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Um dos membros do nosso grupo descreveu do modo seguinte as estranhas aparições e desaparíções dessa criatura extraordinária:
- “No começo pode observar-se um objeto_branco,_vaporoso_e_membranoso sobre o soalho, diante do gabinete. Esse objeto vai, gradual e visivelmente, estendendo-se, como se fosse uma peça de musselina animada desdobrando-se sobre o chão, até atingir uma extensão de dois e meio a três pés, com uma espessura de seis ou mais polegadas. Depois, a parte central começa a elevar-se lentamente, como se fosse levantada por uma cabeça humana, enquanto as membranas nebulosas se assemelham, cada vez mais, a musselina a cair em pregas sobre o ponto misteriosamente surgido. Quando a massa atinge a altura de dois ou mais pés, dir-se-ia ser uma criança que ali se acha escondida sob um pano, agitando seus braços em todas as direções, como se manipulasse alguma coisa. A massa continua a elevar-se, baixando às vezes para levantar-se a maior altura que anteriormente, até subir cerca de cinco pés. Então, pode ver-se a figura do Espírito acomodando as dobras do pano que o envolve.
- “Depois, os braços elevam-se consideravelmente acima da cabeça, e Iolanda aparece, graciosa e bela, abrindo passagem através de uma massa de panos nebulosos. Ela tem cerca de cinco pés de altura; sua cabeça está envolta em um turbante, do qual os seus longos cabelos negros caem pelas costas.
- “Seu vestido, de aspecto oriental, deixa ver a forma de cada membro e todo o contorno do seu corpo; o excesso de pano branco, semelhante a um véu, ficava enrolado, ao redor do corpo por conveniência ou caindo no tapete, até que houvesse nova necessidade de operar; e, para fazer tudo isso, eram precisos cerca de dez ou quinze minutos.
- “Quando ela desaparece ou se desmaterializa, acontece o seguinte: Dando um passo para a frente, a fim de se mostrar e deixar verificar a sua identidade pelas pessoas presentes, Iolanda, lenta, mas deliberadamente, desenrola o leve estofo que lhe serve de véu, junta-o, coloca-o na cabeça e deixa-o cair por cima do seu corpo, como se fosse um grande véu de noiva; depois abaixa-se imediatamente, diminuindo de volume à medida que parece dobrar-se sobre si mesma, desmaterializando seu corpo, sob o pano vaporoso, até que não tenha mais semelhança alguma com Iolanda. Em seguida, desce ainda até perder todo o aspecto de uma forma humana, chegando rapidamente até doze ou quinze polegadas de altura. A figura cai então completamente e não representa mais que a forma de um montículo de pano. Literalmente, não são senão os vestidos de Iolanda que, lenta mas visivelmente, fundem-se a seu turno e desaparecem.
- “A desmaterialização do corpo de Iolanda consome de dois a cinco minutos, ao passo que o desaparecimento dos vestidos exige apenas de meio minuto a dois. Entretanto, ela deixou, uma vez, de desmaterializar os seus véus que ali ficaram no chão, e que outro Espírito, saindo do gabinete, veio contemplar com um ar de censura à pobre Iolanda. Quando esse Espírito, de talhe elevado, se retirou, apareceu a figura infantil de Nínia, a pequena espanhola, que veio ver também os despojos de Iolanda. Apanhando com curiosidade o estofo, ela envolveu-se nele, apesar de já trazer o seu corpinho vestido.”
____Um dia Iolanda saiu do gabinete e dirigiu-se a mim. Trazia o seu véu na cabeça e olhava curiosamente para outra parte do gabinete, com certeza esperando ver daí sair alguém. Com efeito, as cortinas abriram-se e uma grande figura emergiu e avançou à vista de todos. Tinha-nos divertido a impaciência de Iolanda por causa da demora que teve o Espírito em sair do gabinete, impaciência que ela exprimia batendo com o seu pé descalço no soalho. ____Outra de nossas misteriosas visitantes chamava-se Y-Ay-Ali, uma das criaturas mais belas que é possível imaginar-se. Suas formas esculturais, sua deslumbrante beleza, seu porte majestoso e seus graciosos movimentos faziam vivo constraste com os modos felinos de Iolanda. Y-Ay-Ali era com certeza criatura de algum mundo superior. Ela só se mostrou uma ou duas vezes, embora nos informassem de sua presença freqüente às sessões. Dos que a viram, nenhum poderá esquecê-la. ____Era evidentemente uma autoridade, alguma mestra, à qual Iolanda votava grande respeito e profunda veneração. Disseram-nos que era ela quem, apesar de invisível, dirigia a produção das magníficas flores que tão misteriosamente nos foram trazidas. [104 - páginas 184 / 186] - Elisabeth d'Espérence
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