Abaixo, página 9 do livro de Belizário Vieira Ramos, genealogia da
Família Werneck, onde consta Maria Bernarda “mãe dos Almeidas Ramos”.
Bispo D. Pedro Maria de Lacerda
Diários das Visitas Pastorais de 1880 e 1886 à Província do Espírito Santo, redigido pelo Bispo D. Pedro Maria de Lacerda
http://www.estacaocapixaba.com.br/temas/historia/diarios-das-visitas-pastorais-de-1880-e-1886-a-provincia-do-espirito-santo-2/
Textos retirados destes diários:
1886 - Terça-feira 10 de Agosto (Dia [de] S. Lourenço): Faz hoje 34 anos que em Mariana recebi o Presbiterado das mãos do grande Bispo Viçoso! Disse Missa no Oratório, e depois ainda estive passando Provisões para casamento[s] para se fazerem fora. Isto retardou a partida. Enfim depois de nos despedirmos da D. Henriqueta e de rezado o Itinerário saímos pouco antes do meio-dia. Acompanhou-nos o bom Capitão Souza e seu sobrinho Chiquinho e o Rdo. Vigário Manoel Leite.
Continuação da Quarta-feira 11 Agosto: Alpes: Apeamo-nos na Fazenda da Prata. A casa é nobre e de sobrado com 11 janelas de frente, das quais 9 de sacadas de grade de ferro. Pertence esta Fazenda a D. Ana Claudina Vieira, viúva de Joaquim Vieira Machado. No salão da casa nos apareceu a dona e uma de suas filhas ainda solteira e uma sua nora casada com o Sr. Lourenço. Esta nora é parente do Dr. Francisco Infante Vieira, morador em Minas mas Bispado do Rio de Janeiro, e que foi meu discípulo em Mariana em 1850 ou pouco depois. O cunhado desta moça, o Sr. Maurício tinha [p. 20] vindo conosco desde a Independência, é Engenheiro civil e que estudou na Bélgica.
A casa fica em uma extensa planície cercada de montes e serras e de um destes morros despenda-se de bem alto da crista do morro uma cascata formada pelas águas do ribeirão chamado do Meio. A boa distância da casa fica um cemitério murado, que não visitamos
Começamos daí a pouco a subir a serra chamada de S. Cristóvão. Passamos por caminhos tortuosos e por entre paus derribados e por pedras e do alto demos uma vista d’olhos à planície em baixo e à Fazenda da Prata que lá alvejava no meio do campo; e prosseguimos nossa marcha, que para quem não estivesse acostumado seria para fazer chorar, e que a todos [p. 21] meterá horror quando for tempo de chuvas...
Depois de muito subir, toca a descer por não pequena vertente, igualmente bela pela esplêndida vegetação... Passamos uma vez o córrego chamado Corumbá e outra vez o mesmo e enfim entramos no largo descampado por onde corre o ribeirão chamado Caxixe, também confluente do rio Castelo. Atravessamos o Caxixa sobre uma pequena ponte chamada a da Pedra Furada perto da confluência do dito Corumbá.
