GUIA.HEU
20 Anos
página acima: Biografias
Emanuel Swedenborg
Crianças e Adolescentes
DESAPARECIDOS

Emanuel Swedenborg,

com o livro "Apocalipse Revelado",

retrato pintado por Pehr Krafft,

por volta de 1768.

Emanuel Swedenborg sempre é citado no mundo espírita como um dos precursores do espiritismo e todo espírita já ouviu ou ouvirá falar dele.

http://www.autoresespiritasclassicos.com/Autores%20Espiritas%20Classicos%20%20Diversos/Swedenborg/SWEDENBORG.htm
(Link desativado)

... Deve êle ter sido muito frugal, prático e trabalhador; um rapaz enérgico e um velho muito amável. Parece que a vida o converteu numa criatura muito bondosa e venerável. Era plácido, sereno e sempre disposto à conversação, que não descambava para o psiquismo senão quando queria o seu interlocutor. O tema dessas conversas era sempre notável, mas êle se afligia com a gagueira que lhe dificultava a pronunciação. Era alto, delgado, de rosto espiritual, olhos azuis, peruca até os ombros, roupas escuras, calções curtos, fivelas nos sapatos e bengala.

[95 - Capítulo: A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO - A História de Swedenborg ]

____Swedenborg é um desses personagens mais conhecidos de nome do que de fato, ao menos para o vulgo; suas obras muito volumosas, e em geral muito abstratas, não são muito lidas senão pelos eruditos: também a maioria daqueles que dele falam ficaria muito embaraçada para dizer o que ele era Para uns, foi um grande homem, objeto de uma profunda veneração, sem saber por quê: para os outros, foi um charlatão, um visionário, um taumaturgo. Como todo homem que professa ideias que não são as de todo o mundo, quando essas ideias, sobretudo, ferem certos preconceitos, ele teve, e tem ainda, seus contraditores, se estes últimos se limitaram a refutá-lo, estavam em seu direito; mas o espírito de partido nada respeita, e as mais nobres qualidades não têm graça diante dele: Swedenborg não poderia ser exceção. Sua doutrina, sem dúvida, deixa muito a desejar: ele mesmo, hoje, está longe de aprová-la em todos os pontos. Mas, por refutável que seja, não permanecerá menos como um dos homens mais eminentes de seu século. Os documentos seguintes foram tirados de interessante notícia comunicada pela senhora P.... à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

____Emanuel Swedenborg nasceu em Stockholm, em 1688, e morreu em Londres, em 1772, com a idade de 84 anos. Seu pai, Joeper Svedenborg, bispo de Skava, era notável por seu mérito e por seu saber; mas seu filho suplantou-o de muito; ele sobrepuja em todas as ciências, e sobretudo na teologia, na mecânica, na física e na metalurgia. Sua prudência, sua sabedoria, sua modéstia e sua simplicidade valeram-lhe a alta reputação da qual goza ainda hoje. Os reis o chamaram em seus conselhos. Em 1716, Charles XII nomeou-o assessor ao Colégio metálico de Stockholm; a rainha Ulrique tornou-o nobre, e ele ocupou os postos mais honrosos com distinção até 1743, época em que teve sua primeira revelação espírita. Tinha então a idade de 55 anos e demitiu-se, não querendo ocupar-se senão de seu apostolado e do estabelecimento da doutrina da Jerusalém nova.

(Sociedade, 23 de setembro de 1859).

Comunicação de Swedenborg na sessão de 16 de setembro:

