As
imperfeições morais
do obsidiado constituem, freqüentemente, um obstáculo à sua libertação.
Aqui vai um exemplo notável, que pode servir para instrução de todos.Havia
umas irnãs que se encontravam, desde alguns anos, vítimas de depredações
muito desagradáveis. Suas roupas eram incessantemente espalhadas por todos os
cantos da casa e até pelos telhados, cortadas, rasgadas e crivadas de buracos,
por mais cuidado que tivessem em guardá-las à chave. Essas senhoras, vivendo
numa pequena localidade de província, nunca tinham ouvido falar de Espiritismo.
A primeira ideia que lhes veio foi, naturalmente, a de que estavam às voltas
com brincalhões de mau gosto. Porém, a persistência e as precauções que
tomavam lhes tiraram essa ideia. Só muito tempo depois, por algumas
indicações, acharam que deviam procurar-nos, para saberem a causa de tais
depredações e lhes darem remédio, se fosse possível. Sobre a causa não
havia dúvida; o remédio era mais difícil. O Espírito que se manifestava por
semelhantes atos era evidentemente malfazejo. Evocado, mostrou-se de grande
perversidade e inacessível a qualquer sentimento bom. A prece,
no entanto, pareceu exercer sobre ele uma influência salutar. Mas, após algum
tempo de interrupção,
recomeçaram as depredações. Eis
o conselho que a propósito nos deu um Espírito superior: O que essas
senhoras têm de melhor a fazer é rogar aos Espíritos_seus_protetores que não as abandonem. Nenhum conselho melhor lhes
posso dar do que o de dizer-lhes que desçam ao fundo de suas consciências,
para se confessarem a si mesmas e verificarem se sempre praticaram o amor_do_róximo e a caridade.
Não falo da caridade que consiste em dar e distribuir, mas da caridade da
língua; pois, infelizmente, elas não sabem conter as suas e não demonstram,
por atos de piedade, o desejo que têm de se livrarem daquele que as atormenta. Gostam muito de maldizer do próximo e o Espírito que as obsidia toma sua
desforra, porquanto, em vida, foi para elas um burro de carga. Pesquisem
na memória e logo descobrirão quem ele é.Entretanto,
se, conseguirem melhorar-se, seus anjos guardiães se aproximarão e a simples
presença deles bastará para afastar o mau Espírito, que não se agarrou a uma
delas em particular, senão porque o seu anjo guardião teve que se afastar, por
efeito de atos repreensíveis, ou maus pensamentos.
O que precisam é fazer preces fervorosas pelos que sofrem e, principalmente,
praticar as virtudes impostas por Deus a cada um, de acordo com a sua
condição.Como
ponderássemos que essas palavras pareciam um tanto severas e que talvez fosse
conveniente adoçá-las, para serem transmitidas, o Espírito acrescentou: Devo
dizer o que digo e como digo, porque as pessoas de quem se trata têm o hábito
de supor que nenhum mal fazem com a língua, quando o fazem muitíssimo. Por
isso, preciso é ferir-lhes o Espírito, de maneira que lhes sirva de
advertência séria.Ressalta
do que fica dito um ensinamento de grande alcance: que as imperfeições morais
dão azo à ação do Espíritos obsessores e que o mais seguro meio de a pessoa
se livrar deles é atrair os bons pela prática do bem. Sem dúvida, os bons_Espíritos têm mais poder do que os maus, e a vontade deles basta para afastar
estes últimos; eles, porém, só assistem os que os secundam pelos esforços
que fazem por melhorar-se, sem o que se afastam e deixam o campo livre aos maus,
que se tomam assim, em certos casos, instrumentos de punição, visto que os
bons permitem que ajam para esse fim. [17b - página 318 item 252]
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