Astrônomo famoso e professor da Universidade de Leipzig, goza de grande reputação nos meios científicos. Após inúmeras experiências realizadas no campo da fenomenologia espírita, publicou os resultados dessas investigações no livro intitulado "Física Transcendental".
"Adquiri a prova da existência de um mundo invisível que pode entrar em relação com a humanidade".
Alguns fenômenos observados por Zöllner
Continuo a relatar fatos por mim observados, que provam a conexão íntima de outro mundo material com o nosso e podem servir de confirmação geral às numerosas observações do
Sr._Crookes e
outros_fisicistas. Até agora, em geral, só tenho relatado o
desaparecimento_e_o_reaparecimento_de_corpos_sólidos. Os fatos que se seguem demonstrarão a aparição de
corpos fluídicos a cuja aparição o atual estado da nossa concepção não nos permite responder à pergunta:
de onde?
A 7 de maio de 1878, às 11:15 da manhã, depois do
médium_de_efeitos_físicos Dr. Henry Slade e eu termos tomado os nossos costumados lugares, mostrei o desejo de saber o que presenciaríamos nessa sessão.
Slade pediu-me que eu mesmo segurasse a lousa. Assim o fiz, segurando com a mão direita uma das mãos de
Slade. Apenas fiz isso, começou a
escrita. Nesta ocasião confirmei uma observação já notada por mim: toda vez que eu retirava a mão de cima da de
Slade, a escrita parava, recomeçando tão logo eu segurava novamente a sua mão. Tendo sido dado o sinal de achar-se concluída a comunicação, retirei a lousa de sob a mesa e achamos as seguintes palavras no lado da lousa que havia estado contra a mesa:
- “Amanhã pela manhã desejaríamos ter conosco o barão H.. Durante a sessão desenvolveremos uma nova força e vos mostraremos o que podemos fazer. Amanhã vos diremos mais alguma coisa com o médium sonambulizado.”
Slade e eu levantamo-nos com o fim de procurarmos um pedaço de lápis maior, porém nesse momento fomos salpicados por uma espécie de chuvisco, que nos molhou ligeiramente, ficando o assoalho todo respingado. Durou o fenômeno cerca de um minuto.
Tendo ficado algumas gotas sobre as minhas mãos, passando-lhes a língua notei que o seu gosto era o de água pura. Devo mencionar que no aposento em que nos achávamos não havia vasilha alguma com água, embora no contíguo a houvesse. Parece-me que esse
transporte de corpos líquidos de um aposento para outro pertence ao mesmo gênero de fenômenos que o
transporte_de_corpos_sólidos. íamos sentar-nos novamente à mesa depois de secarmos as nossas roupas, quando o mesmo fenômeno se repetiu; desta vez porém em maior escala. Agora o teto e as paredes do aposento ficaram também molhados e pareceu-me, a julgar pela direção da água, proceder de diferentes jatos do meio do quarto ao mesmo tempo e de uma altura de quatro pés acima de nossas cabeças, como se um jato fosse descarregado perpendicularmente sobre um plano e daí espalhado em todas as direções.
Eu já tivera ocasião de assistir ao mesmo fenômeno em presença de
Slade, ao qual assistiu também o
Sr. Gillis, de S. Petersburgo. Esse fenômeno efetuou-se na sala de espera do hoteleiro da estação da Estrada de Ferro da Turíngia, na qual pela primeira vez
Slade entrava. Não se pode por isso alegar ter havido preparo. Esses fenômenos têm sido testemunhados por diversas pessoas.
Na manhã seguinte, às 11 horas,
von Hoffmann tomou parte na nossa sessão, sentando-se à minha direita;
Slade, como de costume, à minha esquerda. Depois de obtermos algumas
comunicações_escritas, de repente vimos surgir de debaixo da mesa e de diferentes lugares uma coluna de fumo que, a julgar pelo cheiro, devia provir de ácido sulfúrico e salitre. Imediatamente olhamos embaixo da mesa e vimos uma tênue fumaça como procedendo de um fósforo riscado. Logo em seguida se repetiu o fenômeno, porém mais pronunciadamente.
Slade propôs colocarmos uma vela embaixo da mesa para vermos se os seres invisíveis seriam capazes de acendê-la.