Aqui nestes campos está a grande Fazenda do Sr. Manoel Fernandes Moura, o homem mais rico desta Província, com o qual eu vim da Corte em Fevereiro. A casa é grande, mas na frente não tem os ares de grandeza e nobreza, como as das Fazendas da Prata, do Capitão Souza e do Muqui; atrás sim vi uma varanda envidraçada que representa alguma coisa. O que porém é acima do que há nas outras Fazendas é um vastíssimo terreiro com uma compridíssima linha de asseadas senzalas com suas muitas portas e janelas. Passamos ao lado da casa e não entramos, o que senti, porque o Moura é dado e agradável, e me tratou bem a bordo e me fez grandes oferecimentos. Mas que fazer? Este pobre Moura está separado da mulher, e ainda há pouco tendo ela vindo aqui, ele a não aceitou nem deixou entrar em casa; mas não é tudo... o pior é que ele vive amancebado em público adultério com uma mulata que já foi escrava, e dizem que com mais, sendo isto como um serralho. A legítima mulher é da gente dos Vieiras. À esquerda da estrada antes de chegarmos ao Moura deixamos um Cemitério, onde o Sr. Agostinho tem filhos enterrados. Não longe vindo das eleições do Cachoeiro apanhou-nos o Sr. Francisco Vieira de Almeida Ramos e seu irmão e fez muitas instâncias para ao menos pararmos em sua casa e tomarmos café. Anuí e lá tomamos refresco e café. A Fazenda chama-se do Limoeiro e ali passa o córrego chamado da Povoação. Este senhor Francisco é o pai da noiva que revalidou seu casamento da qual falei a 20 de Março p. p. (Neste dia o Vigário da Vila voltou não só para a Missa do Domingo seguinte, como também lá estavam à sua espera certo par de noivos de família importante aqui nestas alturas e parentes da mãe do meu Pe. Alves, que deviam revalidar seu casamento). Soube que aqui perto há uma gruta curiosa [p. 24] e muito falada e que tem sido visitada por Presidentes desta Província e que supõe-se ter sido como uma Necrópole antiga dos índios: fiquei de ir visitá-la depois, o que agora não podia por estar a entrar a noite. A casa da Fazenda não é grande, mas é asseada e na sala há piano (que também há no Capitão Souza, e na Prata, e D. Lina). Para que em casa do Sr. Agostinho não ficasse D. Violante sua mulher incerta de nossa chegada, o Sr. Francisco V. Ramos expediu um próprio para avisar estarmos próximos (cerca de 1 légua) e a chegar hoje mesmo. Depois de uma parada talvez de meia hora tornamos a montar a cavalo e nos apeamos na Fazenda da Povoação em casa da viúva D. Lina Ludgária Vieira de Souza, parente do Padre Alves como também era seu finado marido. Esta D. Lina é tia dos já ditos Lourenço e Maurício, e aqui estava a mulher do Maurício que também é filha de D. Lina. Esta D. Lina tem favorecido muito ao Sr. Agostinho e agora mesmo ela emprestou alguns animais para nossa jornada. Também aqui paramos um pouco e tomamos café e nos foram oferecidos refrescos e tornamos a montar para concluir os ¾ de légua que nos restavam. Resistimos da instância feita para aqui ficarmos. Neste lugar como nos foi dito há muitos sinais de povoação antiga, como restos de muros etc.
Cerca de um quarto de hora subíamos para a Casa da Fazenda do Sr. Agostinho Ferreira dos Santos, pai do Pe. Alves, que deu à sua Fazenda o nome de Alpes. Apeamo-nos na varanda da casa e uma menina me atirou flores, e D. Violante e filhas, e o Sr. João irmão do Sr. Agostinho, e meninos e meninas, filhos e netos e parentes do mesmo Sr. Agostinho me caíram a beijar o anel com muitas demonstrações de alegria por verem o Bispo, de que tanto eles tinham ouvido falar, e que já lhes parecia conhecido velho, que tornava à própria casa. Eu também fiz muita festa a estes meninos, sobretudo aos irmãozinhos do Pe. Alves, dos quais os maiorezinhos Julião e César já eram meus conhecidos.
Fazenda dos Alpes (Freguesia do Cachoeiro)
1886 - Quinta-feira 12 de Agosto: Armou-se (ontem) altar na sala e hoje eu e só eu disse Missa [p. 26] que toda a família assistiu.
1886 - Sexta-feira 13 de Agosto: O Pe. Rafael na Missa deu comunhão ao Sr. Agostinho, dono da casa. Eu disse Missa e dei comunhão ao Sr. João irmão, e D. Violante mulher, ao Julião e D. Eugenia e D. Armelinda filhos do dito Sr. Agostinho.
1886 - Segunda-feira 16 de Agosto: Disse Missa, fiz uma longa prática e dei comunhão a 26 pessoas. Entre os crismados estava também a D. Ana, irmã do Pe. Alves, e o marido vindos ontem de perto da Independência. O Julião também se crismou hoje. As irmãs do Alves cantaram o O salutaris hostia.