____Meus bons amigos e crentes fiéis, desejei vir para vos encorajar no caminho que seguis com tanta coragem, relativamente à questão Espírita. Vosso zelo é apreciado do nosso mundo dos Espíritos: prossegui mas não vos dissimuleis que obstáculos vos entravarão ainda algum tempo; os detratores não vos faltarão, mais do que não me faltaram. Eu preguei o Espiritismo há um século, e tive inimigos de todos os gêneros; tive também adeptos fervorosos; isso sustentou a minha coragem. Minha moral Espírita, e minha doutrina, não deixam de ter grandes erros, que hoje reconheço. Assim, as penas não são eternas; eu o vejo: Deus é muito justo e muito bom para punir eternamente a criatura que não tem bastante força para resistir às suas paixões. É o que digo igualmente do mundo dos Anjos, que se prega nos templos, não era senão uma ilusão de meus sentidos: eu acreditei vê-lo; estava de boa-fé e o disse; mas eu me enganei. Vós estais, vós, num melhor caminho, porque estais mais esclarecidos do que se estava em minha época. Continuai, mas sede prudentes para que os vossos inimigos não tenham armas muito fortes. Vedes o terreno que ganhais cada dia, coragem, pois! porque o futuro vos está assegurado. O que vos dá a força, é que falais em nome da razão. Tendes perguntas a me dirigir? Eu vos responderei.

SWEDENBORG.

  • 1. Foi em Londres, em 1745, que tivestes a primeira revelação; vós a desejastes? Já vos ocupáveis de questões teológicas? - R. Delas me ocupava; mas nunca desejei essa revelação: ela veio espontaneamente.
  • 2. Qual era esse Espírito que vos apareceu, e que vos disse ser Deus, ele mesmo? Era realmente Deus? - R. Não; eu acreditei naquilo que me disse, porque vi nele um ser sobre-humano, e com isso estava lisonjeado.
  • 3. Por que tomou o nome de Deus? - R. Para ser melhor obedecido.
  • 4. Pode Deus se manifestar diretamente aos homens? - R. Certamente, ele poderia, mas não o faz mais.
  • 5. Portanto, ele o fez num tempo? - R. Sim, nas primeiras idades da Terra.
  • 6. Esse Espírito, fazendo escrever coisas que reconheceis hoje como errôneas, fê-lo numa boa ou em má intenção? - R. Não foi com má intenção: ele mesmo se enganou, porque não estava bastante esclarecido; vejo também que as ilusões do meu Espírito o influenciavam apesar dele. Entretanto, no meio de alguns erros de sistema, é fácil reconhecer grandes verdades.
  • 7. O princípio da vossa doutrina repousa sobre as correspondências. Credes sempre nessas relações que encontráveis entre cada coisa material e cada coisa do mundo moral? - R. Não é uma ficção.
  • 8. O que entendíeis por estas palavras: Deus é o próprio homem? - R. Deus não é o homem, mas o homem que é uma imagem de Deus.
  • 9. Quereis, eu vos peço, desenvolver o vosso pensamento? - R. Eu disse que o homem é a imagem de Deus, naquilo que a inteligência, o gênio que ele recebe, algumas vezes, do céu é uma emanação da Onipotência Divina: ele representa Deus na Terra pelo poder que exerce sobre toda a Natureza, e pelas grandes virtudes que está em seu poder adquirir.
  • 10. Devemos considerar o homem como uma parte de Deus? - R. Não, o homem não é uma parte da Divindade: não é senão sua imagem.
  • 11. Poderíeis nos dizer de qual maneira recebíeis as comunicações da parte dos Espíritos, e se escrevestes o que vos foi revelado à maneira de nossos médiuns ou por inspiração? - R. Quando eu estava no silêncio e no recolhimento, meu Espírito estava como arrebatado, em êxtase, e via claramente uma imagem diante de mim que me falava e me ditava o que deveria escrever; minha imaginação, algumas vezes, também nisso se misturou.
  • 12. Que devemos pensar do fato narrado pelo cavaleiro Beylon, a respeito da revelação que fizestes à rainha Louise-Ulrique? - R. Essa revelação é verdadeira. Beylon a desnaturou.
  • 13. Qual é a vossa opinião sobre a Doutrina_Espírita, tal como ela é hoje? - R. Eu vos disse que estais num caminho mais seguro do que o meu, tendo em vista que vossas luzes, em geral, são mais desenvolvidas, eu, tinha que lutar contra mais ignorância e, sobretudo, contra a superstição.
Revista Espírita - Novembro de 1859

