As
almas mudam a indumentária
carnal, no curso incessante dos séculos; constroem o edifício milenário da evolução_humana com as suas lágrimas e sofrimentos,
e até nossos ouvidos chegam os ecos dolorosos de suas aflições.
EMMANUEL (A Caminho da Luz, página 14) [52 - página 14] 
CONSIDERAÇÕES
SOBRE A PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS:
____Não
é novo, dizem alguns, o dogma da
reencarnação; ressuscitaram-no da
doutrina
de Pitágoras.
____Pitágoras,
como se sabe, não foi o autor do sistema da metempsicose; ele o colheu dos filósofos indianos e dos egípcios, que o tinham desde tempos
imemoriais. A ideia da transmigração_das_almas formava, pois, uma crença vulgar, aceita
pelos homens mais eminentes. Uma ideia não atravessa séculos e séculos, nem consegue
impor-se a inteligências de escol, se não
contiver
algo de sério. Entre a metempsicose
dos antigos e a moderna doutrina da reencarnação,
há, como também se sabe, profunda diferença, assinalada pelo fato de os Espíritos rejeitarem, de maneira absoluta, a
transmigração da alma do homem para os
animais
e reciprocamente.
____Coloquemo-nos,
momentaneamente, num terreno neutro, admitindo o mesmo grau de probabilidade
para ambas as hipóteses, isto é, a da pluralidade e a da unicidade das
existências
corpóreas, e vejamos para que lado a razão e o nosso próprio interesse nos
farão pender. Muitos repelem a ideia da reencarnação pelo só motivo de ela não lhes convir. Dizem
que uma existência já lhes chega de sobra e que, portanto, não desejariam
recomeçar outra semelhante. De alguns sabemos
que saltam em fúria só com o pensarem que tenham de
voltar à Terra. A Doutrina Espírita, no tocante
à reencarnação, não é tão terrível como a julgam; que, se a houvessem
estudado a fundo, não se mostrariam tão
aterrorizados; saberiam que deles dependem as condições da nova
existência, que será feliz ou desgraçada, conforme_ao_que_tiverem_feito_neste_mundo; que desde agora
poderão elevar-se tão alto que a recaída no lodaçal não lhes seja mais de temer.
Suponhamos dirigir-nos a pessoas que acreditam num
futuro depois da morte e não aos que criam para
si a perspectiva do nada, ou pretendem que suas almas se vão afogar num
todo universal, onde perdem a individualidade, como os pingos da chuva no
oceano, o que vem a dar quase no mesmo. Ora,
pois: se credes num futuro qualquer, certo não admitis que
ele seja idêntico para todos, porquanto de outro modo, qual a utilidade do bem? Por que haveria o homem de constranger-se? Por
que deixaria de satisfazer a todas as suas paixões,
a
todos os seus desejos, embora a custa de outrem, uma vez que por isso não
ficaria sendo melhor, nem pior? Credes, ao
contrário, que esse futuro será mais ou menos ditoso ou inditoso,
conforme ao que houverdes feito durante a vida e então desejais que seja tão afortunado quanto possível, visto que há de durar
pela eternidade, não? Mas, porventura, teríeis
a pretensão de ser dos homens mais perfeitos que hajam existido na Terra e,
pois, com direito a alcançardes de um salto a
suprema felicidade dos eleitos? Não. Admitis então que
há homens de valor maior do que o vosso e com direito a um lugar melhor, sem
daí resultar que vos conteis entre os
réprobos. Pois bem!
____---
Colocai-vos mentalmente, por um instante,
nessa situação intermédia, que será a vossa, como acabastes de reconhecer, e
imaginai que alguém vos venha dizer: Sofreis; não
sois tão felizes quanto poderíeis ser, ao passo
que diante de vós estão seres que gozam de completa ventura. Quereis mudar na
deles a vossa posição? - Certamente, respondereis; que devemos fazer? - Quase nada: recomeçar o trabalho mal executado e executá-lo
melhor. - Hesitaríeis em aceitar, ainda que a
poder de muitas existências de provações?
____---
Façamos outra comparação mais prosaica. Figuremos que a um homem que, sem ter deixado
a miséria extrema, sofre, no entanto,
privações, por escassez de recursos, viessem dizer: Aqui está uma riqueza
imensa de que podes gozar; para isto só é
necessário que trabalhes arduamente durante um minuto. Fosse
ele o mais preguiçoso da Terra, que sem hesitar diria: Trabalhemos um minuto,
dois minutos, uma hora, um dia, se for preciso.