Pela 1 hora eu, os Padres, o Sr. Agostinho e outros montamos a cavalo para irmos ver a célebre gruta de que falei acima, e como fomos em marcha acelerada chegamos em quarenta minutos à Fazenda do Limoeiro, tendo deixado atrás à esquerda as do Monte Alverne e dos Pirineus e à direita a da Povoação. Não sei por que deram estes nomes às duas primeiras Fazendas. Há por este Vale do Castelo nomes curiosos – Prata, Independência, Pirineus, Monte Alverne, Alpes, Crimeia, Fim do Mundo, Pensamento etc, etc. O Sr. Agostinho disse que chamou Alpes à sua Fazenda, porque está mais alta [p. 29] que as outras. As duas dos Pirineus e Monte Alverne estão perto de morros altos descalvados de uma parte.
Os que foram descalços ou sem botas e os mesmos de botas logo sentiram os tais bichos pulando pelo corpo (E dias depois eu mesmo tive que tirar alguns bichos). Logo que entramos acendemos velas de espermacete que havia levado o Sr. Francisco de Almeida Ramos dono da Fazenda do Limoeiro. Este me disse que com uma trena havia ele medido o comprimento da gruta e havia achado 482 palmos da entrada à chamada sala do selim de banda; como também me disse que a gruta bem se pode dividir em três desiguais, uma superior, e outra inferior àquela por onde andamos. Eu vi o ponto da superior de onde se pode dar um pulo alto para cair na do meio; e tal pulo esse Sr. Francisco de Almeida Ramos tem dado. Este senhor conhece a gruta a palmos, e a tem percorrido várias vezes só ou em acompanhar amigos ou pessoas de certa categoria e anda desembaraçado por ali dentro mesmo onde é ir de cócoras ou inclinado; e alguns melhoramentos lhe são devidos com o alargamento de certas passagens
Na beirada do tal capitel (que não é alto) houve e ainda o Sr. Ramos viu esqueletos inteiros colocados uns juntos aos outros, mas com os pés para o fundo do tal nicho e o crânio na orla do tal capitel.
O Sr. Ramos descobriu não há muito tempo um esqueleto inteirinho de uma criancinha em outro lugar da gruta em uma saliência do muro, mas já não existe tal esqueleto; há porém vários pedaços de ossos e os tive entre mãos, já carcomidos e que se desfazem entre os dedos com pequeno aperto.
Nós depois de uma boa demora saímos e tornamos a montar a cavalo e seguimos para o Limoeiro pertinho dali. Antes de entrarmos em casa fomos ver o Engenho de café em grande parte construído pelo Sr. Agostinho (pai do Pe. Alves).
No ribeirão da Povoação o Sr. Ramos nos fez reparar em alguns cascalhos, sinais da antiga mineração que houve por aquele sítio, fazendo notar que muito mais tinha havido e aparecia antes que ele formasse o terreiro de estender café. Em casa foi servido um abundante jantar, para o qual já antes o Sr. Ramos nos tinha convidado para quando fôssemos ver a sua gruta. Findo o jantar voltamos. Em caminho paramos em casa da viúva D. Lina dona da Fazenda da Povoação, senhora muito conhecida por estas alturas, e tronco de numerosa descendência, espalhada por este Castelo e alhures.
Depois de pequena demora, e por já estar entrando a noite montamos de novo a cavalo, e paramos outro pouco na pequena casa da Fazenda chamada dos Pirineus que fica entre os pequenos córregos Monte Alverne e Encanamento, que formam o ribeirão Povoação. A dona da casa (senhora casada) tinha instado dias antes para eu parar em sua casa, e lá tomar café como sucedeu agora.
Preparei os papéis do casamento de 2 escravos do Sr. Agostinho, que estavam amancebados, um o noivo da Província do Piauí, outro de Minas.
