GUIA.HEU
22 Anos
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Materialização de Nepenthés

____Prosseguindo na exposição de casos notáveis de fantasmas completamente materializados, penso que o terceiro caso clássico no gênero é o da celeste Nepenthés, fantasma que se manifestou no correr de uma série especial de experiências em que interveio a medianimidade_da_Senhora_d'Espérance. Nele se verificou o famoso incidente de grande importância teórica, qual o do Espírito que, declarando-se contemporâneo da época heróica da antiga Grécia, escrevia uma mensagem em grego antigo, no canhenho de um dos experimentadores. O valor teórico deste incidente toma vulto ainda maior diante da feliz coincidência de ser o grego antigo ignorado de todos os assistentes.
____A origem dessas memoráveis sessões é assaz conhecida. Eminentes experimentadores noruegueses, entre os quais se contavam professores da Universidade, homens de letras, médicos, magistrados e pastores luteranos, reuniram-se em grupo com o fim de procurarem certificar-se até que ponto as condições de preparação física dos assistentes poderiam influir favoravelmente sobre a produção dos fenômenos_metapsíquicos e, nesse intuito, combinaram se abstivessem todos durante seis meses...

  • de qualquer bebida alcoólica,
  • do fumo
  • e de outras drogas, devendo depois do terceiro mês iniciarem uma série de doze sessões a que se comprometiam todos a comparecer sem interrupção, sendo aos mesmos vedado trazerem às ditas sessões qualquer pessoa estranha ao compromisso.

____Representantes dos dois sexos se encontravam em número igual no grupo que era composto de cerca de trinta pessoas.
____Terminada a série de sessões, alguns experimentadores publicaram-lhe a resenha em livros e opúsculos. Extraí a que se segue do diário da Baronesa Peyron (Light, 1907, 439) e das longas citações do livro: Harper i Luften, publicado por um magistrado que fazia parte do grupo, citações que a Senhora d'Espérance repetiu no correr de uma conferência.
____Na relação norueguesa, o autor cita, depois de prévia autorização, os nomes de quase todas as pessoas que assistiram às sessões; a Senhora d'Espérance, todavia, não se julgou autorizada a outro tanto na sua conferência. (Light, 1903, págs. 547, 559 e 571. )
____Sabe-se, pelo diário da Baronesa Peyron, que o organizador das sessões foi o Doutor Von Bergen, investigador metapsíquico assaz conhecido; e pela conferência da Senhora d'Espérance, que o Senhor Sjostedt foi o escolhido para dirigir as sessões. Essas se realizaram na casa do professor E...
____As precauções tomadas, relativamente às salas das sessões, não foram reveladas à médium, que devia chegar de Gothembourg a Christiania. Não sei por que razão, escreve a Baronesa Peyron, julgaram inoportuno que a médium entrasse na sala das sessões durante o dia, de sobre que, chegado o momento de nos reunir, tivemos de perder muito tempo em modificar as disposições que haviam sido adotadas para a iluminação local.
____Nepenthés manifestou-se logo numa das primeiras sessões e continuou a se manifestar em quase todas as outras.

  • Era uma forma de mulher da maior beleza
  • mostrava-se à luz ao mesmo tempo em que a médium que estava acordada e se conservava sempre fora do gabinete e assentada entre as demais pessoas.
  • Materializava-se no meio do grupo, conformava-se com os desejos dos investigadores, ora prestando-se em se deixar fotografar, ora escrevendo no canhenho de um dos assistentes, ora tirando o molde da própria mão em parafina liquefeita.

____Este último fato foi narrado do modo seguinte pelo Doutor Von Bergen:

  • A espera trazia a toda impaciência e ansiedade. Será bem sucedida? Não o será? - eram perguntas que a si mesmo cada um fazia.
  • Nosso estado da alma foi pressentido pela médium, que nos fez observar: "Não me dirijam a palavra; preciso ficar quieta; procurem guardar a calma e a serenidade".
  • O leve ruído produzido pela mão, que mergulhava no líquido e dele saía, continuou durante alguns minutos na sombra da cortina, enquanto percebíamos de modo completo a forma branca debruçada sobre o recipiente. Depois Nepenthés se ergueu e virou-se para nós... olhando em derredor, até perceber o Prof. E..., assentado por detrás de outro experimentador, que o encobria de metade; suspensa no ar, dirigiu-se então para ele, entregando-lhe um objeto.
  • "Ela me estende um pedaço de cera" - exclamou ele; mas, depois, corrigindo-se: - "Não, é o molde da mão, que está envolta até o punho e que se dissolve no interior do seu modelo".
  • Enquanto ele ainda falava, Nepenthés, que lhe havia entregado o modelo de parafina, deslizava tranqüilamente para o gabinete. Havia-se obtido, enfim, o fenômeno desejado! Acabada a sessão, examinou-se a moldagem. Exteriormente parecia informe, grumosa, formada de grande número de camadas sobrepostas de parafina; pela pequena abertura do punho, percebiam-se interiormente os lugares correspondentes aos dedos de mão extremamente pequena.

