____André
— falou o meu orientador, em tom grave —, improvisemos a garganta
ectoplásmica. Não podemos perder tempo. ____E, identificando-me a
inexperiência, acrescentou: -Não precisa inquietar-se. Bastará
ajudar-me na mentalização das minúcias anatômicas do aparelho vocal.
____Estava
aturdido, mas o instrutor considerou:
-
A
força nervosa do médium é matéria
plástica e profundamente sensível às nossas criações mentais. ____Logo após, Alexandre tomou pequena
quantidade daqueles eflúvios leitosos, que se exteriorizavam
particularmente através da boca, narinas e ouvidos no aparelho_mediúnico,
e, como se guardasse nas mãos reduzida quantidade de gesso fluido, começou
a manipulá-lo, dando-me a impressão de estar completamente alheio ao
ambiente, pensando, com absoluto domínio de si mesmo, sobre a criação
do momento.
____Aos poucos, vi formar-se, sob meus
olhos atônitos, um delicado aparelho de fonação. No íntimo do
esqueleto cartilaginoso, esculturado com perfeição na matéria_ectoplásmica,
organizavam-se os fios tenuíssimos das cordas vocais, elásticas e
completas na fenda glótica e, em seguida, Alexandre experimentava
emitir alguns sons, movimentando as cartilagens aritenóides.
____Formara-se, ao influxo mental e sob
a ação técnica de meu orientador, uma garganta irrepreensível.
____Com assombro, verifiquei que através
do pequeno aparelho improvisado e com a cooperação dos sons de vozes
humanas, guardados na sala, nossa voz era integralmente percebida por
todos os encarnados presentes. Parecendo-me satisfeito com o êxito de seu
trabalho, Alexandre falou pela garganta
artificial, como quem utilizava um
instrumento vocal humano:— Meus amigos, a paz de Jesus seja
convosco! Ajudem-nos, cantando! Façam música e evitem a
concentração! ... ____Fez-se música no ambiente e vi que
o Irmão Alencar, depois de ligar-se profundamente à organização mediúnica,
tomava forma, ali mesmo, ao lado da médium, sustentada por Calimério e assistida
por numerosos trabalhadores.
____Aos poucos, valendo-se da força
nervosa exteriorizada e de vários materiais fluídicos, extraídos no
interior da casa, alia dos
a recursos da Natureza, Alencar surgiu aos olhos dos encarnados,
perfeitamente materializado. ____Surpreendido, reconheci que a médium era o centro de todos os trabalhos.
Cordões tenuíssimos ligavam-na à forma do controlador e, quando tocávamos
levemente a organizaçãomediúnica, o amigo corporificado demonstrava evidentes sinais
de preocupação, o mesmo acontecendo à jovem médium em relação a Alencar.
Os gestos incontidos de entusiasmo dos assistentes, que tentavam
cumprimentar diretamente o mensageiro materializado, repercutiam
desagradavelmente no organismo da intermediária.
____O Irmão Alencar
entreteve pequena palestra, diante dos companheiros terrestres extasiados.
Não eram, todavia, as palavras trocadas entre ele e os assistentes que me
impressionavam o coração, e, sim, a beleza do fato, a realidade da materialização,
dando ensejo a dilatadas esperanças no futuro humano, quanto à fé
religiosa, à filosofia confortadora da imortalidade e à ciência
enobrecida, a serviço da razão iluminada.
[16a - página 109] André Luiz |