____A
mulher de um dos amigos de Allan
Kardec viu repetidas vezes entrar no seu quarto, durante
a noite, houvesse ou não luz, uma vendedora de frutas que ela conhecia de
vista, residente nas cercanias, mas com quem jamais falara. Grande terror
lhe causou essa aparição, não só porque, na época em que se deu, ela ainda
nada conhecia do Espiritismo,
como também porque se produzia com muita freqüência. Ora, a vendedora
de frutas estava perfeitamente viva e, àquelas horas, provavelmente
dormia. Assim, enquanto, na sua casa, seu corpo material repousava, seu
Espírito, com o respectivo_corpo_fluídico, ia à casa da senhora em questão. Por que
motivo? é o que se não sabe.
____Diante
de fato de tal natureza, um espírita, iniciado nessa espécie de fenômenos,
ter-lho-ia perguntado; disso, porém, nenhuma ideia teve a senhora. De
todas as vezes, a aparição se eclipsava, sem que ela soubesse como, e, de
todas igualmente, após a desaparição, cuidou de se certificar de que as
portas estavam bem fechadas, de modo a não poder ninguém penetrar-lhe no
aposento. Esta precaução lhe deu a prova de estar sempre completamente
acordada na ocasião e de não haver sido joguete de um sonho.
____De
outras vezes, viu, da mesma maneira, um homem que lhe era desconhecido e, certo
dia, viu seu próprio irmão, que se achava na Califórnia. Este se lhe
apresentou com a aparência tão perfeita de uma pessoa real, que, no primeiro
momento, acreditou que ele houvesse regressado e quis dirigir-lhe a palavra. Logo, entretanto, o vulto desapareceu, sem lhe dar tempo a isso. Uma
carta, que posteriormente lhe chegou, trouxe-lhe a prova de que o
irmão,
que ela vira, não morrera. Essa senhora era o que se pode chamar um médium
vidente natural. Mas, então, como acima dissemos, ainda nunca ouvira
falar em médiuns. [17b - página 153 item 115] ____Outra senhora, residente na província, estando gravemente enferma, viu certa
noite, por volta das dez horas, um senhor idoso, que residia na mesma cidade e
com quem ela se encontrava às vezes na sociedade, mas sem que existissem
relações estreitas entre ambos. Viu-o perto de sua cama, sentado numa poltrona
e a tomar, de quando em quando, uma pitada de rapé. Tinha ares de vigiá-la. Surpreendida com semelhante visita a tais horas, quis perguntar-lhe por que
motivo ali estava, mas o senhor lhe fez sinal que não falasse e tratasse de
dormir. De todas as vezes que ela intentou dirigir-lhe a palavra, o mesmo gesto
a impediu de fazê-lo. A senhora acabou por adormecer. Passados alguns dias,
tendo-se restabelecido, recebeu a visita do dito senhor, mas em hora mais
própria, sendo que dessa vez era ele realmente quem lá 'estava. Trazia a mesma
roupa, a mesma caixa de rapé e os modos eram os mesmos. Persuadida de que
ele a visitara durante sua enfermidade, agradeceu-lhe o incômodo a que se dera. O homem, muito espantado, declarou que havia longo tempo não tinha a
satisfação de vê-la. A senhora, conhecedora que era dos fenômenos_espíritas, compreendeu o de que se tratava: mas, não querendo entrar em
explicações, limitou-se a dizer que provavelmente fora um sonho. [17b - página 154 item 116] ____Eis
aqui agora outro fato ainda mais característico e grande curiosidade teríamos
de ver como poderiam explicá-lo unicamente por meio da imaginação. Trata-se
de um senhor provinciano, que jamais quisera casar-se, mau grado às instâncias
de sua família, que muito insistira notadamente a favor de uma moça residente
em cidade próxima e que ele jamais vira. Um dia, estando no seu quarto,
teve a enorme surpresa de se ver em presença de uma donzela vestida de branco e
com a cabeça ornada por uma coroa de flores. Disse-lhe que era sua noiva,
estendeu-lhe a mão, que ele tomou nas suas, vendo-lhe num dos dedos um
anel. Ao cabo de alguns instantes, desapareceu tudo. Surpreendido com
aquela aparição, depois de se haver certificado de estar perfeitamente
acordado, inquiriu se alguém lá estivera durante o dia. Responderam-lhe
que na casa pessoa alguma fora vista. Decorrido um ano, cedendo a novas
solicitações de uma parenta, resolveu-se a ir ver a moça que lhe propunham. Chegou à cidade onde ela morava, no dia da festa de Corpus-Christi. Voltaram todos da procissão e uma das primeiras pessoas que lhe surgiram ante
os olhos, ao entrar ele na casa aonde ia, foi uma moça que lhe não custou
reconhecer como a mesma que lhe aparecera. Trajava tal qual a aparição,
porquanto esta se verificara também num dia de Corpus-Christi. Ficou
atônito e a mocinha, por seu lado, soltou um grito e sentiu-se mal. Voltando a si, disse já ter visto aquele senhor, um ano antes, em dia igual ao
em que estavam. Realizou-se o casamento. Isso ocorreu em 1835,
época em que ainda se não cogitava de Espíritos, acrescendo que ambos os
protagonistas do episódio são extremamente positivistas e possuidores da
imaginação menos exaltada que há no mundo.
____Dirão
talvez que ambos tinham o espírito despertado pela ideia da união proposta e
que essa preocupação determinou uma alucinação. Importa, porém, não
esquecer que o marido se conservara tão indiferente a isso, que deixou passar
um ano sem ir ver a sua pretendida. Mesmo, todavia, que se admita esta hipótese,
ainda ficaria pendendo de explicação a aparição dupla, a coincidência
do vestuário com o do dia de Corpus-Christi e, por fim, o reconhecimento
físico, reciprocamente ocorrido entre pessoas que nunca se viram,
circunstâncias que não podem ser produto da imaginação. [17b - página 155 item 117] |