Von Hoffmann tomou dois castiçais com velas ainda não usadas e os colocou embaixo da mesa na parte mais distante de
Slade. Juntamos as nossas mãos. Logo em seguida surgiu fumo debaixo da mesa em todas as direções e um dos castiçais surgia com a vela acesa. Depois de alguns segundos, novamente baixou e quando examinamos embaixo da mesa lá se achava uma das velas ardendo. Para certificar-me da ausência de uma alucinação, tomei de um pedaço de papel e o coloquei sobre a chama da vela, queimando assim um buraco. Em seguida tomei de um lacre, derreti-o na vela e o deixei pingar no papel e pus o meu sinete.
Depois de termos acalmado a nossa admiração, sentamo-nos novamente à mesa, colocando no centro a vela ainda acesa.
Slade_sonambulizou-se e de olhos fechados nos dirigiu as seguintes palavras que von Hoffmann copiou:
- “Tudo aquilo que não compreendemos estranhamos. Fogo há em toda parte. Pensai no sílex do qual o extraí. Ele existe em todos os elementos à volta de vós. Que esta luz seja o vosso farol no caminho das vossas investigações, que seja ela o símbolo da luz que deve romper as trevas do mundo. A luz do cérebro iluminará o vosso caminho! Esta noite entraremos em uma nova fase.
Amanhã de manhã refaremos as nossas forças e à noite vos mostraremos ainda outra fase se a atmosfera nos for favorável.”
Realmente os nossos amigos invisíveis cumpriram a sua promessa de maneira admirável. Às 7:30 da noite nos achávamos tomando o nosso chá. Sobre a mesa estava uma grande lâmpada.
Slade sentava-se em frente a mim com as costas para uma janela que tinha as cortinas cerradas. À minha esquerda, do mesmo lado da mesa, se sentava a
Sra. von Hoffmann e em frente a ela o
Sr. von Hoffmann. Não contávamos com manifestação alguma, visto nunca termos assistido nada de notável durante as nossas refeições, excetuando movimentos de mesa, levantamento de cadeiras e pequenos fenômenos desta ordem.
Repentinamente, a
Sra. von Hoffmann deu um grito e disse ver na parede e na porta para a qual eu tinha as costas voltadas o reflexo de uma luz clara que parecia vir de um ponto embaixo da mesa. Examinamos embaixo da mesa por toda parte, mas nada vimos que nos explicasse a procedência da luz. Contando com a repetição do fenômeno, por diversas vezes olhamos para a parede e eu, a fim de melhor poder apreciá-lo, voltei a minha cadeira de lado.
Pouco depois o fenômeno se repetiu e logo em seguida mais uma vez. A cor da luz era de um azul esmaecido, como procedente de uma lâmpada elétrica repentinamente acesa. Para mim o que se tornava mais notável era serem os pés da mesa nitidamente projetados, não obstante, conforme a observação que em tão curto espaço de tempo pude fazer,
os pés da mesa serem do mesmo tamanho que a sombra projetada.
Não obstante eu poder considerar o fenômeno como um fato não provado
cientificamente em razão de falta de precauções científicas, em todo caso considero meu
dever científico consigná-lo de modo a provocar a atenção de futuros observadores acerca de um fato tão notável.
Se, por exemplo, a origem dessa luz fosse um ponto luminoso embaixo da mesa, a sombra dos pés da mesa deveria, de acordo com a lei da projeção das sombras, ser muito maior na parede que os próprios pés da mesa, o que qualquer pessoa pode verificar colocando uma vela embaixo de uma mesa que tenha muitos pés.
O tamanho e forma de uma sombra projetada aproximam-se, como todos sabem, tanto mais do tamanho e forma do objeto que os projeta quanto mais afastado se acha o foco luminoso; ou em outras palavras, quanto mais próximos se acham os raios do paralelo. A nitidez das linhas da sombra nos oferece ainda uma inferência do tamanho do foco luminoso.
Se, por exemplo, o diâmetro aparente do disco do sol fosse vinte vezes maior do que de fato é, as sombras projetadas pelos corpos opacos durante o dia seriam muito mais apagadas nas suas extremidades do que de fato o são.
Independente dos fenômenos de refração, um corpo projeta uma sombra exatamente do seu tamanho se os raios luminosos procedem de um ponto infinitamente remoto. Desde que, como no caso presente, as sombras dos pés da mesa eram perfeitamente idênticas em forma e tamanho aos próprios pés, segue-se que os raios luminosos que produziam aquelas sombras deviam proceder de um foco:
- 1º) de um tamanho aparentemente muito diminuto;
- 2º) estando a grande distância.
