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Depois de longos e porfiados milênios de luta espiritual, surgem no mundo, como
grupos por eles organizados, ...
Dentre todos, desempenha o Egito missão especial, organizando escolas de iniciação mais profunda. Em obediência aos requisitos da crença popular, herdeira intransigente das fixações mitológicas, mantém o sacerdócio cultos diversos a deuses vários, nas manifestações esotéricas dos templos descerrados ao povo. O lar e a escola, a agricultura e o comércio, as indústrias e as artes possuem gênios especiais que os presidem, em nome da convicção vulgar, mas, na intimidade do santuário, o monoteísmo dirige a implantação da fé. A unidade de Deus é o alicerce de toda a religião egipciana, em sua feição superior. Para ela, os atributos divinos são a vontade sábia e poderosa, a liberdade, a grandeza, a magnanimidade incansável, o amor infinito e a imortalidade.Em síntese, acredita que Deus plasmou os seus próprios membros, que são os deuses conhecidos. Cada um desses deuses secundários pode ser tomado como sendo análogo ao Deus Único, e cada um deles pode formar um tipo novo do qual se irradiam por sua vez, e pelo mesmo processo, outros tipos de deuses inferiores. Claro está que essa argumentação teológica, distanciada de mais altos roteiros da evolução, imaginava erroneamente potências espirituais centralizadas no Criador Excelso, quando só Deus tem a faculdade de verdadeiramente criar, mas o conceito expressa, em sentido lato, a solidariedade constante e inevitável que existe em todas as vidas de que se constitui a família do Supremo Senhor em todo o Universo. [56 - página 153]
Os
únicos relatos sobre as primeiras religiões são posteriores à invenção da
escrita, fenômeno ocorrido há pouco mais de 5 mil anos. "Os registros
mais antigos de mitos religiosos foram deixados pelos egípcios
e pelos sumérios", afirma a historiadora Eliane Moura Silva, da
Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo.Desde então, começaram a surgir religiões mais organizadas, estruturadas a partir de um conjunto de princípios, como o Hinduísmo, que teve seus primeiros textos sagrados, os Vedas, escritos há cerca de 3.500 anos, e o Zoroastrismo , fundado no IrÁ por volta do século 6 a.C. Em seguida, vem o Budismo, que surgiu mais ou menos na mesma época. Revista
das Religiões - Ano 1 - N° 1 - Maio / 2003
O homem ocidental moderno tem a religião como algo à parte dos outros
aspectos da vida. Ações do dia-a-dia não têm um sentido religioso. Muitos povos,
entretanto, vivem a religião na própria identidade da etnia, todas as ações e pensamentos
têm um sentido religioso, ignorando, desta forma, o conceito de religião (Meslin. s.d. p.1.).Os egípcios eram assim. A religião impregnava suas vidas em todos os aspectos, não só os referentes às pessoas como de tudo o que os cercava: da cheia do Nilo à morte de um gato. Tudo dependia da disposição dos deuses. Não havia separação entre religião e estado. “Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” não faria sentido porque o Faraó era um deus (Casson. 1972. p.71.). Daí o fato de a civilização egípcia ter se desenvolvido a tão alto grau nas ciências e nas artes, notadamente na medicina e na arquitetura, dever-se à religião. A religião produziu uma coesão que ajudou a civilização egípcia a sobreviver quase 3.000 anos sem grandes mudanças. A religião egípcia tem origem na pré-história. A religião surge para explicar os fenômenos naturais para diminuir a ansiedade diante do desconhecido e manter a produtividade (Resende. 1991. p. 15 – 16.). Como qualquer povo primitivo os egípcios respeitavam a natureza e seus fenômenos: a ferocidade do leão, a força do crocodilo, os cuidados maternais da vaca. Isto fez com que as primeiras divindades fossem relacionadas com os fenômenos da natureza e também tivessem forma de animais, mesmo que se ocupassem em cuidar e dirigir os humanos. Anúbis, guarda dos túmulos e deus dos mortos, era representado por um chacal deitado. Essa associação do chacal com os mortos se deve ao fato de ele desenterrar ossos humanos, o que levou os egípcios a colocar pedras sobre as sepulturas. Este talvez fosse o embrião das grandes construções. Muitos animais eram criados nos templos como deuses, entre eles o gato, que representava Bastet, uma deusa do amor de Bast; o crocodilo, que representava Sabeque, deus de Crocodilópolis. Sendo deuses, esses animais eram mumificados quando morriam. Além dos deuses animais, havia deuses relacionados com as manifestações da natureza, como Ra, o Deus Sol de Heliópolis (Cidade do Sol em grego). O culto à natureza se dá nas sociedades primitivas porque o homem é dominado pelo mundo. Ao adquirir experiência e desenvolver técnicas de domínio da natureza a tendência é de antropomorfizar os deuses. Foi o que aconteceu ainda antes da primeira dinastia. Os deuses se tornaram uma mistura de homens e animais, como Hórus, que tinha corpo de homem e cabeça de falcão. Somente mais tarde, na época da fundação de Mênfis no Antigo Império, surgiram deuses com formas totalmente humanas, o que não quer dizer que os deuses zoomórficos foram abandonados (Casson. 