1886 - Sábado 21 de Agosto: Disse Missa. Pe. Alves deu comunhão a 2 pessoas, tendo antes com licença minha feito o casamento dos ditos dois escravos de seu pai, aos quais na Missa deu as Bênçãos Nupciais.
Rezamos o Itinerário e nos despedimos daquela boa família do Sr. Agostinho e sua mulher D. Violante e do Sr. João irmão do Sr. Agos[p. 35]tinho, e montamos a cavalo, indo eu no mesmo que me trouxe. Acompanhou-me o Sr. Agostinho e seu filhinho César e algumas outras pessoas.
Pelas 2h 40’ passamos a ponte do grosso ribeirão chamado Taquaruçu, que mais para as cabeceiras dizem chamar-se Pindobas, sítio onde mora o Sr. João irmão do Sr. Agostinho e outros Portugueses, pelo que vão chamando um pouco por gracejo de Portugal Novo aquele território.
E que direi do sítio dos Alpes? Fica entre morros e como em uma grota como dizem em Minas; isto é em sítio alto e como no fundo de uma garganta que parece ser sem saída, de sorte que não há beleza mas por essa garganta vai a estrada para Afonsinho. Da parte do sul é que a vista se estende por uma aberta e no fim se vê a alta serra chamada do Forno Grande, porque em cima há como um grande calombo de forma arredondada à semelhança de um magno forno. A casa de morada é pequena e modesta, mas nova e asseada. O Sr. Agostinho Ferreira dos Santos é Português do Porto como seu mano João Ferreira dos Santos; e foi outrora carpinteiro. D. Violante Alves Ferreira é nascida em Valença do Rio de Janeiro, e se casou no Curato do Rio Pardo, Província de Minas Bispado do Rio. Eles têm duas filhas casadas já com filhos D. Ana e D. Cecília, e outras duas de 15 e 17 anos, solteiras, e diferentes meninos, dos quais a última Ester tem pouco mais de 1 ano. é boa gente e amável. D. Violante tem muitos parentes por aqui na família dos Vieiras e de D. Lina. O Sr. Agostinho não é rico, mas nada lhe falta [p. 38] e tem roças, cafezais e alguns escravos; é pessoa estimada por aqui e com razão; é homem de bem e honrado e muito sisudo.
Alpes 2ª vez (Freguesia do Cachoeiro)
Continuação de Segunda 27 Setembro de 1886: Chegamos cerca das três horas e meia, e fomos acolhidos como gente conhecida e estimada. Já estava D. Cecília (irmã do Padre [p. 115] Alves e o marido e a menina que havia de ser batizada, como também a outra mana D. Ana e marido e outras pessoas da família. Eu quando saí dos Alpes não pensei voltar, mas pretendia do Afonsinho ir à Fazenda do João Vieira e daí para Espírito Santo; mas D. Violante mostrou desejos que eu voltasse porque até poderia ser então batizada a filhinha de D. Cecília sua filha, que quando passei na Independência estava a
dar à luz. Cedi, para agradar à mãe do meu Pe. Alves e de quem recebi tantos favores e por não ser grande demais a volta... Eis por que aqui tornei.
1886 - Terça-feira 28 de Setembro: Disse Missa no Oratório e outros Padres, visto ter eu para isso conceder faculdade Apostólica na Visita. O Padre Alves fez os exorcismos e depois eu batizei a filhinha de D. Cecília, que ficou com o nome de Maria Cecília, deixando o de Noemi que lhe queriam antes dar. Fiz depois uma prática e crismei 10 pessoas, e até fui padrinho de D. Maria Rita Nunes Vieira (15 anos) filha de Jose Nunes de Almeida Ramos e de D. Rita Vieira de Almeida que é filha de D. Lina. O Sr. Mateus (da Independência) esteve hoje aqui. Estes novos Compadres são os donos da Fazenda dos Pirineus.
