____Médiuns
interesseiros não são apenas os que porventura exijam uma
retribuição fixa; o interesse nem sempre se traduz pela esperança de um ganho
material, mas também pelas ambições de toda sorte, sobre as quais se fundem
esperanças pessoais.____É
esse um dos defeitos de que os Espíritos_zombeteiros sabem muito bem tirar partido e de que se aproveitam com
uma habilidade, uma astúcia verdadeiramente notáveis, embalando com falaciosas
ilusões os que desse modo se lhes colocam sob a dependência. ____Em
resumo, a mediunidade é uma faculdade concedida para o bem e os bons Espíritos
se afastam de quem pretenda fazer dela um degrau para chegar ao que quer que
seja, que não corresponda às vistas da Providência. ____O
egoísmo é a chaga da
sociedade; os bons Espíritos a combatem; a ninguém, portanto, assiste o
direito de supor que eles o venham servir. Isto é tão racional, que inútil
fora insistir mais sobre este ponto. [17b - página 410 item 306]
____Como
tudo pode tornar-se objeto de exploração, nada de surpreendente haveria em que
também quisessem explorar os Espíritos. Diremos desde logo que nada se
prestaria melhor ao charlatanismo e à
trapaça do que semelhante ofício.
____Muito
mais numerosos do que os falsos sonâmbulos,
que já se conhecem, seriam os falsos médiuns e este simples fato constituiria
fundado motivo de desconfiança. O desinteresse, ao contrário, é a mais
peremptória resposta que se pode dar aos que nos fenômenos só vêem
trampolinices. Não há charlatanismo desinteressado. Qual, pois, o fim que objetivariam os que usassem de
embuste sem proveito, sobretudo quando a honorabilidade os colocasse acima de
toda suspeita? [17b - página 408 item 304]
____Não estão no mesmo caso os sonâmbulos que empregam sua faculdade de
modo
lucrativo. Conquanto essa exploração esteja sujeita a abusos e o desinteresse constitua
a maior garantia de sinceridade, a posição é diferente, tendo-se em vista que
são
seus próprios Espíritos que agem. Estes, por conseguinte, lhes estão sempre
à disposição
e, em realidade, eles só exploram a si mesmos, porque lhes assiste o direito de
disporem de suas pessoas como o entenderem, ao passo que os médiuns especuladores
exploram as almas dos mortos. [17b - página 413 item 312]
____Quem
haja compreendido bem o que dissemos das condições necessárias para que uma
pessoa sirva de intérprete
dos bons_Espíritos,
das múltiplas causas que os podem afastar, das circunstâncias que,
independentemente da vontade deles, lhes sejam obstáculos à vinda, enfim de
todas as condições morais capazes de exercer influências sobre a natureza
das comunicações. ____Os Espíritos_levianos são menos escrupulosos e só procuram ocasião de se
divertirem à nossa custa, segue-se que, quando não se seja mistificado_por_um_falso_médium, tem-se toda a probabilidade de o ser por alguns
de tais Espíritos. Estas sós reflexões dão a ver o grau de confiança
que se deve dispensar às comunicações deste gênero. ____Ao
demais, para que serviriam hoje médiuns pagos, desde que qualquer pessoa, se
não possui faculdade_mediúnica,
pode tê-la nalgum membro da sua família, entre seus amigos, ou no círculo de
suas relações? [17b - página 409 item 305]
|
____Não
estão na mesma categoria os médiuns_de_efeitos_físicos, pois que estes
geralmente são produzidos por Espíritos_inferiores, menos escrupulosos. Não
dizemos que tais Espíritos sejam por isso necessariamente maus. Pode-se ser um
simples carregador e ao mesmo tempo homem muito honesto. Um médium, pois, desta
categoria, que quisesse explorar a sua faculdade, muitos Espíritos talvez
encontraria, que sem grande repugnância o assistissem. Mas, ainda aí outro
inconveniente se apresenta. O médium de efeitos físicos, do mesmo modo que o
de comunicações inteligentes, não recebeu para seu gozo a faculdade que
possui. Teve-a sob a condição de fazer dela bom uso; se, portanto, abusa, pode_dar-se_que_lhe_seja_retirada, ou que redunde em detrimento seu, por que, afinal,
os Espíritos inferiores estão subordinados
aos
Espíritos superiores. ____Aqueles
gostam muito de mistificar, porém, não de ser mistificados; se se prestam de
boa-vontade ao gracejo, às coisas de mera curiosidade, porque lhes apraz
