TRANSIÇÃO
DE UMA ÉPOCA
____Depois
de Augusto, aparece à barra da História a personalidade disfarçada
e cruel de Tibério, seu filho adotivo, que vê terminar a era de paz,
de trabalho e concórdia, com o regresso do Cordeiro às regiões sublimadas
da Luz. É
nesse reinado que a Judéia leva a efeito a tragédia do Gólgota, realizando
sinistramente as mais remotas profecias. ____Não
obstante o seu compassivo e desvelado amor, o Divino Mestre é submetido
aos martírios da cruz, por imposição do judaísmo,
que lhe não compreendeu o amor e a
humildade. Roma colabora no doloroso acontecimento
com a indiferença fria de Pôncio Pilatos, retornando aos seus
festins e aos seus prazeres, como se desconhecesse as finalidades mais
lies da vida. ____Seguindo
a mesma estrada escura de Tibério, Calígula inaugura um período
longo de sombras, de massacres e de incêndios, de devastação e de
sangue. [52
página 117]
PROVAÇÕES
COLETIVAS DOS JUDEUS E DOS ROMANOS
____Os
seguidores humildes do Nazareno iniciam, nas regiões da Palestina,
as suas predicações e ensinamentos. Raros apóstolos sabiam da
missão sublimada daquela doutrina sacrossanta, que mandava fazer o bem
pelo mal e instituía o perdão aos próprios inimigos. De perto,
seguem-lhes a atividade os emissários
solícitos do Senhor, preparando os caminhos
da revolução ideológica do Evangelho. Esses mensageiros do Alto
iniciam, igualmente e de modo indireto, o esforço de auxílio ao Império
nas suas dolorosas provações coletivas. ____Um
perfeito trabalho de seleção se verifica no ambiente espiritual das
coletividades romanas. Chovem inspirações do Alto preludiando as dores
de Jerusalém e as amarguras da cidade imperial. Vaticínios sinistros pesam sobre todos os espíritos rebeldes e
culpados, e a verdade é que, depois do
cerco de Jerusalém, quando Tito destruiu a cidade,
arrasando-lhe o Templo famoso e dispersando para sempre os israelitas,
viu o orgulhoso vencedor mudar-se o curso das dores para a sociedade
do Império, atormentada pelas tempestades de fogo e cinza que arrasaram
Estábias, Herculânum e Pompéia, destruindo milhares de vidas florescentes
e desequilibrando a existência romana para sempre. [52
página 118]
FIM
DA VAIDADE HUMANA ____O Império Romano, que poderia ter levado a efeito a fundação de um único
Estado na superfície do mundo, em virtude da maravilhosa unidade a que
chegou e mercê do esforço e da proteção do Alto, desapareceu num mar
de ruínas, depois das suas guerras, desvios e circos cheios de feras e gladiadores. ____O
imenso organismo apodreceu nas chagas que lhe abriram a incúria
e a impiedade dos próprios filhos e, quando não foi mais possível o paliativo
da misericórdia dos espíritos abnegados e compassivos, dada a galvanização
dos sentimentos gerais na mesa larga dos excessos e prazeres
terrestres, a dor foi chamada a restabelecer o fundamento da verdade
nas almas. ____Da
orgulhosa cidade dos imperadores não restaram senão pedras sobre
pedras. Sob o látego da expiação
e do sofrimento, os Espíritos culpados
trocaram a sua indumentária para a evolução e para o resgate no cenário
infinito da vida, e, enquanto muitos deles ainda choram nos
padecimentos redentores, gemem sobre as ruínas do Coliseu de Vespasiano
os ventos tristes e lamentosos da noite. [52
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