Relato,
feito por André Luiz (espírito) , a respeito de uma psicografia intuitiva ocorrida num grupo de, aproximadamente, onze pessoas que participavam de uma reunião mediúnica. A médium Eulália era a que mais se aproximava do tipo necessário para se comunicar com o
espírito de um médico que pretendia se manifestar, conforme segue :
" ...No entanto, o nosso amigo médico não encontra na organização_psicofísica da médium elementos afins perfeitos:
- nossa colaboradora não se liga a ele através
de todos os seus centros
perispirituais
- não é capaz de elevar-se à mesma
freqüência_de_vibração em que se acha o comunicante
- não possui suficiente espaço interior para
comungar-lhe as ideias e conhecimentos
- não lhe absorve o entusiasmo total pela Ciência,
por ainda não trazer de outras_existências, nem haver construído, na experiência atual, as
necessárias teclas evolucionárias, que só o trabalho sentido e vivido lhe
pode conferir.
Eulália manifesta, contudo, um grande poder o da boa vontade criadora, sem o qual é impossível o início da
ascensão às zonas mais altas da vida. É a porta mais importante, pela qual se
entenderá com o médico desencarnado. Este, a seu turno, para realizar o nobre
desejo que o anima, vê-se compelido, em face das circunstâncias, a pôr de
lado a nomenclatura oficial, a técnica científica, o patrimônio de palavras
que lhe é peculiar, as definições novas, a ficha de renome, que lhe coroa a
memória nos círculos dos conhecidos e dos clientes. Poderá identificar-se com Eulália para a mensagem precisa, usando também, a seu turno, a boa vontade; e,
adotando esta forma de comunicação, valer-se-á, acima de tudo, da comunhão
mental, reduzindo ao mínimo a influência sobre os centros neuropsíquicos;
é que, em matéria de mediunismo,
há tipos idênticos de
faculdades, mas enormes desigualdade nos graus de capacidade receptiva, os quais
variam infinitamente, como as pessoas ...... Calderaro, o orientador espiritual, faz uma observação: todas
as pessoas, participantes da reunião, em posição receptiva estão absorvendo a emissão mental do
comunicante (do médico), cada qual a seu modo ......Circulei a mesa e vi que os raios de força positiva do
mensageiro (do médico) efetivamente incidiam em oito pessoas. Reconheci que o tema central
do desejo formulado por nosso amigo, no tocante ao projeto de assistência aos
enfermos, alcançava o cérebro
dos que se conservavam em atitude passiva; na tela animada de concentração
de energias_mentais,
cada irmão recebia o influxo sugestivo, que
de logo lhes provocava a livre associação dos psicanalistas.
Fixei as particularidades com atenção.
Ao receberem a emissão de forças do trabalhador do bem (do médico),
- um cavalheiro recordou
comovente paisagem de hospital
- Outro rememorou o exemplo
de uma enfermeira bondosa que com ele travara relações
- Outro abrigou pensamentos
de simpatia para com os doentes desamparados
- duas senhoras se
lembraram da caridosa missão de Vicente de Paulo
- a uma velhinha acudiu a
ideia de visitar algumas pessoas acamadas que lhe eram
queridas;
- um jovem reportou-se, em silêncio, a notáveis
páginas que lera sobre piedade fraternal para com todos os
semelhantes afastados do equilíbrio físico.
Examinei também as três pessoas que se mantinham impermeáveis ao serviço
benemérito daquela hora. Duas delas contristavam-se por haver perdido uma
sessão cinematográfica, e a outra, uma senhora na idade provecta,
retinha a mente na lembrança das ocupações domésticas, que supunha
imperiosas e inadiáveis, mesmo ali, num círculo de oração, onde devera
beneficiar-se com a paz.
Somente Eulália recebia o apelo do comunicante com mais nitidez.
Sentia-se ao seu lado: envolvia-se em seus pensamentos; possuía-se, não
só de receptividade, mas também de boa disposição para servi-lo.
Decorridos alguns minutos de expectativa e de preparo silencioso, a mão
da médium, orientada pelo médico e movida em cooperação com os estímulos
psicofísicos da intermediária, começou a escrever, em caracteres
irregulares, denunciando o natural conflito de
diferentes, mas empenhados num só objetivo — a produção de uma obra
elevada.
Mais alguns momentos, e fazia-se a leitura do pequeno texto obtido. O
comunicado era vazado em forma singela, como um apelo fraternal:
- Meus
irmãos — escrevera o emissário —, que Deus nos abençoe.
- Identificados
na construção do bem, trabalhemos na assistência aos enfermos,
necessitados de nosso concurso entre os longos sofrimentos da provação
terrestre, O serviço pertence à boa vontade unida à fé viva. E a
sementeira reclama trabalhadores abnegados, que ignorem cansaço,
tristeza e desânimo.
- Sigamos
para a frente.
- Cada
pequenina demonstração de esforço próprio, nas realizações da caridade, receberá do Senhor a Divina Bênção.
- Aprendamos,
pois, a socorrer nossos amigos doentes. Através de espessa noite de
dor, sofrem e choram, muita vez em pleno abandono.