divertirem-se, também é certo que, como aos outros, lhes repugna ser
explorados, ou servir de comparsas, para que a receita aumente, e a todo
instante provam que têm vontade própria, que agem quando e como bem lhes
parece, donde resulta que o médium de efeitos físicos ainda menos certeza pode
ter da regularidade das manifestações, do que o médium_escrevente. Pretender
produzi-los em dias e horas determinados, fora dar prova da mais profunda
ignorância. Que há de ele então, fazer para ganhar seu dinheiro? Simular os
fenômenos. É o a que naturalmente recorrerão, não só os que disso façam um
ofício declarado, como igualmente pessoas aparentemente simples, que acham mais
fácil e mais cômodo esse meio de ganhar a vida, do que trabalhando. Desde que
o Espírito não dá coisa alguma, supre-se a falta: a imaginação é tão
fecunda, quando se trata de ganhar dinheiro! Constituindo um motivo legítimo de
suspeita, o interesse dá direito a rigoroso
exame, com o qual ninguém poderá ofender-se, sem justificar as suspeitas. [17b - página 410 item 307]
____A
faculdade_mediúnica, mesmo restrita às
manifestações
físicas, não foi dada
ao homem para ostentá-la nos teatros de feira e quem quer que pretenda ter às suas
ordens os Espíritos, para exibir em público, está no caso de ser, com
justiça, suspeitado
de charlatanismo, ou de mais ou menos hábil
prestidigitação. Assim se
entenda
todas as vezes que apareçam anúncios de pretendidas sessões de Espiritismo,
ou
de Espiritualismo, a tanto por cabeça. Lembrem-se todos do direito que compram
ao entrar. ____De
tudo o que precede, concluímos que o mais absoluto desinteresse é a melhor garantia
contra o charlatanismo. Se ele nem sempre
assegura a excelência das comunicações
inteligentes, priva, contudo, os maus Espíritos de um poderoso meio de ação
e fecha a boca a certos detratores. [17b - página 411 item 308]
____Dir-se-á, talvez, que um médium, que consagra todo o seu tempo ao
público,
no interesse da causa, não o pode fazer de
graça, porque tem que viver. Mas, é no
interesse da causa, ou no seu próprio, que ele o emprega? Não será, antes,
porque vê nisso
um ofício lucrativo? A tal preço, sempre haverá gente dedicada. Não tem
então ao seu
dispor senão essa indústria? Não esqueçamos que os Espíritos, seja qual for
a sua superioridade,
ou inferioridade, são as almas dos mortos e que, quando a moral e a religião
prescrevem como um dever que se lhes respeitem os restos mortais, maior é ainda
a obrigação, para todos, de lhes respeitarem o Espírito. ____Que
diriam daquele que, para ganhar dinheiro, tirasse um corpo do túmulo e o exibisse
por ser esse corpo de natureza a provocar a curiosidade? Será menos desrespeitoso,
do que exibir o corpo, exibir o Espírito, sob pretexto de que é curioso ver-se
como age um Espírito? E note-se que o preço dos lugares será na razão direta
do que
ele faça e do atrativo do espetáculo. ____Cumpre
não olvidar que as manifestações físicas, tanto quanto as inteligentes, Deus
só as permite para nossa instrução. [17b - página 412 item 310]
____Postas de parte estas considerações morais, de nenhum modo contestamos
a
possibilidade de haver médiuns interesseiros,
se bem que honrados e conscienciosos, porquanto
há gente honesta em todos os ofícios. Apenas falamos do abuso. Mas, é preciso
convir, pelos motivos que expusemos, em que mais razão há para o abuso entre os
médiuns retribuídos, do que entre os que, considerando uma graça a faculdade mediúnica,
não a utilizam, senão para prestar serviço. ____O
grau da confiança ou desconfiança que se deve dispensar a um médium retribuído
depende, antes de tudo, da estima que infundam seu caráter e sua moralidade, além
das circunstâncias. O médium que, com um fim eminentemente sério e útil, se achasse
impedido de empregar o seu tempo de outra maneira e, em conseqüência, se visse
exonerado, não deve ser confundido com o médium especulador, com aquele que,
premeditadamente,
faça da sua mediunidade uma indústria. Conforme o motivo e o fim, podem,
pois, os Espíritos condenar, absolver e, até, auxiliar. Eles julgam mais a
intenção do
que o fato material. [17b - página 413 item 311]
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