____Em
outro lugar e de outra forma, falei especialmente ao coração, usando
linguagem simples, adaptada aos humildes e aos justos que sabem chorar e
crer. Aqui falo à inteligência, à razão cética, à ciência sem fé,
a fim de vencê-la, superando-a com suas próprias armas. A palavra doce
que atrai e arrasta, porque comove, foi dita. Indico-vos agora a mesma
meta, mas por outros caminhos, feitos de ousadias e potência de
pensamento, pois quem pede isso não saberia ver de outra forma, por
faltar-lhe a fé ou incapacidade de orientação para compreender. ____O
pensamento humano avança. Cada século, cada povo segue um conceito de
acordo com o desenvolvimento que obedece a leis a que estais submetidos.
Em qualquer campo, a nova ideia vem sempre do Alto e é intuída pelo gênio.
Depois, dela vos apoderais, a observais, a decompondes, a viveis,
passando, então, à vossa vida e às leis. Assim, desce a ideia e,
quando se fixa na matéria, já esgotou seu ciclo, já aproveitastes todo
seu suco e a jogais fora para absorverdes, em vossa alma individual e
coletiva novo sopro divino. ____Vosso
século possuiu e desenvolveu uma ideia toda própria que os séculos
precedentes não viam, pois estavam atentos em receber e desenvolver
outras. Vossa ideia foi a ciência, com que acreditastes descobrir o
absoluto, embora essa também seja uma ideia relativa que, esgotado seu
ciclo, passa; eu venho falar-vos exatamente porque ela está passando. ____Vossa
ciência lançou-se num beco escuro, sem saída, onde vossa mente não tem
amanhã. Que vos deu o último século? Máquinas como jamais o
mundo as teve (mas que, no entanto, são apenas máquinas) e, em compensação,
ressecou vossa alma. Essa ciência passou como um furacão destruidor de
toda a fé e vos impõe, com a máscara do ceticismo, um rosto sem alma.
Sorris despreocupados, mas vosso espírito morre de tédio e ouvem-se
gritos dilacerantes. Até vossa própria ciência é uma espécie de
desespero metódico, fatal, sem mais esperanças. Terá ela resolvido o
problema da dor? Que uso sabe fazer dos poderosos meios que lhe
deram os segredos arrancados da natureza? Em vossas mãos, o saber e a
força transformam-se sempre em meios de destruição.
____Para
que serve, então, o saber,
se ao invés de impulsionar-vos para o Alto, tornando-vos melhores, para vós
se torna instrumento de perdição? Não riais, ó céticos, que julgais
ter resolvido tudo, porque sufocastes o grito de vossa alma que anseia por
subir! A dor vos persegue e vos encontrará em qualquer lugar. Sois crianças que julgais evitar o perigo escondendo a cabeça e
fechando os olhos, mas existe uma Lei, invisível para vós, todavia mais
forte que a rocha, mais poderosa que o furacão, que caminha inexorável
movimentando tudo, animando tudo; essa Lei é Deus. Ela está dentro de vós, vossa vida é uma exteriorização dela e
derramará sobre vós alegria ou dor, de acordo com a justiça, como o
merecerdes. Eis a síntese que vossa ciência, perdida nos infinitos
pormenores da análise, jamais poderá reconstituir. Eis a visão unitária,
a concepção apocalíptica que venho trazer-vos. ____Para
que me possa fazer compreender, é mister que fale de acordo com vossa
mentalidade e me coloque no momento psicológico que vosso século está
vivendo. É indispensável que eu parta justamente dos postulados da vossa
ciência, para dar-lhe uma direção totalmente nova. Vosso sistema de
pesquisa objetiva, à base da observação e experiência, não vos pode
levar além de certos resultados. Cada meio pode fornecer certo rendimento
e nada mais, e a razão é um meio. A análise não poderia chegar à
grande síntese, grande aspiração que ferve no fundo de todas as almas,
senão por meio de um tempo infinito, de que não dispondes.Vossa ciência arrisca-se a não concluir jamais e o
“ignorabimus” quer dizer falência. A tarefa da ciência não pode ser
apenas a de multiplicar vossas
comodidades.Não
estranguleis, não sufoqueis a luz de vosso espírito, única alegria e
centelha da vida, até o ponto de tornar a ciência, que nasce do vosso
intelecto, uma fábrica de
comodidades. Esta é prostituição do espírito, é vergonhosa venda
de vós mesmos à matéria. A
ciência pela ciência não tem valor, vale apenas como meio de ascensão
da vida. Vossa ciência tem um pecado original: dirigir-se apenas à
conquista do bem-estar material. A verdadeira ciência deve ter como
finalidade tornar melhores os homens. Eis a nova estrada que precisa ser
palmilhada. Essa é a minha ciência. ____* * * ____Não
falo para ostentar sabedoria ou para satisfazer a curiosidade humana, vou
direto ao objetivo: para melhorar-vos moralmente, pois venho para
fazer-vos o bem. Não me vereis despender qualquer esforço para adaptar e
enquadrar meu pensamento ao pensamento filosófico humano, ao qual me
referirei o menos possível. Ao contrário, ver-me-eis permanecer
continuamente em contato com a fenomenologia do universo.
