- Os Espíritos só têm a linguagem do pensamento; não dispõem da linguagem
articulada,
pelo que só há para eles uma língua. Assim sendo, poderia um Espírito exprimir-se,
por via mediúnica, numa língua que Jamais falou quando vivo. Essa língua do
pensamento todos a compreendem, tanto os homens como os Espíritos.
O Espírito_errante, quando se dirige ao Espírito encarnado do
médium, não
lhe
fala francês, nem inglês, porém, a língua universal que é a do pensamento.
Para exprimir
suas ideias numa língua articulada, transmissível, toma as palavras ao vocabulário
do médium. Se é assim, só na língua do médium deveria ser possível ao Espírito
exprimir-se. Entretanto,
é sabido que escreve em idiomas que o médium desconhece. Aí parece
haver uma contradição. Entretanto, nota,
primeiramente, que nem todos os médiuns são aptos a esse gênero de exercício
e, depois, que os Espíritos só acidentalmente a ele se prestam, quando julgam que
isso pode ter alguma utilidade. Para as comunicações usuais e de certa
extensão, preferem
servir-se de uma língua que seja familiar ao médium, porque lhes apresenta menos
dificuldades materiais a vencer.
(Ver: Linguagem dos Espíritos
e Linguagem a ser usada nas comunicações)
- A aptidão de certos médiuns para escrever numa língua que lhes é estranha
pode ser da circunstância de lhes ter sido familiar essa língua em outra
existência e de haverem
guardado a intuição dela. Mas não constitui regra. Com algum esforço, o Espírito
pode vencer momentaneamente a resistência material que encontra. É o que acontece
quando o médium escreve, na língua que lhe é própria, palavras que não conhece.
- Uma pessoa analfabeta
poderia escrever como médium. Mas é fácil de compreender-se que terá de vencer grande dificuldade
mecânica,
por faltar à mão o hábito do movimento necessário a formar letras. O mesmo sucede
com os médiuns desenhistas, que não sabem desenhar.
- Um
médium de pouca inteligência poderia transmitir comunicações de ordem
elevada. Pela mesma razão por que um médium pode escrever numa língua que lhe
seja
desconhecida. A mediunidade
propriamente dita independe da inteligência, bem como das qualidades morais. Em
falta de instrumento melhor, pode o Espírito servir-se daquele que tem à mão.
Porém,
é natural que, para as comunicações de certa ordem, prefira o médium que lhe
ofereça
menos obstáculos materiais. Acresce outra consideração: o idiota muitas vezes
só
o é pela imperfeição de seus órgãos, podendo, entretanto, seu Espírito ser
mais adiantado
do que o julguem. Tens a prova disso em certas evocações de idiotas, mortos ou
vivos.
NOTA.
Este é um fato que a experiência comprova. Por muitas vezes temos evocado
idiotas vivos que hão dado patentes provas de identidade e responderam com muita
sensatez e mesmo de modo superior. Esse estado é uma punição para o
Espírito, que
sofre com o constrangimento em que se vê. Um médium idiota pode, pois,
oferecer ao
Espírito que queira manifestar-se mais recursos de que se supunha.
|
- A
poesia é uma linguagem. Eles podem escrever em verso, como podem escrever
numa língua que desconheçam. Depois, é possível que tenham sido poetas em outra
existência e, como já te dissemos, os conhecimentos adquiridos jamais os perde
o Espírito,
que tem de chegar à perfeição em todas as coisas. Nesse caso, o que eles hão
sabido
lhes dá uma facilidade de que não dispõem no estado ordinário. O mesmo ocorre com os que têm aptidão especial para o desenho e a música. O desenho e a música também são maneiras de se exprimirem os
pensamentos.
Os Espíritos se servem dos instrumentos que mais facilidade lhes oferecem.
A expressão do pensamento pela poesia, pelo desenho, ou pela música, às
vezes, depende da aptidão especial do médium, às vezes, do Espírito. Os Espíritos superiores possuem todas
as aptidões. Os Espíritos inferiores só dispõem de conhecimentos
limitados.
- Nem
sempre um homem de extraordinário talento numa existência já não o
tem
na existência seguinte, pois que muitas vezes ele aperfeiçoa, numa existência, o
que
começou na precedente. Mas, pode acontecer que uma faculdade extraordinária dormite
durante certo tempo, para deixar que outra se desenvolva. E um gérmen latente, que
tornará a ser encontrado mais tarde e do qual alguns traços, ou, pelo menos,
uma vaga intuição sempre permanecem.