A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO - A História de Swedenborg


      
É impossível fixar uma data para as primeiras aparições de uma força inteligente exterior, de maior ou menor elevação, influindo nas relações humanas. Os espíritas tomaram oficialmente a data de 31 de março de 1848 como o comêço das coisas psíquicas, porque o movimento foi iniciado naquela data. Entretanto não há época na história do mundo em que não se encontrem traços de interferências preternaturais e o seu tardio reconhecimento pela humanidade. A única diferença entre êsses episódios e o moderno movimento é que aquêles podem ser apresentados como casos esporádicos de extraviados de uma esfera qualquer, enquanto os últimos têm as características de uma invasão organizada. Como, porém, uma invasão poderia ser precedida por pioneiros em busca da Terra, também o influxo espírita dos últimos anos poderia ser anunciado por certo número de incidentes, susceptíveis de verificação desde a Idade Média e até mais para trás. Uma data deve ser fixada para início da narrativa e, talvez, nenhuma melhor que a da história do grande vidente sueco EMMANUEL Swedenborg, que possui bons títulos para ser considerado o pai do nosso novo conhecimento dos fenômenos supra­normais.

____Quando os primeiros raios do sol nascente do conhecimento espiritual caíram sôbre a Terra, iluminaram a maior e a mais alta inteligência humana, antes que a sua luz atingisse homens inferiores. O cume da mentalidade foi o grande reformador e médium_clarividente, tão pouco conhecido por seus prosélitos, qual foi o Cristo.

____Para compreender completamente um Swedenborg é preciso possuir-se um cérebro de Swedenborg; e isto não se encontra em cada século. E ainda, pela nossa força de comparação e por nossa experiência dos fatos desconhecidos para Swedenborg, podemos compreender, mais claramente do que êle, certas passagens de sua vida. O objeto do presente estudo não é tratar o homem como um todo, mas procurar situá-lo no esquema geral do desdobramento psíquico aqui abordado, do qual a sua própria Igreja, na sua estreiteza, o impediria.

____Swedenborg era, sob certos aspectos, uma viva contradição para as nossas generalizações psíquicas, porque se costuma dizer que as grandes inteligências esbarram no caminho da experiência psíquica pessoal. Uma lousa limpa é, por certo, mais apta para nela escrever-se uma mensagem. O cérebro de Swedenborg não era uma lousa limpa, mas um emaranhado de conhecimentos exatos de susceptível aquisição naquele tempo. Nunca se viu tamanho amontoado de conhecimentos. Êle era, antes de mais nada, um grande engenheiro de minas e uma autoridade em metalurgia. Foi o engenheiro militar que mudou a sorte de uma das muitas campanhas de Carlos 12, da Suécia. Era uma grande autoridade em Física e em Astronomia, autor de importantes trabalhos sôbre as marés e sôbre a determinação das latitudes. Era zoologista e anatomista. Financista e político, antecipou-se as conclusões de Adam Smith. Finalmente, era um profundo estudioso da Bíblia, que se alimentara de teologia com o leite materno e viveu na austera atmosfera evangélica alguns anos de vida. Seu desenvolvimento psíquico, ocorrido aos vinte e cinco anos, não influiu sôbre a sua atividade mental e muitos de seus trabalhos científicos foram publicados após essa data.

____Com uma tal mentalidade, é muito natural que fôsse chocado pela evidência das forças supranormais, que surgem no caminho de todo pensador, mas o que não é natural é que devesse êle ser o médium para tais forças. Em certo sentido a sua mentalidade lhe foi prejudicial e lhe adulterou os resultados, pôsto que, de outro lado, lhe tivesse sido de grande utilidade. Para o demonstrar basta considerar os dois aspectos sob os quais o seu trabalho pode ser encarado.

____O primeiro é o teológico. Á maioria das pessoas que não pertencem ao rebanho escolhido afigura-se o lado inútil e perigoso de seu trabalho.

