As
manifestações espontâneas nem sempre se
limitam a ruídos e pancadas.
Degeneram, por vezes, em verdadeiro estardalhaço
e em perturbações...
- Móveis e objetos diversos são derribados,
- projeteis de
toda sorte são atirados de fora para dentro,
- portas e janelas são abertas e
fechadas por mãos invisíveis,
- ladrilhos são quebrados, o que não se pode
levar à conta da ilusão.
____Muitas
vezes o derribamento se dá, de fato; doutras, porém, só se dá na aparência.
Ouvem-se vozeríos em aposentos contíguos, barulho de louça que cai e se quebra
com estrondo, cepos que rolam pelo assoalho. Acorrem as pessoas da casa e
encontram tudo calmo e em ordem. Mal saem, recomeça o tumulto.
[17b - página 108 item 87] ____As
manifestações desta espécie não são
raras, nem novas. Poucas serão as crônicas locais que não encerrem alguma
história desta natureza. E fora de dúvida que o medo tem exagerado muitos
fatos que, passando de boca em boca, assumiram proporções gigantescamente
ridículas. ____Com
o auxílio da superstição, as casas onde eles ocorrem foram tidas como
assombradas pelo diabo e daí todos os maravilhosos ou terríveis contos de
fantasmas. Por outro lado, a velhacaria não consentiu em perder tão bela
ocasião de explorar a credulidade e quase sempre para satisfação de
interesses pessoais. Aliás, facilmente se concebe que impressão podem fatos
desta ordem produzir, mesmo dentro dos limites da realidade, em pessoas de
caracteres fracos e predispostas, pela educação, a alimentar ideias
supersticiosas. ____O
meio mais seguro de obviar aos inconvenientes que possam trazer, visto não ser
possível impedir-se que se dêem, consiste em tornar conhecida a verdade. Em
coisas terríficas se convertem as mais simples, quando se lhes desconhecem as
causas. Ninguém mais terá medo dos Espíritos, quando todos estiverem
familiarizados com eles e quando os a quem eles se manifestam já não acreditem
que estão às voltas com uma legião de demônios.
[17b - página 109 item 88] ____A
muitas pessoas tem acontecido que, estando deitadas, mas completamente
acordadas, lhes sacudam os cortinados da cama, tirem com violência as cobertas,
levantem os travesseiros e mesmo as joguem fora do leito. Fatos destes são
muito mais freqüentes do que se pensa; porém, as mais das vezes, os que deles
são vítimas nada ousam dizer, de medo do ridículo. ____Somos
sabedores de que, por causa desses fatos, se tem pretendido curar, como atacados
de alucinações, alguns indivíduos, submetendo-as ao tratamento a que se
sujeitam os alienados, o que os torna realmente loucos. A Medicina não pode
compreender estas coisas, por não admitir, entre as causas que as determinam,
senão o elemento material; donde, erros freqüentemente funestos. A história
descreverá um dia certos tratamentos em uso no século dezenove, como se narram
hoje certos processos de cura da Idade Média. ____Admitimos
perfeitamente que alguns casos são obra da malícia ou da malvadez. Porém, se
tudo bem averiguado, provado ficar que não resultam da ação do homem,
dever-se-á convir em que são obra, ou do diabo, como dirão uns, ou dos
Espíritos, como dizemos nós. Mas de
que Espíritos? [17b - página 109 item 89] ____Na
sua maioria, fazem-no apenas para se divertirem. São mais levianos do que maus,
que se riem dos terrores que causam e das pesquisas inúteis que se empreendem
para a descoberta da causa do tumulto. Agarram-se com freqüência a um
indivíduo, comprazendo-se em o atormentarem e perseguirem de casa em casa.
Doutras vezes, apegam-se a um lugar, por mero capricho. Também, não raro,
exercem por essa forma uma vingança, como teremos ocasião de ver.