- Não
vos magoará a contemplação de tal quadro? Lembremo-nos dAquele
Divino Médico que passou, no mundo, fazendo o bem. DEle receberemos a
força necessária para progredir. Estará conosco na grande jornada
de comiseração pelos que padecem.
- Fiamos
em vós, em vossa dedicação à causa da bondade evangélica.
- A
estrada será talvez difícil e fragosa; entretanto, o Senhor
permanecerá conosco.
- Prossigamos,
intimoratos, e que Ele nos
abençõe agora e sempre.
O comunicante assinou o nome, e, daí a alguns minutos, encerravam-se os
serviços espirituais da noite.
O presidente da sessão, seguido pelos demais companheiros, iniciou o
estudo e debate da mensagem. Concordou-se em que era edificante na essência,
mas não apresentava índices concludentes da identificação individual;
não procedia, possivelmente, do conhecido profissional que a subscrevera;
faltavam-lhe os característicos especiais, pois um médico usaria
nomenclatura adequada, e se afastaria da craveira comum.
E a tese_animista apareceu como tábua de salvação para todos.
Transferiu-se a conversação para complicadas referências ao mundo
europeu; falou-se extensamente de Richet e do metapsiquismo internacional;
Pierre Janet, Charcot, De Rochas e Aksakof eram a cada passo trazidos à
balha.
O comunicante, em nosso plano de ação, o médico, dirigiu-se, desapontado, ao meu
orientador e comentou: — Ora
essa! jamais desejei despertar semelhante polêmica doméstica.
Pretendemos algo diferente. Bastar-nos-ia um pouco de amor pelos enfermos,
nada mais.
Calderaro sorriu, sem dizer palavra, e evidenciando preocupação em
objetivo mais importante, acercou-se de Eulália, entristecida.
A médium ouvia as definições preciosas com irrefreável amargura.
Turvara-se-lhe a mente, agora, empanada por densos véus de dúvida. A
argumentação em curso nublava-lhe o entendimento. Marejavam-se-lhe os
olhos de lágrimas, que não chegavam a cair.
Abeirando-se
dela, o instrutor falou-me, bondoso: — Nossos amigos encarnados nem
sempre examinam as situações pelo prisma da justiça real. Eulália é
colaboradora preciosa e sincera. Se ainda não completou as aquisições
culturais no campo científico, é suficientemente rica de amor para
contribuir à sementeira de luz. Encontra-se, porém, desabrigada, entre
os companheiros invigilantes. Permanece sozinha e, assediada como está,
é suscetível de abater-se. Auxiliemo-la sem detença.A destra do Assistente espalmada sobre a cabeça de nossa respeitável irmã
expendia brilhantes raios, que lhe desciam do encéfalo ao tórax, qual
fluxo renovador.
A médium, que antes parecia torturada, sopitando a custo a natural reação
às opiniões que ouvia, voltou à serenidade. Caiu-lhe a máscara de
descontentamento, dissipou-se-lhe a tristeza destrutiva; os centros_perispiríticos tornaram à normalidade; a epífise irradiou branda luz.
As nuvens de mágoa, que se lhe esboçavam na mente, esfumaram-se como por
encanto. Em suma, amparada pela atuação direta do meu orientador, Eulália
sabia dos percalços do trabalho e mergulhava-se gradativamente no ameno
clima da compreensão.
Restabelecendo-lhe a tranquilidade, o instrutor, em seguida, conservou as
mãos apoiadas aos lobos_frontais, agindo-lhe sobre as fibras inibidoras.
Observei, então, nova mudança. A mente da médium, como que se
introvertia, desinteressando-se da conversação em torno e ficando mais
atenta ao nosso campo de ação. O contacto benéfico do Assistente
cortava-lhe, de modo imperceptível para ela, o interesse pelas referências
sem proveito, convocando-a a mais íntimo intercâmbio conosco.
Com ternura paternal, Calderaro, conservando as mãos na mesma postura,
inclinou-se-lhe aos ouvidos e falou carinhosamente: — « Eulália,
não desanimes! A fé representa a força que sustenta o espírito na
vanguarda do combate pela vitória da luz divina e do amor universal.
Nossos amigos não te acusam, nem te ferem: tão somente dormem na ilusão
e sonham, apartados da verdade; exculpa-os pelas futilidades do momento.
Mais tarde eles despertarão para o esforço de espalhar-se o bem ...
Investigam com os olhos a superfície das coisas, mas seus ouvidos ainda não
escutaram o sublime apelo à redenção. Sigas para a frente. Estaremos
contigo na tarefa diária. E’ necessário amar e perdoar sempre,
esquecendo o dia obscuro, a fim de alcançar os milênios luminosos. Não
desfaleças! O Eterno Pai te abençoará.
Reparei que Eulália não registrava aquelas palavras com os tímpanos de
carne. Encheram-se-lhe os lobos frontai s de intensa luz. As frases
comovedoras do instrutor represaram-se-lhe no cérebro e no coração,
quais pensamentos sublimes que lhe calam do céu, saturados de calor
reconfortante e bendito.
Sim — respondia, do fundo d’alma, a devotada colaboradora, embora os lábios
se lhe cerrassem no incompreendido silêncio ..."
[25 - página 132] André Luiz |
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