  • Por um lado, aceita a Bíblia como sendo, de modo muito particular, uma obra de Deus;
  • por outro lado, sustenta que a sua verdadeira significação é inteiramente diferente de seu óbvio sentido e que êle — e só êle — ajudado pelos anjos, é capaz de transmitir aquêle verdadeiro sentido. Essa pretensão é intolerável. A infalibilidade do Papa seria uma insignificância comparada com a infalibilidade de Swedenborg, se tal fôsse admitido. Pelo menos o Papa é infalível quando profere um veredito em matéria de doutrina excátedra, acolitado por seus cardeais. A infalibilidade de Swedenborg seria universal e irrestrita.

____Além disso suas explicações nem ao menos se acomodam à razão. Quando, visando apreender o verdadeiro sentido de uma mensagem de Deus, temos que admitir que um cavalo simboliza uma verdade intelectual, que um burro significa uma verdade científica, uma chama quer dizer melhoramento, e assim por diante com uma infinidade de símbolos, parece que nos encontramos no reino da imaginação, que apenas pode ser comparado com as cifras que alguns críticos engenhosos pretendem ter descoberto nas peças de Shakespeare. Não é assim que Deus manda a Sua verdade a êste mundo. Se tal ponto de vista fôsse aceito, o credo de Swedenborg seria apenas a matriz de mil heresias; regrediríamos e iríamos encontrarnos novamente entre as discussões e os silogismos dos escolásticos medievais. As coisas grandes e verdadeiras são simples e compreensíveis. A teologia de Swedenborg nem é simples nem inteligível. E isto representa a sua condenação.

____Entretanto, quando entramos na sua fatigante exegese das Escrituras, onde cada coisa significa algo diferente daquilo que óbviamente significa, e quando chegamos a alguns dos resultados gerais de seu ensino, êles não se acham em desarmonia com o moderno pensamento liberal, nem com o ensino recebido do Outro Lado, desde que se iniciaram as comunicações. Assim, a proposição geral de que êste mundo é um laboratório de almas, um campo de experiências, no qual o material refina o espiritual, não sofre contestação.

  • Ele repele a Trindade no seu sentido comum, mas a reconstitui de maneira extraordinária, que também seria impugnada por um Unitário.
  • Admite que cada sistema tem a sua finalidade e que a virtude não é privativa do Cristianismo.
  • Concorda com o ensino_espírita em procurar o verdadeiro sentido da vida de Jesus_Cristo no seu poder como exemplo e repele a expiação e o pecado original.
  • Vê no egoísmo a raiz de todo o mal e admite como essencial um egoísmo sadio, na expressão de Hegel.
  • Quanto aos problemas sexuais, suas ideias são liberais até ao relaxamento.
  • Considera a Igreja de absoluta necessidade, sem o que ninguém se entenderia com o Criador.

____Em tamanha confusão de ideias, espalhadas a torto e a direito em grandes volumes, escritos num latim obscuro, cada intérprete independente seria capaz de encontrar sua nova religião particular. Mas não é aí que reside o mérito de Swedenborg.

____Êsse mérito realmente seria encontrado em suas forças_psíquicas e nas suas informações psíquicas, que teriam sido muito valiosas se jamais de sua pena houvesse brotado uma palavra sôbre Teologia. É para essas forças e para essas informações que nos voltamos agora.

____Ainda menino, Swedenborg teve as suas visões. Mas êsse delicado aspecto de sua natureza foi abafado pela extraordináriamente prática e enérgica idade viril. Entretanto, por vêzes veio ela à tona, em tôda a sua vida e muitos exemplos foram registrados, para mostrar que possuía poderes geralmente chamados "vidência_a_distância”, no qual parece que a alma deixa o corpo e vai buscar uma informação a distância, voltando com notícias do que se passa alhures. Não é uma peculiaridade rara nos médiuns e pode ser comprovada por milhares de exemplos entre os sensitivos_espíritas; mas é rara nos intelectuais e também rara quando acompanhada por um estado aparentemente normal do corpo quando ocorre o fenômeno.