Que importa isso, desde que me leve a acabar os meus
dias na fartura? Ora, que é a duração da vida corpórea, em confronto com a
eternidade? Menos que um minuto, menos que um segundo. Temos visto algumas pessoas raciocinarem deste modo:
Não é possível que Deus, soberanamente bom
como é, imponha ao homem a obrigação de recomeçar uma série de misérias
e tribulações. Acharão, porventura, essas pessoas que há mais bondade em condenar Deus o homem a sofrer perpetuamente, por
motivo de alguns momentos de erro, do que em lhe
facultar meios de reparar suas faltas?
____---
"Dois
industriais contrataram dois operários, cada um
dois quais podia aspirar a se tornar sócio do respectivo patrão. Aconteceu
que esses dois operários certa vez empregaram muito mal o seu dia, merecendo ambos ser despedidos. Um dos industriais, não obstante
as súplicas do seu, o mandou embora e o pobre
operário, não tendo achado mais trabalho, acabou por morrer na miséria. O outro disse ao seu: Perdeste um dia; deves-me por
isso uma compensação. Executaste mal o teu
trabalho; ficaste a me dever uma reparação. Consinto que o recomeces. Trata de
executá-lo bem, que te conservarei ao meu serviço e
poderás continuar aspirando à posição superior
que te prometi." Será preciso perguntemos qual dos industriais foi mais
humano? Dar-se-á que Deus, que é a clemência
mesma, seja mais inexorável do que um homem?
____---
Disse um filósofo que, se Deus não existisse, fora mister inventá-lo, para
felicidade do gênero humano. Outro tanto se poderia
dizer sobre a pluralidade das
existências. Se
não há reencarnação, só há, evidentemente, uma existência corporal. Se a
nossa atual existência corpórea é única, a
alma de cada homem foi criada por ocasião do seu nascimento,
a menos que se admita a anterioridade da alma, caso em que se caberia perguntar
o que era ela antes do nascimento e se o estado em que se achava não
constituía uma existência sob forma qualquer.
Não há meio termo: ou a alma existia, ou não existia antes
do corpo. Se existia, qual a sua situação? Tinha, ou não, consciência de si
mesma? Se não tinha, é quase como se não
existisse. Se tinha individualidade, era progressiva, ou estacionária? Num e noutro caso, a que grau chegara ao tomar o corpo? Admitindo, de acordo
com a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou, o que vem a ser o mesmo que, antes de encarnar, só dispõe de faculdades
negativas, perguntamos:
- 1º
Por que mostra a alma aptidões tão diversas e independentes das ideias que a educação lhe fez adquirir?
- 2º
Donde vem a aptidão extranormal que muitas crianças em tenra idade revelam,
para esta ou aquela arte, para esta ou aquela ciência, enquanto outras se
conservam inferiores ou medíocres durante
a vida toda?
- 3º
Donde, em uns, as ideias inatas ou intuitivas, que noutros não existem?
- 4º
Donde, em certas crianças, o instituto precoce que revelam para os vícios ou para as virtudes, os sentimentos inatos de dignidade ou
de baixeza, contrastando com o meio em que elas
nasceram?
- 5º
Por que, abstraindo-se da educação, uns homens são mais adiantados do que outros?
- 6º
Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomardes de um menino hotentote
recém-nascido e o educardes nos nossos melhores liceus, fareis dele algum dia um Laplace ou um Newton?
____Qual
a filosofia ou a teosofia capaz de resolver estes problemas? É fora de dúvida que, ou as almas são iguais ao nascerem, ou são
desiguais.
____---
Se são iguais, por que, entre elas, tão
grande diversidade de aptidões? Dir-se-á que isso depende do organismo. Mas,
então, achamo-nos em presença da mais
monstruosa e imoral das doutrinas. O homem seria simples
máquina, joguete da matéria; deixaria de ter a responsabilidade de seus atos,
pois que poderia atribuir tudo às suas
imperfeições físicas.
____---
Se almas são desiguais, é que Deus as criou
assim. Nesse caso, porém, por que a inata superioridade concedida a algumas? Corresponderá essa parcialidade à justiça de Deus e
ao amor que Ele consagra igualmente a todas suas
criaturas?
____Admitamos, ao contrário, uma
série de progressivas existências anteriores para cada alma
e tudo se explica. Ao nascerem, trazem os homens a intuição do que aprenderam
antes: São mais ou menos adiantados, conforme o
número de existências (reencarnações) que contem, conforme já
estejam mais ou menos afastados do ponto de partida. Dá-se aí exatamente o que se observa numa reunião de indivíduos de todas as
idades, onde cada um terá desenvolvimento proporcionado ao número de anos que
tenha vivido. A Doutrina Espírita
tem mais amplitude do que tudo isto. Segundo ela, não há
muitas espécies de homens, há tão-somente cujos espíritos estão mais ou
menos atrasados, porém, todos suscetíveis de
progredir. Não é este princípio mais conforme à justiça
de Deus?
