- Cantávamos
hinos de louvor com Krishna, aprendendo o conceito da
imortalidade da
alma, à sombra
das árvores augustas que aspiram aos cimos do Himalaia, e descíamos, logo
depois, ao vale do Ganges, matando e destruindo para gozar e possuir.
- Soletrávamos
o amor universal com Sidarta Gautama, e perseguíamos os semelhantes, em aliança
com os guerreiros cingaleses e hindus.
- Fomos herdeiros da Sabedoria, nos tempos
distantes da Esfinge, e, no entanto, da reverência aos mistérios da iniciação
passávamos à hostilidade sanguissedenta, nas margens do Nilo.
- Acompanhando
a arca simbólica dos hebreus, reiteradas vezes líamos os mandamentos de Jeová, contidos nos rolos sagrados, e, desatentos, os esquecíamos, ao
primeiro clamor de guerra aos filisteus.
- Chorávamos de comoção religiosa em Atenas, e
assassinávamos nossos irmãos em Esparta.
- Admirávamos Pitágoras, o filósofo,
e seguíamos Alexandre, o conquistador.
- Em Roma, conduzíamos oferendas
valiosas aos deuses, nos maravilhosos santuários, exaltando a virtude, para
desembainhar as armas, minutos depois, no átrio dos templos, disseminando a
morte e entronizando o crime
- escrevíamos formosas sentenças de respeito à
vida, com Marco Aurélio, e ordenávamos a matança de pessoas limpas de culpa
e úteis à sociedade.
- Com Jesus, o Divino
Crucificado, nossa atitude não
tem sido diferente.
- Sobre os despojos dos mártires, imolados nos circos, vertemos
rios de sangue em vindita cruel, armando fogueiras do sectarismo religioso.
- Suportamos administradores arbitrários e ignominiosos, de Nero a Diocleciano, porque tínhamos fome de poder, e quando Constantino nos abriu as
portas da dominação política, convertemo-nos de servos aparentemente fiéis
ao Evangelho em criminosos árbitros do mundo.
- Pouco a pouco esquecemos os
cegos de Jericó, os paralíticos de Jerusalém, as crianças do Tiberíades,
os pescadores de Cafarnaum, para afagar as testas coroadas dos triunfadores,
embora soubéssemos que os vencedores da Terra não
podem fugir à peregrinação
ao sepulcro.
- Tornou-se a ideia do Reino de Deus fantasia de ingênuos, pois não
largávamos o lado direito dos príncipes, sequiosos de fastígio mundano.
- Ainda hoje, decorridos quase vinte séculos sobre a cruz do Salvador, benzemos
baionetas e canhões, metralhadoras e tanques de assalto, em nome do Pai Magnânimo,
que faz refulgir o sol da misericórdia sobre os justos e sobre os injustos.
É
por esta razão que nossos celeiros de luz permanecem vazios. O vendaval das paixões fulminantes de homens e de povos passa ululante, de um a outro pólo,
a semear maus presságios.
____Até
quando seremos gênios demolidores e perversos? Ao invés de servos leais do
Senhor da Vida, temos sido soldados dos exércitos da ilusão, deixando à
retaguarda milhões de túmulos, abertos sob aluviões de cinza e fumo. Debalde
exortou-nos o Cristo a buscar as manifestações do
Pai em nosso próprio íntimo. Cevamos e expandimos unicamente: ____Contraímos pesados débitos
e escravizamo-nos aos tristes resultados de nossas obras, deixando-nos ficar,
indefinidamente, na messe dos espinhos.
____Foi
assim que atingimos a época moderna, em que a
loucura se generaliza e a
harmonia mental do homem está a pique de soçobro. De cérebro
evolvido e
coração imaturo, requintamo-nos, presentemente, na arte de esfacelar o progresso espiritual.
[25 - página 26] - Preleção de Eusébio |