____Assim, no conhecidíssimo caso de Gothenburg, onde o vidente observou e descreveu um incêndio em Estocolmo, a trezentas milhas de distância, com perfeita exatidão, estava êle num jantar com dezesseis convidados, o que e um valioso testemunho, O caso foi investigado nada menos que pelo filósofo Kant, que era seu contemporâneo.

____Não obstante, êsses episódios ocasionais eram meros indícios de forças latentes, que desabrocharam sübitamente em Londres, em abril de 1744. É de notar-se que, conquanto o vidente fôsse de boa família sueca e educado entre a nobreza sueca, foi nada menos que em Londres que os seus melhores livros foram publicados, que a sua iluminação se iniciou e, finalmente, que morreu e foi sepultado. Desde o dia de sua primeira visão até a sua morte, vinte e sete anos depois, estêve êle em contínuo contato com o outro_mundo. “Na mesma noite — diz de — o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de tôdas as condições. Desde então diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos”.

____Em sua_primeira_visão Swedenborg fala de “uma espécie de vapor_que_se_exalava dos poros de meu corpo". Era um vapor aquoso muito visível e caia no chão, sôbre o tapête. É uma perfeita descrição daqueles ectoplasmas que consideramos a base dos fenômenos_físicos. A substância foi chamada, também, ideoplasma, porque instantâneamente toma a forma que lhe dá o Espírito. No seu caso, conforme a sua descrição, ela se transformava em vermes, o que representava um sinal de que os seus Guias lhe desaprovavam o regime alimentar e era acompanhada por um aviso pela clarividência, de que devia ser mais cuidadoso a êsse respeito.

____Que é que pode fazer o mundo com essa narrativa?

  • Dizer que tal homem era um louco; mas, nos anos que se seguiram, sua vida não deu sinais de fraqueza mental.
  • Ou podiam dizer que êle mentia. Mas êste era famoso por sua estrita vivacidade. Seu amigo Cuno, banqueiro em Amsterdam, assim dizia dêle: “Quando me olhava, com os sorridentes olhos azuis, era como se êles estivessem falando a própria verdade”.

____Seria então auto-sugestionado e honestamente enganado? Temos que enfrentar a circunstância de que, em geral, as observações que fazia eram confirmadas desde então por numerosos observadores dos fenômenos psíquicos. A verdade é que foi o primeiro e, sob vários aspectos, o maior médium, de um modo geral; que estava sujeito a erros tanto quanto aos privilégios decorrentes da mediunidade; que só pelo estudo da mediunidade seus poderes serão compreendidos e que, no esfôrço de o separar do Espiritismo, a sua Nova_Igreja mostrou absoluta incompreensão de seus dons e da posição que a ela cabia no esquema geral da Natureza.

  • Como um grande pioneiro do movimento espírita, sua posição tanto é compreensível quanto gloriosa.
  • Como uma figura isolada com poderes incompreensíveis, não há lugar para êle em qualquer esquema do pensamento religioso, por mais largamente compreensivo que seja.

____é interessante notar que êle considerava os seus poderes intimamente relacionados com o sistema respiratório. Como o ar e o éter nos envolvem, é possível que alguns respirem mais éter do que ar e, assim, alcancem um estado mais etéreo. Sem a menor dúvida é esta uma maneira elementar e grosseira de considerar as coisas. Mas essa ideia se derrama no trabalho de muitas escolas de psiquismo. Lourence Oliphant, que aliás não tinha ligação com Swedenborg, escreveu um livro, Sympneumata, para o provar. O sistema indiano de Ioga, repousa sôbre a mesma ideia. Entretanto, quem quer que tenha visto um médium cair em transe, deve ter notado a característica inspiração de ar com que se inicia o processo e as profundas expirações com que termina. Para a Ciência do futuro aqui está um promissor campo de estudos. Nisto, como em qualquer outro assunto psíquico, é necessário cautela. O autor conheceu muitos casos em que ocorreram lamentáveis resultados que foram a conseqüência de um desavisado emprêgo da respiração profunda nos exercícios psíquicos.