Lugar algum embaixo da mesa satisfazia à segunda condição. Tendo também o resto do aposento sido examinado e mesmo a distância da mais remota parede da sala, não satisfazendo às condições, o dito fenômeno exige outro ponto de partida que não pode ficar nos limites do espaço de três dimensões.
Esta contradição é resolvida tão logo admitamos uma
região de quatro dimensões em que vivem aqueles seres inteligentes e invisíveis, que tantas vezes nos mostram o seu poder, os quais podem também desviar raios de luz que se acham difundidos na direção da
quarta dimensão de modo a convergirem na nossa direção do espaço de três dimensões.
Nós, igualmente, por meio do reflexo e refração da luz podemos desviar os seus raios de tal maneira que mudamos o seu ponto de partida para lugar diverso do verdadeiro. Desse desvio de raios luminosos depende a maioria das ilusões fisico-ópticas. Sendo
fenômenos luminosos semelhantes muito freqüentes em sessões espíritas, tendo sido testemunhados, entre outros, por
Crookes(*) publicamente, deve ser-me permitido chamar a atenção de outros observadores para as circunstâncias acima mencionadas.
Para uma determinação aproximada de um ponto de divergência dos raios de tais fenômenos luminosos, recomendo o seguinte meio como o mais simples: Fenômenos luminosos são apreciáveis por meio de um binóculo de teatro com cujo emprego o objeto pode ser muito afastado.
Objetos a tão pouca distância como os que se acham num aposento exigem um modo particular de assestar o binóculo. A distância determinada pela peça ocular da objetiva nos proporciona o meio, de acordo com as leis da ótica, de determinar a distância do objeto, isto é, dos pontos luminosos que espargem os seus raios no espaço.
Se, porém, descobrir-se em relação aos fenômenos luminosos espíritas, que a divergência dos raios não coincide com a distância dos pontos luminosos, a diferença dessas duas distâncias indicará a extensão de uma linha alcançando a
quarta dimensão e por esse meio terá sido dado o primeiro passo para precisar por meio de determinações quantitativas o campo do espaço de
quatro dimensões.
Tal observação na história dos
Fenômenos de Desmaterialização seria comparável às primeiras determinações das paralaxes na história da Astronomia, ao que devemos as primeiras concepções aproximadas da distância da Lua, o corpo celeste mais próximo de nós.
Mencionarei de passagem que os
fenômenos luminosos acima descritos se repetiram em duas noites mais, a 9 e 19 de maio, em idênticas circunstâncias e em presença de muitos que se achavam reunidos para tomarem chá. Nessas ocasiões, para melhor observar
Slade e o fenômeno me sentei a seu lado. A única diferença apreciável no fenômeno consistia na cor da luz, sendo nessa ocasião de um amarelo avermelhado em vez de um azul esmaecido.
Será conveniente em futuras e idênticas observações munirem-se os observadores de um
espectroscópio a fim de examinarem a natureza dessas luzes. Para terminar, mencionarei uma sessão que se realizou com
Slade às 5 horas da tarde de 15 de dezembro de 1877 no gabinete de costume, em casa do meu amigo
Hoffmann, estando também presente a sua esposa. Achava-se o aposento fracamente iluminado, a fim de verificarmos se a presença de
Slade (como se deu com a presença da
Srta. Cook, uma mocinha de 15 anos, fato descrito por
Crookes sob a epígrafe
Formas e rostos de Fantasmas) conseguiria provocar a aparição de um desses fantasmas.
Improvisamos um gabinete amarrando em diagonal uma corda em toda a extensão da sala em frente ao meu lugar do costume, cerca de dois metros acima do assoalho e da largura mais ou menos da mesa. Sobre a corda colocamos uma cortina, à sua direita a
Sra. Hoffmann e à minha
von Hoffmann. Tínhamos colocado as mãos na mesa quando me lembrei que nos faltava uma campainha.
Nesse momento uma que se achava sobre o aparador começou a tocar à distância pelo menos de dois metros da mesa. Vimos a campainha descer do lugar onde se achava para o chão e aos pulos encaminhar-se para debaixo da mesa. Feito isto, a campainha pôs-se a tocar animadamente e uma mão repentinamente apareceu pela parte superior da cortina com a campainha e a depositou sobre a mesa entre nós.