____Em
alguns casos, mais louvável é a intenção a que cedem. procuram chamar a
atenção e pôr-se em comunicação_com_certas_pessoas, quer para lhes darem um aviso proveitoso, quer
com o fim de lhes pedirem qualquer coisa para si mesmos. Muitos temos visto que
pedem preces; outros que solicitam o cumprimento, em nome deles, de votos que
não puderam cumprir;
outros, ainda, que desejam, no interesse do próprio repouso, reparar uma ação
má que praticaram quando vivos. ____Em
geral, é um erro ter-se medo. A presença desses Espíritos pode ser importuna,
porém, não perigosa. Concebe-se, aliás, que toda gente deseja ver-se livre
deles; mas, geralmente, as que isso desejam fazem o contrário do que deveriam
fazer para consegui-lo. Se se trata de Espíritos que se divertem, quanto mais
ao sério se tomarem as coisas, tanto mais eles persistirão, como crianças
travessas, que tanto mais molestam as pessoas, quanto mais estas se impacientam,
e que metem medo aos poltrões.
____Porém,
como dissemos acima, alguns há que assim procedem por motivo menos frívolo.
Daí vem que é sempre bom saber-se o que querem. Se pedem qualquer coisa,
pode-se estar certo de que, satisfeitos os seus desejos, não renovarão as
visitas. O melhor meio de nos informarmos a tal respeito consiste em evocarmos o
Espírito, por um bom médium_escrevente. Pelas suas respostas, veremos imediatamente com quem
estamos às voltas e obraremos de conformidade com o esclarecimento colhido.
- Se
se trata de um Espírito infeliz, manda a caridade
que lhe dispensemos as atenções que mereça.
- Se é um engraçado de mau gosto,
podemos proceder desembaraçadamente com ele.
- Se um malvado, devemos rogar a
Deus que o torne melhor.
____Qualquer que seja o caso, a_prece nunca deixa de dar bom resultado. As fórmulas graves de exorcismo,
essas os fazem rir; nenhuma importância lhes ligam. Sendo possível entrar em
comunicação com eles, deve-se sempre desconfiar dos qualificativos burlescos,
ou apavorantes, que dão a si mesmos, para se divertirem com a credulidade dos
que acolhem como verdadeiros tais qualificativos.
[17b - página 110 item 90] ____Estes
fenômenos, conquanto operados por Espíritos inferiores, são com freqüência
provocados por Espíritos de ordem mais elevada, com o fim de demonstrarem a
existência de seres incorpóreos e de uma potência superior ao homem. A
repercussão que eles têm, o próprio temor que causam, chamam a atenção e
acabarão por fazer que se rendam os mais incrédulos. Acham estes mais simples
lançar os fenômenos a que nos referimos à conta da imaginação, explicação
muito cômoda e que dispensa outras. Todavia, quando objetos vários são
sacudidos ou atirados à cabeça de uma pessoa, bem complacente imaginação
precisaria ela ter, para fantasiar que tais coisas sejam reais, quando não o
são. ____Entretanto,
cada um deve estar em guarda, não somente contra narrativas que possam ser,
quando menos, acoimadas de exagero, mas também contra as próprias impressões,
cumprindo não atribuir origem oculta a tudo o que não compreenda. Uma
infinidade de causas muito simples e muito naturais pode produzir efeitos à
primeira vista estranhos e seria verdadeira superstição ver por toda parte
Espíritos ocupados em derribar móveis, quebrar louças, provocar, enfim, as
mil e uma perturbações que ocorrem nos lares, quando mais racional é
atribuí-las ao desazo.
[17b - página 112 item 91] ____A
explicação dada do movimento_dos_corpos_inertes se aplica naturalmente a todos os efeitos
espontâneos a que acabamos de passar revista. Os ruídos, embora mais fortes do
que as pancadas na mesa, procedem da mesma causa. Os objetos derribados, ou
deslocados, o são pela mesma força que levanta qualquer objeto. Há mesmo aqui
uma circunstância que apóia esta teoria. Poder-se-ia perguntar onde, nessa
circunstância, o médium. Os Espíritos nos disseram que, em tal caso, há
sempre alguém cujo poder se exerce â sua revelia. As manifestações
espontâneas muito raramente se dão em lugares ermos; quase sempre
se produzem nas casas habitadas e por motivo da presença de certas pessoas que
exercem influência, sem que o queiram. Essas pessoas ignoram possuir faculdades_mediúnicas, razão por que lhes chamamos médiuns
naturais. [17b - página 113 item 92] |