[17b - página 272 item 223]
|
____O
Espírito que se quer comunicar compreende, sem dúvida, todas as línguas, pois
que as línguas são a expressão do pensamento e é pelo pensamento que o
Espírito tem a compreensão de tudo; mas, para exprimir esse pensamento,
torna-se-lhe necessário um instrumento e este é o médium. A
alma do médium,
que recebe a comunicação de um terceiro, não a pode transmitir, senão pelos
órgãos de seu corpo. Ora, esses órgãos não podem ter, para uma língua que
o médium desconheça, a flexibilidade que apresentam para a que lhe é
familiar.
____Um
médium, que apenas saiba o francês, poderá, acidentalmente, dar uma resposta
em inglês, por exemplo, se ao Espírito apraz fazê-lo; porém, os Espíritos,
que já acham muito lenta a linguagem humana, em confronto com a rapidez do
pensamento, tanto assim que a abreviam quanto podem, se impacientam com a
resistência mecânica que encontram; daí, nem sempre o fazerem. Essa também a
razão por que um médium novato, que escreve penosa e lentamente, ainda que na
sua própria língua, em geral não obtém mais do que respostas breves e sem
desenvolvimento. Por isso, os Espíritos recomendam que, com um médium assim,
só se lhes dirijam perguntas simples. Para as de grande alcance, faz-se mister
um médium desenvolvido, que nenhuma dificuldade mecânica ofereça ao
Espírito. Ninguém tomaria para seu ledor um estudante que estivesse aprendendo
a soletrar. Um bom operário não gosta de servir-se de maus instrumentos.
____Acrescentemos
outra consideração de muita gravidade no que concerne às línguas
estrangeiras. Os ensaios deste gênero são sempre feitos por curiosidade e por
experiência. Ora, nada mais antipático aos Espíritos do que as provas a
que tentem sujeitá-los. A elas jamais se prestam os Espíritos superiores,
os quais se afastam, logo que se pretende entrar por esse caminho. Tanto se
comprazem nas coisas úteis e sérias, quanto lhes repugna ocuparem-se com
coisas fúteis e sem objetivo. E, dirão os incrédulos, para nos convencermos e
esse fim é útil, porque pode granjear adeptos para a causa dos Espíritos. A
isto respondem os Espíritos:
____"A nossa causa não precisa dos que têm orgulho
bastante para se suporem indispensáveis. Chamamos a nós os que queremos
e estes são quase sempre os mais pequeninos e os mais humildes. Fez
Jesus os milagres que lhe pediam os escribas? E de que homens se
serviu para revolucionar o mundo? Se quiserdes convencer-vos, de outros
meios dispondes, que não a força; começai por submeter-vos; não é
regular que o discípulo imponha sua vontade ao mestre." |
____Daí
decorre que, salvo algumas exceções, o médium exprime o pensamento dos
Espíritos pelos meios mecânicos que lhe estão à disposição e também que a
expressão desse pensamento pode e deve mesmo, as mais das vezes, ressentir-se
da imperfeição de tais meios. Assim, o homem inculto, o campônio, poderá
dizer as mais belas coisas, expressar as mais elevadas e as mais filosóficas
ideias, falando como campônio, porquanto, conforme se sabe, para os Espíritos
o pensamento a tudo sobrepuja. Isto responde a certas críticas a propósito das
incorreções de estilo e de ortografia, que se imputam aos Espíritos, mas que
tanto podem provir deles, como do médium. Apegar-se a tais coisas não passa de
futilidade. Não é menos pueril que se atenham a reproduzir essas incorreções
com exatidão minuciosa, conforme o temos visto fazerem algumas vezes.
____Lícito
é, portanto, corrigi-las, sem o mínimo escrúpulo, a menos que caracterizem o
Espírito que se comunica, caso em que é bom conservá-las, como prova de
identidade. Assim é, por exemplo, que temos visto um Espírito escrever
constantemente Jule (sem o s), falando de seu neto, porque, quando
vivo, escrevia desse modo, muito embora o neto, que lhe servia de médium,
soubesse perfeitamente escrever o seu próprio nome.
[17b - página 275 item 224]
|