- Podem
pedir-se conselhos aos Espíritos?
R -Certamente. Os bons_Espíritos jamais recusam auxílio aos que os invocam com
confiança, principalmente no que concerne à alma.
Repelem, porém, os hipócritas, os que simulam pedir a luz e se comprazem
nas trevas .
- Podem
os Espíritos dar conselhos sobre coisas de interesse privado?
R -Algumas vezes, conforme o motivo. Isso também depende daqueles a
quem tais conselhos são pedidos. Os que se relacionam com a vida privada
são dados com mais exatidão pelos Espíritos familiares, que são os que
se acham mais ligados à pessoa que os pede e se interessam pelo que lhes
diz respeito; é o amigo, 'o confidente dos vossos mais secretos
pensamentos. Mas, é tão freqüente os cansardes com perguntas banais, que
eles vos deixam. Tão absurdo fora perguntardes, sobre coisas íntimas,
Espíritos que vos são estranhos, como seria o vos dirigirdes, para isso,
ao primeiro indivíduo que encontrásseis no vosso caminho. Jamais
deveríeis esquecer que a puerilidade das perguntas é incompatível com a superioridade dos Espíritos. Preciso
igualmente é leveis em conta as qualidades do Espírito familiar, que pode
ser bom, ou mau, conforme suas simpatias pela pessoa a quem se ligue. O
Espírito familiar de um homem mau é mau Espírito, cujos conselhos podem
ser perniciosos, mas que se afasta e cede o lugar a um Espírito melhor, se
o próprio homem se melhora. Unem-se os que se assemelham.
- Podem
os Espíritos familiares favorecer os interesses materiais por meio de
revelações?
R -Podem e algumas vezes o fazem, de acordo com as circunstâncias;
mas, ficai certos de que os bons Espíritos nunca se prestam a servir à cupidez.
Os maus vos fazem brilhar diante dos olhos mil atrativos, a fim de vos
espicaçarem e, depois, mistificarem, pela decepção.
Ficai também sabendo que, se é da vossa
prova passar por tal ou tal vicissitude,
os vossos Espíritos
protetores poderão ajudar-vos a suportá-la com mais
resignação, poderão mesmo, às vezes, suavizá-la; mas, no próprio
interesse do vosso futuro, não lhes é lícito isentar-vos dela. Um
bom pai não concede ao filho tudo o que este deseja.
NOTA.
Os nossos Espíritos protetores podem, em muitas circunstâncias,
indicar-nos o melhor caminho, sem, entretanto, nos conduzirem pela
mão, porque, se assim fizessem, perderíamos o mérito da iniciativa
e não ousaríamos dar um passo sem a eles recorrermos, com prejuízo
do nosso aperfeiçoamento. Para progredir, precisa o homem,
muitas vezes, adquirir experiência à sua própria custa. Por
isso é que os Espíritos ponderados nos aconselham, mas quase sempre
nos deixam entregues às nossas próprias forças, como faz o educador
hábil, com seus alunos. Nas circunstâncias ordinárias da
vida, eles nos aconselham pela inspiração,
deixando-nos assim todo o mérito do bem que façamos, como toda a
responsabilidade do mal que pratiquemos. Fora abusar da
condescendência dos Espíritos familiares e equivocar-se quanto à
missão que lhes cabe o interrogá-los a cada instante sobre as coisas
mais vulgares, como o fazem certos médiuns. Alguns há que, por
um sim, por um não, tomam o lápis e podem conselho para o ato mais
simples. Esta mania denota pequenez nas ideias, ao mesmo tempo
que a presunção de supor, quem quer que seja, que tem sempre um
Espírito servidor às suas ordens, sem outra coisa mais a fazer
senão cuidar dele e dos seus mínimos interesses. Além disso,
quem assim procede aniquila o seu próprio juízo e se reduz a um
papel passivo, sem utilidade para a vida presente e indubitavelmente
prejudicial ao adiantamento futuro. Se há puerilidade em
interrogarmos os Espíritos sobre coisas fúteis, menos puerilidade
não há da parte dos Espíritos que se ocupam espontaneamente com o
que se pode chamar - negócios caseiros. Em tal caso, eles poderão
ser bons, mas, inquestionavelmente, ainda são muito terrestres. |
- Se
uma pessoa, ao morrer, deixar embaraçados seus negócios, poder-se-á pedir
a seu Espírito que ajude a desembaraçá-los? Poder-se-á também
interrogá-lo sobre o quanto dos haveres que deixou, dado o caso de se não
conhecer esse quanto, desde que isso se faça no interesse da justiça?
R - esqueceis que a morte é a libertação dos cuidados terrenos.
Julgais então que o Espírito, ditoso com a liberdade de que goza, venha de
boa-vontade retomar a cadeia de que se livrou e ocupar-se com coisas que já
não o interessam, apenas para satisfazer à cupidez de seus herdeiros, que talvez hajam rejubilado com a sua morte, na
esperança de que lhes fosse ela proveitosa? Falais de justiça; mas, a
justiça, para esses herdeiros, está na decepção que lhes sofre a
cobiça. E o começo das punições que Deus lhes reserva à avidez
dos bens da Terra. Demais, os embaraços em que às vezes a morte de
uma pessoa deixa seus herdeiros, fazem parte das provas da vida, e no poder
de nenhum Espírito está o libertar-vos delas, porque se acham
compreendidas nos decretos de Deus.
NOTA. A resposta acima desapontará sem dúvida
os que imaginam que os Espíritos nada de melhor tem a fazer do que
nos servirem de auxiliares clarividentes e nos ajudarem, não a
subirmos para o Céu, mas a nos prendermos à Terra.
Outra consideração vem em apoio dessa resposta. Se um homem,
por incúria durante a vida, deixou seus negócios em desordem, não
é de crer que, depois da morte, tenha com eles mais cuidados,
porquanto feliz deve sentir-se de estar livre dos aborrecimentos que
tais negócios lhe causavam e, por pouco elevado que seja, ainda menos
importância lhes ligará como Espírito do que como homem. Quanto aos bens desconhecidos que haja podido deixar, nenhum motivo
lhe dão para que se interesse por herdeiros ávidos, que
provavelmente já não pensariam nele, se alguma coisa não esperassem
colher. Se estiver ainda imbuído das paixões humanas, poderá mesmo encontrar malicioso prazer no desapontamento
dos que lhe cobiçavam a herança. Se, no interesse da
justiça e das pessoas que lhe são caras, um Espírito julgar
conveniente fazer revelações deste gênero, fa-las-á
espontaneamente e, para obtê-las, ninguém precisa ser médium nem
recorrer a um médium. O próprio Espírito dará conhecimento das
coisas, por meio de circunstâncias fortuitas, não, todavia, por
efeito de pedidos que se lhe façam, visto que semelhantes pedidos de
modo algum podem mudar a natureza das provas que os encarnados devam
sofrer. Eles constituíram antes uma maneira de as agravar, porque
são quase sempre indício de cupidez e dão a ver ao Espírito que os
que os formulam só se ocupam com ele por interesse. |
[17b - página 386 item 291] |
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