1886 - Sexta-feira 1º. de Outubro: Disse Missa e houve o Bendito cantado. Dei mais explicações sobre sistema [p. 117] métrico a D. Armelinda irmã do Pe. Alves, a qual aqui é a mestra dos filhos e netos do Sr. Agostinho e de outros meninos parentes.
Antes que me esqueça, devo dizer que com muita edificação minha eu ouvia e mesmo vi toda aquela meninada e os crioulinhos todas as noites rezar em voz alta orações e doutrina Cristã. D. Armelinda e o Julião são os Presidentes e ouvi dizer que o César também vai ensinar aos escravos maiores que não são muitos. Deus os abençoe e recompense a esta família pela muita estima que me mostraram. Saímos pelas 2½ da tarde. Daí a ¼ de hora apeamo-nos na Fazenda dos Pirineus, que fica embaixo no plano, e nos deram café. Parei para saudar a afilhada e Comadre e Compadre.
Alpes (2ª. vez): 4 Missas minhas; 2 práticas; 6 comunhões (pelo Pe. Rafael); 3 Batizados (um por mim); 24 pessoas crismadas.
Fazenda da Povoação (de D. Lina) (Freguesia [do] Cachoeiro)
1886 - [Sexta-feira 1º. de Outubro (continuação)]: Depois de meia hora nos Pirineus partimos com o Sr. Agostinho pela boa estrada de carro, que leva à Fazenda da Povoação de D. Lina, e aqui chegamos em pouco tempo, porque distará apenas uma meia légua. [p. 118] Muita gente havia na casa e quase tudo consanguíneos e afins – entre os quais filhos, netos e bisnetos de D. Lina. A razão que me trouxe aqui é porque quando passei, D. Lina queria que eu ficasse, queria ouvir Missa do Bispo, e eu não pude fazer-lhe a vontade, como já contei. Entretanto eu devia o favor de me ter emprestado animais para vir do Capitão Souza...
Desta vez é que reparei que é grande e muito comprida a casa de D. Lina, com 19 janelas de fundo; e tornei a reparar que é extensa a linha de portas 24 ou 25 das senzalas dos escravos. Há também engenho de café. D. Lina Laudegária Vieira de Souza, ...
-
viúva do Capitão Jose Vieira Machado falecido em 1871.
-
é mãe do Capitão Conrado (administrador da Fazenda) e de minha Comadre Rita Vieira e da mulher do Chiquinho de Almeida (Limoeiro) e de outros;
-
é prima irmã dos avós maternos do Pe. Alves
-
e cunhada da sua avó materna.
-
é prima irmã do João Vieira e do Mateus e também afim de ambos.
-
é também cunhada e prima da [p. 119] viúva D. Ana da Fazenda da Prata (onde passei quando vim).
-
é tia paterna da mulher do célebre Moura do Centro.
Já se vê que é tronco importante de numerosa família espalhada sobretudo por este vale do Castelo-ES.
Na casa há mais de uma sala; e há piano, mas não ouvi tocar. Tudo porém é sem gosto, e toda esta gente embora boa e agradável não deixa de ter seu quê de roça e de não muito apurado e mesmo grosseiro, mais da parte dos homens. Pouco isto vale porque têm bom coração e me têm tratado com benevolência, respeito e afeto.
Assim pois pelas 4 horas da tarde nos despedimos e montamos a cavalo ou antes em bestas e deixamos a Povoação. Este lugar está descampado, e é aprazível. A viagem de hoje muito me agradou... Estrada estava enxuta, e em geral é larga sem tocos nem taquaruçus. Passamos pelo Limoeiro, que estava fechado porque o Sr. Chiquinho ou Francisco de Almeida Ramos estava na Povoação desde a festa dos anos de D. Lina (a 22 de Setembro véspera de S. Lino) e sua senhora aí estava ainda adoentada); e também passamos pela Fazenda do Macuco, do mano do dito Chiquinho Sr. Bernardo de Almeida Ramos que também estava na Povoação; fica em um campo de sítio aprazível: dista quase meia légua da Povoação. Aí perto começamos a subir a chamada Serra do Macuco; a subida foi pequenina, mas a descida foi comprida, porém fácil, e que muito me agradou porque a estrada é desobstruída e limpa, e passa por inumeráveis palmeiras de Umbiri e também Brejaúbas por entre outros muitos arvoredos.
