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Os casos de desdobramento fluídico nos cloroforminados são freqüentes e de grande significação.
A Sra. Edith Archdale, conhecida autora de livros sobre viagens e explorações africanas, narra o incidente pessoal que se segue, em carta dirigida ao diretor do Light (1916, página 119): “A experiência de Sir Arthur Conan Doyle, referente a um seu filhinho que, em estado de delírio, viu o que se passava em outro quarto, é semelhante ao que comigo, pessoalmente, se passou, quando, em Johannesbourg, áfrica do Sul, me submeti à ação do clorofórmio para a extração de um dente... Cada vez que o dentista de mim se aproximava com o boticão, eu lhe dizia: “Ainda não estou dormindo” e o dentista, naturalmente, administrava-me nova dose de narcótico. De repente vi-me em pé ao lado da cadeira sobre a qual jazia o meu corpo e senti vivo desejo de não mais nele integrar-me! Esforcei-me, pois, em pedir mais e mais clorofórmio, com o fim deliberado de me fazer matar. Disse-me o dentista que, de fato, cada vez que ele se dispunha a fazer a extração, eu repetia: “Mais clorofórmio!” Acabou ele por não mais me poder atender, renunciando a extrair-me o dente, naquele momento! Pouco depois, encontrei-me de novo no meu corpo e... despertei. Transportaram-me, então, para um outro quarto, colocaram-me numa espreguiçadeira, alta de algumas polegadas apenas; um médico, chamado, administrou-me novamente o clorofórmio e procederam à extração. Mas, durante a operação, coisas verdadeiramente extraordinárias comigo se passaram. Achava-me fora do corpo, suspensa no ar, perfeitamente cônscia da grande mudança que em mim se havia dado. E o que de mais interessante houve foi que notei subitamente possuir reminiscências que se estendiam por séculos. Vibrante, exultei, embora soubesse não estar morta e ter de voltar dentro em pouco ao meu corpo; pensava na grande nova a comunicar e na necessidade, portanto, de me não esquecer do que se estava passando. Mas comecei a sentir-me forçada a tomar contato com o corpo e nele fui penetrando, aos poucos, por meio de impulsos sucessivos, em cada um dos quais me ia esquecendo, em parte, daquilo que havia visto e apreendido. Aguardando meu despertar, dentista e médico se puseram à janela. Sentia-me apenas parcialmente dentro de meu corpo; foi então que me dirigi aos dois profissionais, dizendo-lhes: “Olhai para essa senhora inglesa, assentada com o seu criado cafre, em um carrinho puxado por dois cães; ambos têm as pernas envolvidas por uma mesma manta; detesto semelhantes familiaridades, mormente com criados indígenas.” O dentista e o médico, surpresos, voltaram-se para mim e viram que eu continuava deitada na espreguiçadeira que, como já fiz notar, era baixa, sendo, por isso, de todo impossível pudesse ver o que se passava na rua. O gabinete dentário se achava situado no último andar do prédio, cuja construção não permitia daí se pudesse olhar para a rua sem se ter de debruçar bastante à janela. Foi o que ambos fizeram e então viram o carrinho puxado por cães, com a senhora inglesa dentro, ao lado do criado cafre, ambos com as pernas envolvidas pelo mesmo manto de viagem. Volveram-se então para mim e constataram que eu permanecia ainda em estado de inconsciência. Acabava, entretanto, de descrever qualquer coisa, que os meus olhos bem fechados não haviam certamente podido ver, mormente na posição e lugar em que eu estava!... Depois dessa ocorrência, não mais duvidei do futuro no Além. Pela ação do clorofórmio, minha personalidade espiritual foi momentaneamente libertada dos liames corporais e se achou no meio que a espera depois da crise a que chamamos morte. Tive a prova, portanto, de que não morremos.” Os casos do gênero “desdobramento fluídico” ou “bilocação” não devem ser considerados isoladamente; cumulativamente é que eles adquirem uma força sugestiva e uma evidência comprovativa irresistíveis. Se aplicarmos os processos de análise comparada às centenas e centenas de episódios desse gênero, onde todas as gradações que lhes caracterizam a fenomenologia se apresentam de modo a fazer ressaltar as modalidades por que se determina o fenômeno de exteriorização do “corpo fluídico”, veremos desaparecer por completo qualquer dúvida sobre a objetividade do mesmo, diante do afastamento, então inevitável, das hipóteses “oníricas e alucinatórias”, únicas que poderiam se opor a fenômenos dessa ordem. Essas conclusões decorrem das considerações que se seguem:
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