GUIA.HEU
22 Anos
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Psicofonia sonambúlica ou Psicofonia inconsciente

Personagens do texto abaixo:

Dona Celina A médium de psicofonia sonambúlica.

André Luiz Espírito que ditou o texto abaixo, por intermédio do médium Chico Xavier.

áulus Espírito orientador de André Luiz, no plano espiritual.

Clementino Espírito - mentor espiritual- responsável pela reunião mediúnica.

Eugênia A médium de psicofonia consciente.

José maria Espírito atormentado, trazido à sessão para tratamento.

Raul Silva Encarnado, membro da reunião mediúnica, responsável pela doutrinação do espírito manifestante.

Hilário Espírito, companheiro de André Luiz.

____Dona Celina, o melhor instrumento da casa, é quem deve acolher o indesejável comunicante (espírito atormentado).

____Reparei-lhe a luminosa auréola, na médium, contrastando com a vestimenta pestilencial do forasteiro, e deixei-me avassalar por incoercível temor.

____Semelhante providência não seria o mesmo que entregar uma harpa delicada às patas de uma fera?

____Áulus, porém, deu-se pressa em explicar-nos:

____- Acalmem-se. O amigo dementado penetrou o templo com a supervisão e o consentimento dos mentores da casa. Quanto aos fluidos_de_natureza_deletéria, não precisamos temê-los. E, compreendendo-se que mais ajuda aquele que mais pode, nossa irmã Celina é a companheira ideal para o auxílio desta hora.

____Indicando-a, exclamou:

____- Observemos.

____A médium desvencilhou-se do corpo físico, como alguém que se entregava a sono profundo, e conduziu consigo a aura brilhante de que se coroava.

____Clementino não teve necessidade de socorrê-la. Parecia afeita àquele gênero de tarefa. Ainda assim, o condutor do grupo amparou-a, solícito.

____A nobre senhora fitou o desesperado visitante com manifesta simpatia e abriu-lhe os braços, auxiliando-o a senhorear o veículo físico, então em sombra.

____Qual se fora atraído por vigoroso ímã, o sofredor arrojou-se sobre a organização física da médium, colando-se a ela, instintivamente.

____Auxiliado pelo guardião que o trazia, sentou-se com dificuldade, afigurando-se-me intensivamente ligado ao cérebro mediúnico.

Se Eugênia, a médium de psicofonia_consciente, revelara-se benemérita enfermeira, e Dona Celina surgia aos nossos olhos por abnegada mãezinha, tal a devoção afetiva para com o hóspede infortunado.

____Dela partiam fios brilhantes a envolve-lo inteiramente e o recém-chegado, em vista disso, não obstante senhor de si, demonstrava-se criteriosamente controlado.

____Assemelhava-se a um peixe em furiosa reação, entre os estreitos limites de um recipiente que, em vão, procurava dilacerar.

____Projetava de si estiletes de treva, que se fundiam na luz com que Celina-alma o rodeava, dedicada.

____Tentava gritar impropérios, mas debalde.

____A médium era um instrumento passivo no exterior, entretanto, nas profundezas do ser, mostrava as qualidades morais positivas que lhe eram conquista inalienável, impedindo aquele irmão de qualquer manifestação menos digna.

____- Eu sou José Maria ... – clamava o visitante, irritadíssimo, enfileirando outros nomes com o evidente intuito de lançar importância sobre a sua origem.

____Amontoava reclamações, deitava reprimendas e revoltava-se exasperado, contudo, percebi que não usava palavras semelhantes às que proferira junto de nós.
____Achava-se como que manietado, vencido, embora prosseguisse rude e áspero.

____Aparecia tão completamente implantado na organização fisiológica da medianeira, tão espontâneo e tão natural, que não sopitei as perguntas a me escorrerem céleres do pensamento.

____A mediunidade falante em Celina era diversa?

____Eugênia e ela se haviam desligado da veste carnal, durante o trabalho ... Por que a primeira se mantivera preocupada, qual enfermeira inquieta, enquanto que a segunda parecia devotada tutora do irmão dementado, seguindo-o com cuidados de mãe? Por que numa delas a expectação atormentada e na outra a serena confiança?

____Desculpando-nos a condição de aprendizes, Áulus passou a esclarecer-nos, enquanto Clementino e Raul Silva amparavam o comunicante, através de orações e frases renovadoras de incentivo ao bem.