- 1ª
Se a nossa existência atual é que, só ela, decidirá da nossa sorte vindoura,
quais, na vida futura, as posições respectivas do
selvagem e do homem civilizado? Estarão no
mesmo nível, ou se acharão distanciados um do outro, no tocante à soma de
felicidade eterna que lhes caiba?
- 2ª
O homem que trabalhou toda a sua vida por melhorar-se, virá a ocupar a mesma
categoria de outro que se conservou em grau inferior de adiantamento, não por culpa sua, mas porque não teve tempo, nem
possibilidade de se tornar melhor?
- 3ª
O que praticou o mal, por não ter podido instruir-se, será culpado de um estado de coisas cuja existência em nada dependeu
dele?
- 4ª
Trabalha-se continuamente por esclarecer, moralizar, civilizar os homens. Mas, em contraposição a um que fica esclarecido,
milhões de outros morrem todos os dias antes
que a luz lhes tenha chegado. Qual a sorte destes últimos? Serão tratados como
réprobos? No caso contrário, que fizeram para ocupar
categoria idêntica à dos outros?
- 5ª
Que sorte aguarda os que morrem na infância, quando ainda não puderam fazer
nem o bem, nem o mal? Se vão para o meio dos eleitos, por que esse favor, sem
que coisa alguma hajam feito para merecê-lo? Em
virtude de que privilégio eles se vêem isentos das
tribulações da vida?
____Que
teria sido da religião, se, contra a opinião universal e o testemunho da
ciência, se houvesse obstinadamente recusado a
render-se à evidência e expulsado de seu seio
todos os que não acreditassem no movimento do Sol ou nos seis dias da
criação? Que crédito houvera merecido e que
autoridade teria tido, entre povos cultos, uma religião fundada
em erros manifestos e que os impusesse como artigos de fé? Logo que a
evidência se patenteou, a Igreja,
criteriosamente, se colocou do lado da evidência.
____Uma vez provado
que
certas coisas existentes seriam impossíveis sem a reencarnação, que, a não
ser por esse meio, não se consegue explicar
alguns pontos do dogma, cumpre admiti-lo e reconhecer meramente
aparente o antagonismo entre esta doutrina e a dogmática.
____Mais adiante
mostraremos
que talvez seja muito menor do que se pensa a distância que, da doutrina das vidas sucessivas, separa a religião e que a esta não
faria aquela doutrina maior mal do que lhe
fizeram as descobertas do movimento da Terra e dos períodos geológicos, as
quais, à primeira vista, pareceram desmentir os
textos sagrados.
____Demais, o princípio da reencarnação ressalta de muitas passagens das Escrituras, achando-se especialmente formulado,
de modo explícito, no Evangelho: "Quando
desciam da montanha (depois da transfiguração), Jesus lhes fez esta recomendação:
Não faleis a ninguém do que acabastes de ver, até que o Filho do homem tenha ressuscitado, dentre os mortos. Perguntaram-lhe
então seus discípulos: Por que dizem os
escribas ser preciso que primeiro venha Elias?
Respondeu-lhes Jesus: É certo que Elias há de vir e que
restabelecerá todas as coisas. Mas, eu vos declaro que Elias já veio, e eles
não o conheceram e o fizeram sofrer como
entenderam. Do mesmo modo darão a morte ao Filho do
homem. Compreenderam então seus discípulos que era de João Batista que ele
lhes falava." (São Mateus, cap. XVII.) Pois que João Batista fora Elias, houve reencarnação do Espírito ou da alma de Elias no corpo de
João Batista.
____O essencial está em que o
ensino dos Espíritos é eminentemente cristão;...
____Logo, não é
anti-religioso. As próprias palavras de Jesus não permitem dúvida a tal respeito. Eis o que se lê no Evangelho
de São João, capítulo III:
- 3.
Respondendo a Nicodemos, disse Jesus: Em verdade, em verdade, te digo que, se um
homem não nascer de novo, não poderá ver o
reino de Deus.
- 4.
Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer já estando velho? Pode tornar
ao ventre de sua mãe para nascer segunda vez?
- 5.
Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se um homem não renascer
da água e do Espírito, não poderá entrar no reino de Deus. O que é nascido
da carne
é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te admires de que eu
te tenha dito: é necessário que torneis a nascer. (Ver o parágrafo "Ressurreição da carne", n°
1010.)
[9a - páginas 143 / 155 questão 222] |