Formulei o desejo de um momento apertar essa mão. Apenas o fiz, apareceu novamente a mão. Enquanto com a minha direita segurava ambas as mãos de
Slade, com a esquerda apertava a que me aparecia por cima da cortina. Deste modo cumprimentei um amigo do outro mundo. Essa mão tinha todo o calor vital e retribuiu-me o aperto com toda a efusão. Depois de soltar a mão, tomei uma lousa de escrever e propus ao Espírito que experimentássemos as nossas forças, pedindo-lhe que procurasse arrancar-me a lousa das mãos.
Aceito o desafio, o Espírito pegou em uma extremidade da lousa enquanto eu retinha a outra. Nos diversos puxões notei os mesmos movimentos musculares como se fosse um homem que segurasse a outra extremidade da lousa. Por um forte puxão fiquei com a lousa em minhas mãos.
Enquanto pensava no que acabava de se passar, vi de repente emergir acima da cortina um corpo semicircular brilhando com uma luz fosforescente do tamanho de uma cabeça humana. Movia-se de um lado para outro acima da cortina e pareceu-nos pertencer a uma forma luminosa que se achava por detrás da tapagem.
Aproximando-se do lado onde se achava
Slade, tornou-se completamente visível.
Slade recuou assustado, o que nos fez rir e a forma imediatamente se afastou para trás da cortina e do lado oposto tornou a mostrar-se até meio corpo.
Não podíamos distinguir feições ou membros. Em intensidade e cor, a luz fosforescente assemelhava-se à observada nos tubos de
Geissler. Senti muito não ter comigo o meu
espectroscópio, de modo a poder examinar com mais fidelidade a natureza da luz emitida.
(*) Nota sobre uma Investigação de Fenômenos chamados Espíritas por
William_Crookes,* membro da Sociedade Real de Ciências de Londres, 1864.
W. Crookes enumerou e descreveu treze classes de fenômenos por ele verificados e observados na sua própria casa, estando presentes somente amigos seus e o médium.
Da classe 8ª:
Aparições luminosas. Diz ele: Sendo estes um tanto esmaecidos, é necessário que o aposento esteja às escuras. Escusado é lembrar aos meus leitores que todas as precauções foram por mim tomadas, a fim de não sermos enganados por óleo fosforizado ou outros meios. E ainda a maior parte destas luzes são de tal natureza, que tenho procurado imitá-las sem porém tê-lo conseguido.
Com as maiores precauções, vi um corpo sólido luminoso do tamanho e quase da forma de um ovo de perua flutuar sem rumo em todas as direções do aposento, algumas vezes muito alto e outras vezes descendo ao chão.
Conservou-se visível por mais de 10 minutos e antes de desaparecer bateu na mesa três
pancadas que produziram o mesmo ruído de um corpo sólido. Durante esse tempo o médium conservava-se recostado em uma cadeira de braços, aparentemente em estado de insensibilidade. Tenho visto pontos luminosos moverem-se pelo aposento e descansarem sobre a cabeça de diversas pessoas. Responderam a perguntas minhas levantando e abaixando fortes focos de luz diante dos meus olhos um certo número de vezes. Tenho visto centelhas de luz voarem da mesa até o teto e em seguida descerem e baterem na mesa com um ruído bem perceptível. Recebi uma comunicação alfabética que me foi transmitida por um facho luminoso enquanto a mão se movia entre essas luzes. Vi uma nuvem luminosa flutuar até um quadro. Sob a mais severa precaução, mais de uma vez foi colocado nas minhas mãos um corpo sólido, cristalino e luminoso por uma mão que não pertencia a nenhum dos circunstantes. Com luz vi uma nuvem luminosa flutuar sobre um girassol num dunquerque, quebrar uma folha e levá-la a uma senhora. Por diversas ocasiões vi uma nuvem idêntica e bem visível tomar a forma de uma mão e carregar em diversas direções pequenos objetos.
* Nota do tradutor J.T.P.: A obra a que o tradutor em língua portuguesa, no seu fervor doutrinário, dá o longo título de
Nota sobre uma Investigação de Fenômenos chamados Espíritas nada mais é do que aquela que
William Crookes publicou em Londres em 1874:
Researches into the Phenomena of Spiritualism (Pesquisas acerca dos Fenômenos de Espiritualismo). Essa obra foi publicada em língua portuguesa pela editora FEB, sob o título
Fatos Espíritas.
[112 - Capítulo XII] - Zöllner (1834 - 1882)
Dedicatória de Zöllner, no seu livro "PROVAS CIENTÍFICAS DA SOBREVIVÊNCIA" a Sir William Crookes , membro da
Sociedade Real de Ciências de Londres.