____- Celina – explicou, bondoso – é sonâmbula perfeita. A psicofonia, em seu caso, se processa sem necessidade de ligação da corrente nervosa do cérebro mediúnico à mente do hóspede que o ocupa. A espontaneidade dela é tamanha na cessão de seus recursos às entidades necessitadas de socorro e carinho, que não tem qualquer dificuldade para desligar-se de maneira automática do campo sensório, perdendo provisoriamente o contacto com os centros motores da vida cerebral. Sua posição medianímica é de extrema passividade. Por isso mesmo, revela-se o comunicante mais seguro de si, na exteriorização da própria personalidade. Isso, porém, não indica que a nossa irmã deva estar ausente ou irresponsável. Junto do corpo que lhe pertence, age na condição de mãe generosa, auxiliando o sofredor que por ela se exprime qual se fora frágil protegido de sua bondade. Atraiu-o a si, exercendo um sacrifício voluntário, que lhe é doce ao coração fraterno e José Maria, desvairado e desditoso, imensamente inferior a ela, não lhe pôde resistir. Permanece, assim, agressivo tanto quanto é, mas vê-se controlado em suas menores expressões, porque a mente superior subordina as que lhe situam à retaguarda, nos domínios do espírito. É por essa razão que o hóspede experimenta com rigor o domínio afetuoso da missionária que lhe dispensa amparo assistencial. Impelido a obedecer-lhe, recebe-lhe as energias mentais constringentes que o obrigam a sustentar-se em respeitosa atitude, não obstante revoltado como se encontra.

____Diante da pausa que se fazia natural, reparamos que Silva conseguia franca progresso na doutrinação.

____O ex-tirano rural começava a assimilar algumas réstias de luz.

____Hilário, contudo, provocou a continuidade da lição, perguntando:

____- Embora seja preciosa auxiliar, como vemos, não se lembrará Dona Celina das palavras que o visitante pronuncia por seu intermédio?

____- Se quiser, poderá recordá-las com esforço, mas na situação em que se reconhece, não vê qualquer vantagem na retenção dos apontamentos que ouve.

____- Indubitavelmente – ponderou meu colega – observamos singular diferença entre as duas médiuns que caíram em transe ... tenho a ideia de que , na psicofonia_consciente, Dona Eugênia exercia um controle mais direto sobre o hóspede que lhe utilizava os recursos, ao passo que Dona Celina, embora vigiando o companheiro que se comunica, deixa-o mais à vontade, mais livre... Caso não Fosse Dona Celina a trabalhadora hábil, capaz de intervir a tempo, em qualquer circunstância menos agradável, não seria de preferir as faculdades de Dona Eugênia?

____- Sim, Hilário, você tem razão. O sonambulismo puro, quando em mãos desavisadas, pode produzir belos fenômenos, mas é menos útil na construção espiritual do bem. A psicofonia inconsciente, naqueles que não possuem méritos_morais suficientes à própria defesa, pode levar à possessão, sempre nociva, e que por isso, apenas se evidencia integral nos obsessos que se renderam às forças vampirizantes.

____Hilário refletiu um momento e tornou a considerar:

____- Aqui, vemos a médium fora do vaso_físico, dominando mentalmente a entidade que lhe é inferior... Mas... e se fosse o contrário? Se tivéssemos aqui uma entidade intelectualmente superior senhoreando mentalmente a médium?

____- Nesse caso – redargüiu o paciente interlocutor -, Celina seria naturalmente controlada.

____Se o comunicante fosse, nessa hipótese, uma inteligência degenerada e perversa, a fiscalização correria por conta dos mentores da casa e, em se tratando de um mensageiro com elevado patrimônio de conhecimento e virtude, a médium apassivar-se-ia com satisfação, porquanto lhe aproveitaria as vantagens da presença, tal como o rio se beneficia com as chuvas que caem do alto.

____O instrutor ia continuar, mas Clementino solicitou-lhe o concurso para a remoção de José Maria que, algo renovado, principiava a aceitar o serviço da prece, chegando mesmo a atingir a felicidade de chorar.

____Nosso orientador passou a contribuir na assistência ao visitante, que foi novamente entregue ao amigo paternal que o trazia, a fim de internar-se em organização socorrista distante.

[28a - página 69] - André Luiz

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