovação não parta das autoridades eclesiásticas, que
ela possa nascer dos esforços conjugados de todos os esposos e de todos
os pais, substituindo eles os confessores junto de suas esposas e de suas
filhas.
____Muitas
vezes, quando procurado por consciências polutas, que me vinham fazer o
triste relato de suas existências repletas de deslizes, eu nunca me senti
com autoridade bastante para ouvi-las.
[71 - página 51] EMMANUEL - 1938 |