Não vi aqui a pompa da vegetação do Guandu, nem a espessura daquelas matas, mas o bosque me pareceu encantador, e não sei por quê, só vinha pensando comigo que os melhores parques ou coutadas dos soberanos da Europa não serão superiores nem tão aprazíveis: de[p. 121]mais a hora e a frescura da tarde por estes sítios pareciam tornar esta marcha de hoje um passeio do que jornada. Cerca de 5 horas tínhamos à direita em alguma distância a Fazenda de S. Helena do Sr. João Bernardo de Souza, que deve ter sido contemporâneo meu em Mariana, ele morando no Seminário e eu em Palácio.
Daí a 10 minutos passamos pela Fazenda de S. Manoel de D. Ana Rosa do Prado Vieira, viúva de Manoel Vieira Machado da Cunha, boa senhora e que esteve comigo no Capitão Souza, e Alpes e Afonsinho.
Não tardou muito que avistamos a Fazenda para onde íamos e que chegamos ao Ribeirão da Laje ou antes à barra desse Ribeirão no Castelo, e subimos uma pequena ladeira, em cujo alto está a casa do importante Fazendeiro João Vieira Machado, homem religioso e que estivera comigo no Afonsinho. E apeamo-nos: eram 7h 23 ou 25 minutos da tarde.
Fazenda do Pensamento (Freguesia [do] Cachoeiro)
Continuação do Sábado 2 de Outubro de 1886: Era pois já noite quando chegamos. O bom Sr. João Vieira desceu abaixo para receber-me. Apesar ele ter estado comigo várias vezes no Afonsinho, não sei por quê enganou-se, talvez por estar escuro, e mui [p. 123] seriamente e com todo respeito fez sua genuflexão diante do Pe. Alves e queria beijar-lhe a mão. Conhecido o engano, ele mesmo riu-se e para explicar seu equívoco disse por gracejo: de noite todos os gatos são pardos.
Acompanharam-me os Srs. João Vieira e seu mano Bernardo Vieira. Às 3h 15’ passamos o Desengano Fazenda de Francisco de Morais, genro do João Vieira: mais adiante passamos uma ponte sobre o Ribeirão da Laje e às 3 30’ apenas passado o pequeno córrego de Trás dos Montes chegamos logo à Fazenda de igual nome pertencente ao dito Bernardo.
Duas palavras sobre a Fazenda do Pensamento. Já dissemos a razão da denominação. Fica à direita do Castelo, e à esquerda do Ribeirão da Lage, na junção dos dois.
1886 - Terça-feira 12 de Outubro: Disse Missa e de tarde fiz uma prática e crismei 84 pessoas. Já era entrada a noite quando voltei com chuva depois de uma forte pancada da mesma. Muitas famílias e muita gente voltou hoje para suas casas depois da festa. Aqui chegou o Sr. Jose Henriques de Miranda casado com uma filha do Sr. Francisco Vieira de Almeida Ramos a qual e o pai aqui se encontraram. Com ele ficou quase tratado de ir eu até a S. Cruz e até as margens do rio Jose Pedro. Este Jose Henriques é irmão de outros, e devo-lhes um tosco mapa ou antes apontamento dos córregos e ribeirões que entram no Jose Pedro, que mandaram organizar por entendidos dos lugares, a pedido do Capitão Souza.
1886 - Quarta-feira 13 de Outubro: Disse Missa e dei comunhão a 4 pessoas. Depois a pedido do Chiquinho de Almeida crismei uma filha casada (de que Pe. Figueiredo foi Padrinho) e uma netinha. Antes disse duas palavras e declarei que ficava nomeado o Sr. João Alves de Araújo para Fabriqueiro, e Procurador do Patrimônio daqui encarregado do Cemitério e de cobrar foros.