____Como a força elétrica, os poderes espirituais têm um emprêgo variado, mas o seu manejo requer conhecimentos e precauções.

____Swedenborg resume o assunto dizendo que quando se comunicava com os Espíritos, durante uma hora respirava profundamente, “tomando apenas a quantidade de ar necessária para alimentar os seus pensamentos”.De lado essa peculiaridade, Swedenborg era normal durante as suas visões, conquanto preferisse, na ocasião, estar só. Parece que teve o privilégio de examinar várias esferas do outro mundo e, conquanto as suas ideias sôbre teologia tivessem marcado as suas descrições, por outro lado a sua imensa cultura lhe permitiu excepcional poder de observação e de comparação. Vejamos quais os principais fatos que suas jornadas nos trouxeram e até onde êles coincidem com os que, desde então, têm sido obtidos pelos métodos psíquicos:

  • Verificou que o outro mundo, para onde vamos após_a_morte, consiste de várias esferas, representando outros tantos graus de Luminosidade e de felicidade; cada um de nós irá para aquela a que se adapta a nossa condição espiritual. Somos julgados automàticamente, por uma lei espiritual das similitudes; o resultado é determinado pelo resultado global de nossa vida, de modo que a absolvição ou o arrependimento no leito de morte têm pouco proveito.
  • Nessas esferas verificou que o cenário e as condições dêste mundo eram reproduzidas fielmente, do mesmo modo que a estrutura da sociedade. Viu casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais, palácios onde deviam morar os chefes.
  • A morte era suave, dada a presença de sêres celestiais que ajudavam os recém-chegados na sua nova existência. Êsses recém-vindos passavam imediatamente por um período de absoluto repouso. Reconquistavam a consciência em poucos dias, segundo a nossa contagem.
  • Havia anjos e demônios, mas não eram de ordem diversa da nossa: eram sêres humanos, que tinham vivido na Terra e que ou eram almas retardatárias, como demônios, ou altamente desenvolvidas, como anjos.
  • De modo algum mudamos com a morte. O homem nada perde pela morte:
    • sob todos os pontos de vista é ainda um homem, conquanto mais perfeito do que quando na matéria.
    • Leva consigo não só as suas forças, mas os seus hábitos mentais adquiridos, as suas preocupações, os seus preconceitos.
  • Tôdas as crianças eram recebidas igualmente, fôssem ou não batizadas. Cresciam no outro mundo; jovens lhes serviam de mães, até que chegassem as mães verdadeiras.
  • Não havia penas eternas. Os que se achavam nos infernos podiam trabalhar para a sua saída, desde que sentissem von­tade. Os que se achavam no céu não tinham lugar permanente: trabalhavam por uma posição mais elevada.
  • Havia o casamento sob a forma de união espiritual no mundo próximo, onde um homem e uma mulher constituíam uma unidade completa. É de notar-se que Swedenborg jamais se casou.
  • Não havia detalhes insignificantes para a sua observação no mundo espiritual. Fala de arquitetura, do artesanato, das flôres, dos frutos, dos bordados, da arte, da música, da literatura, da ciência, das escolas, dos museus, das academias, das bibliotecas e dos esportes. Tudo isso pode chocar as inteligências convencionais, conquanto se possa perguntar por que toleramos coroas e tronos e negamos outras coisas menos materiais.
  • Os que saíram dêste mundo velhos, decrépitos, doentes, ou deformados, recuperavam a mocidade e, gradativamente, o completo vigor. Os casais continuavam juntos, se os seus sentimentos recíprocos os atraíam. Caso contrário, era desfeita a união. “Dois amantes verdadeiros não são separados pela morte, de vez que o Espírito do morto habita com o do sobrevivente, até à morte dêste último, quando se encontram e se unem, amando-se mais ternamente do que antes”.

