____Os
desvios das almas que receberam tarefas de natureza religiosa são sempre
mais graves. Existem religiosos que, contrariamente a todas as esperanças
de nosso plano, se entregam completamente ao sentido literal dos
ensinamentos da fé. Recebem os títulos sacerdotais, como os médicos sem
amor ao trabalho de curar, ou como os advogados sem qualquer espécie de
devotamento ao direito. Estimam os interesses imediatos, requisitam as
honrarias humanas e, terminada_a_existência_transitória, se encontram em doloroso fracasso
da consciência. Habituados, porém, ao incenso dos altares e à submissão
das almas encarnadas, não reconhecem, na maioria das vezes, a própria
falência e preferem o encastelamento na revolta lamentável, que os
converte em gênios das sombras. Neste particular, devemos reconhecer que
semelhante condição, neste lado da vida (após a morte), é a de todos
os homens e mulheres, de inteligência notável, com primores de cultura
terrestre, mas desviados do verdadeiro caminho de elevação moral.
Comumente, as pessoas mais sensíveis e cultas criam o mundo que lhes é
peculiar e esperam furtar-se à lei de testemunho próprio, no campo das
virtudes edificantes. Acostumadas à fácil aquisição de vantagens
convencionais na Crosta,
pretendem resolver, depois da perda do corpo físico, os problemas
espirituais pelo mesmo processo, e, encontrando tão-somente a Lei, que
manda conceder a cada um segundo as suas obras, não raro agravam a situação,
internando-se no escuro país do desespero, onde se reúnem a inúmeras
companhias da mesma espécie. Dentre as criaturas dessa ordem, sobressai a
elevada percentagem dos ministros de várias
religiões. Referindo-nos apenas aos das escolas cristãs, verificamos que a maioria não
pondera na exemplificação do próprio Mestre Divino. Ceifam os olhos e
ouvidos aos sacrifícios apostólicos. Simão Pedro, João Evangelista,
Paulo de Tarso, representam para eles figuras demasiadamente distantes.
Apegam-se às decisões meramente convencionais dos concílios, estudam
apenas os livros eclesiásticos e querem resolver todas as transcendentes
questões da alma através de programas absurdos, de dominação pelo
culto exterior. Erguem basílicas suntuosas, olvidando o templo vivo do próprio
espírito; homenageiam o Senhor como os orgulhosos romanos reverenciavam a
estátua de Júpiter, tentando subornar o poder celeste pela grandeza
material das oferendas. Mas ai! esquecem o coração humano, menosprezam o
espírito de humanidade, ignoram as aflições do povo, a quem foram
mandados servir. E, cegos aos próprios desvarios, ainda aguardam um Céu
fantástico que lhes entronize a vaidade criminosa e a ociosidade cruel. ____Para estes, a morte_do_corpo é um acontecimento terrível. Alguns enfrentam,
corajosos, a desilusão necessária e proveitosa. A maioria, porém,
fugindo ao doloroso processo de readaptação à realidade, precipita-se
nos campos inferiores da inconformação presunçosa, organizando
perigosos agrupamentos de almas rebeladas, com os quais temos de lutar por
nossa vez... Quase todas as escolas religiosas falam do inferno de penas angustiosas e horríveis, onde os condenados experimentam
torturas eternas. São raras, todavia, as que ensinam a verdade da queda
consciencial dentro de nós mesmos, esclarecendo que o plano infernal e a
expressão diabólica encontram início na esfera interior de nossas próprias
almas. ____Os que caem por ignorância aceitam com alegria a retificação, desde que
se mantenham em padrão de boa vontade sincera. Os que se precipitam no
desequilíbrio,
porém, atendendo à sugestão do orgulho, experimentam grande dificuldade
para ambientar a corrigenda em si mesmos. Precisam edificar maior patrimônio
de humildade, antes de levarem a efeito a restauração imprescindível. [16a - página 260]
- André Luiz |