____No dia seguinte levamos esta luva a um modelador de profissão (um tal Almiri) para que tirasse o modelo em gesso. Ele e os seus operários, estupefatos, olharam para o modelo e, constatando que mão humana, depois de havê-lo produzido, não teria podido dele retirar-se, deixando-o intacto como estava, acabaram por considerá-lo produto de uma feitiçaria.
____Terminado o trabalho do modelador, todos pudemos admirar a mão muito pequena e completa até o punho, na qual se destacavam perfeitamente as unhas e em que se desenhavam, com espantosa nitidez, as linhas mais finas das juntas e da palma. Os dedos fusiformes e admiravelmente torneados assombravam os artistas mais do que qualquer coisa outra e mais os convenceram da origem supranormal do modelo, tanto mais que os dedos se apresentavam dispostos de modo que mão humana não teria conseguido assim sair da forma. A maneira pela qual Nepenthés se desmaterializava, no meio do grupo, é descrita neste outro trecho:

  • Nepenthés ficava despreocupadamente junto a nós,
  • baixava lentamente a cabeça em que brilhava o seu natural diadema.
  • Em breve tempo, sem que se percebesse o menor ruído, a sobre-humana, a espiritual Nepenthés, tão bela, tão real, tão viva, se havia transformado em pequena nuvem luminosa, não maior que uma cabeça humana, sobre a qual brilhava ainda o diadema; pouco a pouco essa luminosidade se extinguia também, e o diadema se dissolvia, desaparecendo por sua vez.

____Eis, enfim, o famoso episódio da mensagem escrita em grego clássico, desconhecido da médium e dos assistentes:

  • ... Nepenthés se apresentou mais bela do que nunca.
  • Não obstante toda a admiração e o respeito que nutro para com as amáveis e encantadoras senhoras das minhas relações, devo dizer que meus olhos jamais viram coisa alguma de comparável a essa criatura sublime - mulher ou deusa, pouco importa; - e estas minhas palavras mais não fazem que traduzir a opinião geral.
  • Percebendo o Senhor E. .., debruçado sobre o seu canhenho, ocupado em tomar notas, ela ficou um instante a olhá-lo
  • O Senhor E... convidou-a então a escrever para ele uma frase e lhe entregou o lápis e o canhenho, que ela aceitou.
  • O Senhor E... levantou-se e colocou-se por detrás dela, observando-a. Achavam-se ambos ao lado da médium, mas um tanto para trás
  • nós olhávamos este grupo de três pessoas, em ansiosa expectativa.
  • Ela está escrevendo - disse o Senhor E..., enquanto víamos as duas cabeças inclinadas sobre os dedos que escreviam e cujos movimentos eram distintamente percebidos.
  • Pouco depois, canhenho e lápis eram devolvidos ao Senhor E..., que se assentou triunfante.
  • Examinamos a página em que vimos traçados caracteres gregos de forma muito clara, mas ininteligíveis para todos os assistentes.
  • No dia imediato, fizemos traduzir a mensagem do grego antigo para o moderno e, em seguida, para o nosso idioma. E eis o que continha: "Eu sou Nepenthés, amiga tua; quando tenhas a alma oprimida pela dor, invoca-me e eu - Nepenthés - célere acorrerei a aliviar-te os sofrimentos.
  • Feliz mortal! pensávamos todos, ao felicitá-lo.

____Paro aqui com as citações. A propósito do caso que acabamos de rapidamente percorrer, devemos em primeiro lugar ter muito em consideração as condições probatórias excepcionais em que tudo se passou.

  • O local estava permanentemente iluminado por claridade suficiente para que todos se pudessem reconhecer, para que as notas fossem tomadas facilmente e tudo se distinguisse clara e precisamente.
  • A médium ficava assentada no meio dos assistentes, a todos visíveis e sempre acordada.
  • A médium tinha as costas viradas para o gabinete medianímico onde se formavam os fantasmas materializados, para saírem depois e se deixarem ver pelos experimentadores.
  • Quanto a Nepenthés, ela se materializava e se desmaterializava quase sempre na presença de todos.
  • As condições de experimentação eram pois absolutamente ideais para tornar impossível toda e qualquer tentativa de fraude.

____Não posso deixar de chamar a atenção para a significação muito especial que ressalta de uma personalidade materializada escrever em uma língua desconhecida da médium e dos assistentes, o que vem mostrar quão destituída de base é a objeção extravagante de que já me ocupei em relação a casos análogos, mas em que as personalidades medianímicas se exprimiam em língua ignorada do médium, mas conhecida do consultante. Poder-se-ia objetar, neste caso, que o médium captava o conhecimento da língua, do subconsciente do consultante. Já fiz ver que esta hipótese é de tal modo absurda que os nossos próprios opositores não ousaram jamais formular mas o que até aqui não fizeram poderão fazê-lo um dia, em vista das condições teóricas desesperadas em que se afundam mais e mais. Daí o grande valor dos casos como este, que oferecem prévio desmentido àquela hipótese e mostram que o fenômeno se realiza igualmente fora da presença de subconsciências que possam fornecer ao médium os conhecimentos indispensáveis, forçando, por conseguinte, a admitir a presença real, in loco, de uma personalidade espiritual estranha ao médium e aos assistentes.
____Afirmo, portanto, sem medo de me enganar, que os casos de xenoglossia em que as personalidades_medianímica falam e escrevem correntemente língua desconhecida do médium, considerados conjuntamente com aqueles em que essas personalidades falam e escrevem correntemente língua desconhecida do médium e dos assistentes, bastariam, só por eles, para demonstrar, de modo irrefutável, a validade da hipótese espírita. E se considerarmos que essas categorias de manifestações, que lhe mostram a validade, são, em verdade (como o meu presente trabalho disto dá a prova), em número suficiente para firmá-la sobre a base científica da análise comparada e da convergência de provas, teremos motivos para nos surpreender, vendo-a por tal forma combatida nos próprios meios científicos. Mas todo o espanto desaparecerá se nos lembrarmos que absurdos semelhantes constantemente se repetiram através dos séculos, sempre que no horizonte do progresso humano surgia a aurora de uma grande ideia.

[105 - páginas 176 / 183] - Ernesto Bozzano

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