____Eis algumas amostras tiradas da massa enorme de informações mandadas por Deus através de Swedenborg. Elas têm sido reiteradas pela bôca e pela pena dos nossos iluminados espíritas. O mundo as desprezou, taxando-as de concepções insensatas. Contudo, êstes novos conhecimentos vão abrindo caminho; quando forem aceitos inteiramente, a verdadeira grandeza da missão de Swedenborg será reconhecida, desde que se ponha de lado a sua exegese bíblica.

____A Nova_Igreja, fundada para divulgar os ensinos do mestre sueco, converteu-se em elemento negativo, em vez de ocupar o seu verdadeiro lugar, como fonte e origem do conhecimento psíquico. Quando, em 1848, desabrochou o movimento espírita; quando homens como Andrew Jackson Davss o sustentavam através de escritos filosóficos e de poderes psíquicos, que dificilmente se distinguem dos de Swedenborg, a Nova Igreja teria feito bem em saudar êsse desenvolvimento, que coincidia com as indicações de seu chefe. Em vez disso preferiram, por motivos difíceis de compreender, exagerar cada ponto divergente e desconhecer todos os pontos coincidentes, até que os dois corpos fôssem impelidos para o franco antagonismo. Na verdade, todos os espíritas deveriam homenagear Swedenborg, cujo busto era para encontrar-se em cada templo espírita, por ser o primeiro e o maior dos modernos médiuns. Por outro lado, a Nova Igreja deveria afogar as pequenas diferenças e integrar-se de coração no novo movimento, contribuindo as suas igrejas e as suas organizações para a causa comum.

____Examinando a vida de Swedenborg é difícil descobrir as causas que levaram os seus atuais sectários a encarar com receio as outras organizações psíquicas. Aquêle fêz então aquilo que estas fazem agora. Falando da morte de Polhem, diz o vidente:

  • “Ele morreu segunda-feira e falou comigo quinta-feira. Eu tinha sido convidado para o entêrro. Ele viu o coche fúnebre e presenciou quando o féretro baixou á sepultura. Entretanto, conversando comigo, perguntou porque o haviam enterrado, se estava vivo. Quando o sacerdote disse que êle se ergueria no Dia do Juízo, perguntou por que isso, se êle já estava de pé. Admirou-se de uma tal coisa, ao considerar que, mesmo agora, estava vivo Isto está perfeitamente concorde com a experiência de um médium atual. Se Swedenborg estava certo, também os médiuns estão.
  • De novo: Brahe foi decapitado ás 10 da manhã e falou comigo ás 10 da noite. Estêve comigo, quase que ininterruptamente, durante alguns dias”.

____Tais exemplos mostram que Swedenborg não tinha mais escrúpulos em conversar com os mortos do que o Cristo, quando no monte falou a Moisés e Elias.

____Swedenborg havia exposto as suas ideias com muita clareza. Considerando-as, entretanto, há que levar-se em conta a época em que viveu e a sua falta de experiência na direção e nos objetivos da nova revelação. Êsse ponto de vista é que Deus, por bons e sábios propósitos, tinha separado o mundo dos Espíritos do nosso, e que a comunicação não era permitida, salvo razões poderosas — entre as quais não se poderia contar a mera curiosidade. Cada estudante zeloso do psiquismo concordará com isto e cada espírita zeloso opõe-se a que a coisa mais séria do mundo seja transformada numa espécie de passatempo. Sob o império de poderosas razões, nossa razão principal é que numa época de materialismo como Swedenborg jamais imaginou, estamos nos esforçando por provar a existência e a supremacia do Espírito de maneira tão objetiva que os materialistas sejam encontrados e batidos no seu próprio terreno. Seria difícil imaginar uma razão mais forte que esta; entretanto temos o direito de proclamar que, se Swedenborg vivesse agora, seria o chefe do nosso moderno movimento psíquico.

____Alguns de seus prosélitos, entre os quais o Doutor Garth Wilkinson, fizeram a seguinte objeção: “O perigo para o homem de falar com os Espíritos é que nós todos estamos ligados aos nossos semelhantes e, estando cheios de maldades, teríamos que enfrentar êsses Espíritos semelhantes, e êles apenas confirmariam o nosso ponto de vista.”

