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Muitas
comunicações há, de tal modo absurdas, que, embora assinadas com os mais
respeitáveis nomes, o senso comum basta para lhes tornar patente a falsidade.Outras,
porém, há, em que o erro, dissimulado entre coisas aproveitáveis, chega a
iludir, impedindo às vezes se possa apreendê-lo â primeira vista. Essas comunicações, no entanto, não resistem a um exame sério. Vamos,
como amostra, reproduzir aqui algumas.
Como
é bela a Natureza! Como é prudente a providência, na sua previdência! Mas, a
vossa cegueira e as vossas paixões humanas impedem que tireis paciência da
prudência e da bondade de Deus. A menor nuvem, ao menor atraso nas vossas
previsões, vós vos lamentais. Sabei, impacientes duvidadores, que nada
acontece sem um motivo sempre previsto, sempre premeditado em proveito de todos.
A razão do que precede é para reduzir a nada, homens de temores hipócritas,
todas as 'vossas previsões de ano mau para as vossas colheitas.Deus
freqüentemente inspira aos homens a inquietação pelo futuro, para os impelir
à previdência; e vede como grandes são os meios para dar a última demão aos
vossos temores intencionalmente espalhados e que, as mais das vezes, ocultam
pensamentos ávidos, antes que uma ideia de cauteloso aprovisionamento,
inspirado por um sentimento de humanidade a favor dos pequenos. Vede as
relações de nações a nações que daí resultarão; vede que transações
deverão efetuar-se; quantos meios virão concorrer a reprimir os vossos
temores! pois, como sabeis, tudo se encadeia; por isso, grandes e pequenos
virão à obra.Então,
não vedes já em todo esse movimento uma fonte de certo bem-estar para a classe
mais laboriosa dos Estados, classe verdadeiramente interessante, que, vós os
grandes, os onipotentes dessa terra, considerais gente tosquiável à vontade,
criada para as vossas satisfações?Ora bem, que acontece depois de todo esse vaivém de um pólo a outro? E que, uma vez bem providos, muitas vezes o tempo mudou; o Sol, obedecendo ao pensamento de seu criador, amadureceu em alguns dias as vossas sementeiras; Deus pôs a abundância onde a vossa cobiça meditava sobre a escassez e, mau grado vosso, os pequenos poderão viver; e, sem suspeitardes disso, fostes, a vosso mau grado, causa de uma abundância.Entretanto, sucede - Deus o permite algumas vezes - que os maus tenham êxito em seus projetos cúpidos, mas então é um ensinamento que Deus quer dar a todos; é a previdência humana que ele quer estimular: é a ordem infinita que reina na Natureza, é a coragem contra os acontecimentos que os homens devem imitar, que devem suportar com resignação.Quanto aos que, por cálculo, aproveitam dos desastres, crede-o, serão punidos. Deus quer que todos os seus seres vivam; o homem não deve brincar com a necessidade, nem traficar com o supérfluo. Justo em seus benefícios, grande na sua demência, demasiado bom para com a nossa ingratidão, Deus, em seus desígnios, é impenetrável. Bossuet. Alfredo de Marignac.
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