____Numa
indescritível profusão de luzes, cores e sons, esplende infinito e majestoso o
império sideral dos universos divinos.
Movem-se pelos espaços sem-fim incontáveis multidões
de nebulosas e galáxias, carregando consigo inumeráveis aglomerados
de
milhares de milhões de estrelas, anãs ou gigantes, novas ou pulsantes,
brancas, amarelas, azuis e
vermelhas, com seus planetas e
satélites, cometas e meteoros,
numa
sinfonia de beleza que ultrapassa todos os nossos poderes de imaginação.
____E
tudo se movimenta, se agita, em velocidades inimagináveis, harmoniosas ou turbilhonantes, em voragens e explosões,
em transformações e renascimentos, num frenesi
inestancável em que tudo_se_equilibra sob o comando invisível da ordem suprema
que a tudo preside: Deus. ____Ressaltamos
que desde a Codificação Kardequiana, os Espíritos nos informam que
o Universo é eterno. Mas 15 bilhões de anos podem significar uma eternidade, pois para as nossas mentes e até para
muitos Espíritos, ainda vinculados à psicosfera da Terra, esta ordem de grandeza de tempo é algo que se confunde com ela, na
relatividade dos referenciais da
compreensão humana terrena. Todavia, eternidade, em sentido
absoluto, é outra coisa. O que vamos descrever é o que se sabe, através dos caminhos da Ciência, em síntese, sobre
os bilhões de anos, quanto à evolução do Universo,
até
os nossos dias. ____Por
todo o transcurso da História, os seres humanos buscaram apaixonadamente compreender a origem do Universo. Talvez
nenhuma questão seja capaz de transcender,
mais do que esta, a passagem do tempo e a diferenciação das culturas e de
inspirar a imaginação da Humanidade, tanto a de nossos ancestrais quanto a dos
pesquisadores da cosmologia moderna.
Existe uma ânsia coletiva, permanente e profunda por
uma explicação para o fato de que o Universo existe, para a razão pela qual ele tomou a forma que conhecemos e para a
lógica, o princípio, que alimenta a sua evolução.
O que é fabuloso é que, pela primeira vez, a Humanidade chegou a um ponto
em que começa a surgir um esquema capaz de fornecer respostas científicas a algumas dessas perguntas. ____A
teoria científica da Criação hoje aceita declara que o Universo experimentou as condições mais extraordinárias em
seus primeiros momentos – energia, temperatura e
densidade enormes. Essas condições, como hoje sabemos, requerem que levemos em conta tanto a mecânica quântica
quanto a gravitação, razão por que a origem do
Universo proporciona um profundo campo de estudo, em que novas teorias e
concepções se delineiam no
horizonte do conhecimento. ____A
visão moderna da origem do Universo que predomina nos meios científicos é a seguinte: Há cerca de 15 bilhões de
anos o Universo irrompeu a partir de um evento singular dotado de enorme energia,
que expeliu todo o espaço e toda a matéria. Não é preciso
ir muito longe para localizar onde ocorreu o Big-Bang, pois ele ocorreu aqui mesmo, assim como em todos os outros
lugares; no início todos os lugares que hoje percebemos
como distantes eram o mesmo lugar. A temperatura do Universo, apenas 1043
segundos após o Big-Bang, o chamado tempo
de Planck, era cerca de 1032 o K (graus Kelvin), 10 trilhões de trilhões
de vezes mais quente que o interior profundo do Sol.
Rapidamente o Universo foi se expandido e resfriando e, ao fazê-lo, o plasma
cósmico primordial, homogêneo e
torridamente quente, começou a formar redemoinhos e
concentrações. Cerca de um centésimo milésimo de segundo depois do Big-Bang,
as coisas haviam resfriado o suficiente (algo como 10 trilhões de graus Kelvin
– 1 milhão de vezes mais quente
que o interior do Sol) para que os quarks pudessem organizar-se
em grupos de três, formando os prótons e os nêutrons. Cerca de um centésimo
de segundo depois as condições estavam prontas para que os núcleos dos elementos mais leves da
tabela periódica
começassem a tomar forma, a partir do plasma
original. Nos 3 minutos que se seguiram, quando o Universo se esfriou a uma temperatura de 1 bilhão de graus, os
núcleos predominantes eram de hidrogênio e hélio,
juntamente com traços residuais de deutério, o chamado hidrogênio pesado, e lítio. Esse é o período da
nucleossíntese primordial. ____Durante
as primeiras centenas de milhares de anos que se seguiram não aconteceu nada
de especial, além do prosseguimento da expansão e do resfriamento. Mas quando
a temperatura caiu a alguns milhares de graus, a velocidade dos elétrons que se moviam em um frenesi desordenado
reduziu o suficiente para que os núcleos atômicos, especialmente
os de hidrogênio e hélio, os capturassem, formando assim os primeiros átomos eletricamente neutros. Esse foi um momento crucial: a partir de então
o Universo como um todo se tornou
transparente. Antes da captura dos elétrons o Universo estava
inundado por um denso plasma de partículas eletricamente ativas – umas,
como os núcleos, com carga elétrica positiva, e outras, como os elétrons, com
carga elétrica negativa. Os fótons, que
interagem apenas com objetos dotados de carga elétrica,
eram atirados incessantemente de um lado para outro pelo denso mar de partículas
ionizadas, e praticamente não chegavam a percorrer distância alguma sem serem desviados ou absorvidos. Essa nuvem
espessa de partículas ionizadas impedia o
movimento livre dos fótons, o que tornava o Universo quase totalmente opaco,
assim como o ar que conhecemos em
uma neblina muito densa ou em uma vigorosa tempestade de
neve. Mas quando os elétrons com carga elétrica negativa entraram em órbita
ao redor dos núcleos, com carga elétrica positiva, produzindo átomos
eletricamente neutros, a neblina
desapareceu. Desde então, os fótons criados com o Big-Bang têm
viajado livremente, e toda a extensão do universo tornou-se visível. ____Mais
ou menos 1 bilhão de anos depois, quando o universo já se achava
substancialmente mais calmo, as
galáxias, as estrelas e por último os planetas começaram a
surgir como aglomerados dos elementos primordiais, unidos pela gravitação.
