SAúDE PúBLICA
- 1854
Quando o Sr. Jose Bonifácio Nascimento de Azambuja assumiu como Presidente de Província, mais uma vez o médico Philippe Pornim pediu que se empreguem todos os meios persuasivos para que o povo se aproveite desse preservativo das bexigas que era a vacina e continuava altamente rejeitada pela população.
Além do despreparo do povo para receber as devidas práticas médicas no tratamento de doenças que os médicos exaltavam em seus relatórios, esses pediam obras que acelerassem o processo de limpeza sanitária da cidade. Era perceptível que a falta de higiene pública
contribuía para o agravamento das enfermidades. Tal empreendimento de sanitarização é pedido no relatório do Dr. Jose Joaquim Rodrigues, membro da comissão sanitarista, que em suas palavras reafirmou a falta de asseio nas ruas de Vitória. Aliado ao problema sanitário, no mês de maio de 1854 alastrou-se pela cidade uma epidemia de disenteria que se caracterizou por diarréia, náuseas, falta de apetite, dor na barriga com evacuação de sangue repetida por 20 a 30 vezes ao dia.
Numa lista apresentada à Presidência da Província, os médicos sanitaristas informam o nome do pobre adoecido de disenteria, seu endereço e sua cura ou falecimento:
Fonte: APE, Fundo: Governadoria, Série: 383, Livro: 19.
A desinteria atacava principalmente regiões onde habitavam os menos favorecidos economicamente, por condições precárias de higiene em suas habitações. O número de falecidos, entretanto, pode ser considerado pequeno, pois em um total de 25 (vinte e cinco) doentes como demonstra o quadro acima, apenas cinco faleceram, observando que alguns dos mortos eram pessoas que se encontravam em idade avançada e conseqüentemente, mais debilitados frente a epidemias. Apesar da precariedade das condições sanitárias em que estavam os doentes, o atendimento médico conseguia restabelecer a maioria absoluta (75%) dos enfermos.
Algumas ruas citadas no quadro anterior constituem atualmente locais bem conhecidos da população de Vitória. Analisar a tabela torna-se relevante para se perceber onde habitavam os pobres na cidade, em especial por saber que essas ruas abrigavam construções simplórias, e eram sinuosas e estreitas como a famosa rua do Piolho que mais tarde receberia o nome de Treze de Maio (em comemoração ao dia da assinatura da Lei áurea) por ali habitar um grande quantitativo de pessoas negras. Suas casas caracterizavam-se por serem com o teto muito baixo coberto de taipa, pintadas de branco e possuindo janelas no estilo de guilhotinas. Quase todas baixas e pequeninas, eram habitações características à moradia dos pobres. Elmo Elton (1986) apresenta a nomenclatura dessas ruas em Vitória nos dias atuais:
Fonte: ELTON, Elmo. Logradouros antigos de Vitória. Vitória: IJSN, 1986.
No mesmo ano (1854) o vice-presidente da Província Barão de Itapemirim recebeu do Dr. Manuel Bitencourt um relatório em que é considerada a dieta distribuída aos pobres para seu sustento nos momentos de doenças epidêmicas: farinha, carne seca e arroz. Provavelmente em Vitória os mesmos alimentos deviam ser ofertados aos desvalidos e adoentados em estado de pobreza extremada.
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