Com o mais elevado sentimento de gratidão e reconhecimento pelos serviços prestados por vós a uma nova ciência, eu vos ofereço, respeitabilíssimo colega, o terceiro volume dos meus
Tratados Científicos.
Por uma coincidência notável, as nossas investigações científicas se encontraram no mesmo terreno, fornecendo à humanidade admirada uma nova classe de
fenômenos_físicos que proclamam bem alto e de um modo não mais duvidoso a existência de um outro mundo material de seres inteligentes. Como dois solitários viajores que, alegres, se cumprimentam ao se encontrarem depois da dissipação de intenso nevoeiro, que encobria o cume a que aspiravam chegar, eu me rejubilo em vos ter encontrado, corajoso batalhador, neste novo campo científico.
Sobre vós também ingratidão e ridículo têm sido atirados, com a máxima liberalidade, pelos cegos representantes da ciência moderna e pelas multidões mal guiadas pelos seus ensinamentos.
Seja a vossa consolação a certeza de que o imortal esplendor com que os nomes de
Newton e
Faraday ilustram a história do povo inglês nunca poderá ser obscurecido, nem mesmo pelo declínio político dessa grande nação. Assim também o vosso nome sobreviverá na história da cultura intelectual, juntando um novo adorno aos mais com que a nação inglesa já ornou a raça humana.
A vossa coragem, a vossa admirável penetração nas investigações e a vossa incomparável perseverança vos erigirão um monumento nos corações agradecidos da posteridade, indestrutível como os mármores das estátuas de Westminster.
Aceitai, pois, a presente obra como sinal de agradecimento e simpatia, vertidos do coração honesto de um alemão.
Se algum dia o ideal da paz universal for realizado, será indiscutivelmente o resultado não de discursos e de agitações políticas, dos quais sempre a vaidade humana exige o seu tributo, mas sim do progresso dos conhecimentos científicos, pelo que teremos de agradecer a verdadeiros heróis como
Copérnico,
Galileu,
Kepler,
Newton,
Faraday,
Wilhelm Weber e vós!
Em primeiro lugar torna-se necessário que a verdade seja dita sem restrições, de modo a enfrentar, com toda a energia, as mentiras e a tirania, seja sob que aspecto for, que procurem impedir o progresso humano. Neste sentido, peço-vos que julgueis da luta que tenho sustentado contra as ofensas morais e científicas, não só no meu como também no vosso país.
Toda a polêmica, mesmo as mais justas, têm em si qualquer coisa de antipático, apresentando o aspecto de um sanguinolento campo de batalha. Mesmo nisso é o homem intimado a recordar-se positivamente das imperfeições e fraqueza da sua vida terrena.
A poesia e a história de todos os povos glorificam os campos de batalha saturados do sangue dos seus nobres filhos e, à sua volta, a primeira vem encontrar as cruzes que marcam os túmulos dos heróis tombados, adornados de rosas e saudades no lugar onde um ano antes de digladiavam até à morte.
Assim para o futuro parecerá às gerações vindouras esse campo de batalha literário. Elas terão compreendido a necessidade moral da luta e, no esplendor matutino de uma nova era da cultura humana, se terá apagado da sua lembrança a parte antipática da minha polêmica.
A Inglaterra e a Alemanha sempre se hão de lembrar das palavras do vosso grande
Sir David Brewster, que na sua
Vida de Newton relembra a indestrutibilidade e a imortalidade das obras do gênio humano:
“Os empreendimentos humanos, como a fonte de que emanam, são indestrutíveis. Atos de legislação e feitos de guerra podem conferir aos seus autores grande celebridade, porém a glória que eles trazem é somente local e temporária e, enquanto são glorificados pela nação que eles beneficiam, por outro lado são amaldiçoados pelo povo a quem arruínam ou escravizam.
Os labores da Ciência, pelo contrário, não acarretam má conseqüência alguma. São a dádiva generosa de grandes cérebros para todos os indivíduos da sua espécie e, quando bem acolhidos, se tornam o consolo da vida privada e o ornamento e fortaleza do bem-estar comum.”
Com estas consoladoras palavras de um dos vossos célebres patrícios, aceitai, meu distinto amigo, a presente obra como sinal da sincera estima do
Autor
Leipzig, 1º de outubro de 1879.
[112 - páginas 23/25] - Zöllner (1834 - 1882)