____Interrogai
o vosso bom-senso, a vossa razão e perguntai-lhes se uma condenação
perpétua,
motivada por alguns momentos de erro, não seria a negação da bondade de Deus. ____Que
é, com efeito, a duração da vida, ainda quando de cem anos, em face da
eternidade? ____Eternidade!
Compreendeis bem esta palavra? Sofrimentos, torturas
sem-fim, sem esperanças,
por causa de algumas faltas ! O vosso juízo não repele semelhante ideia? Que os antigos
tenham considerado o Senhor do Universo um Deus terrível, cioso e vingativo, concebe-se. ____Na ignorância em que se achavam, atribuíam à divindade as paixões_dos_homens.
Esse, todavia, não é o Deus dos cristãos, que classifica como virtudes
primordiais o
amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas. Poderia Ele
carecer das qualidades,
cuja posse prescreve, como um dever, às Suas criaturas? Não haverá contradição
em se Lhe atribuir a bondade infinita e a vingança também infinita? Dizeis
que, acima
de tudo, Ele é justo e que o homem não Lhe compreende a justiça. Mas, a
justiça não exclui
a bondade e Ele não seria bom, se condenasse a eternas e horríveis penas a
maioria das
suas criaturas. Teria o direito de fazer da justiça uma obrigação para Seus
filhos, se lhes não
desse meio de compreendê-la? Aliás, no fazer que a duração_das_penas dependa
dos esforços
do culpado não está toda a sublimidade da justiça unida à bondade? Aí é
que se encontra
a verdade desta sentença: "A cada um segundo as suas obras."
SANTO
AGOSTINHO. [9a - página 464 questão 1009]
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