____A isto responderemos apenas que, conquanto especioso, está provado pela experiência que é falso. O homem não é naturalmente mau. O homem médio é bom. O simples ato da comunicação espírita, na sua solenidade, desperta o lado religioso. Assim, via de regra, não é a má influência, mas a boa, que é encontrada, como o provam os belos e moralizados registros das sessões. O autor pode dar o testemunho de que em cêrca de quarenta anos de trabalho psíquico, durante os quais assistiu a inúmeras sessões em muitos lugares, jamais, numa única ocasião, ouviu uma palavra obcena ou qualquer mensagem que pudesse ferir os ouvidos da mais delicada mocinha. Outros veteranos espíritas dão o mesmo testemunho. Assim, enquanto é absolutamente certo que os maus Espíritos sejam atraídos para um ambiente mau, na prática atual é muito raro que alguém seja por êles incomodado. Se tais Espíritos aparecerem, o procedimento correto não é repeli-los; é antes conversar razoàvelmente com êles, esforçando-se por que compreendam sua própria condição e o que devem fazer por seu melhoramento. Isto ocorreu muitas vêzes na experiência pessoal do autor, e com os mais felizes resultados. (Ver: Doutrinação)

____Algumas informações pessoais sôbre Swedenborg cabem como têrmo a êste ligeiro relato de suas doutrinas. Visa-se, assim, antes de mais nada, indicar a sua posição no esquema geral.

____Deve êle ter sido muito frugal, prático e trabalhador; um rapaz enérgico e um velho muito amável. Parece que a vida o converteu numa criatura muito bondosa e venerável. Era plácido, sereno e sempre disposto à conversação, que não descambava para o psiquismo senão quando queria o seu interlocutor. O tema dessas conversas era sempre notável, mas êle se afligia com a gagueira que lhe dificultava a pronunciação. Era alto, delgado, de rosto espiritual, olhos azuis, peruca até os ombros, roupas escuras, calções curtos, fivelas nos sapatos e bengala.

____Sustentava Swedenborg que uma densa nuvem se havia formado em redor da Terra, devido à grosseria psíquica da humanidade e que de tempos em tempos havia um julgamento e uma limpeza, assim como a trovoada aclara a atmosfera material. Via que o mundo, já em seus dias, entrava numa situação perigosa, devido à sem-razão das Igrejas por um lado, e a reação contra a absoluta falta de religião, causada por isto. As modernas autoridades em psiquismo, especialmente Vale Owen, falaram dessa nuvem crescente e há uma sensação geral de que o necessário processo de limpeza geral não tardará. (Ver: Psicosfera ambiental)

____Uma notícia sôbre Swedenborg, do ponto de vista espírita, não pode ser melhor conduzida do que por estas palavras, extraídas de seu diário: “Tôdas as afirmações em matéria de teologia são, como sempre foram, arraigadas no cérebro e dificilmente podem ser removidas; e enquanto aí estiverem, a verdade genuína não encontrará lugar.” Era êle um grande vidente, um grande pioneiro do conhecimento psíquico e sua fraqueza reside naquelas mesmas palavras que escreveu.

____A generalidade dos leitores que quiserem ir mais adiante encontrará os mais característicos ensinos de Swedenborg em suas obras:

  • “Céu e Inferno”,
  • “A Nova Jerusalém”,
  • “Arcana Coelestia”.

____Sua vida foi admiravelmente descrita por Garth Wilkinson, Trobridge e Brayley Hodgetts, atual presidente da Sociedade Inglêsa Swedenborg. A despeito de todo o seu simbolismo teológico, seu nome deve viver eternamente como o primeiro de todos os homens modernos que descreveram o processo da morte e o mundo do além, o que não se baseia no vago extático e nas visões impossíveis das velhas Igrejas, mas corresponde atualmente às descrições que nós mesmos obtemos daqueles que se esforçam por nos trazer uma ideia clara de sua nova existência.

[95 - Capítulo: A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO - A História de Swedenborg ]

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Ver também:
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