Hoje, cerca de 15 bilhões de anos
depois do Big-Bang, nós nos maravilhamos com a magnificência do
cosmos e com a nossa capacidade coletiva de reunir os nossos conhecimentos em uma teoria razoável e
experimentalmente testável da origem do universo. Embora
estejamos física e espiritualmente ligados à Terra e às suas cercanias no sistema solar, o poder do pensamento e da experimentação nos permite sondar as profundidades do
espaço exterior e do espaço interior. Particularmente, durante os últimos 100 anos, o esforço coletivo de muitos
físicos revelou alguns dos segredos mais bem
guardados da Natureza. E uma vez reveladas, essas jóias explicativas abriram novo panorama sobre um mundo que
pensávamos conhecer, mas cujo esplendor nem sequer
chegáramos perto de imaginar. Uma maneira de medir a profundidade de uma
teoria física é verificar até que ponto
ela desafia aspectos da nossa visão de mundo, que
antes pareciam imutáveis. Sob esse ponto de vista, a mecânica quântica e as
teorias da relatividade foram muito
além das nossas expectativas mais ousadas: funções de
onda, probabilidades, tunelamento quântico, o incessante tumulto das
flutuações de energia do vácuo,
o entrelaçamento do espaço e do tempo, a natureza relativa da simultaneidade, a curvatura do tecido do espaço-tempo, os
buracos negros e o Big-Bang. Quem poderia pensar que a perspectiva intuitiva,
mecânica e precisa de Newton se
tornaria quase acanhada – que havia um mundo novo e extraordinário logo abaixo da superfície das coisas que vemos
todos os dias? ____Mas,
mesmo essas descobertas que sacodem os nossos paradigmas são apenas uma
parte de uma história maior, que tudo abarca. Com uma fé inquebrantável, em que as leis do que é pequeno e as do que
é grande devem harmonizar-se em um conjunto coerente, os físicos prosseguem em
sua luta incessante por encontrar a teoria definitiva.
A busca ainda não terminou, mas a teoria de supercordas e a sua evolução
em termos da teoria M já fizeram surgir
um esquema convincente para a fusão entre a mecânica
quântica, a relatividade geral e as forças forte, fraca e eletromagnética. Os
desafios trazidos por esses avanços à
nossa maneira de ver o mundo são monumentais: laços
de cordas e glóbulos oscilantes que unem toda a criação em padrões
vibratórios executados
meticulosamente em um universo que tem numerosas dimensões "escondidas",
capazes de sofrer contorções extremas, nas quais o seu tecido espacial se
rompe e depois se repara. Quem poderia ter imaginado que a unificação entre a gravidade e a mecânica quântica em uma
teoria unificada de toda a matéria e de todas as
forças provocaria uma tal revolução no nosso entendimento de como o Universo funciona? ____Não
há dúvida de que encontraremos surpresas ainda maiores à medida que avançarmos
em nossa busca de entender a realidade cósmica. Já podemos vislumbrar um
reino estranho do Universo, abaixo da distância de Planck, escala abaixo da
qual as flutuações quânticas do
tecido do espaço-tempo tornam-se enormes, em que possivelmente não
vigoram as noções de espaço e de tempo. No extremo oposto nosso universo
pode ser simplesmente uma dentre inumeráveis bolhas que se espalham pela superfície de um oceano cósmico vasto e
turbulento, chamado multiverso. Essas ideias estão
na vanguarda das especulações atuais e pressagiam os próximos saltos pelos quais passará a nossa concepção do
Universo. ____Temos
os olhos fixos no futuro, à espera dos deslumbramentos que nos estão reservados,
mas não devemos deixar de olhar também para trás e maravilhar-nos com a
viagem que já fizemos. A busca das leis fundamentais do universo é um drama
eminentemente humano, que expande a
nossa visão mental e enriquece nosso espírito. Einstein
deu-nos uma descrição vívida da sua própria luta para compreender a
gravidade: "os anos ansiosos
da busca no escuro, que provocavam sentimentos intensos de
angústia e alternâncias entre estados de confiança e de exaustão, e,
finalmente, a luz". À medida
que subimos a montanha do conhecimento, cada nova geração se apóia
sobre os ombros da anterior, aproximando-se todos do cume. Não é difícil
prever que algum dia os nossos
descendentes (talvez nós mesmos em necessário retorno à escola
da vida) chegarão ao topo e gozarão da soberba vista que se abre sobre a
vastidão, a
exuberância e a excelsitude do Universo, com clareza infinita. Hoje a nossa geração se maravilha com a nossa visão
do Universo e cumpre assim o seu papel, contribuindo
com um degrau a mais na ascese humana que conduz, através do conhecimento e da virtude, aquisições da
alma que se
volta, humilde, serena e reverente, com
o Cristo, às Mansões do Criador.
Revista
REFORMADOR Agosto 2002
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