Importa escutar verdadeiramente essa voz, que contém o pensamento de
Deus. Compreendei-me, vós que não acreditais, vós céticos, que julgais
sabedoria a ignorância das coisas do espírito e, no entanto, admirais o
esforço de conquista que o homem, diariamente, exerce sobre as forças da
natureza. Ensinar-vos-ei a vencer a morte, a superar a dor, a viver na grandiosidade imensa de vossa vida eterna . Não
acorrereis com entusiasmo ao esforço necessário para obter tão grandes
resultados? Vamos, pois, homens de boa vontade, ouvi-me! Primeiro
compreendei-me com o intelecto e quando este ficar iluminado e virdes
claramente a nova estrada que vos traço, palpitará também vosso coração
e nele se acenderá a chama da paixão, para que a luz se transmude em
vida e o conceito em ação. ____O
momento é crítico, mas é mister avançar. E então (coisa incrível
para a construção psicológica que o último século imprimiu em vós)
nova verdade vos é comunicada por meios que desconheceis, para que
possais descobrir o novo caminho. O Alto, que vos é invisível, nunca
deixou de intervir nos momentos culminantes da História. Que sabeis do
amanhã, que sabeis da razão por que vos falo? Que podeis imaginar
daquilo que o tempo vos prepara, vós, que estais imersos no átimo
fugidio? Indispensável avançar, mais que isso não vos seria possível.
As vias da arte, da literatura, da ciência, da vida social estão
fechadas, sem amanhã. Não tendes mais o alimento do espírito e
remastigais coisas velhas que já são produtos de refugo e devem ser
expelidos da vida. Falarei do espírito e vos reabrirei aquela estrada
para o infinito, que a razão e a ciência vos fecharam. ____Ouvi-me,
pois. A razão que utilizais é um instrumento que possuís para prover os
misteres, as necessidades mais externas da vida: conservação do indivíduo
e da espécie. Quando lançais este instrumento no grande mar do
conhecimento, ele se perde, porque neste campo, os sentidos (que muito
servem para vossas necessidades imediatas) somente exploram a superfície
das coisas e sua incapacidade absoluta de penetrar a essência vós a
sentis. A observação e a experiência, de fato, deram-vos apenas
resultados exteriores de índole prática, mas a realidade profunda vos
escapa porque o uso dos sentidos como instrumento de pesquisa, embora
ajudado por meios adequados, vos fará permanecer sempre na superfície,
fechando-vos o caminho do progresso. ____Para avançar ainda, é preciso despertar,
educar, desenvolver uma faculdade mais profunda: a intuição.
Aqui entram em função elementos complementares novos para vós. Algum
cientista jamais pensou que, para compreender um fenômeno, fosse
indispensável a própria purificação moral?
Partindo da negação e da dúvida, a ciência colocou a priori uma
barreira intransponível entre o espírito do observador e o fenômeno. O
eu que observa permanece sempre intimamente estranho ao fenômeno,
atingido apenas pela estrada estreita dos sentidos. Jamais o cientista
abriu sua alma, para que o mistério encarasse o próprio mistério e se
comunicassem e se compreendessem. O cientista jamais pensou que é
preciso amar o fenômeno, tornar-se
o fenômeno observado, vivê-lo; é indispensável transportar o próprio
Eu, com sua sensibilidade, até o centro do fenômeno, não apenas com uma
comunhão, mas com uma verdadeira transfusão de alma. ____Compreendeis-me? Nem todos
poderão compreender, pois ignoram o grande princípio do amor;
ignoram que a matéria
é, em todas as suas formas (até nas menores) sustentada, guiada,
organizada pelo espírito que, em diversos graus de manifestação, existe
por toda a parte. Para compreender a essência das coisas, tereis que
abrir as portas de vossa alma e estabelecer, pelos caminhos do espírito,
essa comunicação interior, entre espírito e espírito; deveis sentir a
unidade da vida que irmana todos os seres, desde o mineral até o homem,
em trocas de interdependências, numa lei comum; deveis sentir esse
liame de amor com todas as outras formas da vida, porque tudo, desde o
fenômeno químico até o social, é vida, regida por um princípio_espiritual. Para compreender, é necessário que possuais uma
alma pura e que um liame de simpatia vos una a todo o criado. A ciência
ri de tudo isso e por esse motivo deve limitar-se a produzir comodidades e nada mais. Nisto que vos estou a dizer reside exatamente a nova orientação que a personalidade
humana deve conseguir, para poder avançar.
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- A GRANDE SÍNTESE - Ciência e razão] |