1972. p. 72.). A galeria dos deuses egípcios era imensa, cada cidade ou localidade tinha o seu deus. Um deles poderia adquirir destaque nacional conforme a sua cidade se tornasse importante na política, sem que os deuses locais fossem abandonados. Como exemplo temos o deus Ra, o Deus Sol de Heliópolis, que ganhou importância na quarta dinastia e o Faraó tornou-se o Filho de Ra. Como qualquer religião a dos egípcios tinha um conteúdo moral relacionado com ordem, verdade, justiça e retidão. Esse aspecto moral da religião tinha o nome de Maat e era uma qualidade do mundo, colocada nele pelos deuses no momento da criação, e não do homem. Sendo obra dos deuses e não da consciência humana, a Maat era perfeita e imutável, não havendo qualquer crítica séria da estrutura da sociedade, a não ser no Primeiro Período Intermediário quando as dificuldades levaram o povo a esperar que a Maat fosse praticada. Esse conceito de justiça social durou pouco tempo, terminou assim que o Médio Império restabeleceu a prosperidade. O mundo era como devia ser, afinal foi criado pelos deuses. Não era possível ter havido época melhor ou pior, nem haveria depois. Por isso não há Jardim do Éden, nem fim do mundo na mitologia egípcia (Casson. 1972. p. 74.). O culto na religião egípcia era mais importante que a doutrina. Para estar em dia com a religião era necessário praticar o culto, pouco importando a concepção doutrinária. O culto era principalmente local. (Giordani. 1972. p. 105). O culto era de exaltação aos deuses, até a tentativa de reforma monoteísta de Aquenaton. Sua reforma não teve êxito, mas deixou uma transformação que mudou a relação dos deuses com os homens. Por exemplo, um hino ao deus Ra, anterior a Aquenaton, declara: “Como és belo quando te levantas no horizonte e iluminas as Duas Terras com os teus raios”. Outro hino, posterior a Aquenaton, do reinado de Ramsés IV, diz: “E tu me darás saúde, vida e idade avançada, um longo reinado e força a todos os meus membros ... e me darás de comer ... e me darás de beber ...”. Os deuses que antes eram os criadores do universo passaram a ser responsáveis pelo bem estar das suas criaturas (Casson. 1972. p. 80.). As crenças dos egípcios a respeito da morte eram de que há uma vida alémtúmulo . Essas crenças tinham origem na pré-história. Foram encontrados túmulos da era neolítica que continham objetos e víveres com características de haver a intenção de serem usados (Casson. 1972. p. 76). Eles encaravam o além como uma repetição dos melhores momentos da existência terrena e passavam grande parte do seu tempo preparando o túmulo e os objetos que deviam levar. Acreditavam que no além teriam necessidade deles, além dos alimentos. A falta deles, principalmente dos alimentos poderia causar uma segunda e definitiva morte. Além dos objetos úteis eram também colocadas figuras dos servos e das concubinas. No início apenas os Faraós e suas famílias tinham o privilégio da vida alémtúmulo. Esse privilégio estendeu-se aos nobres no fim do Antigo Império. Com as mudanças nas classes sociais no primeiro período intermediário, os mortais de origem obscura, ao assumirem posições elevadas, passaram a ter o privilégio da vida além-túmulo, estendendo-o, assim, às pessoas comuns, desde que pudessem pagar pela preparação do túmulo (Casson. 1976. p. 76.). A mumificação era praticada porque consideravam a vida além-túmulo como uma existência corporal. Por isso, além da mumificação o morto era sepultado com comida, roupas, jóias e objetos de que pudesse precisar. Mesmo os sepultamentos mais simples mostram algum esforço para equipar o morto (Casson. 1976. p. 78.). Pode parecer que os egípcios eram mórbidos e tristes pelo fato de se preocuparem e se ocuparem tanto com a morte, mas isto é um engano, eles encaravam a existência além-túmulo como uma feliz continuação da vida terrena e se dedicavam a ela com entusiasmo. Os egípcios concebiam o ser humano como tendo nove princípios:
Para entendermos a vida além-túmulo dois desses princípios são mais importantes: Ba, a alma e Ka, uma espécie de duplo imaterial do corpo que continuava a vida após a morte em dependência do corpo físico (Giordani. 1972. p. 113.). Eis o porquê da mumificação dos corpos e da intenção de eternidade dos túmulos. Isto levou a um altíssimo grau de desenvolvimento da medicina e da arquitetura. O morto era julgado no tribunal composto por 42 juízes, cada um representando um nomo, e presidido por Osíris. O julgamento consistia em pesar o coração do morto numa balança cujo contrapeso era uma estátua de ouro da deusa da justiça Maât (Giordani.1972. p. 114.) ou, em outra versão, uma pena de avestruz, símbolo da verdade (Christophe. 1971. 52, p. 81.). Não havendo equilíbrio o morto seria devorado pelo devorador de almas representado por um deus crocodilo. Entretanto o morto podia fazer sua defesa em que faz a confissão negativa, em que declara sua inocência segundo o capítulo CXXV do Livro dos Mortos:
O mundo dos mortos era subterrâneo e se localizava no ocidente, onde o sol iniciava sua jornada noturna. A travessia da alma do morto era feita num barco. Os túmulos eram construídos para durarem eternamente, já que se acreditava que a existência além-túmulo estava ligada à conservação do corpo físico. Importantes também eram as inscrições e os textos:
http://www.ampulhetta.org/textos/livro_mortos.pdf (Link desativado)
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