Unindo-se
ao corpo, o Espírito não se identifica com a matéria. A matéria é apenas o
envoltório do Espírito, como o vestuário o é do corpo. Unindo-se a
este, o Espírito conserva os atributos da natureza
espiritual.
[9a - página 205 questão 367] O
exercício das faculdades do Espírito depende dos órgãos que lhes servem de instrumento. A grosseria da matéria as enfraquece. Assim, o invólucro
material é obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como
um vidro opaco o é à livre irradiação da luz.
[9a - página 205 questão 368] ____O
livre exercício das faculdades da alma está subordinado ao desenvolvimento dos
órgãos. Os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da
alma, manifestação que se acha subordinada ao desenvolvimento e ao grau de
perfeição dos órgãos, como a excelência de um trabalho o está à da ferramenta própria à sua execução.
[9a - página 205 questão 369] ____As
faculdades_morais_e_intelectuais não estão diretamente relacionados ao
desenvolvimento do cérebro. Não confundais o efeito com a causa. O Espírito
dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos
que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos
órgãos. ____O
princípio dessa diversidade reside nas qualidades_do_Espírito, que pode ser mais ou menos adiantado. Entretanto, a
diversidade das aptidões entre os homens deriva, não unicamente, do estado do
Espírito. ____Cumpre,
porém, se leve em conta a influência da matéria, que mais ou menos lhe
cerceia o exercício
de suas faculdades. Encarnado, traz o Espírito certas predisposições e, se se
admitir que a cada uma corresponda no cérebro um órgão, o desenvolvimento
desses órgãos será efeito e não causa. ____Se
nos órgãos estivesse o princípio das faculdades, o homem seria máquina sem livre-arbítrio e sem a responsabilidade de seus atos. Forçoso então fora
admitir-se que os maiores gênios, os sábios, os poetas, os artistas, só o
são porque o acaso lhes deu órgãos especiais, donde se seguiria que, sem
esses órgãos, não teriam sido gênios e que, assim, o maior dos imbecis
houvera podido ser um Newton, um Vergílio, ou um Rafael, desde que de certos
órgãos se achassem providos. Ainda mais absurda se mostra semelhante
hipótese, se a aplicarmos às qualidades morais. Efetivamente, segundo esse
sistema, um Vicente de Paulo, se a Natureza o dotara de tal ou tal órgão,
teria podido ser um celerado e o maior dos celerados não precisaria senão de
um certo órgão para ser um Vicente de Paulo. Admita-se, ao contrário, que os
órgãos especiais, dado existam são conseqüentes, que se desenvolvem por
efeito do exercício da faculdade, como os músculos por efeito do movimento, e
a nenhuma conclusão irracional se chegará. Sirvamo-nos de uma comparação
trivial à força de ser verdadeira. Por alguns sinais fisionômicos se
reconhece que um homem tem o vício da embriaguez. Serão esses sinais que fazem
dele um ébrio, ou será a ebriedade que nele imprime aqueles sinais? Pode
dizer-se que os órgãos recebem o cunho das faculdades.
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